(POV Lily)

Dez minutos. Esse era o tempo que passamos procurando Meggie. Chris estava com algumas costelas quebradas, então tivemos que parar e dar ambrosia para ele, mas, mesmo com a ambrosia, Chris não aguentava andar muito rápido, o que dificultava nossa busca.

Já estava desesperada, culpada e cansada. Mas acho que estava ainda mais culpada do que todos os outros. Por quê? Simples, eu a arrastei para cá, se não fosse por mim, ela não estaria nesta situação. E ela é namorada de um dos meus melhores amigos. Isso era horrível demais, nunca me perdoaria se algo acontecesse com ela.

Meu braço envolvia a cintura de Chris, para ajudar-lo a andar, e Nico ia à frente. Queria estar com ele, envolta nos braços dele. Uma parte de mim queria que ele me consolasse e me encorajasse. Mas eu sabia que isso era ridículo. Sabia que pareceria uma criancinha chata e idiota, sabia que sempre tinha sido forte e que não tinha motivos para parar de ser agora. Sendo assim, respirei fundo, para encher meus pulmões de ar e gritei mais uma vez:

– MEGGIEEEEEEEE!

Nenhuma resposta. Já estávamos perto do ônibus em chamas quando eu escutei alguém tossindo. Na hora, não pensei direito, apenas larguei Chris e comecei a correr na direção do barulho.

Corri, corri e corri. Mas não achei nada. Paro e apuro meus ouvidos. Consigo ouvir a tosse mais uma vez. Continuo a correr, até que chego numa pequena pilha de destroços e acho Meggie debaixo deles.

– Ah meus deuses! Meggie! – Falo, quase gritando.

Abaixo ao seu lado e seguro sua mão, enquanto tentava tirar os destroços de cima dela com minha mão livre.

Não foi difícil, logo Meggie estava livre. Pelo menos, quase livre.

A filha de Afrodite estava horrível. Suas roupas todas rasgadas e chamuscadas, assim como sua pele e seu cabelo.

– Eu... eu acho... que... torci meu... tornozelo. – Disse Meggie baixinho e entre as tossidas.

– Esta tudo bem, Meggie. Estou aqui – Disse, acalmando-a.

Comecei a ouvir passos atrás de mim. Rapidamente me levantei e transformei meu anel numa espada, mas quando a fumaça se desfaz, vejo que eram Nico e Chris.

– Meninos! Venham para cá, rápido! Encontrei Meggie. – Gritei.

Eles vieram o mais rápido possível. Chris estava apoiado em Nico, e nenhum dos dois estava feliz com isso.

Abaixei de novo ao lado de Meggie e segurei sua mão de novo.

Nico deixou Chris sentado ao chão e se abaixou ao meu lado, pegando Meggie no colo.

– Vamos sair daqui, Lily. Depois cuidamos de Meggie, aqui não é o lugar mais apropriado.

Assenti devagar e fui ajudar Chris a se levantar. Fomos andando cabisbaixos e lentamente para fora da fumaça e do ônibus em chamas.

Quando chegamos a uma distância razoavelmente boa, Nico deitou Meggie na grama e eu deixei Chris sentado no meio-fio. Rapidamente corri até Meggie e me ajoelhei ao seu lado, enquanto pegava néctar e dava para ela.

Meggie bebeu tudo de bom grado.

– Meggie você está bem? – Eu perguntei, me sentindo uma idiota logo em seguida. É claro que ela não estava, ela quase morreu.

– Estou, foi mais um susto – respondeu a garota, surpreendendo a todos. – O néctar curou as poucas queimaduras no meu corpo e meu tornozelo já está melhor. Na hora, soterrada ali, pensei que seria o fim. Mas agora esta tudo bem. Podemos continuar.

– Tem certeza? – Perguntei, arqueando as sobracelhas.

– Absoluta.

Ela não permite resposta de mais ninguém. Meggie já se levanta e começa a caminhar.

– Estão esperando o que? Precisamos achar as garotas – ela pergunta, sorrindo.

Caminho até Chris, para ajudá-lo a caminhar, mas ele despensa minha ajuda com um aceno.

– Eu também estou melhor – afirma ele.

