A Filha Do Sol - Parte II escrita por Taty B, Let B Aguiar


Capítulo 14
Capítulo XIII


Notas iniciais do capítulo

Não tenho muito a dizer, só que: FINALMENTE, O MOMENTO QUE VOCÊS AGUARDAM DESDE A METADE DA PARTE I, IRÁ ACONTECER! Será que isso compensa toda a demora na postagem do capí­tulo? Hahahaha espero que sim! Boa leitura!
P.S: Se eu fosse vocês, daria play na música na parte em que eu disponibilizei o link. Apenas uma dica.



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CAPÍTULO XIII

LEO


Eu mal acreditei quando a sirene do chalé tocou às sete da manhã. Pela primeira vez, eu não a chamei mentalmente de sirene maldita. E não é necessário que eu repita o motivo de tamanho bom humor matinal, se não tudo vai ficar muito repetitivo e tão meloso quanto guacamole vencida.
Há quanto tempo eu não me arrumava de verdade? Talvez eu nunca tivesse o feito e vivia numa falsa ilusão de que minha aparência dava pro gasto. Mas, por mais difícil que fosse admitir, eu gostei do pequeno ‘up’ que Pattie deu na minha aparência ao trocarmos de corpos, e pretendia levar isso a frente.
Eu escovei meus dentes com tanta força que minha gengiva chegou a doer e passei uma dose de perfume nada usual, que me fez espirrar. Deuses, eu jamais me senti tão metrossexual na vida.
Vesti a camiseta laranja do acampamento, a bermuda jeans menos velha que eu tinha e as botas que a Pattie calçou no fatídico episódio do intercâmbio de almas. Eu não a usava com frequência, mas podia considerar, já que se tratava de uma ocasião digamos que... Especial.
Não me detive a analisar minha própria imagem no espelho. A voz de Pattie dizendo ‘você é bom para mim’ atravessava meus pensamentos, me trazendo uma autoconfiança atípica. É, creio que eu estava levando essa história de mudar demasiado a sério.
Meus irmãos mal tinham se levantado quando eu sai do meu quarto e contemplei o resto do chalé. Recebi vários ‘bom dia’ sonolentos e sai de lá sem olhar para trás, indo em direção ao chalé 7, o único que refletia todos os raios de sol da aurora e brilhava incansavelmente.
21 de agosto. As expectativas eram grandes; e eu não cansava de imaginar as possibilidades, boas e ruins, que aquele dia poderia me trazer. Vinte e um de agosto demandava duas vertentes: ser um dia inesquecível (e um dos mais felizes destinados a mim em 9 anos) ou ser um dia deplorável, em que mais uma forma orgânica de vida me decepcionaria novamente.
Optei por dar foco à possiblidade número 1. E tal escolha só se reforçou no que eu alcancei a soleira do chalé de Apolo e bati na porta, ouvindo exclamações e risadas lá dentro.
Um Austin afobado abriu a porta e pude ver os outros filhos do deus do sol puxando as orelhas de sua irmã caçula, todos simultaneamente. Ela se contorcia e tentava fugir deles, ralhando e rindo ao mesmo tempo.
- Vocês sabem como dar parabéns a uma pessoa! – eu exclamei e Austin riu do meu comentário, me deixando entrar no chalé. Johnny assoprava uma corneta insistentemente, ao que seus irmãos cansaram de tentar puxar as orelhas de Pattie dezesseis vezes e começaram um coro harmonizado de feliz aniversário.
Eu entrei na onda, jogando um monte de confete confeccionado pelo chalé de Hermes em cima dela. Suas bochechas estavam coradas, mas o sorriso transmitia o quanto feliz se sentia. Ela vestia um pijama de regata e shorts do Star Wars e seu cabelo foi cem por cento desarrumado pelos irmãos ensandecidos. Mas continuava bonita, pois não tirava o sorriso do rosto.
