A Morte Lhe Cai Bem escrita por MahDants


Capítulo 9
|| Daltônico Versus Incolor




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Acordei no meio da noite, sem sono nenhum. Eu poderia ir ler A Caçada dos Elfos, mas eu estava com sono o suficiente para não enxergar nada. Por isso, fui para o computador, o quarto iluminado apenas pela luz do abajur rosa que estava em cima da mesa no canto do quarto. Aquela mesa estava uma bagunça, com todos os papéis, livros, marcadores de páginas, dinheiro e canetas jogados em cima dela, e provavelmente mamãe brigaria quando a visse, mas aí lembrei que não estava falando com mamãe direito.

Depois que a culpa e a tristeza passaram, fiquei com raiva. Raiva de ela ter manchado a lembrança boa do meu aniversário de dezesseis. Ou nem tão boa assim... Quem estragou de verdade foi o Mellark, mas eu ainda não conseguia ter raiva dele, pois sabia que ele tinha razão.

– Everdeen, gosto de levar mulheres para a cama – ele admitiu e eu fiz uma cara de interrogação, provavelmente enorme, pois ele sorriu e disse: - Mulheres delicadas, sabe? Não mulheres do seu tipo, que querem dar uma de sabida falando palavrão e sendo grossa.

– Eu não sou grossa! – defendi-me; Mellark sorria satisfeito.

– Não? Compare-se com Madge – ele mandou. – Ela é o tipo de mulher que eu levaria para a cama.

Era por isso que eu não ficava com muitos meninos ou porque não tinha amigos meninos? Não, você não tem isso porque é tímida. Repeti para mim mesma essa frase pelo menos doze vezes, mas por mais que odiasse Peeta Mellark, ele tinha razão.

Entrei no bate-papo e observei duas vezes a lista de amigos online. Vasculhei por meninos e prendi o olho em um "Finnick Odair". Ele não era meu amigo. O máximo de conversas que trocamos foi alfinetadas do meu lado por ele ser irresponsável e vir pedir pra copiar minha tarefa de casa. Além disso, era provavelmente o menino mais gostoso que já vi na minha vida.

Na sua foto de perfil, o cabelo cor de bronze estava molhado e colocado de lado estilo Justin Bieber, algo que com certeza o deixava com cara de gay. Não que o Bieber fosse gay (isso seria muito desperdício), apenas seu cabelo no início de carreira o deixava com cara de menininha. Enfim, o cabelo de Finnick estava molhado e ele parecia encostado numa espécie de corrimão da escada, com uma blusa de algum time que não reconheci e um sorriso pervertido nos lábios. O único defeito da foto é que não dava para ver que seus olhos eram incrivelmente verdes.

“Oi Finnick” digitei no bate-papo sem saber exatamente que merda eu tava fazendo.

Ou, na verdade, eu sabia. Apenas não aprovava.

“Oi Kat” ele respondeu cinco minutos depois. Entenda, mesmo ele não sendo meu amigo, ele vai me chamar pelo apelido. É meio uma regra de Finnick Odair. “Qual a boa?”

“Nenhuma. Finnick... Você acha que eu sou muito grossa? E estressada?”

“Bem... Acho” ele respondeu e depois de um tempo completou “Eu não falo muito contigo, mas as vezes que falei... Você não foi muito educada. Eu entendo que era mais um modo de defesa, só que... Entende?”

“Entendi”

“Porque perguntou isso?”

“Porque eu não tenho amigos” respondi.

“Clove?”

“Quis dizer amigos meninos”

“Ah” ele soltou e a conversa parou por um tempo.

“Você me ajudaria se eu tentasse?”

“Hã?”

“Tentasse ser menos grossa”

“Eu seria seu amigo”

“Finnick?” perguntei depois de um tempo. “Eu nunca abracei um menino. Digo, amigo”

“Amanhã, no primeiro dia de aula, eu vou lhe abraçar. Você agora é minha amiga, Katniss Everdeen”.

Eu me perguntei se ele não estaria com algum menino idiota do lado, tirando onda da minha cara. Se amanhã ele realmente sentaria perto de mim e a gente conversaria. Não tive tempo para pensar sobre isso... Meu sono voltou e eu dormi.

–-x—

– Tchau, mãe – falei me inclinando pra dar um beijo na bochecha dela e em seguida, bati a porta do carro.

Fazia parte do curso “Vire uma menina delicada”.

Pra começar, eu iria falar com Finnick que estava entre “os meninos retardados que jogam lol” e “os meninos populares”. Seus melhores amigos pertenciam ao primeiro grupo, mas ele estava no segundo. Então Finnick era um meio termo.

