(POV Lily)

Apertei forte a mão do Nico, enquanto cerrava a outra em um punho.

– Muito bem. A reunião está acabada, não se esqueçam de falar com seus meios-irmãos.

Todos se levantam e vão embora. Eu solto a mão de Nico e praticamente corro atrás de Annabeth, que foi a primeira a sair.

Quando a alcanço seguro seu ombro e a forço a olhar para trás. Ela se vira, assustada. Assim que o olhar da filha de Atena se encontrou com o meu, percebi o motivo de ela ter saído tão rápido da reunião. Annabeth não queria me encarar.

– Oi Lily, algum problema? Podemos conversar na fogueira...

– Algum problema? Algum problema? Jura, Annabeth? Vamos começar pelo pequeno “problema” de você não ter me escolhido para a missão! Percy é meu meio-irmão, é o único parente meu, tirando Poseidon, claro. Travis e Connor são como irmãos para mim, eles... Por que você está fazendo isso comigo? – Perguntei, desesperada. – Você é uma filha de Atena! Não devia pensar de um jeito mais lógico, fui eu quem tive o primeiro sonho, não fui? Então! – Tentei apelar.

– Lily, minha decisão ainda não é definitiva...

– Quer saber? Esquece.

Passei por Annabeth, nossos ombros se encontraram, numa batida brusca. Continuei andando sem olhar para trás, ciente que ela me olhava preocupadamente e que Nico estava conversando com Annie, para entender o que tinha acontecido.

Fui direto para o chalé de Poseidon, morrendo de raiva. Bati a porta e gritei, frustrada. Isso não podia estar acontecendo.

Precisava de um banho, entrar no mar, qualquer coisa. Qualquer coisa que pudesse me fazer esquecer aquilo tudo.

Porém ao invés disso tudo eu tirei meus tênis, sentei na cama, abracei minhas pernas e enterrei minha cabeça nos meus joelhos.

Não foi nada maturo, mas foi o que eu consegui fazer. Depois de alguns minutos escuto uma batida na porta e eu me levanto rapidamente, enxugando as lágrimas do meu rosto.

Corri para o banheiro, e gritei de lá:

– Pode entrar.

Escutei a porta abrindo, e depois fechando.

– Lily? – Ouvi me chamarem, com a voz que eu reconheci como sendo de Kate.

– Estou no banheiro Kate, eu já vou. Espere só alguns minutos.

Liguei a torneira e lavei o rosto. Olhei no espelho. Meus olhos estavam um pouco vermelhos, mas nada muito horrível.

Respirei fundo, limpei meu rosto novamente. Agora era só torcer para que ela não percebesse que eu estava chorando.

– Oi Kate! – Falei, saindo do banheiro e dando um sorriso forçado. – Já sabe da novidade? Annabeth escolheu você e Lena para ir à missão.

– Annabeth me contou sobre tudo que aconteceu – falou Kate, indo direto ao ponto.

Kate estava sentada na minha cama, eu me sentei na cama do Percy, ficando de frente para ela. Olhei para meus pés, sabia que ela ia começar a passar um grande e chato sermão em mim.

– Olha, eu te entendo. Também ia ficar com raiva se estivesse no seu lugar. Mas, Lily, Annabeth não está bem, ela está muito mal. Já perdeu Percy, durante seis meses, acho, antes, ela não quer perdê-lo de novo. Quando Annie o encontrou, da última vez, jurou que nunca mais aquilo iria se repetir, e foi o que aconteceu. Percy foi sequestrado e ela está aqui, de novo, tentando achá-lo e salvá-lo. Ela não está pensando no que é certo, ou em qualquer coisa. Acho que, pela primeira vez, uma filha de Atena está agindo com o coração, e não pela razão. É por isso que ela escolheu a mim e a Lena, ela sabe que o correto seria escolher a você e a pessoa que tiver o terceiro sonho, mas ela não liga para o que é racional ou não, não agora. Por isso que ela escolheu a mim e a Lena, por saber pelo que estamos passando, como namoradas deles.