- UHUL! – Johnny berrou, usando a corneta. – FELIZ ANIVERSÁRIO IRMÃZINHA, ORGULHO DO CHALÉ 7! QUEM É QUE VAI GANHAR O TORNEIO HOJE, HEIN?
- Ih, caras, faltou o com quem será! – Adam comentou, olhando de mim para a irmã.
- Vocês acham que precisa de com quem será se o indivíduo em questão está aqui nesse momento? – Matt falou, com uma sobrancelha erguida. Pattie pegou um punhado de confete e jogou na cabeça dele.
- Eu amo vocês, sério. Mas agora, deixem eu pelo menos escovar os dentes. – ela falou, tentando tirar os pedacinhos de papel do cabelo. Pattie me lançou um olhar indecifrável e completou. – Acho que o indivíduo em questão tem algo a me dizer. Vem aqui.
Ela me surpreendeu pegando em minha mão e me arrastando para o seu quarto. Eu fiquei tão desconsertado com tal gesto que só consegui ouvi seus irmãos protestando:
- EI, O QUE É ISSO? Não te demos autorização para levar esse protótipo de macho para o seu quarto!
- Vocês estão NAMORANDO?
- Valdez, se você fizer alguma coisa com ela aí dentro, nós vamos arrancar seu pinto fora.
Pattie deu risada dos comentários e fechou a porta atrás de nós. Sorrimos ao mesmo tempo e eu não me contive. Dei um abraço nela com tanta vontade que a levantei do chão, e não tive nenhuma pressa em coloca-la de volta. Seu corpo contra o meu causava uma sensação tão única e intensa que se tornava difícil quebrar o abraço.
- Feliz aniversário, Pequena Miss Sunshine. – eu desejei, colocando-a no chão. Cara, preciso admitir que a Pattie era pesada. Hum, metade do peso deve ser atribuído à parte inferior do corpo dela, se é que me entende. – Seu presente não tá aqui! Você vai ter que ir busca-lo lá no Bunker, junto comigo.
Não pensei que o sorriso dela se intensificaria ao encontrar meus olhos.
- Não acredito que você fez um presente pra mim bem debaixo do meu nariz!
- Bem, quando eu falo que você é tapada...
- Você é ridículo! – ela exclamou, sufocando uma gargalhada, o que soou bem estranho. – Obrigada por ter aparecido aqui e lembrado meu aniversário. Agora, olha só o que meu pai me deu...
Ela deu três passos para trás e fez o mesmo movimento que fazia ao tirar uma flecha da aljava. Porém, não havia nenhuma pendurada nas costas dela. De repente, uma aljava e um arco dourados começaram a se materializar diante dos meus olhos, pendurados onde há pouco eu não enxergava nada.
- Isso. – eu falei. – É muito foda. É igual o das caçadoras, não é?
- Sim! – Pattie estava claramente animada. Seus olhos cintilavam de excitação. – O arco e a aljava só aparecem quando eu quero. Demais, né? O problema é que meus irmãos não podem saber, segundo papai. Bom, sinto lhe informar que eu não vou sair daqui sem tomar um banho rápido e escovar os dentes. Olha só para você e olha pra mim, vestida com esse pijama cabuloso! Aguenta aí. Pode esperar aqui, se quiser. Eu já volto!
Ela pegou rapidamente uma muda de roupas no seu baú e saiu correndo do quarto, deixando a porta aberta. Eu sentei na beliche que ocupava (ela decorara as paredes com pôsteres das suas bandas preferidas, dominando o quarto como se nunca tivesse cogitado a possibilidade de uma outra filha de Apolo surgir no acampamento) e peguei um pedaço de papel de carta decorado que jazia em cima do edredom desarrumado. Sem dúvidas se tratava de uma carta, escrita a mão por uma pessoa de caligrafia exagerada. Juro que tentei não ler, mas a curiosidade é como um gêmeo siamês grudado a mim.

