Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 61
- Longe. Part 2.


Notas iniciais do capítulo

Oi meninas, esse capítulo foi inspirado na música '' When i was younger '' que também tá na trilha sonora de TVD. Quero agradecer tbm ao gênial fernando gaítan, no qual seu texto sempre me inspira na hora de escrever alguns diálogos e dessa vez não foi diferente. Gênio colombiano...

Bom, como sempre, espero que gostem.



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1 MÊS DEPOIS.

– Calma. Cuidado. – Conduzia a mulher em um tom de voz hesitante. Mais do que nunca igual há uma professora ensinando seu aluno há escrever o próprio nome. Já para Elena, fazia Grace parecer mais ao filho.

O que deixava sua saudade ainda mais evidente.

– Tá quente. – Explicou ela, retirando delicadamente a forma do forno. Como prometido Grace apenas observava ou dava instruções.

– É assim mesmo, mas você tá indo bem.

Elena riu irônica.

– Não minta. – Ainda com seus movimentos calculados, a forma do bolo finalmente saiu por completo do eletrodoméstico e seguiu para uma pequena mesa.

Como uma criança, Elena comemorou batendo palmas com as fofas luvas de dona de casa na mão, que antes lhe protegeu de queimar-se.

– Que tá bonito isso tá e cheira bem. – Disse a sogra após observar bem o quitute.

– É bolo de laranja, não tem como cheirar mal. – Elena contestou, indo buscar pratos e facas.

Estava em completo estado de paixão pela cozinha dos Salvatores. O designer de época misturado com os eletrodomésticos de atual qualidade davam um paradoxo interessante ao lugar. O mais fascinante daquilo é que nunca em sua vida poderia imaginar-se contemplando tal cômodo de uma casa, que antigamente era uma área na qual nunca entrava com frequência, se não fosse para beber uma água.

E agora estava ela ali, aprendendo a fazer bolo com a mãe do homem que amava na casa que um dia ele habitou quando criança.

– Tem certeza que eu tô fazendo isso certo? – Perguntou desconfiada, enquanto virava a forma ao contrário para que o bolo passasse ao prato.

Grace assentiu, sorrindo.

– Tranquila, Elena. Tá indo muito bem.

– Tá quente mesmo. – Testando, Elena subiu a forma e seu riso aumentou ao encontrar todo o bolo já fora dela. – Foi... Eba. – Cantarolou feliz.

– Viu que deu certo. Te falei.

– Pelo menos isso, né. Agora tem que vê o gosto.

–--x---

Satisfeita, Elena deu a última garfada feliz com o resultado final de seu novo aprendizado. A expressão de sinceridade de Grace ao comer também trouxe a confirmação de seu êxito. Poderia sim ser considerado um exagero o fato de ter conseguido fazer um bom bolo a primeira tentativa, mas para ela que nunca nem sequer tinha noção de como se preparava um macarrão descente, era muito.

– Que horas seu marido volta mesmo? Esqueci. – Inquiriu, deixando o pratinho em uma mesa de abajur ao lado.

Grace sentava-se em outra poltrona há sua frente.

– Tarde. Ainda mais agora que acabou de voltar das férias.

– E ele não desconfia? Que voltou a falar com o Damon?

A mulher negou, pensativa.

– Provavelmente não. Giuseppe não é um homem que investiga por muito tempo. Se já tivesse uma desconfiança, miníma que fosse, já teria me acusado.

Elena não seria inocente em perguntar sob a possibilidade do pai também pedir perdão. Era obvio que ele nem ao menos deveria ter essa intenção.

– Você o conhece bem, não? – Concluiu obvia.

Grace deu os ombros.

– É o preço que se paga depois de 30 anos de casamento. – Incomodada, resolveu desviar o assunto. – É sério que nunca cozinhou? É que aqui é... Raro algo assim. Aqui as mães ensinam as filhas desde os seis anos praticamente.

Dessa vez foi Elena quem deu os ombros.

– A gente tinha uma chef profissional lá em casa. Nunca precisei. Nem eu nem minha mãe e olha que ela até cozinha direitinho. – Explicou normalmente, sem atentar-se ao detalhes de falar sobre sua mãe. Ou sobre sua infância.

– Entendo. Eu sempre quis uma menina, sabe? – Ambas sorriram. – Acho que... Eu gostaria de ter esses momentos. Ensinar a cozinhar, a costurar, a ser uma boa esposa. Eu também tive os meus luxos, não tenho essa casa enorme à toa. – Olhou em volta, nostalgicamente. – A família do meu marido antigamente tinha bastante dinheiro. Mas mesmo assim acho que eu não abriria mão desses momentos mãe e filha não.

Agora foi Elena quem se sentiu incomodada. Aquele assunto sempre a punha assim, mas não podia desviá-lo. Estava começando uma relação com aquela mulher e queria muito conseguir aquela amizade.

– Eu era mais apegada no meu pai. – Falou após um pequeno silêncio. A voz não estava muito alta. – O tempo todo eu tava com ele. Minha mãe, na verdade, me pedia que ele me levasse pro trabalho dele e ela ficava com meus irmãos. Ela já era mais grudada neles.