Então todos nós voltamos a procurar, mas desta vez procurávamos Kate, Annabeth e Lena. Nossa caminhada era silenciosa, Meggie ia à frente, sendo seguida por Chris, depois por mim e finalmente por Nico.

Desacelerei minha velocidade, permitindo Nico me alcançar. Assim que ele chega, ele me abraça de lado e nos continuamos à caminhada deste jeito.

– Estou preocupado com Lena – confessa ele. – Quando eu me separei dela, tinham vários monstros do lado de fora do ônibus. Não sei se elas conseguiram escapar a tempo.

Comecei a fitar o chão. Mais uma vez me sentia culpada. Não devia ter deixado que tantos semideuses viessem comigo nesta missão. Tinha que ter pensado nas consequências, nos monstros. Mas é claro que eu não me toquei disso, afinal, não era uma filha de Atena...

Então, foi como se alguém tivesse me dado um soco no estômago. Chris é um filho de Atena, ele devia ter percebido e me alertado.

A raiva se mistura com a culpa e a preocupação dentro de mim, fazendo com que eu saísse dos braços de Nico e avançasse na direção de Chris.

Eu o virei para mim e o empurrei, fazendo com que ele caísse no chão. Puxei um faca que estava na bainha dele, e apontei para seu pescoço.

– Você sabia! Sabia que tantos semideuses iriam atrair monstros demais! Sabia disso e não me avisou! Como pode fazer isso?!

Chirs olhava para mim com surpresa estampada nos olhos.

– Lily, eu posso explicar...

– Explicar?! – Gritei, impedindo-o de continuar a frase. – E se Kate, Lena e Annabeth tiverem morrido?

Nico me tirou de cima do Chris e eu deixei a faca cair no chão. O filho de Hades me abraçou forte e eu retribuo o gesto.

Não tinha reparado nisso, mas o que eu mais precisava era de um abraço como este. Um que eu pudesse confiar e demonstrar minha fraqueza, mesmo que seja apenas por segundos.

Depois de alguns minutos assim, eu me separo de Nico e vejo que Chris já esta de pé e já se recuperou do susto.

– Chris, me desculpa... – começo, mas ele me interrompe.

– Não, quem deve desculpas sou eu. Não apenas a você, devo desculpas a todo mundo aqui. Eu sabia que já seria perigoso irem apenas a Meggie e a Lily, só que não falei nada, porque pensei que se vocês se lembrassem deste detalhe, não iriam pensar duas vezes antes de me deixarem para trás. Então, fiquei calado. Porque não queria ficar no Acampamento sem você, Lily. Onde quer que eu esteja, vou me sentir em casa estando com você. Não me mande voltar, por favor.

Eu olhei para o chão, sem graça. Nico respirou fundo, tentando ter paciência e Meggie sorriu.

– Tudo bem, Chris – eu falei. – Vamos apenas continuar.

E assim foi.

(POV Lena)

Você pode me chamar de idiota. Vá em frente, eu te dou razão, mas eu não contei para Kate e Annabeth sobre Nico. A verdade é que não tinha apenas um motivo para isso, tinham vários. Sabia que ele provavelmente estava morto, embora não conseguisse sentir isso, era impossível dele ter sobrevivido, não o vi saindo do ônibus. E, por algum motivo, sei que se eu assumir sua morte contando para elas a verdade, vai se tornar ainda mais impossível a probabilidade de Nico ter sobrevivido à explosão. Isso não faz sentindo algum, mas é o que eu sinto, que, se eu contasse, a morte de Nico se tornaria real. Também temia que, se eu contasse, elas ficassem ainda mais desanimadas. O sequestro de Percy, Travis e Connor tinha deixado todas nós tristes e abaladas, isso seria mais um motivo para elas ficarem assim, piorando o desempenho delas na missão. E o último motivo, e o menos plausível, era que eu não me sentia confortável o suficiente com elas para falar sobre a possível morte de Nico. É verdade, tecnicamente somos amigas, conversávamos juntas no Acampamento Meio-Sangue, treinávamos... mas geralmente mais alguém estava por perto. E, do mesmo jeito, elas não eram próximas o suficiente para falar sobre isso com elas. Se Lily tivesse ali seria melhor. Estava mais acostumada com ela, Nico, Travis e eventualmente Connor. A missão estava ruim, não podia negar. Eram Annie e Kate conversando e formando planos, enquanto eu ficava calada e excluída.