Além de Finnick, tinha Madge. Eu queria isso. Não virar uma líder de torcida metidinha a vadia como as amigas dela ou vestir saias curtas e pegar os meninos do time de futebol, mas queria virar amiga de Madge. A loira não falava palavrão e, embora não estudasse muito (assim como Clove também não estudava), era uma boa influência.

Então era esse meu plano: Madge e Finnick.

Entrei na escola com as mãos suando. Mesmo falando sempre com Madge nas férias, uma invisível falar com uma popular era realmente impossível de se acontecer no colégio. Passei pelo grupo de Finnick e seus amigos gatões. Entenda, eles eram retardados, mas muito bonitos.

(Perceba que não pensei em “amigos gostosos”, eu estava realmente tentando ficar mais delicada)

Cato Ludwig... Acho que já falei dele. Eu gostei dele e a Clove também, não há muito para se falar. Nunca cheguei a falar com ele de verdade. Ao seu lado, com cabelos cor de areia estava Marvel. Eu não sei o sobrenome dele, para falar a verdade, mas sabia que ele gostava de desenhar. Esses eram os melhores amigos de Finnick Odair.

Mas havia algo mais.

Gale.

Ele era forever alone, mas estava ali, no meio dos meninos. Devo dizer que o achava esquisito, pois, mesmo o Finnick sendo musculoso, ele não era monstruosamente alto e meio curvado como Gale. Nem tinha pelo nas pernas aos 10 anos. A idade favoreceu Gale um pouco, mas ele continuava esquisito.

– Ei, Kat – chamou Finnick sorrindo e vindo me abraçar. Embora nervosa, eu correspondi ao abraço.

– Oi.

– Tudo bem? – ele perguntou, passando o braço pelos meus ombros e me arrastando para junto dos meninos.

– Ahã.

– Pessoal, essa é minha nova namorada, Katniss Everdeen – ele disse para o grupo e eu arregalei os olhos para ele, assustada. – É brincadeira. Só minha amiga.

– Hm... Finnick? Acho que todos aqui sabem quem é a Katniss – falou Marvel e eu franzi a testa; eu e Clove éramos invisíveis. – Ela é tão popular quanto a gente e por compartilharmos o mesmo grau de popularidade...

– Nós somos mais populares que ela, na verdade – falou Cato. – Sendo melhor amigo de Finnick.

Aquela conversa estava me dando náuseas. Não pelo conteúdo, ou por eles serem chatos, ou pelo Gale olhando fixamente para mim. Mas toda aquela atenção... Me deixava nervosa.

– Meninos, meninos – disse uma voz feminina. Acho que me esqueci de falar, mesmo sendo popular, a Madge conhece e fala com todo mundo. – A Kat está ficando verde! Deixem-na respirar.

– Que é isso, Madge, estamos entre amigos! – disse Finnick piscando para a loira.

– Nada disso! Ela vem comigo ao banheiro...

Falando isso, a loira me arrastou até o banheiro mais próximo e só ali consegui perceber que ela não estava com a farda de líder de torcida.

– Hm, obrigada por me salvar ali.

– Na verdade, você me salvou – ela suspirou, lavando o rosto. – Saí do grupo de torcida e passaram a manhã pegando no meu pé por isso.

– Porque saiu?

– Estava ficando fútil demais – ela respondeu. – E passar aqueles dias na sua casa de praia... Bem, me ajudaram a ver as coisas um pouco diferentes.

– Entendi.

– Então, vamos andar por aí?

– Hm, só um minuto – pedi, vendo que meu celular estava tocando dentro da bolsa jeans. – Oi, mãe.

Katniss, eu vou ter uma reunião aqui e não vou poder ir te buscar.

Ah, tudo bem. Eu posso voltar com a Madge – falei, fazendo uma pergunta silenciosa para a ex-líder de torcida que estava ali. Ela fez que sim.

Não, você vai voltar com o Peeta.

O que? – berrei. – Não, eu não vou.

Mas eu sabia que ia, porque assim como na matemática menos e menos dá mais, não com não, numa mesma frase, significa um sim.

Por isso, lá estava eu, Madge e Mellark em um mesmo carro depois da aula, em direção a minha casa. Eu não falei com ele, mas percebi que ele olhou para Madge franzindo o cenho e sorrindo em seguida. Idiota. Não sei porque, mas ele era sempre idiota, então o xingamento não estava fora do lugar.