A curiosidade de Grace se atinou.

– Era tão próxima assim dele?

– Sim, fazíamos tudo juntos. – Não pôde evitar de sorrir com a lembrança.

– Não imaginava isso. – Disse surpreendida.

Elena elevou as sobrancelhas.

– E porque?

– Ah, é que você é tão feminina. Normalmente meninas que são mais apegadas ao pai, criadas por ele sem tanta influência de mulher... Crescem mais molecas, entende? Mais masculinizadas, menos desencanadas.

– Mas é que ele me mimava muito. Demais. – Contestou, de modo gentil. – Fazia tudo que eu pedia. Praticamente todo santo dia era um presente novo. Brinquedo, roupa, maquiagem...

Em entendimento, Grace assentiu.

– Sempre teve tudo que quis, não é? – Deduziu esperando a resposta positiva dela.

– Materialmente, sim. Nessa parte tive. – Falou com um pouco de angústia, sem que percebesse sua confissão.

– Como assim? – Perguntou Grace, desentendida.

Percebendo o que fez, Elena controlou sua reação de susto.

– Besteira. Besteira minha. – Balançou a cabeça negativamente.

Antes que pudesse achar um outro assunto para ser introduzido, Grace já havia regressado à fala.

– E a sua mãe nisso tudo? Porque pelo que você tá dizendo seu pai praticamente te criou. Ela sentiu ciúmes ou algo assim?

Droga. Pensou ela, controlando a vontade de fugir daquele lugar. Mas não havia como não responder, precisava ser aprovada por ela. Precisava por Damon, pela relação do dois.

– Não. Na verdade ela quem me empurrava pra ele. – Confessou um tanto incomodada.

Grace estranhou a resposta.

– Sério? Esquisito isso...

– É mas... Não sei. – Gaguejou um tanto pensativa. – Ele teve três filhos um atrás do outro. Talvez achasse que era trabalho demais ficar com todos juntos e querendo ou não, caçulas são caçulas, exigem mais atenção.

Grace pareceu satisfeita com a resposta. Elena teve um lapso de felicidade em pensar que aquele tema acabaria ali com esse fato, mas ao invés disso ela logo voltou a perguntar.

– Mas agora que estão todos grandes, seu pai tá longe. Imagino que esse tempo perdido está sendo recuperado, né?

Elena ajeitou-se na cadeira, mirando suas unhas.

– É complicado. É muito complicado. – Dessa vez sua voz a denunciou totalmente.

Percebendo a tristeza da menina, Grace também ajeitou-se em seu lugar inclinando o corpo para frente, mais em direção há ela.

– Elena, eu não seu se eu sou a mais indicada pra falar, mas... Sempre dá tempo de recuperar. Quanto mais cedo, menos arrependimento depois. É sério. – Disse, como uma perfeita conselheira. Elena obviamente viu aquilo como um conselho otimista, não escutava muitos com frequência. Afinal, era raro contar isso para alguém, mas se caso fizesse, aquele tipo de palavras seriam as que ouviria todas as vezes.

– Como eu disse é... Complicado. Não é tão simples. – Tentou justificar.

– Eu sei. – Concordou. – E como eu sei. A única coisa que eu poderia te dizer é que esqueça o orgulho ferido. Se você talvez tiver uma oportunidade pra resolver o que tem que resolver... Faz. Toma a iniciativa. Não tô dizendo que tem que ser hoje ou amanhã. – Endossou, com toda sua experiência. Era claro para Elena que Grace tinha propriedade do que dizia. Afinal, sabia muito bem do que estava falando. – Se a sua mãe aceitar falar, ótimo. As coisas vão ficar bem. Mas se ela não quiser... Aí a culpa não vai ser sua e o arrependimento não vai ser você que vai ter que carregar. Ou você quer viver com essa culpa? Quer viver com isso? Você aguenta?

Em silêncio, Elena negou com a cabeça. A cada segundo de sua vida, aguentava menos. Mesmo com toda sua insistência em tentar se convencer de que não tinha nada haver com aquilo e que a culpa não era sua. Ainda sim, uma simples dose de pessimismo era o bastante para se voltar contra si.

Houve um curta pausa.

– Brigada. Brigada, Grace. De verdade. – Agradeceu sinceramente, esticou o corpo alcançando a mão da mulher.

– De qualquer maneira, vai ficar mais leve depois. E não tem melhor sensação do que um peso tirado das costas. – Outra vez falou a voz da experiência. A mais velha a observou de cima a baixo. – Você está bem? – Perguntou.

Elena assentiu, respirando profundamente.

– Sim, estou Só... Um pouco... Abatida. Você entende, não é?

– Infelizmente.

Agora sim sentiu que era a hora de trocar aquele assunto.

– O que acha de mais um pedaço de bolo?

–--x---

– Já chegou? – Elena foi surpreendida pela voz da mãe, que acabara de adentrar a sala da casa.