"Doçura,

Parabéns pelos seus dezesseis aninhos de vida! Eu estou TÃO orgulhoso de você. Espero que traga mais uma vitória para nosso chalé hoje. Eu gosto do Percy Jackson, mas você precisa dar uma sacudida no traseiro dele e ganhar a coroa de louros. Sabia que Ares até hoje não admite que você derrotou o filho mais promissor dele? Hahahaha. Continue assim, filhinha!
Gostou do presente? Eu já superei (mais ou menos) o fato de você ser melhor com a espada do que com o arco e flecha. Mas não é por isso que você deixará de ser uma arqueira exemplar. Use bem esse kit e trate de jogar aquela porcaria que Eros te deu no lixo. (Hum, e, por favor, não deixe seus irmãos saberem que fui eu quem te deu).
Ah, não se esqueça que amanhã é dia de ir embora do acampamento. Percy e Annabeth irão dar uma carona para você até o aeroporto JFK, em Nova York. Sua mãe vai estar te esperando no LAX e tenho certeza que você vai enlouquecer com o presente que ela comprou para você. Está chegando a hora de ter umas aulinhas de direção com o profissional aqui!
Enfim, não poderia terminar de escrever essa carta sem um pequeno poema (especialmente para você).

Uma data especial, merece uma comemoração
Assim com uma vitória segue sua canção
Mais um ano se passa e você cresce
E conquista o que merece.

Feliz aniversário,

Papai.

P.S: Leo Valdez, a curiosidade matou o gato. Trate de fazer para minha filha o que aquele filho de Ares nojento não foi capaz de fazer.
P.S2: Eu sei de tudo e vejo tudo. Estou de olho em você.
P.S3: Nada de mão boba antes dos três meses de namoro.
"