Bufei. Ela podia estar certa, como sempre, mas continuo querendo salvar meus amigos!

– Então como vou ajudá-los? – Perguntei. – Você não sabe, na verdade ninguém sabe, mas quando conheci Travis e Connor prometi para mim mesma que não iria deixar nada acontecer com eles dois! Por quê? Simples, assim que os vi, me lembrei dos gêmeos Weasley e prometi que ninguém, nem a morte, iriam separá-los, como aconteceu com os outros!

– Eu sei que é difícil, Lily, mas quem vai cuidar do Acampamento, se todos forem na missão?

Não respondi, estava cansada disso tudo. Cansada de Kate tentar me consolar, cansada de não conseguir ficar tranquila por muito tempo. Enfim, estava cansada.

– Vou mergulhar, preciso relaxar. – Falei, já me levantando e dirigindo à porta.

– Espere! – Kate me chamou. – Posso ir junto?

Pensei por um segundo. Nunca havia mergulhado com alguém antes, com exceção a Percy, nem Nico já teve a oportunidade. Porém, depois pensei em como Kate estava tentando me fazer sentir melhor, vindo até aqui e pedindo para mergulhar comigo, mesmo sabendo que eu nunca tinha feito isso com ninguém. Também pensei em como estávamos mais afastadas ultimamente, agora ela passava a maioria do seu tempo com Annabeth, e o meu eu passava com Nico e Lena.

– Claro – respondi, finalmente. – Por que não?

Kate sorriu, o que me fez sorrir também. Ela pulou da cama e eu estiquei o braço para ela me dar à mão. Ela o fez. Juntas, saímos correndo e rindo pelo Acampamento, como loucas, até chegarmos à praia.

A praia estava linda, como sempre. As ondas quebravam na areia e respingavam gostas, me chamando até o mar.

Sorri para Kate e saí correndo para o mar.

– Ei, me espera! – Gritou Kate.

Eu ri e continuei correndo. Virei rapidamente para trás e vi que Kate estava tirando o segundo tênis e jogando o casaco na areia, depois disso, ela saiu correndo atrás de mim.

