Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 64
- What goes around comes back around.


Notas iniciais do capítulo

Oi meninas, n demorei tanto dessa vez certo? Sei o quanto estão ansiosas pra esse capítulo e é bem capaz q nem leiam o que tá escrito aqui, mas ok. N ficou tão grande quanto achei q ficaria, mas acho q o tamanho está bom certo?

Espero que gostem, deu trabalho.



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Um mês depois...

O revirar de olhos, de todas as cores e de todas as formas, seriam incontáveis até para o professor de matemática parado ao lado. O próprio Damon, em si, pegava-se olhando mais do que o normal para o relógio algumas vezes. O discurso do diretor Crow estendia-se cada vez mais, para a infelicidade dos alunos. O grande baile de outono seria em poucas semanas e cada dia que passava ele fazia questão de passar de sala em sala para repetir as regras do que estava proibido para a tão esperada noite.

Elena, assim como os demais, não fazia questão de se atentar ao homem. Mas diferente dos outros, concentrou-se na outra figura masculina ali de pé. Ele não a olhava, mirava os próprios pés, sem perceber a tão especial atenção que seu olhar lhe dava. Um desejo súbito atingiu o corpo da garota, que de instância preferiu ignorar. Mas ele estava tão sexy naquele dia. Nunca pensou que se excitaria com um homem de suéter de lã, mas de algum modo ele conseguiu usá-lo com uma natural sensualidade, no qual era dele de costume. Não foi preciso um pacto entre os dois para que combinassem de não ultrapassar limites em ambiente escolar, era necessário apenas bom senso. Estava se comportando tão bem desde o início para que não pudesse se dar ao luxo de uma provocação ao menos uma vez.

Por sorte havia sentado na primeira fila naquele dia e por sorte também estava usando uma saia xadrez vermelha. Agindo naturalmente, ela '' derrubou'' um de seus lápis ao chão, pensou rapidamente em apanhá-los de maneira provocativa, mas chamaria atenção demasiadamente. A queda já foi o suficiente para Damon a olhar e com isso já conseguia fazer um pequeno show.

Deixou de fitá-lo, pois não queria parecer que estava planejando aquilo. Calmamente apanhou o lápis cruzando as pernas no mesmo ritmo. Com as unhas arranhou de leve sua pele na região da coxa, abaixo da barra da saia. O gesto fazia o tecido subir alguns centímetros.

Damon tentou desviar os olhos do pecado logo no primeiro movimento daquelas pernas, mas o ruído de unhas lhe chamou atenção novamente e assim que se encontrou com o vai e vem daquele pedaço de pano não pôde ser capaz de retirar. Em seguida, Elena interrompeu os arranhões e o substituiu por carinhos delicados para aliviar alguma vermelhidão na área. Em provocação também tombou a cabeça para o lado e fechou os olhos simulando prazer, ele levemente sentiu um suar em suas mãos e as limpou. Droga, olha pro chão. Pensou enquanto balançava a cabeça e voltava o olhar para uma direção qualquer. Não durou muito. Quando voltou-se para ela outra vez, as pernas já estavam levemente abertas, caso não houvesse as mãos femininas segurando a saia poderia enxergar melhor o que estava ali.

O que estava pensando?

Elena cruzou as pernas outra vez, pondo-se de lado e elevando o lápis para os lábios. Mas ela nem o olhava... Será que estava realmente provocando? Porque não parecia e ao mesmo tempo talvez.

Obedecendo um impulso, ela decidiu ceder ao desejo de também vê-lo. Com uma olhada discreta, observou a inquietude da postura dele, que continuamente esfregava as mãos na lateral de sua calça. Provavelmente ele brigaria consigo mais tarde e Elena tinha ciência disso, cruzou as pernas novamente e de modo ainda mais lento, atraindo dessa vez não só a Damon como ao diretor que antes se concentrava na escolha de suas palavras. Era melhor parar por aí, concluiu um tanto envergonhada.

—--x---

O discurso do senhor Crow se deu por encerrado praticamente junto à aula, que era a penúltima daquele torturante dia. Elena juntou suas coisas do modo mais entediante possível, embora a próxima aula fosse educação física. Conseguia analisar apenas pela postura dele que Damon não parecia muito confortável.

— Senhorita Gilbert, pode ficar um minuto? - Ele efetuou o pedido após toda a turma de Bonnie sair por completo da sala. Foi esperto. Elena não pôde evitar um aperto em sua espinha, ele não parecia contente. - É sobre a sua prova... - Inventou uma desculpa qualquer, para os poucos que ainda estavam ali.

Em questão de segundos, eram os únicos dentro do espaço.

Silenciosamente, Elena se aproximou da mesa aparentando estar cabisbaixa.

— O que foi isso? - Ele foi direto, desviava o olhar para um dos papéis em sua mesa.

Poderia omitir e se fazer de desentendida, mas não adiantaria. A seguridade na voz dele deixou exposto o quanto seria inútil tentar desviar o assunto.

— Perdão. - Disse simplesmente, soando triste. - É que... Sinto saudade - Engasgou - Faz tanto tempo que a gente não... Você sabe. - Envergonhou-se.

Damon suspirou cansado, também se sentia assim. Elena voltou o olhar para o chão junto com ele. Pra ela era frustrante em igual, mas quanto mais analisava a situação menos entendia. Sua mãe ultimamente estava tão próxima, que não havia mais tempo para estar com ele. A chamava para o shopping, para almoçar fora, voltava para casa mais cedo quando não havia mais consultas, parecia em todos os lugares. Mas não podia reclamar, Isobel estava tentando recuperar tudo o que perderam esses anos todos.

E uma chance como essa não tinha como negar.

— Também sinto saudade, Elena. - Confessou, dessa vez a encarando.

Lentamente, os dois olhares se encontraram. Dando aquele sentimento de finalmente para ambos, sentiam como se fizesse anos que não se olhavam daquela maneira.

— Queria que pudéssemos nos ver hoje. Mas a minha mãe pediu que eu ficasse de recepcionista pra ela no consultório... A Lexi tá doente.

— Vai ficar lá até as seis? - Perguntou, sendo respondido pela expressão insatisfeita dela.

Ambos bufaram.

Damon queria poder reclamar, mas não tinha como. Não havia maneira ou escolha além de aceitar que aquela era a relação que tinham. Só que por dentro tudo o que queriam era voltar para Nova York.

— Podemos... Talvez esse fim de semana, no domingo? Vou tentar fazer minha mãe ir pra igreja, não sei nem porque ela não vai mais. Acho que aconteceu alguma coisa.

— Como o que? - Perguntou com voz receosa.

Conhecendo aquele tom dele, Elena logo fez questão de tranquilizá-lo.

— Damon se você tá pensando que minha mãe sabe de alguma coisa está errado. - Disse, convicta. - Minha mãe é toda impulsiva... Ela logo teria feito um escândalo. - Talvez se tivesse dito para ele o que havia ocorrido entre ela e sua mãe, ele não teria fantasiado essa possibilidade. Optou por esperar, afinal toda aquela história com Isobel era um tanto quanto complicada para que qualquer um além das duas soubesse, apesar de pretender contar em breve.

— Eu sei. - Se convenceu retirando aquele absurdo de sua cabeça.

— É melhor eu ir. Tô atrasada. - Lamentou, timidamente.

Nos últimos dias era assim que as coisas estavam entre eles. Tímidos, formais, como se não possuíssem mais intimidade. Era tão raro agora para eles conversar, provavelmente aquela era a mais longa troca de palavras que tiveram nesse último mês.

Damon não protestou, embora uma parte sua implorasse para que ela ficasse mais. Dentro de Elena, acontecia o mesmo. Seu corpo clamava para que ele pedisse aquilo, mesmo sabendo que ele não iria.

Ele não disse nada, apenas a assistiu caminhar até a porta. Queria dizer que a amava, mas sentia que nem possuía mais o direito, a intimidade para dizer aquelas palavras.

Segurando as lágrimas em seu rosto, Elena partiu em direção ao campo para a próxima aula. Queria poder fingir uma doença e simplesmente ir embora. Estava perdendo, mas não estava perdendo Damon. Ele a amava, sabia disso. Era a relação deles a qual estava indo embora. Não sabia o que fazer, pois era entre ele e sua mãe que tinha que optar e sentia-se incapaz de fazer aquela escolha.

—--x---

Um mês antes...

— Eu não acredito nisso. - John negou com a cabeça, perplexo. - Você tem certeza?

— Já disse que sim... Eu vi as fotos.

Com a urgência de sua ligação, John havia chego em Mystic Falls no dia seguinte. Não havia dito nada além do necessário pelo telefone, aquele era um tipo de conversa para se ter pessoalmente. Como ela mesma ordenou, o pai não havia ligado para nenhum dos filhos e nem avisado que estava na cidade. Informado da história, as paredes daquele pensionato alugado de última hora pareciam esmagar seu corpo uma contra a outra

— Tem certeza que esse cara não abusou dela? Quer dizer, não seria impossível.

Isobel manteve a postura pensativa.

— Acho difícil. - Disse um tanto intuitiva. - Ela parecia... Bem contente de tá com ele Não sei.

— Mas você tem certeza? Bota a mão no fogo por isso? - John não parecia convicto daquilo.

Isobel não respondeu de imediato. Seus olhos rodearam-se por águas, que pareciam não querer secar nunca. Estava confusa, sua mente dizia uma coisa e ao mesmo tempo um instinto lhe dizia outra completamente diferente. Perguntava-se para si mesmo se, por um acaso, eles fossem apaixonados um pelo outro e viessem até si, com honestidade pedir permissão para um namoro. Será que aceitaria? Tentava pensar nisso e não conseguia uma resposta.

— John... - Chorou, sem que percebesse - O pai dele me disse que o Damon é alcoólatra. Um viciado, que já esteve até em clínica e mais de uma vez. Eu to muito confusa.

Atordoado, ele piscou os olhos algumas vezes seguidas.

— E você coloca uma pessoa dessa dentro da sua casa, com seus filhos sem saber de algo assim? É louca? - Gritou, com os dentes rangidos.

— Esse não é o caso aqui, John. - Isobel não pôde evitar de berrar também - O caso é que eu acho que ela pode tá apaixonada por ele.

— O QUE? - John contestou, na hora. - Pelo amor de Deus, Isobel. Não fala besteira... Elena é uma adolescente. Adolescentes acham que estão apaixonados depois de uma semana de namoro, não significa nada.

— Mas é da Elena que a gente tá falando. - Rebateu Isobel, mais controlada. - Sabemos muito bem que ela não é assim.

Para isso John não teve argumentos. Conhecia sua filha.

— A gente tem que descobrir então. - Dessa vez parecia mais racional também.

— E como? - Ela deu os ombros. Assim como a mãe, ele também não tinha ideia.

Houve uma curta pausa para pensamentos. Mas não demorou muito para a mente de Isobel se acender. Teria que saber detalhes daquela relação, sem perguntar nada para os protagonistas. Na verdade, eles nem ao menos deveriam desconfiar e só havia uma coisa, além de um caderno de desenho capaz de desvendar os segredos de sua filha.

— O diário. - Isobel falou soando como um EURECA. - O diário da Elena, com certeza lá deve ter bastante coisa.

Como alguém que houvesse acabado de encontrar a luz no fim do túnel, John deu um sorriso capaz de iluminar todo aquele quarto cheio de poeiras. Não havia modo mais eficaz.

— Perfeito - Exclamou contente. - Lê o essencial e se possível faça cópias. - Sem discordar, Isobel assentiu. - E lembre-se Isobel, enquanto isso mantenha esses dois o mais afastado possível. Talvez assim terminem naturalmente e já nos poupa dor de cabeça.