A filha, mantinha-se sentada em uma poltrona qualquer enquanto desenhava. Ao ouvir Isobel, interrompeu-se.

– Surpresa? – Respondeu com outra pergunta, escondendo seu caderno em seguida.

– Claro que sim. Disse que ia no shopping e você sempre demora. – Olhou em volta, pelo chão. – Cadê as compras?

– Já coloquei lá em cima. Não comprei muita coisa. – Mentiu sem dificuldades. Claro que enquanto estava com Grace havia dito que foi ao shopping, afinal disso sua mãe nunca desconfiaria.

Isobel sentou-se ao sofá.

– É que nunca se sabe o que o seu '' não comprei muita coisa'' significa. – Disse irônica. Elena revirou os olhos e fingiu um sorriso. Novamente a mãe atentou o olhar, dessa vez para a filha, encontrando o misterioso caderno da mesma atrás do seu corpo. Então foi isso que ela escondeu quando eu cheguei. Pensou Isobel. – O que tava fazendo?

Ela deu os ombros em descaso.

– Nada. Só... Me distraindo. Bobagem. – Falou no mesmo tom despreocupado.

Disfarçadamente, Isobel regressou o olhar para o caderno. Não queria mais pensar nisso, afinal Elena quando se tratava desse mistério era sempre esquiva. Sabia que ali estavam desenhos da mesma e isso porque a filha havia dito há John antigamente nos bons tempos, mas quanto ela quanto o pai nunca haviam visto um traço sequer.

No intuito de acabar com aqueles pensamentos, Isobel apanhou o controle remoto em procura de algo para distrair-se na TV. Elena parecia com o pensamento longe, provavelmente logo iria subir para o quarto e deixá-la ali sozinha, como sempre.

Um apito de microondas pareceu reacender a mente da filha.

– Minha pipoca. Já volto, um minuto. – Avisou ela, levantando-se.

No acaso, Isobel deparou-se outra vez com o conjunto de folhas, dessa vez descoberto pelo corpo que antes o escondia. Seu pensamento logo apitou que era errado, que era invasão e que por algum motivo ela não gostava que vissem o interior por trás daquela capa preta.

Mas a curiosidade ou a preocupação de uma mãe era mais forte do que a dúvida. Foi até a poltrona que antes a outra sentava e trouxe o desejado para sua mão, pondo-o em cima de seus joelhos.

Abriu em uma página, no meio, já marcada por um lápis.

Vestido.

Esboços e croquis de vestidos. Sentiu-se folheando os desenhos exclusivos de Donatella Versace, Marc Jacobs entre outros. Não era uma autoridade em moda como a filha mais velha, mas ainda sim por conta de sua posição social era obrigada a ter noção de estilo e derivados. Sem dúvidas qualquer stylist seu julgaria aquelas formas como obra de arte para o universo das passarelas.

Sorriu mentalmente.

Não era difícil adivinhar qual era a verdadeira vocação de sua filha. O nebuloso por trás daquelas folhas era a própria Elena, que nas entrevistas que era perguntada que profissão tomar sempre respondia sobre suas pretensões em algo distinto há moda, que considerava como um prazer culposo mas nunca como um destino profissionalizante.

Perguntava-se porquê. Elena nunca havia mostrado paixão por nada além desse tal prazer culposo.

– Gosta do que vê? – Gritou irônica. De imediato, concentrou sua atenção para a direção de onde vinha a voz, encontrando a imagem que esperava. – Porque tá mexendo aí? Sabe que não gosto que vejam isso. – Violentamente, Elena aproximou-se retirando o caderno das mãos da mãe que continuava em procura de algo para falar.

– Desculpa... – Tentou sem sucesso. – Eu só...

– Desculpa nada. Desde sempre eu digo que nos meus cadernos não se toca.

– Não grita comigo. – Ordenou Isobel, em reação. Levantou-se para ficar frente à frente há ela. – Eu sou sua mãe.

– Ah, sim perdão se desrespeitei a sua autoridade, mãezinha. – Regressou ao sarcasmo de antes, fazendo questão de manter o tom alto. – Já você, fique a vontade, viole mais minha privacidade. Quer que eu saia pra você aproveitar mais?

Isobel não se abalou.

– Eu já vi o que tinha que vi. E gostei muito.

A maneira sincera na fala de Isobel de imediato a abalou, Elena calou-se por alguns segundos olhando-a sem entender.

– Que bom. – Tentou soar tão irônica quanto antes para disfarçar sua reação.

– Só não entendo a razão desse mistério. Elena todos sabem o quanto você desenha bem e como gosta de moda. Não é novidade pra mim.

– Ótimo. – Gaguejou ainda nervosa. – Então agora que já viu, eu vou pro meu...

– Espera. – A mãe interrompeu antes que ela se trancasse no quarto. – Tem coisas que eu não entendo e que eu quero saber. – Disse preocupada, mas ainda com autoridade. Caso não se mantivesse firme, Elena iria embora sem nem ao menos lhe dar caso. – Você... É sempre tão aparecida, porque agora resolveu ter vergonha de mostrar algo que você é boa ao invés de exibir? Tá eu sei, uma coisa é que queira privacidade e outra completamente diferente é esse escândalo só porque eu vi um desenho de um vestido. – Explicou, confusa com suas próprias conclusões. – As vezes nem eu mesmo compreendo você.