Não era ruim, a verdade era que eu não me importava muito. Mas gostaria de ter Lily, Travis ou Nico aqui comigo.

Kate e Annabeth estavam se revezando, uma cuidava da outra de cada vez. Enquanto eu enfaixava meu braço completamente ferido e queimado, que sangrava bastante.

De qualquer forma, não parei de procurar Nico com o olhar, e mesmo quando Annabeth falou que precisávamos continuar, continuei andando atrás delas, varrendo o lugar com meus olhos a procura de qualquer vestígio do filho de Hades, de meu meio-irmão.

(POV Lily)

Eu estava ficando preocupada. Ainda não tínhamos achado Annie, Lena e Kate e precisávamos encontrá-las antes que elas fossem embora.

Caminhava lado a lado de Meggie, que estava muito melhor desde a explosão, assim como Chris. A verdade é que eu ainda estava muito brava com ele, o que o fazia penar que podia esconder algo assim de mim? Ele nos colocou em perigo e eu não iria esquecer isso facilmente, não suportaria que mais alguém se machucasse. Eu só deixei isto de lado porque precisávamos, urgentemente, achar as três garotas.

Nico me alcançou e sussurrou no meu ouvido:

– Posso falar com você?

Assenti com a cabeça e comecei a diminuir o ritmo dos passos, deixando que Meggie e Chris andassem a nossa frente. Quando já estávamos numa distância considerável Nico falou:

– Lena me viu no ônibus. Os outros sabem disso, me viram salvando ela. Mas queria conversar com você... Você sabe que só me sinto confortável para conversar com você e com Lena.

– Ela te viu? Nico, e se ela achar que você estiver...

– Morto? – Adivinhou ele. – Não, ela sentiria. Espero que ela saiba que, de alguma forma, ainda estou vivo. Mas não acho que ela vá contar para Annabeth e Kate sobre isso. Ela, assim como eu, não iria se sentir confortável, tenho certeza.

– Então temos outro motivo para encontrarmos com elas! Lena precisa ter certeza que você está vivo!

– Não, Lily, você não está entendendo. Mesmo se encontrarmos com elas, não poderemos ir simplesmente falar com ela. Iríamos colocar nossa missão em risco. Vai que Annabeth nos manda de volta para casa? Ela sabe que eu posso viajar pelas sombras e pode pedir para que Lena chame Batman para ajudar a levar todos para casa.

Parei de andar, me coloquei na frente de Nico e segurei seu rosto, fazendo com que ele me olhasse nos olhos. Então vi o quão preocupado ele estava com ela.

– Nico, a partir do momento que Lena pode estar em risco, o objetivo da missão muda. Teremos que encontrá-las e contar tudo a elas.

– Mas Lena não está em risco... – Tentou argumentar Nico.

– É claro que está! Ela pode estar tão preocupada com você que um monstro pode pegá-la de surpresa. Sabe-se lá o que vai acontecer. Mas, Nico, não tente me enganar. Sei o quanto quer correr até ela e contar a verdade, mas não confessa porque sabe que quero chegar a Centralia e salvar Percy, Travis e Connor o mais rápido possível. Mas eu não vou desse jeito. Vamos encontrar Lena e contar a verdade para ela, ok?

Sendo assim, fiquei na ponta dos pés e depositei um beijo na sua testa. Eu já estava me afastando quando Nico me puxa para um abraço muito apertado. Sabia que ele estava buscando conforto, e foi o que eu ofereci. Retribui o abraço, consolando-o.

Ficamos muito tempo assim, até escutarmos alguém pigarrear atrás de mim. Eu me viro e vejo Chris. Volto a considerar em matá-lo, mas respiro fundo e deixo que ele fale:

– É que nós temos que continuar. Quando Meggie deu conta da ausência de vocês dois, ela veio procurar vocês, mas quando viu vocês resolveu dar um tempo. Mas já está ficando tarde.

Olhei para Nico, que também estava querendo matar Chris, e dei a mão para ele, continuando a andar e deixando Chris para trás. Ele sabia que eu ainda estava brava com ele, então não conversou comigo nem nada. Apenas caminhou uns dez passos de distância de mim e Nico.