—--x---

— Tem muitas consultas pra hoje, mãe? - Elena sentou-se na recepção, como uma criancinha rodando o corpo na cadeira giratória. Pelo dia que teve aquele havia sido seu momento mais divertido até o momento.

— Vai ter pelo menos umas sete... Mas em horários um tanto diferentes, por isso vamos terminar tarde.

Em entendimento, Elena assentiu.

— Daqui a pouco até domingo a gente vai ter que tá aqui. - Ironizou enquanto olhava a agenda. - Agora entendo porque não tá indo mais na igreja.

— Logo a Lexi melhora e eu prometo te dá uma folga de mim, ok? - A mãe lhe retribuiu sorrindo. Ultimamente era assim as coisas entre as duas; Sorrisos e brincadeiras, mesmo que sem graça sempre tinham o melhor dos humores.

— Tudo bem. Mas falando em igreja... Você vai esse domingo? - Perguntou aparentando inocência. Isobel tentou manter o riso em sua face, pois sabia muito bem o motivo por aquela pergunta.

A mãe deu os ombros.

— Não sei ainda. To tão cansada ultimamente que... To preferindo rezar em casa. - Sem dizer mais nada, Isobel adentrou a sala.

Merda. Pensou Elena assim que a porta foi fechada. Não sabia mais o que se fazer, tinha tanto medo de perdê-lo e algo dentro de si dizia que talvez isso fosse acontecer. E o pior é que a culpa não seria de ninguém que descubriria e um escandalo se formasse. Não, não seria por isso. Seria por eles mesmo, por não terem sido capaz de manter aquela relação.

Não teriam quem apontar dedos, apenas eles próprios. Ou ela, nesse caso. Não se sentia assim somente pela culpa do futuro, mas por perdê-lo em si. Principalmente por isso.

Talvez pudesse dopar sua mãe com algum remédio e encontrá-lo pela noite. Porque agora por alguma razão, Isobel estava dormindo mais tarde do que costumava. Dizia-se viciada em algum seriado qualquer que passava maratona de madrugada.

Parecia até mesmo criminoso a ideia de apagar alguém daquela maneira, mas precisava apenas de uma noite para resolver as coisas entre eles dois. Apenas isso.

O relógio ia se mexendo de modo lento, enquanto o tédio se multiplicava em alta velocidade pelo seu corpo. Normalmente nessas horas, apanhava seu celular para se distrair, sendo impedida dessa vez pela falta de bateria. O computador em sua provisória mesa não possuía internet, apenas um programa especial para agendar consultas. Sua mãe costumava dizer que não pagaria o salário que pagava para Lexi tudo para a mesma ficar no facebook todo o dia.

A única distração possível seriam esses próprios arquivos. Para tentar aliviar o tédio remexeu pelos nomes sem nenhum objetivo em vista além de passar o tempo. Mas para a surpresa de sua baixa expectativa, um nome posto ali há um mês atrás fez seus olhos estacionarem. Giuseppe Salvatore - Sem horário marcado. Dizia a descrição.

Ou seja, foi uma consulta surpresa.

Mas o estranho daquilo tudo é que havia sido no último horário, quer dizer, ele havia chego às seis. Porque alguém que morava naquela cidade desde sempre havia ido há um consultório de dentista justo quando sabia que todo o comércio da cidade estava fechando? Qualquer um esperaria para o dia seguinte, ou viria mais cedo. Sem contar que estava sem hora marcada.

Mas o ápice de tudo aquilo estava no fato de que não havia horário de saída. Sua mãe havia dispensando Lexi antes dele ir.

Voltou os arquivos mais à frente, Giuseppe não havia aparecido mais. Outra vez, estranho. Se alguém vai em um consultório sem marcar hora é pra alguma emergência e emergências exigem tratamento... E ele não havia regressado.

O que será que estava acontecendo?

—--x---

Um mês atrás.

— Porque me chamou aqui com tanta urgência? - Giuseppe adentrou ao quarto, deixando em claro que queria ir direto ao assunto. Se estressou o bastante por Isobel não querer dizer nada por telefone.

— Senhor Salvatore esse é o John. Meu ex-marido. - Ela tentou fazer uma formal apresentação, mas ele não pareceu querer se distrair com convenções. Olhou o homem superficialmente e cumprimentou com a cabeça e um baixo '' como vai''.

— Então foi ele quem te contou sobre...

— Sim. - Giuseppe o interrompeu John, apressado. - Agora por favor, podemos deixar a conversa para depois.

Isobel iria dizer algo para acalmá-lo, mas John impediu.

— É muito simples, senhor Salvatore. O chamamos aqui porque queremos confirmar algo importante. - Soou sorrateiro. - Tem certeza que sua família, sua esposa principalmente... Não possuí nenhum tipo de contato com seus filhos?

As sobrancelhas do homem se franziram.

— Como assim? Acham que eu menti ou que não tenho controle sob a minha casa? Estão brincando comigo ou algo assim, senhores?

— Calma, se acalme. - John elevou o tom numa tentativa de pará-lo. Talvez fosse melhor não tentar amaciá-lo e apenas dizer de uma vez, caso contrário poderia ficar pior. - Te chamamos aqui não só por isso. Queremos que leia algo.

— Ótimo, estamos indo direto ao ponto. Prefiro assim. O que querem que eu leia?

No mesmo instante, John se virou para Isobel que apanhou o papel em uma das prateleiras do quarto.

— Essa é uma folha do diário da Elena, Giuseppe. - Isobel explicou calmamente. - Essa linha vermelha que tá marcada é a parte da onde eu quero que você comece a ler. - Preocupada, ela estendeu o papel.

— Até o final? - Ele perguntou ao apanhar a folha e Isobel assentiu.

Ainda apressado, Giuseppe logo voltou os olhos para o ponto necessário.

'' ... Ele deve estar com Grace agora. As vezes confesso que queria poder participar de um encontro deles, fazer coisas de família. Me sinto da família, não sei se é um sentimento certo ou errado mas me sinto. Damon me convidou uma vez, mas preferi deixá-los sozinhos. Antes era por ser na casa de Alaric e não sei se me sentiria bem lá após tudo que aconteceu na primeira vez que ficamos juntos. Ele deixou claro sua desaprovação.

E agora que ps dois se encontram na casa da mãe, casa que era dele... Torna tudo tão mais íntimo. Vejo o quanto ele espera ansioso as quintas feiras para ter esses momentos com ela. Gostaria que acontecesse a mesma coisa com ele e com o pai, mas sei que essa é uma área mais complicada na qual não posso me intrometer. Por mais que tenha ajudado a unir mãe e filhos novamente, afinal o Stefan também está nisso, tenho ciência de que com o Senhor Salvatore é um campo na qual não deve a mim. E sim ao próprio pai deles...''

Sem suportar uma linha à mais, Giuseppe parou a leitura amassando o inocente impresso ao máximo contra suas mãos duras e ásperas.

— Mas que merda. - Praguejou alto, socando um móvel qualquer. - Há quanto tempo isso tá...

— Há muito tempo - Interviu Isobel - Olha eu não tenho nada haver o que aconteceu com a sua família. A gente não te chamou aqui pra destruir a relação com a sua esposa ou nada disso.

— Tudo o que precisamos é que coloque uma filmadora escondida, um gravador, algo assim nos dias dos encontros da sua esposa com ele. Precisamos descobrir mais coisas pra poder fazer algo. - Endossou John.

Com a cabeça rodando, Giuseppe não se sentiu capaz de confirmar qualquer ação, tudo o que desejava era ter o pescoço de seus filhos em suas mãos.

Isobel conseguia enxergar a raiva dele em cada poro.

— Se você fizer alguma coisa... Por impulso, por precipitação pode botar tudo a perder. Tem que ficar calmo, agir como se nada tivesse acontecendo. Entendeu? - Ela chegou perto retirando o papel das mãos dele e entregando um copo d'água.

— Não vou fazer nenhuma besteira. O que eu preciso agora é sair daqui. - Disse simplesmente antes de ir porta à fora.

John e Isobel se entreolharam.

— Acha que ele vai fazer? - Ela questionou, preocupada.

— Tá nervoso agora. Provavelmente vai... Dirigir por alguma estrada, gritar, beber. Mas acho que faz sim.

— Não sei, não confio muito. - Torceu o nariz em dúvida. - Viu como ele tava com raiva?

— Reação normal - John deu os ombros em descaso. - O que eu não me conformo é com outra coisa. - Afirmou frustrado. Isobel sabia o que ele estava falando.

— Eu sei. - A mãe suspirou também sem cresse - Ainda não acredito que... Tudo isso aconteceu. Plano das amigas, ela se aproximando, ela tomando iniciativa. Elena tá apaixonada, John.

O homem rosnou baixo.

— Isobel, eu não quero ter que tirar minha filha daqui a força. É isso que você quer pra ela? Um alcoólatra? Vi a ficha criminal desse cara... Ele tem passagem desde os 13 anos. É isso que você quer pra ela?

Timidamente, Isobel negou.

— E o que a gente faz agora? - Ela sentou-se na cama.

— Eu vou voltar pra Nova York.

— Como é que é? - Riu sem humor. - E vai me deixar aqui sozinha?

— Isobel, eu não posso ficar aqui trancado. Se eu saio, essa cidade é tão minuscula que eu trombo com uma das crianças e pronto, acabou.

— Mas...

— Mas nada Isobel, eu já decidi. Eu volto pra Nova York e assim que o Giuseppe descobrir alguma coisa importante... Eu volto e a gente dá um jeito de seguir com tudo isso. Por enquanto só vai ser espera e eu tenho que continuar com a minha vida.

— E eu? - Gritou indignada. - Como quer que continue com a minha vida sabendo o que tá acontecendo dentro da minha casa?

Ele a olhou com indiferença.

— Já falei. Evite com que eles se vejam. - Caminhou até o canto do quarto onde estava sua mala. - Vou embora hoje e assim que o Giuseppe souber de algo realmente interessante, me liga e eu volto. - Sem saída, ela pareceu conformada. - Não se preocupe, de lá eu vou estudar melhor esse caso e vou resolvendo o que eu faço.

Sem esperar que ela se retirasse, John começou a separar suas roupas. Não ficaria ali para ver aquilo. Foi embora sem dizer nada, não se surpreenderia caso ele nem ao menos houvesse percebido sua saída.

—--x---

Duas semanas para o baile.

Damon tocou o sino improvisado de campainha já mais acostumado com toda a áurea presente apenas naquele jardim, naquela porta, naquele cheiro. Ela o recebeu com o mesmo sorriso cortês de todas as quintas feiras. No início era comum o sentimento de vergonha ao ter de volta a mesma velha terra na sola de seus sapatos; Não sentiu-se voltando para casa, pelo contrário, sentiu-se um intruso. Alguém sujo, sem saber se estava levando a sujeira para aquele local ou contraindo dele.

Mas fez por ela. Era importante para Grace que ele pisasse ali de novo, que reencontrasse seu velho quarto de infância e visse que não jogou nada fora. Era importante para ela que ele senta-se outra vez naquela poltrona vermelha da sala e ouvissem música country juntos como sempre fizeram, enquanto reviravam um álbum de fotos e comiam bolo de laranja com cobertura de chocolate, o preferido de Damon ou chocolate com cobertura de laranja, o preferido de Stefan.

Por isso aceitou, não queria que ela se sentisse uma criminosa que tem que se encontrar em um lugar escondido sem ninguém saber simplesmente por estar se relacionando com seu filho.

— Nossa, o bolo já tá pronto? - Perguntou ao ver o quitute já posto na mesa de centro. Normalmente quando chega ela ainda está preparando.

— Eu fui rápida hoje. Giuseppe saiu mais cedo.