Elena elevou as sobrancelhas.

– As vezes? – Repetiu aquelas palavras com indignação. – Por favor... Tira esse tom de protagonista de novela, ta bom. E lamento muito decepcionar essa visão tão estereotipada que a senhorita tem de mim, prometo corresponder com as suas expectativas da próxima vez.

– Minhas expectativas? Visões estereotipadas? Tem certeza que eu sou a protagonista dessa novela? – Gritou também, deixando a paciência lhe escapar. – Porque eu não tô é entendendo nada. Na verdade eu tô é cansada dessas suas conversas de duplo sentido que sempre quer me atingir.

– Ah, é mesmo? Coitadinha de você. Se sente de verdade assim? – Ironizou, elevando a mão até o coração para fingir pena.

– É. É, Elena me sinto. – Ignorou o veneno da mais nova. – Você quer me atingir, tentar me fazer sentir a pior mãe do mundo quando eu nem ao menos entendo o que você fala. Tá cansei, cansei. – Disse em esgotamento. – Cansei de me sentir um lixo de mãe por sua causa.

– Então agora sim os papéis se inverteram porque eu também, há muito tempo, me cansei de me sentir um lixo de filha por sua causa. – Rebateu, acusando-a.

– Não seja louca. Tudo que eu tentei fazer ao longo desses anos é entender você, conversar com você. Não me venha com psicologia reversa.

Elena gargalhou, sem humor.

– Psicologia reversa? Psicolo... Ai meu Deus. Mas você deve ter memória seletiva, não é possível. – Riu da mesma maneira, outra vez. – Ou vai me dizer que é mentira? Vai me dizer que não se lembra? – Houve uma curta pausa, onde Isobel tentava decifrar o que ela estava querendo dizer porque apesar daquela risada maquiavélica, havia sim profundidade em suas palavras. Elena rapidamente lembrou-se da conversa com Grace em tentar aclarar as coisas com ela quando tivesse oportunidade. Coincidência ou não, ali estava a oportunidade. Mas não falaria para resolver os problemas. Pelo contrário, falaria para poder distilar, esfregar, fazê-la engolir ao dizer que era ela quem estragava aquela relação. Provaria que estava certa a todo custo e se fosse preciso ter que contar o que sentia, e que tanto escondia de todos, faria isso. – Não se esforce tanto. Eu te ajudo a lembrar. – Disse seca. – Quando eu tinha sete anos, você e o John brigaram uma vez e...

– A gente brigava o tempo todo.

– Me deixa terminar. – Ordenou raivosa, aumentando seu tom. Esperou que os segundos pelo choque passassem-se. Voltou a falar. – Eu tinha sete anos. Você disse pra ele '' A sua filha é uma egoísta. É uma mimadinha, sem consciência. Uma patricinha de filme da disney que você mesmo tá criando''. Ele disse que odiava quando você dizia '' A sua filha'' e você respondeu '' Sim, a sua filha porque eu nunca criaria algo assim sozinha''. – Meus filhos são o Jeremy e a April. Ela não. Pensou Isobel, relembrando o que havia dito em seguida. Culpada, a mãe ficou em silêncio imaginado a filha ouvindo aquelas palavras por detrás das portas. Fitou o chão, sem coragem de encará-la, enquanto Elena fazia isso dividida entre o sofrimento da lembrança e o prazer por estar colocando-a contra a parede. – Lembro também quando eu tinha 13 e você e uma amiga sua estavam conversando. Você toda orgulhosa contando pra ela sobre o Jeremy e a April. Contando sobre o teste que eles fizeram e que tinha dado que os dois eram superdotados. Seus prodígios, seus par de gênios. Lembra? – Perguntou retoricamente, afundando a mãe ainda mais por também se recordar daquele dia. – A senhora disse pra ela que eles sim seriam trabalhadores, bem sucedidos e que fariam algo de importante na vida além de ser um herdeiro mimado desses que tem tudo que quer dos pais fácil. E quando a moça perguntou sobre mim... Lembra a sua resposta? – Mais uma vez silêncio, dessa vez ambas seguraram lágrimas. Ninguém mais gritava. – Que eu o máximo que poderia fazer da vida era conseguir identificar a marca de uma roupa sem olhar a etiqueta. – Mas eu não vou te dá esse gosto, mãezinha. Pensou ela. Faria uma faculdade com um curso importante, teria uma profissão de verdade e uma carreira. Não iria deixar que esse destino de superficialidade que ela limitou para si acontecesse. Isso jamais. – Quer que eu continue? – Perguntou retoricamente.

– Não, já chega. Por favor. – Isobel respondeu em desespero, ainda segurando o choro

Elena não deu caso.

– Ah, não. Que pena porque agora eu quero falar.

– Elena, por fav...