A últimas linhas surgiram na folha quando eu cheguei ao fim da leitura. Quase joguei a carta longe tamanho o susto que levei. O que foi aquilo?! Eu e Pattie nem estávamos namorando e seu pai já estava de olho em nós. Ótimo.
- O que você tá xeretando aí, cara de pau? Sai do quarto da minha irmã! – Johnny enfiou a cabeça para dentro e deu a ordem.
- Quem é você pra mandar em mim, cara? – eu rebati, mas acabei me levantando. Eu não podia invadir a privacidade de Pattie tanto assim. Coloquei a carta de volta onde a peguei.
- Johnny Harper, prazer. Agora, por favor, se quiser esperar, fique na sala de esperas.
- Vai se foder, Johnny. – eu passei por ele e dei um chute na sua canela. Ele se fez de afetado e deu um peteleco em mim. Sabe aquele irmão insuportável que está sempre enchendo seu saco? Johnny se encaixava nesse estereotipo.
Pattie saiu do banheiro minutos depois, propriamente vestida e preenchendo o chalé com seu perfume e o cheiro de banho recém-tomado. Seus cabelos castanhos caiam livres até a cintura e ela fez um sinal para eu esperar mais um pouco. Seus irmãos, que terminavam de se arrumar para tomar café, me encaravam enviesados.
Ela saiu do seu quarto calçando as típicas botas pretas. Usava um shorts também preto com alguns rasgos e a camiseta customizada do acampamento. Ela me lançou um sorriso delicado e disse:
- Vamos?
Meus batimentos cardíacos devem ter atingido a marca de 200 por minuto. Eu não ia me acovardar. Juntando o ar rarefeito que se alojava nos meus pulmões, eu respondi:
- É claro que sim!
Pattie andou até mim e pegou minha mão. Seus irmãos ficaram boquiabertos e começaram a protestar, em tom de brincadeira (era o que eu esperava). Nós os ignoramos e atravessamos a área comum dos chalés até atingirmos a entrada da floresta.
Ela não desfez a conexão entre nossas mãos nenhum instante. Eu podia sentir uma crescente expectativa nela, que andava rápido, quase me arrastando.
- Ugh, surpresas são como anfetaminas para minha hiperatividade! – ela comentou, ultrapassando uma pedra disposta no meio do caminho.
- Eu sou muito curioso para aguentar a expectativa da surpresa de forma sã. – falei, segurando forte a mão dela, evitando que ela escorregasse numa faixa de limo. – Cuidado, senhora desastrada!
- Tá vendo a personificação do que eu acabei de falar? – ela riu, demonstrando nervosismo. Esperava que não conseguisse escutar minha respiração ruidosa e nem as batidas aceleradíssimas do meu coração.
- Você deve tá pensando que eu vou te dar, sei lá, um lançador de foguetes? – a tensão entre nós era algo que eu nunca experimentei antes. Uma tensão que antecedia um momento desejado e aguardado por ambos os lados.
- Como eu iria colocar um lançador de foguetes num apartamento de 90 metros quadrados? – eu me sentia mais aliviado em conseguir fazê-la rir. O som de seu riso desempenhava o mesmo efeito de um calmante.
Não demoramos para chegar até o Bunker, de tão depressa que andamos. Eu abri as portas com prática e adentramos o lugar. Eu deixei Pattie ir na frente, e por trás dela, tapei seus olhos com as minhas mãos.
- Surpresa não é surpresa sem olhos vendados. – eu falei, bem próximo de seu ouvido. Meus membros inferiores tremiam, mas minha coragem superaria qualquer sinal de fraqueza que meu corpo quisesse dar. A impressão de que a temperatura do meu corpo pudesse estar um pouco mais quente que o normal não me deixava tranquilo.
- Droga, você quer me ver enfartando de tanta ansiedade? – Pattie reclamou, e eu a conduzi pelos ombros até a mesa onde havia colocado seu delicado presente.
- Mais ou menos isso. Para seu alívio, eu já vou deixar você ver seu presente. – eu retirei as mãos da frente dos seus olhos e seu olhar voltou-se para baixo, exatamente para a complicada caixinha de música que eu criei.
A peça que eu desenvolvi seguia o modelo das demais caixinhas de música tradicionais. A diferença é que, ao girar a pequena manivela, uma miniatura de uma guerreira de armadura completa desembainhava uma espada e um sol surgia atrás dela. A música que escolhi para colocar na caixinha foi Little Black Submarines, do The Black Keys, uma das preferidas na longa lista de Pattie e que soou bem melódica ao ser transferida para o mecanismo do objeto. É claro que os materiais que usei foram os melhores: bronze celestial e madeira da melhor qualidade. A caixinha ainda contava com uma gavetinha, onde outro presente aguardava por Pattie.