— Ah, sim. Já pensei que tinha me atrasado. - Comentou enquanto ambos sentavam. Damon franziu as sobrancelhas para a música. - Carrie Underwood? Desde quando gosta de country contemporâneo? - Sorriu.

— Gosto dela. Elena que me deu esse cd. - Sorriu apenas de mencionar o nome dela. Esperando um sorriso vindo da parte dele também, Grace o olhou atenta. Mas ao invés disso seus olhos somente enxergaram lamentação. - O que houve? As coisas não estão bem entre vocês? - Perguntou diretamente.

Damon bufou chateado. Odiava o fato de que precisava falar disso com alguém.

— É que... Estão complicadas. Faz tempo que nós não não conversamos, que não temos tempo pra gente. As coisas estão meio frias.

Confusa, Grace desistiu de servir os bolos.

— Mas como isso se vocês moram juntos?

— É que a situação não é fácil, mãe. Claro que... Quando tudo aconteceu a gente sabia que não poderíamos andar de mãos dadas pela rua, nem dividir um sorvete no Grill...

— Mas? - Ela sugeriu, intuítiva.

Rapidamente, Damon coçou a vista.

— Não sei. Só não era desse jeito que eu esperava que acontecesse.

— Então vocês terminaram? - Não pôde evitar o pesar na voz.

— Não. E o mais louco de tudo isso é que parece que estamos vivendo como se sim.

Grace pensou um pouco antes de falar.

— Eu queria muito te dá um bom conselho agora. - Disse a mãe envergonhada. - Mas eu só tive seu pai e... Bom, meu casamento é sinônimo de paciência, mas não de amor. - Não tinha lamentação em sua voz, parecia alguém conformada com sua realidade. - Mas você sabe o porquê disso tudo. Eu sei que sabe e pior, sabe até como resolver também.

Damon a encarou, atordoado.

— Não entendi.

— Damon, essa sua relação começou completamente enrolada em uma teia. Cheia de confusões pra todos os lados... É natural que cedo demais as coisas se enrolassem, mesmo sem motivo aparente ninguém consegue viver dessa maneira, escondida por muito tempo.

Damon assentiu sem coragem de contestar.

— É impossível que você desenrole isso de uma vez. Na verdade eu nem aconselho. Mas também me parece muito claro que é hora de tentar resolver pelo menos alguma coisa nessa cama de gato toda ao invés de continuar esperando o tempo passar.

Dessa vez foi ele quem teve que conter suas próprias lágrimas.

— Mas se eu arriscar... Tenho medo de perder tudo. Tenho medo de perder ela.

— Tá, mas e agora? Você não sente que está perdendo ela? - Questionou obvia.

Não foi preciso responder aquilo. Tentaram por tanto tempo adiar o momento no qual tudo viria por água abaixo que esqueceram de tentar resolver outras coisas, mas lhe atormentava a ideia de perdê-la por completo, para sempre. Perguntava-se em que momento deixou-se prender em toda aquela teia que sua mãe comentava agora. Errou em subestimar aquele amor, talvez aquele hoje era seu maior erro. E continuava errando em não passar para ela essa segurança. Mas qual segurança? Já que a necessária, na qual ela precisava, não poderia dar isso nunca em uma relação onde cada dia é um risco maior.

— Você sabe o que tem que fazer, não? - Grace o olhou sorrindo por vê-lo disfarçando o choro no canto de seus olhos.

— Ainda tem o anel de noivado da vovó aí?

—--x---

Dez dias para o baile.

— E onde vai fazer o grande pedido? - Grace perguntou animada, enquanto ambos olhavam a caixinha vermelha em êxtase.

— No baile. - Disse sem pestanejar. - Quero que seja uma noite especial pra ela... Dá pra vê que Elena não tão animada e quero mudar isso.

— Vai conseguir. - Grace apanhou delicadamente o anel de sua mãe emocionada. Não havia ninguém melhor do que Elena para usar aquilo.

Damon sabia o passo que estava tomando e sabia o risco, mas preferia daquela maneira. Após o pedido, caso Elena aceitasse, contaria tudo para Isobel logo em seguida. Não queria que chegassem ao ponto de alguém descobrir e todo um escarcéu ser montado. Se houvesse uma maneira de tudo ser resolvido seria simplesmente dando a cara.

Isobel pausou a gravação, sem a perplexidade da primeira vez que ouviu. Agora todo o choque transmitiu-se para John ao seu lado. Ele ouviu atento cada palavra, imaginando as coisas em sua mente e tentando não demonstrar nada em sua expressão. Impossível levando em conta o quanto a mulher ao seu lado o conhecia. Estava com medo e estava receoso em sua escolha, começava a enxergar que talvez o sentimento dele fosse real, mas era de Elena que estava falando. Não podia subordinar sua filha para uma vida na qual poderia passar levando um homem há clinicas de reabilitação.

Nada poderia mudar.

— Eu já sei o que vamos fazer. - Disse friamente.

Isobel o olhou assustada.

— E pode me dizer?

Ele não respondeu de imediato. Esperou as vozes no gravador cessarem por completo para que sua coragem se recarregasse.

— No diário dela... Quem era o menino que ela namorava antes dele? Aquele participou daquele plano louco...

— O Tyler? - Perguntou sem compreender nada. Ele assentiu positivamente em resposta. - O que o Tyler tem haver nisso tudo?

— Precisamos dele. - Foi tudo o que disse. - Amanhã mesmo pede pra esse menino ir no seu consultório, durante a hora do almoço pra tua recepcionista não tá lá.

— E o que eu vou ter que pedir pra ele?

John a encarou.

— Nada. Eu vou tá lá esperando vocês... E lá, eu digo tudo pros dois. - Isobel tentou disfarçar aquela faísca de medo em seu corpo. John parecia obstinado e isso não era bom. - Se tudo dê certo esse baile vai relembrado pra sempre.

—--x---

Uma semana para o baile.

— Como assim, Lockwood? - O diretor Crow levantou-se abismado com o que ouvia.

— Isso mesmo senhor. - Assentiu reforçando suas palavras. - Foi exatamente o que eu ouvi. Estão planejando isso há um bom tempo e parece que toda negociação vai ser feita por celular.

— Mas tanto lugar pra se vender maconha e tão planejando isso justo no baile? - Gritou perplexo. - Mas que inferno. - A ideia da quantidade de pais que viria até si, repletos de reclamações já pesava a cabeça do estressado homem, que abriu a janela para poder permitir a entrada de ar. Precisava dele.

— Diretor, como sabe eu tô me candidatando pro grêmio desse ano e acho que... Eu tenho direito de poder lhe dá uma sugestão, certo?

Sem colocar muita atenção nas palavras do garoto, o homem afrouxou o nó de sua gravata e aumentou o volume do ar condicionado. Algo sem muito sentido para Tyler, já que havia aberto a janela também.

Sua cabeça estava explodindo no momento, era melhor deixar o garoto falar, talvez assim ele saísse mais cedo de sua sala. Precisava pensar em uma solução para aquilo.

— Eu realmente acho que o senhor deveria proibir celulares nesse baile. Afinal, a negociação vai ser feita toda pelo what's... E já tem até grupo. - Surpreendentemente, Crow voltou sua atenção para o garoto ouvindo-o. A ideia no geral não era ruim. - E caso precise de fiscalização... Poderia pedir para a xerife Forbes liberar dois policias para ficar no baile também. Posso pedir pro meu pai e ele autoriza.

Silenciosamente, o diretor foi assentindo aos poucos as palavras do rapaz. Houve uma curta pausa, não só para que pudesse analisar melhor, mas também que tentasse pensar em algo que parecesse mais eficaz. Não conseguiu nada.

— Volte aqui amanhã depois de ter falado com seu pai, peça a autorização em meu nome por favor.

Tyler sorriu por dentro de alívio.

— E sobre os celulares? - Perguntou, escondendo sua preocupação.

— Já passo de sala em sala para avisar sobre o assunto. - Limitou-se em dizer apenas isso. - Pode ir agora Lockwood.

— Sim, senhor. Muito obrigado por me atender. - Agradeceu enquanto retirava-se.

Ao sair, de imediato apanhou o aparelho em seu bolso discando o mais novo número presente em sua agenda. Estava nervoso, não achou que daria certo, mas diante da certeza de John de que tudo sairia perfeito, arriscou.

— Senhor Gilbert. É o Tyler. - Disse adentrando há uma cabine no banheiro. - Já fiz. Tudo maravilhoso, do jeitinho que o senhor queria.

Feliz, John não pôde evitar uma gargalhada.

Maravilha. Fez tudo certo, né garoto?

— Com o diretor sim, que era a parte mais difícil. Agora só falta falar com a minha amiga Bonnie.

E porque não fez isso ainda?— O homem elevou o tom.

— Porque ela tá organizando o baile e tá estressada. Mas vou falar hoje de noite mesmo.

Agora Tyler— Ordenou, apressado.

— Agora ela tá muito estressada, Senhor. É bem capaz de não deixar. Não se preocupe, eu consigo. - Nem que eu tenha que leva-lá pra cama, pensou ele.

Tudo bem então, me liga de qualquer jeito quando consegui.

— Ok senhor. Ligo sim, vai dá tudo certo.

—--x---

— Bonnie, por favor. - Implorou Tyler a ponto de se ajoelhar.

Mas a menina simplesmente voltou a atenção para o aparelho de seu celular irredutível.

— Não Tyler. A organização já tá toda pronta. Porque não me falou antes?

— Porque... Meu pai não tava me enchendo o saco antes. Já disse ele enfiou na cabeça que quer eu ajude na montagem do baile e a única coisa que me interessa seria cuidar de gravar a festa e de coordenar o telão e essas coisas.

Tyler esforçava-se para manter o teatro convincente, Bonnie era a pessoa mais intuitiva que conhecia e nada era capaz de passar por aqueles olhos de gato tão atentos. A levou ao Grill com a desculpa de jantar para fugirem de toda aquela pressão para que assim pudesse convencê-la. Esperou-a para que terminassem de comer o bom e velho sushi com abóbora, a grande especialidade da casa, e risadas recheassem o ambiente para começar a plantar a semente do verdadeiro motivo por todo aquela encenação.

Mas temia a possibilidade de tudo ter sido inútil.

— O Matt vai fazer isso, Ty. Já disse, não dá pra mudar assim só porque você quer.

— Você sabe muito bem que o Matt nem sabe ligar uma câmera direito. - Rebateu nervoso. Também não iria desistir. Fez sua melhor expressão de digno de pena e a olhou tristemente - Vai. Me ajuda com o meu pai, você sabe como ele é.

Bonnie o olhou piedosa.

— Fala com o Matt. Se consegui o convencer a desistir... Você se encarrega do telão e de filmar a festa. Pronto. - Cruzou os braços dando sua última palavra.

No dia seguinte a facilidade fora mais simples do que imaginava de conseguir. Bastou mostrar duas notas de cem à Matt para o trabalho ser seu. Estava feliz, finalmente todo aquele teatro iria acabar. Já imaginava que Damon e Elena pudessem voltar e ficou longe disso por muito tempo, mas foi preciso somente o pai de Elena lhe entregar uma gota de esperança de também poder tê-la de volta que se tornou o bastante para convencê-lo.

Queria ser o pano de lágrimas ideal para ela assim que todo aquele castelo desmoronasse no baile.

—--x---

Dia do baile...

O baile da primavera poderia ser considerado um dos grandes ápices na vida de uma garota americana, ainda mais quando se vive em um lugar como Mystic Falls ou qualquer outro canto do sul. Aquela noite poderia ser considerada a única gota próxima de uma aventura na vida daquelas pessoas que tinham o cotidiano tão pacato. Estaria presente na festa na qual os adolescentes dali lembrariam para sempre quando mais velhos. Enquanto no mundo real, se conhecem várias pessoas até encontrar, ou não, o amor de sua vida, em cidades como aquela seu futuro marido é provavelmente aquele que dançará as músicas lentas com você. O último baile antes da formatura deveria manter o coração de qualquer garota de sua idade acelerado. Mas o seu parecia bater no ritmo de mais um dia qualquer em Mystic Falls, sem ansiedade, sem alegria, sem cor, sem frio na barriga e sem razão para essas emoções acontecerem.