– No dia de um aniversário de sei lá quantos anos da April. – Continuou, fingindo que não a ouvia. – A vó veio da Rússia pra nos visitar e ela reclamou que o John deveria ajudar mais dessa vez porque a senhorita estava tempo demais sem trabalhar. Lembra o que você respondeu? – Inquiriu, assumindo um papel estranho de torturadora usando argumentos que deveria torturar a si próprio. – Você lembra? – Gritou, desejando que Isobel dissesse algo. Mas não iria dizer, na verdade sentia-se incapaz até mesmo de falar. – Tudo bem então eu refresco. Você respondeu que fazia questão de criar o Jeremy e a April por não querer correr o risco de que o John os estragasse também, como fez comigo. '' Elena? Elena se não ser uma dessas riquinhas que saem por Hollywood de balada em balada toda bêbada vai ser muito. '' – Não podendo aguentar mais a pressão, Isobel derramou a primeira lágrima, sem conseguir poupar as milhões que vieram em seguida. Satisfeita, Elena respirou profundamente por ter vencido. – Sabe o que todas essas ocasiões tem em comum, mãe? – Mais lágrimas da mais velha. – Eu ouvi. E tem outras também, mas eu acho que já tá bom. Se lembrou agora? Se lembrou ou não? – Aborrecida pela falta de palavras dela, Elena tentou respirar fundo. – Quer mais exemplos, será? – Mais uma vez nada. – PARA DE CHORAR E ME RESPONDE. Quem devia tá chorando era eu. Mas não se preocupe, já derramei tanta lágrima por causa disso que hoje... Nem me afeta mais. – Deu os ombros, fingindo frieza. Já chega. Pensou ela, julgando ser a melhor hora de ir para o quarto. Também queria ficar sozinha, também queria poder chorar. – Assim como você eu também me cansei.

Com o peso finalmente fora de seus ombros, Elena não quis dizer mais nada. Seu limite fora atingido. Em silêncio, apanhou o caderno de volta e subiu as escadas desejando que chegasse a hora de reencontrar seu travesseiro e poder afundar sua cabeça, e mente, nele.

–--x---

Elena esperou a chegada de um choro que fosse, mas surpreendida pelo acaso ele não veio. Estava certa, aquela história inteira já havia secado a sua fonte e não valia mais a pena.

Isobel provavelmente não havia lido o bilhete de Damon na primeira página. Caso houvesse teria feito um escândalo. Provavelmente abriu em uma página qualquer. Pensou ela. Porque as palavras dele ainda estava ali, intactas. Não se preocupou em cobrir, já que nunca imaginaria que alguém abrisse seu caderno, sabendo que era proibido para sua família.

Pensava na reação de Isobel, pôde sentir sim a dor dela. Dor de mãe, mas ela não havia sido a única a padecer por aquela sensação. Afinal, isso foi tudo o que fez em toda a sua vida. A maneira como se privava de seguir seu sonho tantas vezes. O dia em que lhe chamaram de uma emissora grande oferecendo que apresentasse seu próprio programa de moda e recusou, recusou a maior chance de sua vida por palavras em que ela disse.

Não seria nunca a superficial que produz futilidades que ela pensou que seria. Isso nunca.

Pensava em fazer arquitetura. Provavelmente era o que seguiria carreira, afinal poderia envolver desenhos querendo ou não. Criação, designer... Claro que não de roupas, mas era possível conseguir ser feliz com o que tinha.

Com a ausência das lágrimas, a preguiça veio para substituí-la. Ainda era cedo.

9:43 da noite.

Poderia tirar um cochilo de meia hora antes de fazer algo útil. Só não sabia como encararia Isobel no dia seguinte. Isso não queria pensar.

Em leitura há seus pensamentos, a porta foi aberta recebendo a figura da mãe no batente.

Elena bufou.

– Segundo round? – Sugeriu entediada.

– Não. Não vim lutar nem nada disso. – Já estava nitidamente mais calma. Mais forte e recuperada.

– Estou cansada. O que quer? – Perguntou em descaso.

– Elena eu já tô melhor. Parei de chorar, tô me sentindo bem e acho que agora que estamos de cabeça fria é bom conversamos.

– Quer mesmo prolongar isso?

– Não, Elena. Não quero prolongar, quero resolver. – Rebateu, decidida. Isobel respirou fundo. – E já sei como. – A filha, curiosa, sentou-se na cama. Isobel foi para a parte dos pés, sentando-se também. – Quero que escute uma história.

Elena não compreendeu.

– Uma história? – Repetiu aquelas últimas palavras, com desdém.

– É. Uma história em que, como você disse lá embaixo... Você é a protagonista, mas não sabe.

Em razão aquelas palavras, Elena atentou-se de imediato, dando a deixa para que ela prosseguisse. Queria sim que seu orgulho fosse mais forte e que se negasse a ouvir qualquer desculpa vinda dela, mas o desejo em saber se fez mais forte.

Permitindo que continuasse, a menina assentiu positivamente. Isobel, aos poucos voltando com o nervosismo de antes, respirou fundo.

