Por Laura

Eu estava me preparando para deixar o teatro, vim com o intuito de convencer a Isabel a deixar de lado a sua tristeza nesta noite e se juntar conosco no baile de carnaval, eu não teria muito tempo pra lhe dar atenção já que estaria lá colhendo informações para a matéria sobre os cordões mais ela teria a companhia da tia Jurema e nos nossos amigos que já tinham confirmado que iriam, no fim das contas ela concordou que também iria e até estava falando em fantasia. Eu já estava chegando a porta quando reconheci uma pessoa que passava a frente do teatro então dei um passo para trás e me encostei em uma das colunas para não ser vista por ela, não tinha nada a esconder da moça, acho até que ela nem me reconheceria pra falar a verdade mas não queria encara-la, pois ao contrario dela eu sabia muito bem de quem se tratava.

Eu tinha em mente ficar apenas alguns minutos encoberta naquela espécie de esconderijo para dar tempo dela passar na frente do teatro e dobrar a esquina para enfim sair e seguir a minha direção, o que eu não esperava era que ela encontrasse uma conhecida bem na frente do teatro e parasse para conversar, atrasando assim ainda mais a minha saída, eu não tinha a intenção de ouvir a conversa das duas mais tinha receio de sair de onde eu estava e passar a impressão de que estava me escondendo o que de fato não deixava de ser verdade... então fiquei aonde eu estava e torcendo mentalmente para se tratar apenas de cumprimentos rápidos que uma situação dessas exigia.

– Heloisa que bom de ver minha amiga, estava louca por falar contigo.

– Oi Monica como vai? Se estavas assim tão aflita por me ver porque não foi até minha casa, sabes que sou solitária e quase nunca recebo visitas, iria adorar receber-te.

– Estavas mesmo pensando em fazer-te uma visita mais se o destino nos armou esse encontro não irei perder essa oportunidade de lhe falar.

– Então fala logo que já esta me deixando curiosa com essa urgência toda.

– Eu falo... não sabes quem eu encontrei a dois dias e por pouco não me atropelou.

– Que horror Monica era conhecido nosso?

– Quem me dera ser conhecida de tal homem, era um conhecido teu... mas enfim acho que me coloquei mal desta vez ele não estava de automóvel não se me tivesse atropelado seria com o corpo mesmo.

– Fala logo mulher, de quem se trata?

– Ninguém mais, ninguém menos do que o Dr Edgar Vieira.

A menção do nome do Edgar despertou a minha atenção para aquela conversa que se até então estava sendo odiosa para mim agora com a menção do nome dele me deixou totalmente alerta. Não sabia se estava mais interessada em descobrir o que iriam falar dele ou se a minha vontade maior era sair correndo dali antes de ouvir a confirmação dos meus anseios sair da boca dela... será que ela teria coragem de admitir que estava tendo um caso com ele no meio da rua pra quem quisesse ouvir... prendo minha respiração e aguço ainda mais os meus ouvidos para a conversa.

– Eu não entendo o porquê de tanto entusiasmo para falar que quase foi atropelada por esse senhor...

– E quem não queria ser atropelada por ele, oras por favor Heloisa não me faça essa cara que eu não falei nada de mais, apenas estou sendo sincera e não mascaro aquilo que penso ao contrario de muitas damas da sociedade.

– E você sempre foi assim sincera até demais para o meu gosto.

– Mas me diz o que passa com o pobre? No dia em que o vi ele estava tão distraído que quase esbarrou comigo, mais infelizmente ele recobrou a atenção a tempo de desviar e apenas chocou com o meu ombro e me pediu mil desculpas por isso.

– Oras Monica por que me tomas? Como posso saber o que se passa com ele?

– Não se faça de desentendida Heloisa eu bem sei que a nossa queria D. Margarida a estava empurrando para os braços do seu lindo filho.

– shhh fala baixo.

– Ok, ok eu sei que você é diferente de mim e não gosta de contar vantagem mais não negue isso na minha cara... me fala vocês estão se dando bem?

Sinto meu coração apertar e quero com todas as minhas forças evaporar daquele lugar, porque eu simplesmente não fui embora quando tive oportunidade, idai que ela iria me ver, ela não me reconheceria como ex mulher do Edgar, eu seria só uma estranha saindo do teatro, mas como fazer isso agora sem chamar a atenção para o fato de que as estava escutando. Eu fecho os meus olhos exasperada e deito a minha cabeça para trás encostando-a na coluna fria pedindo para que um raio atingisse a minha cabeça ou as delas para ser poupada de continuar ouvindo aquilo.

– Você não tem jeito mesmo Monica, não se anima muito não porque eu não tenho nada para te dizer.

– Como não? não me digas que não tem nada a dizer pois eu não acredito eu sei que até almoço na casa dele você foi convidada.

– Fala baixo criatura... não tem nada a dizer porque nós somos apenas amigos.

– Por que meu Deus, porque eu não sou agraciada com amigos como esse?

– Monica!

– Desculpa se isso é sinceridade de mais para você, pode me dizer exatamente que história é essa de apenas amigos? Que mulher consegue ser apenas amiga de um homem com o porte daquele?

– Não fale assim Monica o Edgar é muito mais do que esse homem que você esta pintando, não se trata apenas de um homem com um porte apresentável, ele é um homem encantador, educado, responsável e fiel ao que acredita.

– Nossa quantos elogios, tem certeza que vocês são apenas amigos?

– Tenho Monica eu tenho certeza... eu pude constatar isso no almoço que tive com ele eu praticamente só falei no nome do Antônio e ele no da ex mulher.

– Que horror Heloisa com um homem daqueles na sua frente você vai falar no defunto... e ele não tinha se separado da mulher e ela tinha ido para o interior porque estava mal da cabeça?

– Não Monica, essa história de que ela estava no interior se tratando era falsa, foi uma maneira que a mãe dela achou para esconder o divorcio...

– Mas se eles se divorciaram então não vejo porque ele ainda fala nela.

– Ele a ama Monica é por isso que ele ainda fala nela...

– Se a ama tanto assim porque eles se divorciaram o amor não é correspondido?

– Acho que não foi por falta de amor que eles se separaram, ele não entrou em detalhes mais eles estavam vivendo um momento complicado e quando a esposa dele falou em divorcio ele não botou muita fé que ela levaria adiante e tomou um susto quando viu que ela não estava blefando.

– Ta até ai eu entendi, mas se ela esta de volta ao Rio, se eles continuam se amando, por que não estão juntos?

– Isso só eles os podem dizer... mas me fala vamos ficar aqui a rua o dia todo? Não quer acompanhar-me até em casa para conversarmos mais a vontade?

– A proposta é tentadora minha amiga mas terei de declinar do convite, tenho uns assuntos urgentes para tratar ainda hoje, mas foi muito bom ver-te!

– Mas se não podes ir hoje, prometa-me pelo menos que irá me visitar depois do carnaval?

– Eu prometo, mais agora eu tenho de ir, passar bem minha amiga!

– Passar bem.

As duas finalmente se afastam da entrada do teatro mais eu continuo imóvel aonde estou, ainda chocada com tudo que tinha ouvido, então eu estava errada, o Edgar não estava de fato com aquela moça e eu tenho agido como uma idiota esse tempo toda acreditando estar com razão pelo meu ciúme... e agora o que eu faço?