A Morte Lhe Cai Bem escrita por MahDants


Capítulo 8
|| Lágrimas Coloridas


Notas iniciais do capítulo

É, eu demorei um tempão e vim com um capítulo curtinho desses. *vergonha*
Eu cancelei essa história de postar toda quarta e domingo. Agora, caso queiram ver a data da próxima postagem, basta ir no meu perfil. Vou fazer o máximo para cumpri-las.
Enjoy the chapter!



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Acordei no dia seguinte com dor nas costas. Juntar três camas para quatro pessoas ainda dava, mas sete? É, não deu muito certo. Eu esmagava mamãe e Prim me chutou a noite toda. Não foi legal, enfim. Levantei antes de todo mundo e fui até a cozinha, preparar o café da manhã. Embora eu fosse extremamente preguiçosa, uma coisa que eu gostava era assar salgadinhos de queijo. Como eu gostava!

Peguei a manteiga, o trigo e o queijo ralado e comecei a misturar a massa. Era tão, tão legal. Escutei uma porta se abrindo, mas não liguei. A massa estava pronta e eu ia começar a fazer as formas. Essa era a parte mais legal e era onde eu usava minha criatividade; fazia corações ou escrevia coisas do tipo “Alex Pettyfer” e depois eu comia. Dessa vez, decidi fazer tipo uma minhoca em espiral.

– Bom dia – Mellark me cumprimentou e não me dei o trabalho de respondê-lo.

Mesmo assim, olhei para cima. Ele vestia um moletom verde com a calça cinza do pijama. Seus cabelos loiros estavam estranhamente alinhados, embora na parte da frente os fios dourados estivessem como se fossem uma montanha. Seus olhos estavam mais puxado pro azul claro e sua cara estava inchada, o que me fez lembrar que provavelmente eu também estava de cara inchada, já que também tinha acabado de acordar. Meu pijama era curto e de alcinha, já que raramente sentia frio, cor de rosa, estampa de zebra na blusa.

– Poderia ter respondido – ele comentou, sentando-se à mesa da cozinha.

– Não estou afim – retruquei.

– Sempre mal-educada – ele resmungou.

– Sou educada com quem merece – anunciei.

– Você consegue tal proeza? – ele perguntou, enquanto eu ainda fazia os salgadinhos.

– Com quem merece – lembrei.

Continuamos alguns minutos em silêncio. Eu fazendo o salgadinho e ele me observando. Eu estava concentrada na comida, mas tinha perfeita consciência que ele me observava. Parte de mim ficava feliz, para ser sincera, porque mesmo que o garoto fosse insuportável, ele estava me analisando, me sugando, seja lá o que for. A outra parte, a parte da menina frágil e autoestima baixa, estava com medo de que enquanto ele me analisava, o único pensamento fosse “que garota feia”. Eu não gostava de ser observada.

Lembrei-me de quando tive que ler uma página do livro “Os Três Mosqueteiros” em francês, na frente da sala toda. O trabalho era para escolhermos nosso livro favorito e recitar a página de sua parte favorita em francês. Muitos levaram os clássicos infantis como Cinderela, Os Três Porquinhos, que eram leituras fáceis de fazer. Eu escolhi Os Três Mosqueteiros porque era o livro que eu estava lendo. Procurei na internet a versão em francês e mandei ver.

Por ser um livro diferente do padrão criado na escola, eu fiquei nervosa. Estava com cólica e mãos suadas. Sentia todos os olhares famintos em cima de mim e principalmente, o olhar da professora. Uma falha, um julgamento eterno. Eu não podia errar e esse pensamento, foi meu maior erro. Porque quando errei a primeira palavra, senti um nó na garganta se formar, errei a segunda, meus olhos arderam. Na terceira, não me aguentei e lágrimas azuis escorreram do meu olho. Lágrimas azuis porque não vivo sem rímel colorido – inclusive naquele momento, eu estava com o rímel laranja da noite anterior – e no dia, meus cílios estavam azul-escuros.

Eu tinha esse lance de me cobrar demais, de ser perfeccionista e não aguentar erros. Também tinha o lance de me importar com a opinião das outras pessoas, mesmo que essa pessoa fosse Peeta Mellark; um idiota que me chamaria de gorda só pra me ver colocar toda a comida pra fora. Tinha consciência disso, mas se naquele momento ele me chamasse de gorda, eu ia mesmo colocar a comida pra fora.

– Quer parar de me olhar? – deprequei, levantando os olhos do salgadinho.

– Não arranca pedaço – ele deu de ombros.

– Porra, para de me olhar. Isso tudo é o que? Vontade muito grande de me levar pra cama?

– Everdeen, gosto de levar mulheres para a cama – ele admitiu e eu fiz uma cara de interrogação, provavelmente enorme, pois ele sorriu e disse: - Mulheres delicadas, sabe? Não mulheres do seu tipo, que querem dar uma de sabida falando palavrão e sendo grossa.

– Eu não sou grossa! – defendi-me; Mellark sorria satisfeito.

– Não? Compare-se com Madge – ele mandou. – Ela é o tipo de mulher que eu levaria para a cama.