Em alguns segundos eu já tinha alcançado meu tão sonhado e esperado mar. Mergulhei de uma vez e deixei que a água me levasse para longe, me fizesse esquecer de tudo.

~~~

Não sabia que mergulhar como uma amiga seria tão divertido. Kate ficou impressionada com a paisagem, com os peixes, com tudo.

Saímos da água rindo, como costumávamos fazer, quando eu ainda morava no orfanato, e fazíamos alguma brincadeira. Era bom lembrar os velhos tempos.

Ainda rindo, fomos para o chalé de Atena, para Kate botar uma roupa seca. Lembro quando todos, com exceção a Kate, me odiavam no chalé 6. Agora era bem-vinda ali.

Enquanto Kate se trocava fui ver a estante de livros, com uma certa distância dela, para os filhos de Atena não me matarem.

Eram tantos livros! Vi Harry Potter entre eles e fiquei curiosa, quem poderia estar lendo, ou quem poderia ter lido?

– Harry Potter? – Escutei uma voz perguntar, vindo de trás de mim.

– Sim. Eu amo Harry Potter, desde pequena, já li todos os livros. Por mais incrível que pareça. – Respondi rindo e me virando.

Vejo um garoto alto, com os cabelos loiros, mas não como os dois seus meios-irmãos, era uma loiro mais puxado para dourado, eram lindos. Seus olhos eram cinzentos, mas, dependendo da luz, pareciam azuis. Seu porte físico era ótimo, posso dizer.

– Jura? Que legal, também sou potterhead. Qual sua casa?

– Grifinória. – Respondi sem hesitar. – E a sua?

Ele fez uma careta e respondeu:

– Sonserina.

– Sempre tive uma queda pelos sonserinos... – Comentei, sem nem pensar no que estava dizendo.

Quando percebi o que havia falado arregalei os olhos botei a mão na boca.

– Desculpa, é que às vezes eu não penso antes de dizer as coisas. – Falei, segurando ao impulso de dar um tapa na minha própria testa.

Nesse momento Kate sai do banheiro, me salvando de uma situação completamente constrangedora.

– Enfim, tenho que ir. Tchau! – Digo.

Saio dali o mais rápido possível, sem dar nem oportunidade do garoto responder. Corro até Kate e nós duas vamos para o chalé de Poseidon.

Quando chegamos ao chalé de Poseidon, vemos um filme e Kate decide que iria dormir lá. Sempre quisemos dormir uma na casa da outra, mas eu não podia sair do orfanato, muito menos levar alguém para passar uma noite lá! Eu emprestei um pijama para ela, que ficou um pouco grande nela, mas melhor que nada.

Ficamos rindo e conversando até tarde, mas o cansaço foi mais forte e acabamos dormir. Eu dormi na minha cama e Kate na reserva.

(POV Lena)

– Boa noite, Nico. – Eu me despeço, antes de deitar e dormir.

– Boa noite.

Fecho os olhos e espero que o sono venha. E ele vem.

Estou num tipo de caverna, acho. Não era um ambiente sujo e mal iluminado, mas eu conseguia ver algumas rochas. Olho em volta e vejo Rafael.

Corro até ele e o abraço.

– O que está acontecendo, Rafael? Por favor, me diz que tem alguma explicação para você ter feito aquilo tudo!

– Lena, os deuses menosprezam seus filhos. Hades te deixou trancada no Mundo Inferior por todos esses anos, você não quer se vingar? Lena, se junte a mim, por favor.

Rafael esticou o braço e abriu a mão, para que eu a segurasse. Balancei a cabeça freneticamente falando que não.

– Hades só queria o meu bem! Não sabe o que está falando! Rafael, por favor, entenda e volte! Volte para mim, para Meredith...

– Não sabe o que está fazendo, Lena. Fique do lado vencedor, se junte a mim.

– Do lado vencedor? – Falei, me estressando. – Quer dizer do lado covarde, não é? Atacar um Acampamento enquanto todos estão dormindo e sequestrar três campistas? Rafael, quem você se tornou? Onde está aquele menino doce e simpático que eu conheci? Por que fez isso com Travis, Connor e Percy?

– Não acha que Percy já é herói há muito tempo? E Travis e Connor, com aquelas brincadeiras ridículas! Ninguém vai sentir falta deles!

– Eu vou! –falei, tentando não chorar. – Também sinto sua falta, Rafael. Sempre vou sentir. Volta para mim.

Rafael parou de falar agressivamente e se acalmou. Ele chegou mais perto de mim e tocou minha bochecha, acariciando a mesma.

– Eu e Meredith fizemos uma promessa – continuei. – Prometemos que o traríamos de volta a todo custo.

– Por favor, Lena, não perca seu tempo assim.

Sendo assim ele segurou meu rosto com as duas mãos, depositou um beijo na minha testa, e, antes de eu falar alguma coisa, a paisagem mudou.

Agora, sim, estava numa caverna suja e mal iluminada. Ao fundo dela, consegui enxergar três pessoas acorrentadas, machucadas e sujas.

Depois de alguns segundos percebi que aquelas pessoas eram Travis, Connor e Percy. Corri na direção deles e me ajoelho para ficar na altura deles.

– Ah meus deuses! – Segurei o rosto de Travis com minha mão. – Uma missão já está sendo providenciada para resgatarmos vocês.

– Não! – Falou Travis. – Por favor, Lena, nem tente vir. É perigoso. Fique no Acampamento, fique salva.

– Desculpa Travis, mas você sabe que eu não posso fazer isso.

O beijei delicadamente e escutei Percy me chamando. Fui até ele, me ajoelhando ao seu lado.

– Impeça Lily de vir. – Ele pediu. – Por favor, Lena, não deixe que ela venha, é perigoso demais e eu nunca iria me perdoar se acontecesse algo com ela. Quanto a Annabeth, sei que ela viria mesmo se eu pedisse para não vir.

Então a minha visão foi ficando embaçada e eu acordei, no chalé de Hades.