– Elena, eu vou fazer 38 anos... Daqui há dois meses, você sabe e... A idade entre a gente, a diferença se você comparar com outras mães e filhas por aí, a nossa é até pequena. – Começou calmamente, enquanto se concentrava no que dizer em seguida. – Quando eu conheci seu pai eu tinha dezesseis anos e ele era de uma família naturalmente rica, assim como a minha. Tinha um futuro promissor, ia trabalhar de advogado com o pai dele que era um homem muito importante e...

– Espera. – Interviu, entediada. – A história não é sobre mim? Isso tudo eu já sei, mãe e é sobre você.

Isobel não se abalou, mas ainda sim julgou que seria certo adiantar-se. Elena não estava com seu melhor humor para que suportasse rodeios.

– Elena eu amava o balé. – Falou um pouco acima do tom. – Eu era uma das melhores bailarinas profissionais do mundo, não tinha nada que eu amasse mais do que dançar.

A filha bufou alto.

– Sim, eu sei. Aí você machucou o pé, teve que parar, se casou com o John e blá, blá, blá. – Revirou os olhos novamente, provavelmente aquele ato seria repetido outras milhões de vezes durante aquela conversa. Resolveu encerrá-la por aí. – Mãe, eu já sei de tudo isso. Já disse, tô cansada e é melhor eu ir dorm...

– Elena, eu nunca machuquei o meu pé. – Disse contraindo o queixo. Com o silêncio, mão de Elena aos poucos foi a boca. Havia crescido com aquela história sobre o acidente de sua mãe, tudo dito em detalhes onde até mesmo a imprensa creia. Não era algo a se esperar. – Disse isso pra mídia na época, mas era mentira.

Houve uma curta pausa. Elena desceu os olhos até o pé direito da mãe, no qual supostamente havia se acidentado. Em silêncio, esperou o choque ir embora para que voltasse a falar também.

– Bom, eu... Eu sempre estranhei você não ter cicatriz, nem andar manca e nem ter um ortopedista sequer, mas...

– Minha mãe achou melhor inventarmos isso na época. A minha treinadora era uma uma Russa, bem rígida, durona. O que aconteceu foi que eu descobri que tava grávida. – Sussurrou, na esperança de que Elena ouvisse outra coisa. Mas não. A menina escutou, piscando algumas vezes em seguida, tentando entender. – Descobri isso perto de uma... Competição importante que ia ter naquele ano. E eu era a favorita pra ganhar. – Riu sem humor. – Minha treinadora se recusou em continuar com a minha carreira. Disse que pra mim tava acabado... Eu tinha 20 anos, Elena. Tava no auge de tudo, fiquei desesperada. – Isobel esperou por alguma resposta vinda dela, mas não veio. – Contei pro seu pai, pra família dele. Dissemos pra mídia sobre isso do pé e... E eu ele nos casamos.

Elena desviou os olhos para um ponto qualquer da cama.

– Porque tá me contando isso agora? – Perguntou, sem emoção em sua voz.

– Porque você me contou tudo aquilo só agora também?

Como previsto, ela novamente revirou os olhos; Onde pela primeira vez, esteve sem argumentos.

– Continua. – Disse baixo, quase muda.

Isobel esperou um pouco antes de prosseguir

– Eu era muito jovem. Assim como você também tive que abandonar uma vida inteira de muito sucesso por algo... Que eu não imaginava. – A voz dela, de repente, se embargou pela culpa. – Tive depressão pós-parto, culpava você pelo que tinha acontecido. Você era um bebê, mas mesmo assim... Era difícil. – Engoliu uma saliva, contorcendo-se em uma expressão de como se estivesse engolindo veneno. Seu próprio veneno. – Seu pai era quem te cuidava, conseguimos uma ama de leite porque eu não queria te amamentar.

Elena continuou sem muita emoção em sua expressão.

– Ou seja, me odiava. – Concluiu, seca.

– Odiava bem mais há mim mesma. – Disse do mesmo modo. – Eu e o John brigamos muito durante a gravidez. Um culpando o outro. Até que ele me disse que assim que você nascesse... Pediria o divórcio. – Timidamente, Isobel sorriu em lembrança. – Mas... Foi só ele te vê que mudou de ideia. Completamente. Te amou desde o primeiro segundo e te criou já que eu não queria fazer isso. – Ainda mais envergonhada do que com as acusações que Elena havia feito antes, a mãe abaixou a cabeça tentando se esconder. Assim como no andar de baixo, a tática não funcionou. Estava mais exposta do que nunca. – Quando o Jeremy e a April nasceram eu já tava mais conformada com a vida que eu tinha... Os amei e resolvi ser mãe de verdade.

Com a vinda das recordações, Elena ia encaixando as peças junto as informações que recebia. Fazia sentido, fazia todo sentido.

– Você sempre saía com eles. – Pequenos flashbacks a atingiam. – Praias, parques, clube... Nunca me levava junto, nem quando eu pedia. – Conteve uma lágrima, apesar de tudo não falava aquilo com ódio contra a mãe. Simplesmente concluía. – Só saíamos juntas se John fosse junto. Eu lembro que... Você nunca me dava a mão também, nem se fosse pra atravessar a rua.