Essa foi a sua sina. Ela saiu sorrindo da cozinha e eu fiquei estupefata por alguns minutos, até voltar a colocar a mão na massa. Mesmo assim, continuava com um nó na garganta. Clove também era assim, ela também falava palavrão. Madge não. Madge sabia se portar nos lugares, falava calmamente, sem palavrões e tinha conteúdo. Era daquele jeito que minha mãe me criava. Ou que ela queria me criar.

Eu daria mais orgulho a minha mãe se me portasse feito Madge? Na presença de papai eu agia como Madge. Madge. Madge. Droga, Mellark. Era por isso que eu não era amiga de nenhum menino? Porque não era delicada? Mas Johanna era amiga de todos os meninos. Mas eles a viam como um menino e não como uma garota amiga deles. Eu queria ser amiga de algum menino. Amizade do tipo chorar no ombro, ir pra casa dele, contar tudo.

Clove e Johanna não eram influências boas para mim. Era Madge. Eu tinha que começar a agir feito ela, a ter educação, ou melhor, usar a educação que minha mãe me deu. Também começaria conversando com alguns meninos. Isso aí, Katniss Everdeen ia mudar e ia mudar para melhor. Também não seria mais grossa com mamãe, nem com ninguém, na verdade.

Coloquei os salgadinhos de queijo no forno e voltei pro quarto. Reforcei o rímel laranja, coloquei meu biquíni preto e a saída de praia amarela. Meus cabelos estavam trançados e fui até o terraço, encarar a grama verde. O quanto eu já brinquei naquela grama?

Escutei alguém se aproximando e vi minha mãe, já de biquíni, depois de um tempo. Minha cara deveria estar péssima, porque ela sentou do meu lado e perguntou, com a voz mais doce possível:

– Tá triste, Kat? – eu apenas fiz que sim e comecei a chorar. – O que aconteceu?

– O Mellark aconteceu. Eu o odeio – confessei.

– Odiar é uma palavra muito forte, KitKat – ela falou, usando meu apelido de quando eu tinha sete anos. Sorri.

– É, mas eu odeio. Ele é o típico menino riquinho que acha que o dinheiro concerta tudo.

– Rico? – desdenhou mamãe. – Acho que não, Kat. Snow trabalha um duro enorme.

– Oi?

– Snow trabalha feito um condenado – ela repetiu. – Pra dar tudo aos filhos, mas é com esforço, Kat. Ele não é rico, muito menos Peeta.

– Então o iPhone...

– Foi presente de aniversário do Peeta – explicou mamãe. – Snow juntou muito para o presente.

– Eu não sabia – sussurrei começando a chorar.

– Você não devia ter quebrado aquele telefone, Katniss, cadê a educação que te dei?

– Mãe... – falei num fio de voz.

– Mãe nada, foi errado.

– Você tá brigando comigo?

– Alguém tem que brigar, não é? Pra ver se coloca juízo nessa cabeça.

– Sinceramente, você se importa comigo? – eu perguntei, elevando a voz chorosa.

– Que pergunta é essa, Katniss Everdeen Abernathy? – agora ela estava brava.

– Se você se importa comigo! – gritei. – Porque está vendo que estou mal, aí você vem gritar comigo.

– Claro que me importo com você – ela gritou de volta, dando uma tapa em meu ombro. Ardeu. – Você acha que viria com um monte de fedelho pra cá se não me importasse? Tudo que eu faço em função de Katniss e você me vem com essa? Você é muito mal agradecida e injusta comigo.

– Eu sou injusta? Eu?

– E muito egoísta. Eu encontro um cara bacana, o Snow, e você faz o favor de implicar com o filho dele.

– Chega! Essa foi a gota d’água.

Levantei e corri até o banheiro, chorando. Esbarrei com Gloss no caminho, mas não me importei. Mellark tinha que estragar tudo, mamãe tinha que estragar tudo. Minha vida era uma bosta. Não dá, não consigo ser delicada, não consigo parar de brigar com minha mãe. Tudo era culpa minha, no fim. Eu tinha que estragar tudo.

Passei o dia lá dentro, até a hora de sair. Não falei com ninguém, apenas entrei no carro e virei o rosto. Clove, Madge e Johanna estavam lá também, tensas e constrangidas com a briga entre mamãe e eu. Eu só sabia que as lágrimas continuavam escorrendo em meu rosto. Lágrimas alaranjadas.


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Notas finais do capítulo

Pra quem não entendeu as lágrimas laranjas, é por causa do rímel laranja dela.
Por favor, amorecos, comentem.
Ah, e eu sei que o romance tá demorando, que não estão tendo nenhum avanço, mas tenham calma.

Nos próximos capítulos:

— O QUE? - berrei no telefone. - Não, não, não.
— Você não tem escolha, Katniss. Estou presa no trabalho - falou mamãe e eu bufei.
— Eu vou com a Madge sozinha, mamãe.
— Não, o Peeta vai te pegar e pronto.

— Você é muito burro! - insultei, dando risinhos com Madge.
— Porque? Qual o problema do incolor?
— A palavra é daltônico, ô gênio - falei, rindo ainda mais.

— Sabe do que eu tenho medo? - perguntei.
— O que? - perguntou o Mellark, no exato momento que um senhor passava na rua gritando:
— Amendoim! Olha o amendoim!
Eu comecei a rir, sendo seguida por Madge. Mellark, lerdo, entendeu por último e começou a rir também. Eu agora tinha medo de amendoim.