Olhou-se no espelho do banheiro pela última vez gostando do que via. Aquele vestido vermelho estilo sereia realmente fez jus ao preço e a cada curva de seu corpo. Seu pai havia mandado de Nova York, há quatro dias atrás. A primeira reação de Elena era jogá-lo fora e manter o orgulho intacto e os sentimentos escondidos, mas ao vê-lo o encantamento dominou seu corpo momentaneamente.

Mesmo assim não ligou para agradecer.

O cabelo estava posto para o lado dando mais destaque à joias em seu pescoço e orelhas. A maquiagem forte em seus olhos deixavam o pacote ainda mais impactante.

Ele iria essa noite. Talvez por agora ser obrigado pela própria diretoria e não para vê-la. As coisas não melhoraram nos últimos dias, pelo contrário. Ele parecia mais distante, mais misterioso, nervoso com sua presença. O primeiro pensamento que vinha em sua mente era que estava querendo terminar, mas não tinha a coragem para fazer isso. Como se estivesse tentando encontrar um modo de poder conseguir.

Não. Não chora. Pensou ao sentir lágrimas vindo para seus olhos.

Em sua antiga escola também haviam bailes desse estilo, a diferença provavelmente seria o significado. Em Nova York os objetivos eram maior do que apenas ser a chefe das líderes de torcida, ganhar aquela coroa, casar com o capitão do time de futebol/rei do baile e ter uma casa com uma cerca branca ao redor e dois filhos. Em Mystic Falls essas coisas eram o significado de vencer na vida. Em Nova York o baile era simplesmente mais uma festa entre tantas. Por mais que vivesse naquele lugar agora, sua mente continuava mais Nova Iorquina do imaginava. O que era irônico porque quando esteve lá, quis estar aqui e se sentiu como alguém de cidade pequena. Talvez esse fosse um comportamento típico seu.

— Elena, vamos? - A voz de April veio do quarto.

Despertada de seus pensamentos, ela se afastou do espelho em direção à onde a irmã estava. Sorriu. April estava bonita, bem diferente da menina normalmente com estilo masculinizado. Usava um vestido roxo drapeado na cintura e um decote em forma de coração como o da irmã. Ao contrário do cabelo solto lateral de Elena, April usava-os ao alto com algumas mexas cacheadas soltas e sem muita maquiagem, apenas um batom vermelho forte.

— Sim, podemos ir. - Avisou, colocando um último anel no dedo mindinho. - Está bonita. - Elogiou, sincera enquanto desciam às escadarias.

Isobel recebeu as duas meninas com uma máquina fotográfica na mão e um sorriso brilhante.

De imediato, Elena gargalhou com a imagem.

— Olha só você, uma típica mãe babona do sul. - Ironizou a filha. - Só falta agora escrever a gente em um concurso de beleza e engordar 20 quilos.

As duas presentes riram.

April já não estranhava mais a repentina boa relação entre as duas. Literalmente de um dia para o outro, era como se anjos houvessem descido do céu para abençoar a casa. Não perguntou. Jeremy também não, mas era obvio para os dois que durante o tempo que ficaram fora no acampamento mudanças haviam ocorrido dentro daquela casa.

— Sorriam. - Pediu Isobel tirando as fotos.

Ao terminarem a amadora sessão, Elena olhou ao redor sentindo falta de uma presença.

— E o Jeremy? Ele não vai com a gente? - Perguntou inocente e a irmã mais nova riu.

— Jeremy foi buscar a Anna. Ele tem namorada agora.

— Ah, sim. - Disse obvia. - Parece inacreditável que Jeremy tem um par pra um baile e eu não.

— O mundo dá voltas. - Endossou Isobel.

— Podemos ir, Elena?

Após revisar mentalmente se havia esquecido alguma coisa, Elena assentiu.

— Sim. Vamos.

—--x---

Acabaram de sair.

Isobel avisou por mensagem.

Não demorou muito até seu celular soar novamente.

Ótimo. Já estou aqui, espere uns quinze minutos e saía de casa. Entre pela entrada dos fundos que é onde vamos nos esconder pra esperar.

Pensou em perguntar se ele tinha certeza do que iriam fazer. Mas seria inútil, John parecia destinado e se a própria exibisse hesitação era capaz de deixá-la fora de tudo. Isobel só não tinha certeza se valeria a pena expôr sua filha à uma situação como aquela.

Ok.

Foi tudo o que disse. Não importava o que achava, já era tarde demais.

—--x---

Somente após desistir de encontrar Damon entre aqueles rostos e corpos que Elena pôde voltar-se melhor para o ambiente. Um pequeno palco havia sido posto no ginásio, onde em cima estava um DJ, o telão ao fundo e um microfone com pedestais. Na outra extremidade, uma grande mesa ocupava as duas pontas do cômodo e em cima comidas de todos os tipos eram oferecidas, apesar dos ponches serem a grande atração e o motivo para a fila. Não haviam cadeiras ou outras mesas. Caso alguém tivesse o intuito de sentar-se, as duas arquibancadas eram suas únicas escolhas. Aquele foi o primeiro lugar que procurou por Damon já que todos os professores, o diretor crow e dois policiais se encontravam naquele canto específico jogando conversa fora e rindo enquanto observavam as pessoas.

A maioria em si, divertia-se aproveitando as danças animadas em baixo das diversas luzes de neon que pareciam ter o arco-iris completo no teto até o chão. Em geral, todos pareciam animados; Não era pra menos, estavam vivendo a noite no qual esperaram o ano inteiro para poder ter.

Naturalmente os olhares se voltaram para si logo em que atravessou a porta de entrada, mas estava ocupada demais no momento procurando por ele. Desistiu de tentar encontrá-lo e foi até a mesa de aperitivos, recusava-se em ser uma daquelas meninas que se isola enquanto assiste as pessoas dançarem.

— Oi. - Uma voz conhecida soou próximo de seu ouvido.

Entediada, rolou os olhos antes de virar-se.

— O que quer, Tyler? - Soou dura.

— Calma. Eu vim em paz. - Ele elevou as mãos simulando redenção. - Só vim cumprimentar mesmo. Está linda.

Ok. Fui grossa demais sem razão.

— Obrigada. Na verdade... Decidi vir quase que de última hora.

— Ainda bem que veio então. - Analisando-o melhor, parecia extremamente ansioso na opinião dela. Tyler tinha um sorriso irônico no rosto no qual era um tanto incomum em um cara tão sério como ele. Devia estar realmente feliz por aquela noite. - Veio sozinha? - Perguntou após olhar ao seu redor.

— Não. Vim com alguém.

Ele elevou as sobrancelhas surpreso.

— Quem é o sortudo?

— Na verdade é uma sortuda. - Sorriu sem sarcasmo algum, deixando-o mais surpreso ainda. Até um pouco assustado. - Minha irmã April. - Completou após alguns segundos de silêncio.

Ambos gargalharam.

— Ufa. - Levou a mão direita ao coração. - Agora depois desse susto... O que acha de dançar?

Houve uma curta pausa.

— Acho melhor não. - Tentou soar simpática.

— Olha eu juro que vai ser só uma música, ok? Na verdade tem que ser só uma música. - Avisou, sem retirar por um minuto aquele seu sorriso. - Tô encarregado de filmar a festa e... Daqui a pouco vou está com uma câmera na mão pelo resto da noite. Só quero um momento divertido antes dessa tortura. - Hesitante, Elena olhou para os lados confusa. - Por favor. - Tyler endossou, juntando suas mãos em oração.

Seria só uma música mesmo... Pensou em descaso.

Ao vê-la oferecendo uma de suas mãos em sua direção, os olhos do rapaz se acenderam em um brilho incomum. Apanhou aqueles dedos como quem estivesse a beira de um penhasco e a palma dela fosse sua única chance de se segurar por sua vida. Levou-a até o meio da pista lotada de dança vangloriando-se dos olhares de inveja em sua direção. Estava com a garota mais bela entre todas novamente. O único toque para que aquele momento fosse perfeito seria se uma música lenta invadisse o ambiente, mas ao invés disso twist e shout dos beatles foi a escolhida.

Mesmo assim, aproveitou-se daquele corpo o máximo que pôde para tocar e mantê-lo perto, fosse com giros, com inclinações ou puxadas. As mãos não passaram da cintura, o que foi uma boa escolha pois ele também tinha ciência de que caso contrário era capaz dela abandoná-lo ali mesmo. Ainda sim o sorriso final no rosto de Elena mostrou que havia sido divertido para ela.

A música se encerrou junto a palmas de alguns alunos e logo outra veio para substituir. Olhou para Tyler, dessa vez mais feliz do que quando entrou. Era duro admitir, mas estava precisando de um momento como aquele na qual pudesse estar livre e leve, algo que ultimamente não estava conseguindo ser.

— Foi ótimo. - Limitou-se em dizer, um pouco antes de se afastar. - Obrigada.

Quando voltou o olhar para o mesmo lugar de antes, Tyler já não estava mais lá. Ele estava definitivamente diferente aquela noite, pensou em primeira instância que seria pelo baile. Mas lembrava-se claramente dos primeiros encontros que tiveram onde ele disse algo sobre não gostar de festas, bailes, baladas. Que era do tipo de cara que preferia restaurantes e cinemas. Talvez estivesse querendo parecer sensível para poder conseguir sexo mais rápido, só que com o passar do tempo viu que talvez ele não estivesse mentindo. E hoje... Até para filmar tudo se voluntariou.

Devia ter mudado muito nesse meio tempo.

Regressou para a mesa com o objetivo de poder comer dessa vez, já que Tyler havia interrompido seu plano por completo. Serviu-se com um pedaço de bolo de maracujá e em seguida passeou os olhos em busca de um garfinho de plástico transparente desses típicos de eventos como esse.

— Achei que não viesse. - Ele disse após se pôr ao seu lado, com intenção de disfarçar, fingia estar escolhendo mais salgados para seu prato. Como de costume igual a todas as vezes que estavam em público, não a olhava. - Eu queria poder não vim. - Completou após alguns segundos, pela reação sem resposta dela.

— E onde estava? Não te vi quando cheguei. - Achou melhor também não encará-lo.

— Claro que não, estava entretida demais dançando com o Lockwood.

Não havia ironia na voz dele. Nem ciúmes aparente. Apenas um tom de voz comum como se estivesse dizendo o preço de algo, ou no caso dele, o resultado de uma conta.

— Onde estava? - Desviou o assunto.

— Lá fora, no corredor dos fundos - Ele também queria sair daquele tópico. - Quero que me encontre lá em dez minutos. Pode ser? - Perguntou hesitante. - É só seguir a porta de saída que eu vou tá lá. Precisamos conversar.

Temendo aquelas palavras, Elena tentou articular uma desculpa para não poder ir, sendo tarde rapidamente. Antes que sua mente raciocinasse, ele se foi.

—--x---

— DICK - Tyler gritou ao encontrar o amigo, que o olhou confuso. - Pode segurar a câmera pra mim e filmar? É bem rapidinho, só pra mim poder ir no banheiro.

— Tá, cara. Vai lá. - Respondeu sem parecer incômodo.

Assim que a câmera saiu de seu ombro, Tyler correu em direção ao banheiro atropelando algumas pessoas. Qualquer um que o visse pensaria que estava prestes a soltar todo o mantido nas calças em questão de segundos.