– Eu não quero me odeie. – Isobel confessou entre lágrimas. Não as deixou ficar e logo as enxugou, teria que continuar firme pra essa conversa. – Não quero mesmo. Você sabe que as coisas mudaram, mudaram de verdade e eu mudei. Tanto que eu quero que a gente resolve o que tem que resolver. – Pediu, quase suplicando.

Elena ficou pensativa.

– Eu nunca entendi. Essa mudança súbita que você teve comigo, de um dia pro outro. Tentei esses anos todos pensar em algo, mas nunca consegui.

Isobel levantou-se da cama, caminhando pelo quarto observando os móveis. Adorava maneira como cada uma daqueles objetos remetiam a filha momentaneamente. Sorriu. E pensar que por pouco perdeu aquilo.

Seu coração se apertou.

– Aconteceu quando você teve meningite. Foi com 14 anos, eu acho. Não foi? – Em confirmação, Elena assentiu. – É duro aprender a valorizar uma coisa depois que se perde. Ou nesse caso, depois que quase se perde. Graças a Deus. – Em um gesto rápido, a mãe se benzeu. – Você quase morreu, Elena. Por muito pouco não ficou com sequelas e eu vi... Vi o tempo que eu quase perdi, vi meus erros, vi meus arrependimentos. Eu lembrei que eu era mãe. A sua mãe– Disse emocionada. Elena rapidamente voltou aos tempos no hospital, Isobel havia ficado por todos os dias ali em seu lado. Lembrava-se de cada detalhe, afinal era a primeira vez que a viu preocupada consigo, que viu que ela a amava. Por breves segundos, ficou feliz por estar naquela situação. Sem que percebesse, a mãe continuava a falar – ... E tudo que eu tenho tentado nesses três anos é me aproximar de você. Só que foi tarde demais. – Bateu o pé. – Você tinha 14 anos já era uma adolescente, tava em uma fase de revolta, de sentimentos conturbados... Naturalmente a primeira pessoa que você se rebelou foi contra mim.

Meu deus. Pensou Elena, em choque. Sentindo todo um mundo cair em cima de si.

– Como eu disse lá embaixo, os papéis se inverteram. – Foi tudo o que conseguiu raciocinar para dizer, sua mente estava a mil por hora.

Isobel a fitou, de modo melancólico.

– É. – Concordou sofredoramente. – Dessa vez quem procura a atenção sou eu e quem ignora é você. Mas eu mereci, eu mereci.

Elena balançou a cabeça negativamente.

– Já falei pra cortar esse tom de novela. – Disse, com toda uma tranquilidade, para a surpresa da mãe. – Essa situação de segredo que mais parece uma esquete de humor mexicano deixa tudo ainda pior. Eu não quero mais isso. – Falou enojada. – Eu não quero mais esse joguinho de azar que a gente tá chamando de vida. Isso acaba aqui.

Lembrou-se das palavras de Grace. No começo daquela conversa com todos aqueles segredos, poderia julgar que sentiria muita raiva de sua mãe no final de tudo, mas tudo que conseguiu obter foi alívio. Alívio por toda aquela rejeição ter um motivo e não por ser simplesmente incapaz de ser amada até mesmo por sua própria mãe. Alívio também por entendê-la; Em outra situação não seria possível, mas assim como ela Isobel também teve de abandonar seus sonhos e sua vida e o fato de ter sucumbido pela mesma experiência e ter sentido o que ela também sentiu, facilitava.

Queria sentir ódio. Queria gritar e ser a mesma orgulhosa de sempre, mas não era possível ainda mais quando se compreendia a situação, vivendo-a na pele.

– Como assim? O que tá sugerindo? – Isobel a olhou confusa.

– Eu quero encerrar esse capítulo, mãe. – Avisou, com a voz repleta de seriedade, apesar de um pouco fria se via que era sincero. – Eu perdoo você e eu me perdoo também. E espero que você faça a mesma coisa porque ter aguentar mais uma noite com esse peso de 17 anos já é uma coisa que, depois dessa conversa, eu não consigo mais. – Confessou, travando o maxilar. – Quer dizer, eu pelo menos não.

– Eu também não. – A outra respondeu, em desespero.

Devagar, Elena assentiu sem deixar a seriedade de antes se ir.

– Ótimo, não quero mais você se culpando. Eu tô aqui com você, não tô? Escolhi você, não o que eu tinha. – Exclamou com segurança. Arrependida, Isobel pôs as duas mãos unidas em oração, coladas em sua boca, fechando os olhos profundamente com as palavras dela. Não esperava essa compreensão de Elena, perguntava-se de onde ou o quê ou quem havia a mudado tanto. – Escolher você significa que em nenhum momento ao longo desses anos eu te odiei e mesmo que eu tivesse o dobro da fama, o dobro do sucesso, o dobro de tudo que eu tive... Eu ainda sim acabaria escolhendo ter ficado com você. Assim como você também teve que largar tudo por mim.