- L-Leo... – ela balbuciou, passando as mãos delicadamente pelo presente e girando a manivela. A música começou a tocar e se não estivesse de costas para ela, segurando seus ombros, poderia afirmar que seus olhos se marejaram. – É tão...delicado. Tão pessoal e lindo. Como você se lembrou da música...
- Eu presto atenção em tudo o que você me conta. –revelei, passando as mãos pelos ombros dela. – Abra a gaveta. Eu fiz outra coisa pra você.
Ela puxou a minúscula maçaneta da gaveta e a abriu. Dentro da gaveta, propriamente forrada com um veludo vermelho, eu coloquei um colar de ouro tão delicado quanto a própria caixa de música. O pingente era uma flecha e uma espada cruzadas, simbolizando os dois maiores méritos de Pattie. Ela o pegou na mão e passou a admirá-lo em silêncio.
Por alguns instantes, as palavras devem ter escapado dos lábios dela. Até que eu peguei o colar da sua mão e fiz menção de coloca-lo em seu pescoço. Eu empurrei os cabelos longos dela e coloquei a corrente com delicadeza, controlando o nervosismo ao acertar o fecho de primeira.
Pattie virou-se de frente para mim. Seu peito subia e descia; sua respiração estava tão descontrolada quanto a minha. Suas íris azuis traçavam um paralelo entre meus olhos e lábios. Eu dei um sorriso sutil, descendo as mãos pelos braços dela e as depositando em sua cintura. Eu parecia prestes a sufocar devido à temperatura do meu corpo, que subia incontrolavelmente.
- Ninguém nunca fez algo com tanto carinho para mim. Eu... não sei como te agradecer. – foram as palavras que saíram de sua boca. Não desfiz o sorriso; apenas uni mais os nossos corpos, fazendo nossas respirações se transformarem em uma só. Cada célula do meu corpo se tornava mais e mais propensa a entrar em combustão conforme os milésimos se arrastavam.
- Não precisa me agradecer. Eu ainda tenho um presente para te dar.
Definitivamente, eu não conseguia mais tirar os olhos dos lábios dela. Eles me arrastavam em sua direção e imaginar como seria a textura deles me enlouquecia aos poucos. Então, eu ouvi o sistema de som do Bunker ser ligado sozinho. Na verdade, suspeitava que Buford o fizera, pois adquiriu essa péssima mania de escutar música o tempo todo. Start Me Up, dos Rolling Stones, invadiu as caixas de som, e nós trocamos um sorriso repleto de tensão sexual.
- Feliz aniversário mais uma vez, Pattie.
Se eu esperasse mais para juntar nossos lábios, eu explodiria. Era a hora de tomar a atitude, e não deixar que ela tomasse. O que eu sentia era demais para ser contido; não havia timidez, covardia ou promessa pendente que me impediria de beijar a garota completamente incrível que estava a minha frente. Eu segui meus instintos e uni meus lábios aos dela com avidez. Ela não hesitou em corresponder com igual desejo, aprofundando o beijo, me mostrando o caminho. Eu a acompanhava, percebendo que tudo fluía naturalmente enquanto nossas línguas se encontravam com vontade, extravasando um sentimento que ambos reprimiram por tanto tempo. Os lábios dela eram macios e carnudos, e se encaixavam como uma luva nos meus... Suas mãos deslizavam por minhas costas e nuca, evitando meus cabelos, acho que por, hum... Uma questão de segurança, talvez?
Pelo menos, eu ainda não havia sentido nenhum cheiro de queimado.
Eu apertava a cintura dela, demonstrando o quanto sempre a quis e como era bom tê-la. Nós mal tomamos fôlego e já emendamos outro beijo ávido, respirando com dificuldade, mas não dando a mínima para isso. Eu pensava que meu primeiro beijo tinha sido bom. Só que não esperava que o segundo seria tão maravilhosamente bom assim.
Pattie mordiscava o meu lábio inferior, fazendo com que cada órgão meu fervilhasse por dentro. Se no começo eu estava enlouquecido, naquele momento eu tinha ultrapassado qualquer estágio aceitável de loucura. Não resisti e coloquei as mãos por baixo da camiseta do acampamento dela, que respirou com mais intensidade ao sentir meu toque. Não por menos, eu pude senti-la arrepiando; o que foi um tanto... Quente, literalmente. Minhas mãos estavam fervendo.
Aos poucos, eu fui perdendo totalmente a sanidade. A música que saia pelas caixas de som parecia um eco distante. E só voltei à realidade quando uma amarga interrupção nos atrapalhou.