Agradeceu mentalmente pelo ambiente estar vazio

Não havia tempo para pensar, dirigiu-se até a pia o mais rápido possível e apanhou escondido o celular que estava mantido com uma fita de durex em baixo do móvel. Claro que a exigência de John de não querer celulares para filmarem o escândalo que se formaria, poderia intervir na hora da comunicação entre os dois. Aquele modo clandestino foi a maneira mais eficaz de conseguir.

Eles saíram. Podem vir pro ginásio. Vou tentar alcançá-los. Assim que o telão ligar com eles, pede pro DJ desligar a música, não esqueça.

Enviou, com os dedos um tanto trêmulos.

Não esperou por respostas. Desligou o aparelho e o colocou de volta no lugar onde estava.

Regressou para o salão, procurando Dick para apanhar sua câmera de volta. Desligou-a e saiu em direção a porta na qual Damon e Elena haviam ido antes, só a ligaria outra vez caso os encontrassem.

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— Aqui. - Disse ele adentrando a sala de matemática. A sala dele.

Elena não reconheceu de imediato com as luzes apagadas e vazias.

Dessa vez foi impossível para ela segurar as próprias lágrimas, tentou disfarçá-las através da falta de luz, mas falhou ao tentar enxugá-las.

Confuso, Damon a olhou. Nem havia dito nada ainda, esperava pelo choro mais tarde.

— O que foi? - Perguntou preocupado. - Porque tá chorando?

Sou uma idiota. Pensou ela, desejando fugir daquela sala. Sabia a razão para estarem ali, sabia que ele iria terminar com tudo e sabia o quanto não queria viver sem ele.

Não aguentaria mais isso novamente. Teria que encontrar uma maneira de fazê-lo desistir e de fazê-lo acreditar que estava disposta a ser melhor e fazer daquela relação melhor.

— Por favor, não faz isso. - Implorou, não contendo suas lágrimas. Sem reação, Damon paralisou sua expressão. - Eu não me sinto pronta pra isso, eu não culpo você por querer. Mas eu... Peço, por favor, não faz isso.

Na esperança de que algum som viesse, Damon abriu e fechou os lábios inúmeras vezes. Não sabia como ela havia descoberto, mas o que mais lhe surpreendia era como a ideia de casarem pudesse fazê-la sofrer tanto. Era um estúpido. A maneira como ela chorava, era como se preferisse a morte ao invés de subir em um altar com ele. Talvez fazer isso significasse a morte mesmo.

Abaixou os olhos envergonhado. Se perdeu demais naquilo tudo, havia se esquecido de um detalhe importante... Elena era jovem, era alguém com a vida pronta para desafios e aventuras ao invés de choro de criança e louças sujas.

Suspirou frustrado, encarando aqueles olhos que pareciam pedir pela coisa mais importante do mundo. Cada vez ficava pior.

Lentamente assentiu, conformando-se.

— Tudo bem. - Sussurrou triste. - Você tá certa, é besteira fazer isso.

Assimilando as palavras dele, um sorriso em Elena foi crescendo aos poucos enquanto tomava consciência do que ele disse.

— Sério? - Perguntou sem acreditar, transbordando de felicidade. Em um impulso que não conseguiu controlar, o puxou pelo rosto para um beijo rápido. Damon não correspondeu como queria, mas não questionou aquilo. - Ainda bem, ainda bem. - Sussurrou contra os lábios dele.

— Me desculpa. - Ele a olhou, daquela vez. - Não imaginava que não estivesse preparada.

Elena riu irônica.

— Preparada pra isso eu nunca vou estar, né Damon. E espero que você também não. - O beijou mais uma vez.

Delicadamente ele a afastou.

— Então... Quer dizer que você nunca vai querer? É isso? - A encarou sem acreditar.

— Mas é claro que não. Ainda mais com você. Quer dizer, principalmente com você. - Disse amorosa.

Em choque, Damon mais do que nunca quis que seu corpo parasse de produzir sangue ou que conseguisse respirar. Aquela havia sido pior do que qualquer outras palavras que já havia ouvido em toda sua vida. E o que mais trazia perplexo era a maneira como ela dizia, sem ironias e até mesmo sem desdém. Apenas de modo direto, sincero e que chegava até a ser frio quando se analisava o peso do que ela estava dizendo.

Chega. Iria pra casa, não queria mais ouvir aquilo. Esse afastamento deles sem razão alguma, aquela alegria dela ao dançar com Tyler e agora aquilo... Os sinais estavam óbvios demais para que continuasse a fingir que não estava entendendo.

— Não vou ficar aqui ouvindo isso. - Avisou com desprezo na voz. - Sinceramente eu acho que eu merecia um pouco mais de consideração por ter tentado melhorar as coisas, Elena. - Tentou caminhar em direção a porta.

— Ei, ei. Onde você vai? - Gritou, enquanto corria até ele para se colocar na frente.

— Aonde eu vou? - Perguntou sarcástico. - Sério que ainda me pergunta algo assim? Devia ficar feliz por eu tá querendo ir embora. - Ignorou o corpo em sua frente e caminhou finalmente para a saída, mas dessa vez ele mesmo parou por si mesmo. - Espera. - Virou-se. - Como soube o que eu ia fazer?

Houve uma longa pausa. Elena sentia sem controle sobre si mesma, por tamanha falta de entendimento do que estava acontecendo entre os dois.

— Foi só intuição. - Respondeu parecendo não ter muita noção da realidade. Tudo porque simplesmente não sabia o que dizer.

— Eu devo ser bastante previsível mesmo. - Disse expondo o quanto odiava a si mesmo naquele momento. - Está certa em não querer casar comigo.

De imediato, os olhos de Elena se abriram como se houvesse alguma figura de um filme de ficção de cientifica presente na sala junto à eles, o que assustou até o próprio Damon que olhou para trás rapidamente para confirmar que não havia nada ali.

— O QUE VOCÊ DISSE?

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Ao ver a porta entreaberta da sala de matemática junto à duas sombras sobre o chão, Tyler não teve dúvidas que estava no lugar certo. Abaixou, engatinhando, para mais perto. As luzes tanto lá dentro quanto no corredor estavam baixas, então eles não o perceberiam. Com a câmera no espaço entre a porta entreaberta e o batente tinha um ângulo perfeito dos dois e finalmente pôde ligar. Nesse momento, todo o ginásio conseguia assistir ao vivo aquelas imagens dos dois pelo telão.

— Disse que está certa em não querer casar comigo. - Ele respondeu um tanto atônito.

Outra vez lágrimas vieram para Elena.

— Explica isso direito, ok. Porque você sabe muito bem que não há nada que eu possa desejar mais nessa vida. - Exclamou convicta.

— Elena você tá me confundindo, é sério - Estressou-se. - Primeiro você chora implorando que eu não te peça em casamento e agora se faz de desentendida.

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— Mas o que é isso? - O diretor Crow ajeitou os óculos enquanto se aproximava da multidão que assistia calada e atenta ao que estava naquele telão. Ninguém parecia chocado, simplesmente porque ninguém parecia estar entendendo nada.

John e Isobel se entreolharam. Da parte dele, satisfação; Da dela, um pouco de culpa e um pouco de preocupação.

Ao sentir uma mão em seus ombros, Isobel assustou-se olhando para trás. Era Jeremy.

— Mãe. - Ele parecia desesperado. - Mãe. O que tá acontecen... - Mas a voz do menino não conseguiu se completar ao reconhecer a outra figura ao lado dela. - Pai?

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— Quando? - Ela levou as mãos até a cabeça. - Me diz quando foi o momento que eu pedi algo tão absurdo?

Em resposta, Damon riu sem humor.

— Bom... Talvez há dez minutos atrás, se lembra? Talvez não. Você anda com a memória tão fraca ultimamente que eu tenho medo que nem saiba aonde está.

Elena ignorou aquele sarcasmo, tentando juntar as peças dentro de sua cabeça. Damon disse que havia implorado para que não a pedisse em casamento, quando para ela tudo o que havia implorado era para que ele não terminasse com tudo. Parou para recapitular a conversa, mas foi impossível conseguir fazer isso por completo. Ele ia pedi-la em casamento e a conclusão disso era o bastante para paralisar seu raciocínio lógico. E aquilo para ela era mais do que pedir para que colocasse um vestido branco e fosse para tal igreja, em tal hora, em tal dia. Naquele momento entrava na mente daquelas meninas do salão; Seria no fundo como elas? Porque não via a hora de assisti-lo pela janela pintar a cerca branca, aparar a grama enquanto ela dobrava a roupa das crianças

Cobriu o rosto com as mãos, na tentativa de cobrir suas lágrimas apenas em imaginar aqueles momentos.

Mas ainda faltava explicar tudo à ele, que ainda continuava a esperar sua resposta e ao contrário dela, não aparentava felicidade.

— Eu lembro. - Assentiu enquanto tentava retirar o provável estrago que estava seu rosto naquele momento. Queria ao menos estar apresentável para quando aquele momento se tornasse uma lembrança no futuro. - A única coisa que eu não lembro é de não querer casar com você. Porque o que eu realmente lembro é de pensar que... Você queria terminar e eu implorar pra isso não acontecer. - Sorriu de modo genuíno.

Como quem montava um quebra cabeças, Damon absorveu suas palavras deixando com que um sentimento de felicidade invadisse seu corpo devagar e mudasse toda sua expressão em surpresa, junto com sua própria cabeça que tentava entender a situação.

Quando conseguiu, o que não demorou muito, gargalhou transmitindo uma alegria genuína. Ela lhe sorriu de volta, com os olhos repletos por lágrimas dessa vez não estava sozinha, pois havia algumas nos dele também.

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— Eu não acredito que isso tá acontecendo.

— Isso é inacreditável.

— Meu deus. É uma pegadinha?

As vozes naquele salão se reproduziam entre os poucos que tinham coragem de dizer alguma coisa. Alguns estavam sem palavras demais para conseguir dizer algo e outros entretidos demais com o que viam para perder tempo comentando.

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— Então... Você... - Ele gaguejava nervoso. Elena sorriu ao observar sua reação. - Você... Pensava que eu ia... - Não conseguiu terminar a oração, colocou uma das mãos na testa e balançou a cabeça sem poder crer.

Ambos assistiam um ao outro derramar lágrimas, enquanto riam envergonhados tentando disfarçar suas reações.

— Eu te amo tanto. - Disse carregada de certeza.

Sem a necessidade de se falar mais nada e provavelmente sem conseguir também, Damon aproximou-se devagar. Os passos eram focados e ao mesmo tempo lentos, como alguém que correu milhas e milhas para chegar ao seu objetivo e agora, à poucos metros do sonho, caminhava cansado e sem conseguir acreditar. Sentia-se como se seus pés o estivessem levando até um paraíso secreto escondido atrás de uma cachoeira. Não desviou o olhar dela, apreciando não só o quanto ela continuava bela mesmo com o barrado preto da forte maquiagem.

Havia pouca luz em volta, só que o sentimento de que havia um Deus acima deles iluminando aquele momento inibia qualquer escuridão de chegar perto.

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No salão, os olhares antes repletos de desentendimento, pareciam bem situados agora do que estava acontecendo. O choque já havia ido embora, restando somente censura na face de cada um. John continuava focado em assistir as imagens, enquanto Isobel tentava acalmar os filhos e explicar, com a ajuda da omissão, o que estava acontecendo.

— Mãe, pelo amor de Deus. Pedem pra desligar isso. - Jeremy rosnou entredentes.

Ignorando-o, Isobel se voltou para Anna.

— Querida você pode tentar acalmá-lo? - A fitou com olhar doce. - Jer, Anna vai te levar pra tomar uma água, ok?

— Mas eu não quero...

— Amor, vamos. Não discute, você precisa se acalmar. - Ela o puxou apesar dos protestos iniciais.