Também não falei mais com Finnick naquele dia e nem encontrei Clove. Acho que era porque os lugares que andei com Madge... Clove não costumava ir. Esse pensamento fez meu estômago revirar. Eu ligaria pra ela mais tarde.

– Esse é o carro do meu pai – falou o Mellark. – Sua mãe vai dar carona a ele até aqui, por isso, ele pediu para eu ficar esperando na casa de vocês.

Apenas peguei a chave de casa e abri a porta. O loiro se sentou na sala e ligou a televisão, enquanto eu e Madge seguíamos até meu quarto. No corredor, esbarrei com vovó.

– Oi, vó.

– Oi avó de Katniss, eu sou a Madge – ela disse em tom baixinho e nem um pouco afobada, diferentemente de Clove. Minha avó pareceu gostar, porque ela sorriu.

– Oi, Madge, é um prazer conhece-la. Gosta de lasanha?

– Ahn... Acho que gosto, senhora. Nunca comi, na verdade, pelo menos não nos últimos quatro anos – Madge respondia de um jeito que me deixou boquiaberta. Era formal, mas não idiota. Ela falava com mesmo nível que minha avó.

– Vó? O filho do Snow tá aí – interrompi a conversa, entrando no quarto e esperando que Madge me seguisse. Ela conversou mais uns cinco minutos com vovó e entrou. – Como você consegue?

– O que?

– Ser simpática, carismática? “Por favor, confie em mim. Decididamente, eu sei ser animada, sei ser amável. Agradável. Afável. E esses são apenas os As. Só não me peça pra ser simpática. Simpatia não tem nada haver comigo” – recitei A Menina Que Roubava Livros.

– Nossa – ela riu e passou os olhos pelo meu quarto, parecendo só perceber naquele momento a quantidade de livros que havia. – Você gosta de ler, em? Essa frase é de qual?

– Aquele ali – apontei. – Segunda prateleira.

– Queria ter vontade de ler livros. Mas... Argh! Não consigo.

Bateram na porta e não me mexi um centímetro, apenas berrei pra abrir. O Mellark o fez e colocou a cabeça por uma fresta na porta.

– Sua avó tá chamando pra almoçar lasanha – ele olhou pra Madge, como quem esperasse uma reação desesperada. Mas ela ficou quieta, então ele apenas fechou a porta e saiu do quarto.

– Que preguiça de levantar! – reclamei. – Pra você tudo bem comer lasanha?

– Estou me desprendendo de futilidades – ela respondeu e abriu a porta do quarto.

Então era isso... Madge Undersee não fazia mais dietas malucas e ligou o botão "dane-se" (perceba que não falei "foda-se") para o corpo.

Ao sentarmos à mesa, Snow Júnior estava com o prato posto e colocando o refrigerante no copo. Era desconfortável comer ali... Se ao menos estivéssemos vendo um filme...

– Vamos comer na sala? – propus. – Podemos ver Os Três Mosqueteiros. O livro é fantástico e o filme é com Logan Lerman. Ele é, definitivamente, muito...

– Lindo! – completou Madge, num suspiro. Como ela conseguia transformar minha tara por um ator em algo fofamente romântico?

– Três mosqueteiros! – alegrou-se o Mellark. – Eu assisti o desenho animado. Eu topo.

Então pegamos nossos pratos, copos de refrigerante (o meu era roxo, o de Madge vermelho e do Peeta azul) e fomos até a sala. Eu sentei no sofá, Madge no outro sofá e Mellark no chão.

– Peeta, você pode me passar meu copo? – pediu Madge, vendo que seu copo estava na mesinha de frente para o loiro.

– Qual o seu? – ele perguntou.

– O vermelho.

– Onde? – eu tive que rir com essa pergunta dele. O copo tava bem na frente dele. – O que foi?

– O copo tá na tua frente!

– Ah – ele exclamou, pegando. – É que eu sou incolor.

– Incolor? – eu gargalhei e Madge soltou risadinhas.

– Não enxergo o vermelho – ele falou e eu gargalhei ainda mais. – O que é?

– Burro ele? Imagina – falei para a Madge. – Mellark, quem não enxerga as cores é daltônico, não incolor.

– Ah – ele ficou sem graça e eu ri mais ainda, Madge rindo ao meu lado.

– Você é mesmo? - quis saber Madge.

– O que?

– Daltônico?

– Ah, não - ele abaixou a cabeça (ficando incrivelmente fofo) e voltou a comer.

Por Deus, Peeta Mellark Snow era tão burro quanto uma formiga. Eu odiava formigas. Odiava o Mellark também. É, combinava.


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Notas finais do capítulo

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É importante pra mim!