- PUTZ! – era Harley. Ele se encontrava parado à porta do Bunker, boquiaberto e estupefato. – PUTZ, PUTZ, PUTZ!
Pattie assoprou meu rosto; provavelmente meu nariz tinha pegado fogo com a chegada de Harley. Cara, eu odiava isso. Eu finalmente senti o cheiro de queimado vindo dos meus cabelos e os sacudi; longe de Pattie, é lógico.
- Harley! Puta que pariu! O que você tá fazendo aqui? – eu perguntei. Não vou mentir, eu fiquei demasiado puto com meu irmão mais novo.
- CARA! – ele berrou. – Vocês estavam se BEIJANDO!
- Não, Harley, eu tava fazendo carinho na língua da Pattie! – eu retruquei e Pattie soltou uma gargalhada bizarra. – O que você quer?
- Ah. – creio que consegui deixar o pirralho constrangido. – Todos estão atrás da Pattie. A final começa em meia hora.
- MEIA-HORA? – Pattie se surpreendeu. – Ai, caramba! E eu nem comecei a vestir a armadura!
- Bom, você estava beijando o meu irmão, então acho que é meio difícil beijar e colocar a armad...
- Harley. – interrompi sem delicadeza nenhuma. – Obrigado. Já pode ir embora.
- Por Hefesto, Leo! Quem vê pensa que você já beijou várias meninas! – ele deu as costas e saiu do Bunker pisando forte. Pattie sufocou um riso e as maçãs do meu rosto devem ter assumido um tom púrpura.
Ela não conteve mais o riso quando eu me voltei para ela. Se desencostou da mesa e veio até mim, jogando os braços em volta do meu pescoço.
- Pode confessar que esse não foi seu primeiro beijo. – ela disse e eu não consegui ler sua expressão brincalhona e séria ao mesmo tempo. – Você tem certa técnica pra ser um beijador de primeira viagem.
- Bom, eu posso melhorar a técnica ainda mais. –eu respondi, colocando minhas mãos na cintura dela pela segunda vez e me desviando da pergunta principal. Até aquele momento, eu estava evitando fazer comparações e não queria ter que conversar sobre meu primeiro beijo com ela. Tal pensamento me deixava temeroso.
- Mas pra isso, você precisa de tempo. O que nós não temos agora! – Pattie me deu um selinho rápido. Se não notou a evasiva que dei, pelo menos soube fingir bem. – Me ajuda a colocar a armadura? Precisamos voltar para o meu chalé.
- Já te falaram que você é folgada? – eu subi um pouco a mão que repousava na sua cintura e fiz cócegas nela.
- Do mesmo jeito que já te falaram que você é chato! –ela deu risada e me empurrou de leve. – Me dá uma mãozinha, vai. Por favor.
Eu estendi a mão. Pattie deu um tapa nela e se controlou para não rir mais.
- Leo Valdez, eu nunca vou conhecer alguém tão palhaço como você.
- Não, chica. Eu sou único na sua vida. Se você quer que eu te ajude, vamos logo! Tempo é dracmas.
- Se eu vencer o torneio, posso pagar seus honorários com os dracmas que ganharei. – ela pegou minha mão e foi me levando para fora do Bunker. Todo meu corpo continuava quente, mas eu estava sob controle da situação.
- Os serviços que presto a você são cortesias. – andávamos rápido de volta ao acampamento. Pela primeira vez, um silêncio confortável se estabeleceu entre nós. Não precisávamos trocar palavras para firmamos a companhia que fazíamos um ao outro. Pattie segurava minha mão com firmeza e eu retribuía o seu gesto. Eu ansiei tanto tempo por esse tipo de conexão que não queria quebra-la.
Eu parei de andar, um pouco antes de chegarmos à divisa com o acampamento, e virei Pattie para mim. Seus olhos transmitiam um brilho contagiante e seus lábios pareciam incapazes de desfazer um sorriso teimoso.
- Você é a vencedora desse torneio, não importa se vai ganhar ou não. Nenhuma garota transgrediu as tradições como você fez ou conseguiu chegar tão longe num torneio de esgrima. Eu mesmo vou te dar uma coroa de louros. Você é incrível, Patricia Veloso.
As palavras escaparam das minhas cordas vocais com facilidade. Toda a apreensão e o medo de antes tinham se esvaído, e o que eu mais desejava fazer era dizer tudo que devia ter dito há muito tempo.
Pattie me empurrou para a árvore mais próxima e me roubou um beijo cheio de paixão. Eu coloquei uma mão sobre seu rosto, o acariciando de leve ao corresponder seu beijo quente e de tirar o fôlego. Garotas de atitude: sem dúvidas, eu me amarro nelas.
Foi ela mesma quem quebrou o beijo, em seguida, me abraçando muito forte, depositando seu rosto na curva do meu pescoço. Finalmente eu podia tê-la em meus braços sem hesitar, e a sensação era indescritível.
- Você é o cara mais incrível do mundo, Leo Valdez. Eu nunca vou me cansar de repetir isso.