Um tanto enojada com a situação, April preferiu ficar em silêncio. Sabia o quanto se falaria sobre o que estava acontecendo quando chegassem em casa, era melhor que não tentasse entender naquele exato momento.

Perto da pista de dança, ao contrário de April, Caroline não cessava os comentários sobre a situação, que iam de apreciar o romantismo do momento até uma tentativa de prever o futuro sobre o quanto a vida dos dois estaria arruinada a partir daquele dia.

— Eu desconfiava que eles continuavam juntos. - Matt sussurrou para que todos ao redor não o ouvissem.

Bonnie assentiu em concordância.

— Eu também. Mas a questão aqui não é essa. - O resto do grupo a encarou, curioso. - A questão é como isso aqui tá acontecendo. Porque estamos vendo isso?

— Quem será que tá filmando, heim? - Rebekah perguntou, esperando que alguém desse um palpite.

Bonnie a encarou, deixando claro em seu semblante o quanto aquela resposta era clara.

— Olha ao redor Rebekah... Quem estava encarregado de filmar? Quem não está aqui agora?

Sem precisar de muito tempo para descobrir, Rebekah e o resto do grupo calou-se voltando a atenção para a tela. De qualquer forma uma coisa era certa para todos eles, Tyler devia muitas explicações.

—--x---

Ao estarem finalmente juntos, frente à frente, na proximidade necessária para que apanhasse as mãos dela, Damon o fez depositando um beijo demorado. Já não choravam mais, sobrando apenas um riso bobo e incrédulo em suas faces.

Não esperou mais para ajoelhar-se diante de Elena, não queria esperar mais para que estivessem juntos finalmente. Subestimou seu nervosismo até finalmente tatear os bolsos de sua calça para encontrar a caixa, nunca havia se sentido assim. A primeira vez que pediu alguém em casamento, tudo aconteceu de maneira tão simples e sem planejamento. Estava ele e Rose em casa jantando quando após conversas paralelas, o assunto matrimônio adentrou à mesa; E foi assim, apenas decidiram que iriam se casar, vinte minutos depois foram dormir. Sem cerimônias, sem fazer do momento algo especial. Talvez por isso não havia dado certo, não trataram o grande passo de suas vidas com a importância que se deveriam.

Mas agora era diferente.

Todo o nervosismo e até mesmo os maus entendidos para que conseguisse somente se ajoelhar. Era sempre assim entre eles e era por isso que tinham lutar para dá certo e era isso que fazia cada momento especial, não os riscos que estavam ao redor e sim as diferenças deles mesmo um com o outro. Só eram compatíveis nos defeitos apenas, mas ao contrário de outros amores por aí, não tentavam mudar um ao outro para que se encaixassem, se aceitavam assim por mais que discutissem.

— Elena. - Dessa vez não quis disfarçar a inquietude, pelo contrário, eram sentimentos como aquele que lhe mostravam o quanto a amava. - Eu fiquei pensando no que falar, porque não queria nada genérico demais e nem muito sem graça. - Continuou segurando firme nas mãos dela, ainda apanhar o sem o anel. - Só que eu resolvi não preparar nada... Deixar acontecer naturalmente. - Elena mordeu os lábios, contendo a vontade de o trazer para si e fugirem para a igreja mais próxima. - Eu sei que não estamos na melhor fase e eu nem sei o porquê disso. Mas o que eu quero agora é que a gente possa resolver esse e qualquer problema que tivermos juntos, da maneira que deve ser e sem mentiras. Sem mentiras para os outros e, a cima de tudo, sem mentiras pra nós mesmo. - Previsivelmente, o choro regressou para a menina ao assisti-lo puxar a pequena caixa de seu bolso. - Quero que a gente comece uma vida nova. Você aceita? - Perguntou, estendendo a caixa, já aberta em direção à ela.

Elena conteve um grito na garganta. Era lindo. Naquele momento qual fosse o anel não importava, mas esperava por algo mais simples. Em contrariedade há suas suposições, a pedra principal era azul escura em um tom brilhante e profundo com brilhantes pequeninos ao redor, o aro era duplo de cor prata.

De imediato, cobriu a boca com a mão, tirando-a logo em seguida. Esqueceu-se que ainda tinha que dá sua resposta, por mais obvia que estivesse.

— Sim. - Sussurrou, assentindo de modo frenético. - Aceito! Aceito!

Sem esperar mais pelo toque, ajoelhou-se junto à ele e finalmente juntaram seus lábios. Estava sedenta por aquele toque que não sentia há dias que pareciam não ter fim. Não poderiam passar daquilo, por isso não economizaram em fazer o que era permitido. Adentrou os dedos pelos cabelos do rapaz, enquanto Damon beijava seus ombros desnudos pelo vestido.

Ficaram assim por mais alguns minutos, até que ele lembra-se de um detalhe.

— O anel. - Disse ele, sem ar. Apanhou a mão dela para poder colocá-lo. - Faltou isso.

—--x---

Chega. Suficiente. Pensou, Tyler desligando a câmera.

Mesmo com os metros de distância que estava do ginásio, conseguia ouvir os protestos oníssonos das pessoas querendo que continuasse. Mas não. Sua parte já havia sido feita, desligou o aparelho e saiu dali em direção há um banheiro próximo. Não iria voltar para a festa, ficaria claro demais que estava envolvido no que aconteceu.

Resolveu aguardar em uma cabine enquanto tudo acabasse.

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Não se surpreendendo, Alaric bebeu mais um gole daquela horrível bebida fraca para adolescentes esperando que pudesse esquecer toda aquela visão. Damon era adulto e não podia vigiá-lo ou tomar conta da vida de alguém de quase 30 anos. Era algo que ele próprio teria que fazer sozinho, por isso ignorou suas desconfianças de que talvez ele estivesse com ela novamente, além do que qualquer certeza que tivesse, ele foi eliminando no último mês com um comportamento mais desanimado e preocupado. Olhou ao redor observando os zumbidos que se multiplicavam em cada canto daquelas paredes e centros. Mãos na boca segurando o queixo, olhos ao alto quase encostando na testa, expressão julgadoras e abaladas. Entre uma figura e outra encontrou o diretor Crow em um lado da arquibancada, conversando em baixo tom com os policiais. Parecia tenso, olhando ao redor para garantir que todos estivessem ocupados demais para o notar. Parecia-se estivesse prestes a cometer um crime de alto nível. Alaric não precisou de muito para tentar intuir sobre o que estava sendo conversado naquele trio.

Não sabia exatamente como agir, mas parado não poderia ficar. Reconheceu a sala do vídeo, era a sala do próprio Damon. Iria até lá e mandá-lo correr para longe, fugir daquela cidade sem olhar para trás e sem se despedir. Mas antes que desse um passo em direção a saída, a figura de Elena atravessou a entrada, seguida pela dele alguns segundos depois.

Para a surpresa de ambos, não havia música, nem luzes apagadas, nem barulho. Havia na verdade o contrário de tudo isso, somado a olhares nada sútis em suas direções.

Antes que ela pudesse questionar algo, Isobel apareceu entre as pessoas com os passos rápidos e furiosos. Parou em frente aos dois. O plano seria cada um se separar para ir para um canto diferente, mas ao chegarem e se depararem com tamanha peculiaridade no ginásio. Pararam para observar, sendo observados ao invés disso.

— Mãe? - Elena perguntou, confusa. Olhando ao redor para as pessoas e para ela.

Mas Isobel não tinha a atenção na filha e sim na pessoa que estava atrás. Algumas lágrimas teimosas insistiram em sair, não pôde evitar. Confiou em Damon, o colocou em sua casa sob os protestos de seus filhos, ficou do lado dele tantas vezes, o considerou da família. Caminhou até ele, descarregando todo esse sentimento de traição em suas mãos para tapeá-lo na face.

Respirou aliviada ao finalmente fazê-lo e assistir a vermelhidão nascer naquelas bochechas.

— DESGRAÇADO. - Não parou, socando-o no peito. - Eu quero que você morra, entendeu? Entendeu?

— MÃE PARA. - Ignorando a necessidade por explicações, a filha a puxou pela cintura para longe do assustado rapaz. - O que tá fazendo? O que tá fazendo? Está maluca?

Isobel a encarou, em negação.

— Maluca? Eu? Há dez minutos atrás você estava em uma sala aceitando um pedido de casamento do seu professor alcoólatra, perdido na vida e quem tá maluca sou eu? - Gritou a mãe, causando certa paralisia nos dois.

Se entreolharam, pálidos. Damon quase não respirava, sentiu sua cabeça rodar e o salão parecer menor. Analisou melhor as expressões das pessoas que assistiam ao espetáculo, tentava raciocinar sobre o que acontecia. Mas não parecia possível pensar em mais nada. A visão ficou um tanto turva, a única razão que impediu um desmaio de seu corpo seria porque ela precisava de si em pé mesmo que incapaz de até mesmo de mover. Não poderia deixá-la encarar tudo aquilo sozinha.

Antes que se manifestasse, John adentrou ao grupo com o objetivo de poder conter Isobel.

— Você? - Elena franziu as sobrancelhas.

— Depois eu explico. - Se limitou em falar. - Isobel já chega, né? A gente já indo embora. - Agarrou-a pelos ombros, olhando em volta em seguida procurando por alguém. - April! - Chamou a filha, que veio correndo. - Leva a sua mãe lá pra fora e chama o Jeremy, vão pro estacionamento que eu e a Elena vamos daqui a pouco, ok.

Sem coragem de contrariá-lo, April fez o pedido sem dizer uma palavra. Elena o fitou, com descaso.

— Eu não vou a lugar nenhum. - Disse indo até Damon, abraçando-o. Logicamente Damon se assustou, mas não fugiu. Todos pareciam saber e para ela não era necessário que escondessem. - Vou ficar aqui.

Entre todos os corpos ao redor, um era a grande preocupação de Damon. Ao achá-lo, o medo se intensificou. Sabia que Elena precisava dele, mas também sabia que não era justo envolvê-la nos problemas que eram seus e nos quais somente ele tinha a culpa; Encarou o diretor Crow tentando reunir todos os pedaços de uma coragem despedaçada que tinha. Sabia que uma hora esse momento chegaria, então tinha que fazer jus ao tanto que se preparou.

— Vai, Elena. - Sussurrou trêmulo, ainda encarando o homem do outro lado do salão. - Vai.

Elena voltou-se para ele perplexa.

— O quê? Não, eu não vou deixar você.

— Vai. - Interrompeu-a. - Eu tenho que resolver minhas coisas aqui, você tem que resolver suas coisas lá. É melhor assim... Vai.

— Ouviu, Elena. - John a puxou pelo braço.

— ME SOLTA. - Gritou enojada ao pai. - Então é isso? - Regressou para Damon, ainda sem acreditar. - É isso então? Acabou?

— Não. - Respondeu de imediato. - Não acabou, só precisamos resolver as coisas antes. É melhor você ir.

Apesar de não estar completamente conformada, Elena deixou-se levar pelo braço de John. Não pôde evitar uma certa mágoa dentro de si, queria estar com ele, queria que pudessem resolver tudo juntos afinal era esse objetivo para qual ele lhe deu aquele anel.

Por mais que perguntas martelassem em sua mente, não faria nenhuma sequer até chegar em casa. A cada passo para fora daquele salão, afundava o rosto no piso pois sabia que todos os olhares estavam nela. Houvia as vozes cochichando. Seu grande desejo era atacar cada um individualmente e arranhar com suas unhas até não sobrar mais pele.

— Uma coisa. - Disse John em alto e bom som para que todos ouvissem. - Eu sou um advogado importante nesse país. Tenho dinheiro suficiente pra comprar todas as casas da rua onde cada um de vocês moram. Por isso, um comentário sobre isso em qualquer rede social, ou se qualquer mídia souber disso... Vai pagar com processo também. Entenderam? - Não esperou por respostas e se foram.