No mesmo instante, a mãe correu até ela sentando em sua frente. Ávida, Isobel apanhou a mão de Elena.

– Eu também não me arrependo disso, Elena. E se você quiser, não sei... Podemos procurar um terapeuta, marcar uma sessão em família e...

– Não. – Interviu educadamente. – Já disse que isso morre hoje. Não aguento mais uma noite assim carregando isso, já falei também. Nem todos os problemas são resolvidos dentro de um consultório e eu, sinceramente, tô feliz com a forma como esse tá sendo lidado. – Sorriu sincera.

Isobel abaixou o olhar por alguns instantes.

– Elena sobre aqueles desenhos... – Começou sem muita coragem. De imediato a filha bufou, mas não iria parar. Aquele era outro assunto que também não podia ser esquecido. – Eu não sei como as coisas entre a gente vão ficar a partir de agora, mas... Aqueles desenhos são lindos. – Suspirou com a lembrança. – Eu lembro que uma vez te perguntaram sobre se manter no mundo da moda, como estilista ou algo assim do tipo. Mas você sempre disse que era só hobby,

Elena fingiu-se de desentendida.

– E o que tem? – Perguntou, dando os ombros.

– O que tem é que... Não deveria ser só isso. Você seria a melhor estilista do mundo se... Se dedicasse. – Disse em incentivo.

Outra vez Elena fingiu não compreender.

– É só um hobby, mãe. – Persistiu sem sucesso. Dessa vez a sua grande habilidade para as mentiras não pôde lhe salvar. Pela primeira vez, Isobel percebeu.

– Não. Não é, Elena. – Sussurrou, acariciando de leve as mãos da filha. – Não é e você sabe, e eu quero que saiba que... Esqueça as bobagens que eu já falei porque quando eu estiver no desfile da sua primeira coleção eu vou aplaudir de pé e me sentir muito orgulhosa do que eu vê. Mais do que já sou. – Terna, Isobel levantou-se da cama e apanhou sua cabeça com as duas mãos, beijando sua testa demoradamente.

Sem avisos prévios, Isobel levantou-se da cama e partiu em direção a porta. Parou, despedindo-se com um olhar carinhoso no qual Elena correspondeu.

Saiu.

Saiu, deixando-a livre para respirar fundo por todas as perguntas de sua infância terem sido respondidas.

Sorriu. Sentia-se diferente. Não sabia de que maneira, mas sentia-se feliz. Damon regressaria finalmente em uma semana e encontraria em si uma mulher ainda mais feliz.

Encarou o quadro que ele havia lhe dado de aniversário e que viu pela primeira vez naquela universidade. O quadro feito de água e óleo, de uma mãe com sua filha de em média dois ou três anos na praia. Quadro esse que todos julgariam como corriqueiro e como arte comum, mas pra ela não. Refletia uma aspiração de vida que sempre quis com tanta força, mas que nunca teve. Entendia agora as razões.

Ainda sim, mesmo com a reconciliação. Ainda queria momentos como aquele. Claro que a criança não seria mais criança, mas o desejo continuava o mesmo que daquela garotinha que foi.

Esperou alguns minutos. Em média quinze haviam passado. Levantou-se em passos largos da cama, indo com o mínimo de barulho possível até o quarto. A porta, para sua surpresa, estava entreaberta como se estivesse esperando por ela.

Abriu, encontrando o corpo de costas para si e parecia dormida.

Ainda na ponta dos pés, caminhou até a cama e levantou os cobertores. Dessa vez sem medo dos ruídos, deitou-se ao lado de sua mãe. Como sempre quis fazer nas noites que tinha medo ou que sentia-se só. Ia até o quarto dela e de seu pai; Ela saía para o de Jeremy e John a abraçava dizendo que só estava estressada, nada além.

Não teve medo de abraçá-la. Sorriu ao fazer e chorou baixo, pequenas lágrimas finas como a de uma criança. Ainda com a mesma emoção, cheirou o pescoço e absorveu o perfume que continha o cheiro de uma típica mãe. Tinha o cheiro que imaginava que tinha.

– Que bom que fez isso. – A voz soou a assustando.

Não imaginava que ela estivesse acordada.

Após o sobressalto, Elena sorriu.

– Você sempre tem o sono tão pesado... Logo agora, logo hoje resolve acordar. – Falou nos cabelos da mãe. – Faltou um abraço de perdão. Por isso vim aqui. – Confessou, abraçando-a por trás. Isobel acariciou-lhe os braços e sorriu. – Sempre quis fazer isso. Sempre.

Carinhosa, Isobel beijou suas mãos.

– Há muito tempo eu também quero. – Confessou aliviada.

Elena gargalhou timidamente.

– Bom... Antes eu era uma criança, mas é um sonho que ainda vale.

Devagar, Isobel virou em sua direção encontrando os olhos de perdão que sempre quis um dia conseguir.

– Pra mim você vai ser sempre uma criança, como pra toda as mães. Sempre.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo, reencontro delena.