~~~

(POV Lily)

Acordei e fui tomar banho. Não demorei muito, pois achava que Kate ia tomar banho aqui. Quando saio do banheiro vejo Kate com a mesma roupa de ontem.

– Vou tomar banho no meu chalé – avisa ela. – Te encontro no café da manhã, ok?

– Eu te levo até a porta do chalé. – Falei.

Fomos para o chalé de Atena, e eu me despedi dela na porta. Viro para me encaminhar para o refeitório, mas duas mãos cobrem meu rosto.

Tateio a mão, tentando descobrir quem é. Sei que não é Nico, pois a mão não é fria, como a de Nico e Lena. Também sei que não é Leo, pois a mão não é áspera e nem tem calos. Meggie e Annabeth não podem ser, pois as mãos eram, claramente, masculinas.

Eu desisto e me viro. Fico desesperada quando vejo quem é. O filho de Atena que eu conversei ontem estava diante a mim, sorridente.

– Oi, ontem você praticamente fugiu de mim, acabei nem conseguindo me apresentar!

– Desculpa. – Respondi, sem jeito.

– Meu nome é Christopher, mas me chama de Chris, se quiser.

– Tudo bem. Eu me chamo...

– Lily. – Ele disse, me interrompendo. – Todos te conhecem aqui!

– Isso é bom ou ruim? – Perguntei, desconfiada.

– Bom, acho.

Fomo conversando, enquanto íamos para o refeitório. Descobri que ele era novo no Acampamento, ele chegou aqui esse ano, ou seja, logo no seu primeiro dia ocorreu uma invasão e o resto dos dias dele, o Acampamento está silencioso e chato.

– Normalmente aqui não é tão quieto. – Comentei.

– Annabeth e Kate me contaram, falaram que geralmente Travis e Connor estão aprontando por aí. Também falaram que você quase sempre está com eles, aprontando também. 

– É, elas não mentiram – dei de ombros. – Eu passei a maioria do meu verão passado no chalé de Hermes, até meu pai me reclamar. Travis e Connor são como irmãos para mim.

– Eu sinto muito. – Respondeu, sincero. – Olha, lembro do que você fez, no dia da invasão, queria dizer que aquilo foi uma atitude realmente corajosa.

– Mas não consegui salvá-los. – Resmunguei.

Christopher para de andar e segura meu rosto com a mão, me fazendo olhar nos olhos dele.

– Eles vão voltar para casa, ok? Vão voltar salvos direto para você.

Escutei um pigarreio atrás de mim e me afastei de Chris. Olho para o lado e vejo que era Nico.

O filho de Hades se aproxima e me abraça de lado.

– Sou Nico di Angelo, filho de Hades. Namorado de Lily. – Ele se apresenta, encarando Chris.

– Christopher, filho de Atena. Amigo de Lily. – Responde Chris, também encarando Nico.

Sinceramente, não me lembro de quando eu e o filho de Atena nos tornamos amigos, mas isso não importa, não agora que Nico está quase tentando matá-lo.

– Chris, nos vemos mais tarde! – Eu me despedi e puxei Nico para longe dele.

– Então, por que não tinha me apresentado ao seu novo amigo? – Perguntou Nico.

– Nico, não seja ridículo! Eu o conheci ontem, estava no chalé de Atena, esperando Kate se arrumar e fiquei olhando para os livros de Harry Potter e ele veio falar comigo, falando que também era fã da saga. Potterheads se tornam amigos facilmente.

Já tínhamos chegado ao refeitório. A maioria dos campistas já estava ali. Vi que Nico ia abrir a boca para rebater, mas Lena e Quíron entram no recinto, ambos com cara preocupada.

– Atenção, campistas. Quero todos os líderes do chalé na sala de reunião agora!

Sendo assim Quíron se retira e todos os campistas se entreolham, preocupados.