Foi momentâneo, assim que o ginásio despediu-se de Elena, o diretor andou em sua direção acompanhado dos policiais logo atrás. Já estava preparado para juntar as mãos e receber toque das algemas que ficariam para sempre em seus pulsos, mas ao invés disso ele simplesmente parou em sua frente.

— Pra minha sala. - Ordenou com a postura firme. - Agora. - E voltou a andar, deixando claro que não tinha a opção de negar.

—--x---

— Eu esperaria algo assim de qualquer um. - Ele continuava com seu discurso, andando de um lado para o outro. Enquanto o outro mantinha-se sentado de cabeça baixa como uma criancinha recebendo bronca da mãe. - De qualquer um mesmo. Mas nunca de você. - Damon tentaria dizer algo, mas toda vez que abria a boca o diretor o interrompia com o argumento de que não havia argumentos para o que havia feito. - É claro que a escola vai investigar como... Como essa filmagem aconteceu. Mas acima de tudo, é justo que a gente não ignore o que vimos. Não acha? - Perguntou dando à ele sua primeira chance de falar.

— Sim senhor.

Deixando a informalidade de lado, Crow sentou-se na cadeira parecendo mais compreensível a situação. Não parecia furioso, em nenhum momento pareceu. Aparentava a cima de tudo pena, pelo que viria a acontecer com o homem à sua frente. Os policiais ficaram do lado de fora, a pedido do próprio diretor. O baile há essa hora já havia sido interrompido, após Crow encarregar que um dos professores dispensassem todos os jovens para a casa.

Damon não sabia definir ao certo o que estava sentindo. Medo? Nervosismo? Pânico? Confirmação? Talvez tudo isso houvesse se fundido em uma coisa só ou simplesmente sumido deixando apenas a frieza.

A única coisa que sabia era que não adiantava mais nem chorar, nem querer mudar o passado. Sair do centro de atenção daqueles alunos no ginásio havia ajudado a se acalmar. Mesmo que agora estivesse a um passo de perder seu emprego, não lhe assustava pois já era de se esperar assim que aceitou aquele namoro. Só não imaginava que que as coisas iriam se suceder daquela maneira.

— Quer me contar como isso aconteceu? - Perguntou seriamente.

Damon deu os ombros, pensando em uma maneira de resumir tudo sem expôr os dois, principalmente ela.

— Morávamos juntos, você sabe. Nos aproximamos e aconteceu.

Em entendimento, o outro homem assentiu.

— Imagino... Seria uma situação um pouco difícil de resistir. É uma menina muito bonita, eu entendo que o desejo tenha sido forte e que...

— Não foi por isso. - O parou, falando com sinceridade. - Você sabe que eu nunca me meteria em algo assim se fosse por um motivo qualquer.

— Sim, eu conheço você Damon e é exatamente por isso que me surpreende tanto. - Esperou por uma resposta do professor, mas não aconteceu. Houve uma curta pausa. - Olha eu não sei o que vai acontecer na sua vida fora dessa escola. Se você vai mesmo se casar com essa menina, se vai consegui a aprovação da família dela ou se... - Parou, engolindo uma forte saliva. Não queria assustá-lo. - Ou se... Vai parar em um tribunal por causa disso. O único controle e decisão que eu possuo sobre a sua vida agora é quando se refere à essa escola.

Já ciente do que viria, Damon levantou-se.

— Fica tranquilo, não vou colocar te colocar na situação de me despedir. Você me conhece há anos, me tratou como um filho... Não vou te fazer passar por isso. - Afirmou Damon, fazendo o outro suspirar de alívio. - O mais cedo possível te envio uma carta de demissão, ok? - Perguntou retoricamente, cumprimentando o diretor em seguida com um abraço amigável.

— Boa sorte de qualquer jeito. E fica tranquilo, não precisa acompanhar os policiais até que... Alguém da família dela preste uma queixa contra você. - Damon fechou os olhos ao arrepiar-se por aquelas palavras. Quando os abriu, o diretor parecia preocupado, provavelmente tinha mais coisas para se dizer. - E... Você sabe que se isso acontecer... Nós teríamos que ajudá-los com o processo, né? Seria ativado o conselho da educação, de proteção dos adolescentes e... Não teríamos saída.

Por mais preocupante que fosse, Damon tinha noção dos riscos. Procurou em cada parágrafo da legislação do estado quando aquela relação começou. Aqueles regulamentos o atormentaram e lhe deram pesadelos por muito tempo, sabia onde estava pisado e sabia acima de tudo o quão sensível aquele chão era.

— Sim, senhor. Sei os riscos e respeito. - Assentiu, tentando parecer frio, como fez a vida inteira.

—--x---

Envolvida por uma onda de raiva, Elena simplesmente bateu a porta do quarto e a trancou sem pedir e sem dá explicações sobre nenhum acontecimento sequer. Queria tomar um banho, tirar aquele vestido e toda aquela maquiagem, mas tudo o que suas forças conseguiam fazer foi somente deitar em sua cama e derramar lágrimas contra seu travesseiro branco.

O caminho de volta para casa havia sido silencioso e cinza. Seu pai decidiu vir no carro da filha mais velha enquanto Elena voltou com a mãe e os irmãos na minivan da mãe. Ao chegarem deram indícios de querer iniciar uma conversa, mas foi mais rápida. Não queria falar nada.

A volta lhe deu claridade para pensar, haviam dito que tudo fora visto no telão e lembrava-se de Tyler contando que filmaria a festa. E enquanto dançavam também comentou que todo o filmado teria transmissão ao vivo para aquele mesmo telão. Assim as pessoas poderiam se vê na tela, brincar, se divertir mais. Só que isso não explicava o fato dele saber que ela e Damon estavam juntos novamente e nem o que Damon pretendia fazer. Mas acima de tudo não explicava o fato de John está na cidade e sua mãe ter ido no baile.

Alguma coisa aconteceu e uma intuição qualquer lhe dizia que talvez a empolgação de sua mãe em ficarem juntas nesse último mês e a consulta de Giuseppe no consultório poderiam ter uma ligação com o acontecimento de hoje.

— Elena, abre. - Seu pai bateu fortemente à porta. Ignorou. Não abriria aquela porta não importasse o discurso que fosse feito.

Mas para a sua surpresa, John não ficou no discurso, seu quarto foi invadido mesmo sem seu comando.

Indignada, ela levantou-se da cama com a boca aberta.

— Desde quando tem uma cópia da minha chave? - Gritou.

— Sua mãe tem. - Decidiu responder, caso contrário Elena insistiria naquela pergunta e não responderia mais nada. Antes que ela pudesse protestar mais, o resto da família adentrou ao cômodo. Jeremy e April ficaram na porta, próximo ao corredor enquanto Isobel e John estavam por completos, parados em sua frente.

Não havia como fugir e Elena também não era do estilo que fugia, se eles queriam uma conversa, teriam.

— Ok então, comecem. - Disse irônica, sentando-se na cama. - Metralhem com suas lições de moral. Tô pronta.

Houve uma longa pausa. Ambos pensavam em uma maneira de começar, afinal foram eles quem insistiram para entrar. Isobel encarava seus lados, deixando em claro que não tinha ideia de como fazer aquilo. Conhecendo-a, John sabia que teria de ser ele para liderar a situação.

— Elena. - Começou calmamente. - Primeiro eu preciso saber se você tem... Alguma noção do que aconteceu naquele baile?

A mesma não derrubou aquele ar sarcástico de si.

— Tenho minhas desconfianças. Pode confirmá-las pra mim, por favor? - Disse zombeteira. John assentiu, querendo sentar-se ao seu lado. - NÃO. - Exclamou Elena em alto e ele desistiu, continuando de pé.

— Pra mim poder confirmar suas suspeitas preciso saber quais são elas. - Falava de modo gentil e calmo, Elena sabia que deveria ser algum tipo de estratégia psicológica dele, mas adentrou no jogo.

Com o olhar firme, o fitou com raiva.

— Pra mim... Vocês dois, Tyler Lockwood e talvez Giuseppe Salvatore armaram tudo isso. - A resposta surpreendeu aos dois pais. Sabiam que não podiam duvidar do poder de investigação de Elena; A filha era esperta, era astuta e desde pequena quebra cabeças eram seus brinquedos favoritos. A expressão em suas faces entregou que ela estava certa. - Como descobriram? - Foi direta em sua pergunta.

Isobel preferiu falar dessa vez.

— O pai dele os viu. Me mostrou fotos, chamei seu pai e... - Gaguejou nervosa. - As coisas foram acontecendo. Descobrimos que ele fazia contato com a mãe, sugerimos que o Giuseppe implantasse um gravador para observá-los e conseguíssemos descobrir alguma coisa, e lá ele comentou em te pedir em casamento no baile. - A voz parecia envergonhada. - Sei que seria muito mais fácil e menos humilhante fazer isso de uma maneira mais íntima, mas precisávamos de um flagrante com testemunhas pra que incriminássemos o Damon.

Elena levantou-se da cama, apressada.

— Como é? - Não pôde evitar um grito. - Incriminá-lo? Vocês não podem fazer isso. Eu vou me casar com ele. É isso que vocês querem pra mim? Que eu fique indo todos os domingos há uma prisão por três anos, sofrendo. É isso que querem pra mim?

John e Isobel se entreolharam.

— Elena, você não vai se casar com ele. - John exclamou com uma frieza assustadora. - Eu vou iniciar um processo contra esse rapaz e você volta pra Nova York comigo. Não vai voltar à vê-lo.

Em resposta, ela soltou uma gargalhada estridente.

— Isso não vai acontecer. - Negou, desafiante. - Eu vou me casar. - Elevou para ele a mão com o anel.

John respirou profundamente.

— É claro que vai se casar e eu espero que sim. Mas não com ele, Elena. - Novamente usou o mesmo tom de voz, sem emoção. Não estava nervoso, nem tinha maldade em sua fala. Apenas uma certeza que a assustava pois realmente parecia que John era capaz de prever o futuro.

— Você não sabe de nada sobre a gente. Eu vou ficar em Mystic Falls e eu vou ficar com ele.

Prevendo aquela resposta, John aguardou pela fala de Isobel. A mãe, nervosa, demorou em responder.

— Esse é o problema, Elena... Você tem que ir, não tem escolha. - Ao dizer isso, viu medo em Elena. Mas não poderia voltar atrás.

— O que quer dizer com isso? - A voz saiu trêmula.

E a de Isobel também.

— O que eu quero dizer é que... Não tem mais autorização pra ficar nessa casa. - Isobel abaixou a cabeça por alguns instantes, engolindo o instinto maternal em seu corpo. Não podia deixá-lo intervir, Elena tinha que voltar pra Nova York. - Por isso que tem que ir... Senão, não vai ter onde ficar.

Em choque, Elena esforçou-se para manter a calma. Mas não foi possível. Ao fundo, podia ver Jeremy e April espantados com aquelas palavras. A irmã chorava baixo pela situação, mas não podiam tomar partidos e Elena não os culpava por isso.

Rapidamente, a mente pensou em uma solução.

— Bom... Quero lembrar a vocês que eu ganho meu próprio dinheiro desde os 15 anos. Comprei muita coisa sem os dois, tenho outras casas e posso comprar uma ou alugar algum canto sem precisar sair da cidade. - Afirmou, com um ar de autoridade.

Mas eles não abalaram.

— Elena, lembre-se que você é menor e suas coisas estão no meu nome já que eu era seu empresário. E nesse último mês eu andei entrando com umas ações de bloqueios de bens. Se tentar usar um cartão de crédito nesse minutos, não vai consegui. - John respondeu com cuidado.