Eu sorri abertamente, acariciando os cabelos dela, sem formular uma resposta digna. Eu estava começando a ficar inebriado pelo seu perfume cítrico, mas não podíamos passar o dia inteiro assim.
- Acho que você tem uma luta a ser travada com um certo filho de Poseidon... – eu falei, a contra gosto, é óbvio.
Pattie bufou e desfez nosso abraço carinhoso, voltando a me conduzir para fora da floresta. Ouvi ninfas fofocando e dando risadinhas abafadas, mas ignorei tal fato. Atravessamos a área dos chalés até o respectivo de número 7. Os campistas já deveriam ter ido para a arena de esgrima, pois o local estava vazio. Exceto por duas garotas que estavam paradas à porta do chalé de Apolo com sorrisos estampados em seus rostos.
Piper e Annabeth olharam das nossas mãos entrelaçadas para nossas expressões denunciadoras e soltaram uma gargalhada, correndo para dar um abraço duplo na amiga aniversariante.
- Acho que nossos presentes vão ser insignificantes! – Piper exclamou. – Eu sabia! Sabia que vocês dois não aguentariam mais um verão.
Annabeth trocou um olhar comigo, expressando silenciosamente uma pontinha de orgulho por eu ter escutado seus conselhos pela primeira vez.
- Aniversariante do dia, hoje você pode tudo. Menos ganhar do meu namorado.
Pattie riu do trocadilho de Annabeth e elas a entregaram os presentes que tinham em mãos. Piper lhe presenteou com um apanhador de sonhos feito por ela e Annabeth lhe deu um livro que contava a história da Broadway (o sonho da vida da Pattie era ser uma grande estrela de musicais).
- Quantas galinhas você matou pra fazer esse negócio? – eu perguntei, com a intenção de provocar Piper.
- São penas artificiais, seu idiota! – Piper rebateu e Pattie interveio na conversa.
- Meninas, eu amei meus presentes. Muito obrigada. Vocês são incríveis. Vou sentir tanta falta de vocês!
Nos fizemos um coro de ‘awn’ e Pattie recebeu outro abraço coletivo.
- Ok! Chega de momentos ternura! Faltam quinze minutos para a final! Pattie, você nem está de armadura! O que vocês estavam fazendo no Bunker? – Annabeth assumiu seu tom autoritário.
- O que você e Percy fazem quando estão sozinhos. – eu respondi, sem vergonha na cara.
Annabeth corou e seu olhar matador foi suficiente para me fazer calar a boca. Piper caiu no riso.
- Finalmente! Chega de esconder segredos dos dois lados! Vocês estão juntos! Leo desencalhou!
- Mas que merda, McLean! Cala a boca! – comecei a descabelar Piper por inteiro, desfazendo suas tranças e embolando seus cabelos, enquanto ela tentava se esquivar. Pattie se divertia vendo a cena.
- É sério! Vamos para a arena, a Pattie precisa colocar a armadura. – Annabeth disse, contendo um riso. – Vocês são tão problemáticos.
- Señorita, eu ao menos posso desejar boa sorte para minha namorada e ajuda-la a colar a armadura?
- Namorada? – Pattie arqueou uma sobrancelha de maneira divertida.
- Hã, não temos tempo para conversar sobre esse assunto agora! – eu desconversei. Droga, simplesmente esqueci que não tinha a pedido em namoro. Até quando eu fazia as coisas certas eu conseguia ser um perfeito idiota. Entramos no chalé rapidamente e Pattie pegou a armadura que estava em um dos beliches vazios. Eu apertei as amarras com prática.
– Boa sorte, mi cariño. Eu ia adorar ver você chutando o traseiro do cabeça de alga. – Ao terminar de ajuda-la a vestir a armadura, nós trocamos um abraço rápido e ela me deu um selinho igualmente breve. Piper emitiu um som estranho ao ver a cena.
- Vai sonhando, Valdez! – Annabeth exclamou, desafiadora.
- Obrigada, Tocha Humana. Vou te deixar orgulhoso. Eu quero ver você gritando das arquibancadas. – ela passou uma mão pelos meus cabelos e Annabeth me puxou pelo braço, perdendo a paciência. Pattie soltou uma gargalhada e eu pisquei para ela, que retribuiu o gesto.
A visão dela parada na porta do seu chalé, sorrindo abertamente, e a certeza de que eu a tinha de uma vez por todas, eclipsaram qualquer arrependimento e sofrimento que eu carregava no peito. O dia 21 de agosto, no final das contas, acabou sendo um dos únicos dias da minha vida em que eu não sentia nada além da mais pura felicidade.


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Notas finais do capítulo

Podem surtar, se descabelar, morrer e renascer nos comentários, ok? A gente deixa AHAHAHAHAHA
Beijinhos,
Taty xX