Um tanto perdida, Elena sentiu o ar escapando de seus pulmões para longe, mas recusava-se em demonstrar sua fraqueza. Isso não faria nunca.

— Eu não vou voltar. - Berrou em estridência. Olhava para baixo, tentando disfarçar sua tontura.

— Bom se for ficar, vai ter que morar na rua. - Disse John estressado.

Queria acabar logo com aquilo e poder colocá-la dentro do jatinho que a esperava. Cedo ou tarde, Elena iria. Conhecia sua filha, a possibilidade de viver na rua sem o luxo e as coisas que estava acostumada seria o bastante para fazê-la abrir mão do orgulho e até do amor, quem sabe. Elena viveu a vida inteira sem um relacionamento, mas nunca sem seus mimos incontáveis e isso pesaria em sua decisão final.

— Vou fazer minhas malas então... A rua me espera. - Replicou Elena, olhando ao redor para encontrar uma mala.

— Nem pense nisso. - John interrompeu sua procura. - Se for, vai sem nada. Sem direito de levar nada.

— Pai, acho que tá exagerado. - April tentou intervir. Mas ele não lhe deu ouvidos.

Elena podia sentir suas pupilas sendo dilatadas enquanto passeava os olhos por suas coisas. Suas roupas, seus sapatos, suas jóias. Poderia parecer coisas superficiais, mas aquilo tudo era seu. Muitos a chamavam de mimada, só que ao contrário de qualquer outra menina herdeira mimada, comprou aquelo tudo com seu dinheiro e com seu trabalho. E agora teria de abandonar o que era seu por direito para sair de casa com a roupa do corpo e provavelmente não voltar nunca mais.

Não. Não. Não podia viver sem isso.

Foi quando lembrou-se do que estava em jogo. Não estava em jogo um vestido, por mais que fosse um Alexander McQueen. Era Damon. E sem isso também não poderia viver sem.

Amava suas futilidades, mas assim como fez da primeira vez, poderia trabalhar para poder ter mais melhores. Só que ao contrário dele, não haveria outro Damon. Lembrou-se de quando foi embora de Nova York e pensou que não sobreviveria, pois estaria deixando sua vida fora. Levou as roupas, mas deixou sua vida lá. E agora, ficaria com a sua vida e deixaria as roupas. Sobreviveu. E valeu a pena, pois pôde conhecê-lo e viver esse sentimento.

Conseguiu uma vez e conseguiria de novo.

De braços cruzados, seu pai esperava por sua desistência. Mostraria há ele o quanto mudou o como ele não fazia ideia da filha que tinha.

— Pelo menos assim você me poupa um trabalho. - Disse simplesmente, caminhando até a porta.

— Com esse vestido e esse sapato não. Eu comprei. - John gritou em desespero, em uma última tentativa de fazê-la desistir. - E quero que deixe esse anel de noivado aqui. Ele é uma prova e se não colaborar uso isso contra você no tribunal. 

— Isso é ridículo. - Jeremy pareceu farto. Correu rapidamente até o banheiro voltando com um roupão preto em mãos para irmã. - Pega, Elena. E antes que reclamem, fui eu quem comprou esse roupão pra ela.

Com o orgulho ainda em mãos, Elena não hesitou em retirar o vestido por completo, restando apenas um conjunto de calcinha e sutiã; Não disse uma palavra que fosse, apenas apanhou o roupão e foi até o banheiro para terminar de desvestir a peça. Se eles queriam que fossem sem nada, faria. Vestiu o roupão e retirou os sapatos e as jóias também, pensou nas palavras de John em relação ao seu anel. Ele não ia jogá-lo ao mar como no titanic, precisava como uma prova e era valioso demais para destruí-lo. 

O que importava era o pedido, encarou o aro em seus dedos procurando coragem para deixá-lo ali naquela pia de mármore gélida. Mas tinha que fazer e quando o recuperasse de volta, o significado se manteria o mesmo. Deixou-o separado das outras pedras, indicando que em breve voltaria para pegá-lo. 

Sorriu para o espelho, estava orgulhosa de si, mas ao mesmo tempo o medo era evidente. Não faria isso apenas para provar algo, era sua escolha e iria fazê-la valer.

Regressou ao quarto, novamente calada. Todos ainda pareciam perdidos esperando sua ação e duvidosos de que realmente fosse passar por aquela porta. Queria poder levar consigo seus cadernos de desenho e também o quadro que Damon lhe deu de presente, mas precisava sair dali sem nada em mãos. Provavelmente, quando tivesse coragem de sair na rua à luz do dia outra vez, iria até a escola e pediria para um de seus irmãos levá-lo para seu novo endereço, caso conseguisse um.

Ao encará-los, relembrou de um detalhe que faltou para ser esclarecido.

— Um minuto. - Elevou o dedo indicador ao alto. - Como descobriram sobre Damon e Grace?

Sem ânimo para mais palavras, Isobel direcionou o rosto para a gaveta do criado-mudo onde estava o caderno responsável por tudo aquilo. Enojada, Elena fechou os olhos para que não chorasse. Pouparia-os com o discurso do quanto aquilo era uma violação há qualquer um, agora sim queria realmente ir e agradecia por sair vazia. Não iria correr o risco de carregar junto toda as impurezas daquela casa e daqueles dois.

— Vou dá o fora desse lugar. - Balançou a cabeça em negação ainda sem acreditar.

— Espera. Coloca meu chinelo, não pode ir descalça. - April ofereceu retirando o calçado vermelho. Elena sorriu para os dois irmãos e os abraçou fortemente.

Ao contrário de seus pais, no qual em algum ponto da vida teve uma relação boa, com seus irmãos esse momento nunca aconteceu. Até agora. Pensou ela, ainda entretida naquele abraço. April chorava de maneira descompensada, enquanto Jeremy tentava manter a situação racional entre os três. Mas não tinham medo de mostrar o quanto não concordavam com o que estava sendo feito. Não esperava que eles contrariassem os pais e brigassem pela sua estádia, na verdade a própria nem queria isso. Entendia agora quando Damon disse que não queria que ela estivesse nas brigas nas quais remetia à ele apenas. Negava-se em aceitar que seus irmãos tentassem fazer o mesmo por si.

— A gente dá um jeito de se vê. Não se preocupem. - Sussurrou próximo ao ouvido de ambos.

Terminou o enlace, pronta para partir. Até lembrar-se de mais outro detalhe.

Silenciosamente partiu para o criado mudo apanhando junto o caderno usado em toda aquela sujeira e o seu aparelho de celular.

Ao ver os objetos, John protestou.

— Ei, ei. Deixe isso. - Tentou pará-la. - Isso fica.

Mas ela pareceu não ouvir, partiu para o corredor levando junto as duas coisas em mãos. De imediato os restantes no quarto a seguiram pelo andar de baixo sob os chamados do pai para a filha mais velha, que não cessava seus passos nem por um segundo que fosse.

Contrariando as expectativas, Elena chegou a sala agradecendo mentalmente pela lareira já está acesa. Quando vieram do baile, não houve tempo de olhar nada ao seu redor apenas correr para baixo de seus edredons. Não hesitou, atirou ambos as provas físicas de seu relacionamento no fogo. As mensagens, as histórias, deixou tudo queimar em meio as lágrimas de seus olhos. Intensificou o fogo com o controle remoto e suas lágrimas aumentaram junto as chamas.

Não ousou em olhá-los para assistirem suas reações, mas provavelmente não deviam ter sido boas. Elena tinha consciência do quanto aquelas folhas seriam provas para John daquele relacionamento. Não sabia o que aconteceria em relação aos processos, depoimentos, tribunal e tudo aquilo, mas no que fosse possível dificultar, faria.

Bateu a porta com força, vendo o mundo desabar ao chegar na varanda. A realidade fez presente.

E agora? Pra onde eu vou? Pensou em desespero.

—--x---

Elena bateu a porta com mais força dessa vez. Provavelmente era a quinta vez que fazia. Sabia que ele estava em casa, provavelmente olhou pelo olho mágico e não quis abrir. Não podia culpá-lo, mas só precisava que ele a escutasse por dois minutos.

— Senhor Saltzman. Por favor, abra. - Disse alto, para que ele escutasse.

Assustado, Alaric abriu metade da porta, que era segurada por uma dessas correntes.

— Pare de gritar e vá embora. - Rangeu os dentes, tentando soar baixo. Provavelmente para que Damon não os ouvisse. - Já não basta o que aconteceu hoje. Quer mais confusão, menina?

— NÃO. Não senhor. - Exclamou ávida. - Só preciso que me escute por alguns segundos. Juro que não vou pedir nem que abra a porta.

Alaric rolou os olhos, entediado.

— Rápido. - Concordou com um suspiro.

— Onde ele está? - Aquilo para ela era o mais importante.

— Está no banho, mas está louca se pensa que vou avisar pra ele que está aqui.

— Não vou pedir isso. - Garantiu, tentando passar confiança para ele. - Só quero uma coisa. - Pausou para tentar escolher suas palavras. - Sei que foi a sua noiva Meredith que conseguiu um advogado pro Damon com tudo aquilo de adiantar a herança dele pro apartamento do Stefan e aquela confusão... Se lembra?

— E o que isso tem haver? - Ele não pareceu entender.

— Quero que se contatem com esse cara de novo. Eu vou pagá-lo, não se preocupem. Eu to sem celular agora, mas logo que eu arranjar um número você entrega pra ele. Tudo bem?

— Seu pai vai mesmo denunciá-lo?

Elena pensou um pouco antes de responder.

— Não sei. - Disse preocupada. - Só quero garantir as coisas.

— Amanhã vou até sua casa. Pegar as coisas dele, provavelmente não é uma boa ideia ele passar lá né?

— Não, não mesmo. - Soou triste. Preferiu não dizer nada sobre sua expulsão. - Não conta pra ele. Sabe que Damon não vai aceitar nunca se eu disser que vou pagar o advogado.

Do outro lado da porta, Alaric assentiu em concordância.

— Tudo bem. Fique tranquila.

— Estou indo então. Boa noite. - Foi as últimas palavras trocadas antes dele fechar a porta novamente.

—--x---

Andar sozinha por uma cidade poderia ser assustador para qualquer mulher, fosse cidade grande ou pequena. Ainda mais de roupão e nada por baixo. De sua antiga casa até o apartamento de Alaric, a caminhada havia sido tensa. Policiava cada esquina e cada passo ao redor seu. As poucas pessoas na rua eram adolescentes, os mesmos que estavam no baile. Ignorou os risos e os sussurros. Nessa hora viu uma grande mudança em si, sempre se preocupou tanto com a opinião alheia sobre sua imagem que agora era capaz de andar daquela maneira por quase uma cidade inteira. Ao sair daquele apartamento o restante foi tranquilo, para onde pretendia ir. Ficava perto. Ela não havia ido ao baile por estar doente.

Ignorou uma vontade insana de chorar por absolutamente todas as razões do mundo. Mas ainda não era hora, tinha que dá explicação para mais alguém quando chegasse em seu destino final. Quer dizer, tinha suas dúvidas se seria ou não recebida.

Não demorou em bater à porta ao chegar, precisava se livrar do frio daquelas ruas o quanto antes.

Tentou sorrir logo quando a maçaneta foi girada e a pessoa do outro lado se revelou, mas pareceria ainda mais assustador levando em conta suas condições. De imediato, Rose assustou-se e piscou os olhos algumas vezes pois tinha dúvidas se aquela visão era realmente verdadeira.

— Oi. - Elena pronunciou, quase muda. - Posso entrar?


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Notas finais do capítulo

Por favor, comentem... esse capítulo deu mto trabalho mesmo e estou ansiosa pra ouvir a opinião de vocês sobre o que acharam. Até a próxima.