Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 49
- The Birthday Part 1.


Notas iniciais do capítulo

Consegui postar mais cedo essa semana. Espero que gostem.



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O sopro, que para aquelas partículas eram como um vendaval, saiu levemente dos lábios entreabertos cobertos por um batom vermelho de marca cara. As sobras que saem das borrachas quando arrastamos na superfície de um papel qualquer, voaram para longe. Elena elevou a mão direita retirando o pouco que insistiu em ficar na folha e em seguida sorriu ao admirar o resultado de seu desenho. Havia feito a criança que brincava com seu cachorro que avistou há poucos minutos enquanto ia para o Grill. Para muitos poderia ser mais um de seus rabiscos qualquer, mas para ela era muito mais. Era a primeira vez que desenhava naquele caderno desde que Damon o devolveu.

Na verdade, era a primeira vez que desenhava em muito tempo. Fora a única válvula de escape que havia encontrado para tentar distrair seus pensamentos. Quase não conseguiu dormir ontem por curiosidade em saber o que havia acontecido com Grace para sair daquela maneira; E lhe doía não poder inquirir. Perguntar para ele.

Também quem pudera. O único lugar que se viam era na sala de aula e hoje, pela manhã, ele parecia da mesma maneira que era nos outros dias desde que o conheceu. Frio, distante, autoritário, esquivo e sem falar mais do que lhe era necessário. Sempre com aquela postura de aristocrata Inglês, mas que por de baixo se escondia um bêbado com tendencias depressivas.

No fim era melhor que continuasse daquela maneira sem saber para que não voltasse a participar da vida dele e nem muito menos que nutrice esperança de que ele soubesse o que tinha feito, apesar de não ter agido para que recebesse uma recompensa dele e sim, simplesmente para ajudar sem nada em troca. Só que mesmo com a ciência disso, era impossível pedir que seu coração fosse racional.

Fechou o caderno satisfeita com o que produziu. Tinha que voltar a fazer isso mais vezes, nem ela mesma recordava o quanto a acalmava. Ainda mais agora. Que era o dia em que costumava ser o aniversário de casamento de seus pais. Antes era a sua data favorita do ano e agora experimentava a sensação de ser a que menos gostava.

Lembrou-se das festas que John e Isobel costumavam organizar. Toda elite americana de Nova York, principalmente, compareciam sem falta para festejar o amor daqueles que costumavam ser o casal perfeito. Seu pai, o maior advogado dos Estados Unidos. O queridinho dos políticos corruptos que ao se envolver em esquemas de corrupção e serem descobertos, recorriam ao super-herói John Gilbert na qual conseguia com seu talento livrar a cara de todos. Já sua mãe, uma ex-bailarina muito famosa do final dos anos 80 e que após uma grave torção nos pés e várias cirurgias depois, nunca pôde voltar a dançar e decidiu seguir uma carreira de dentista.

Sabia como Isobel estaria hoje. Faria bolo, como fazia em todas as vezes em que estava triste com algo e depois o comeria enquanto revia álbuns de foto em seu quarto para depois chorar o resto da noite. O mais baixo possível para que nenhum filho seu soubesse o que estava acontecendo, embora ela mesmo no fundo saiba que eles estão certos de tudo.

April e Jeremy que aguentem. Pensou ela. Não queria ficar em casa para tal tortura e veio jantar no Grill. Além de não chorar nunca na frente dos outros, era absurdamente revoltante ter que ouvir sua mãe fazer o mesmo escondida.

Distraiu-se demais em pensar que não se ateve em olhar para porta do local, onde um grupo de pessoas adentrou. Tyler, Bonnie, Caroline, Rebekah e Matt passearam os olhos por cada mesa a procura de uma que pudessem caber a todos.

Nessa caça, os olhos de Caroline foram os primeiros a avistar a figura de Elena sentada sozinha e com expressão pensativa.

– Gente... – A loira sussurrou os chamando. Todos a olharam. – Mesa 7. Olhem, mas disfarcem.

Não atenderam ao último pedido. Rapidamente os olhos do resto da banda, se dirigiram aonde Caroline indicou, mas Elena parecia tão focada que não os viu. E isso era o mais estranho. Ela mantinha uma concentração absurda enquanto olhava para algum ponto qualquer de suas mãos.

– O que ela tá fazendo aqui? – Matt foi o primeiro a perguntar.

Bonnie concentrada, tentava desvendar aquele rosto na tentativa de pelo menos desconfiar o que ela tanto pensava.

– Esperando a gente é que não tá. – Disse ela.

Tyler assumiu o medo em sua face.

– Será que tá esperando ele?

– E se tiver? – Rebekah retrucou um tanto rude. – Isso não nos diz respeito mais. Ela que faça o que quiser da vida dela a partir de agora. Eu não me intrometo mais e nem vocês deveriam.

– E se fossemos falar com ela. – Sugeriu Caroline, após o pensamento passar por si. – A gente tinha combinado dá um tempo antes de tentar de aproximar, pra que ela esfriasse a cabeça... Já tem mais de quinze dias. O que acham? – Enquanto essa falava animada, o restante a olhava como se tudo o que dissesse fosse absurdo.

Tyler queria e isso todos eles sabiam. Bonnie pensou um pouco antes de falar algo.

– Não acho que adiantaria alguma coisa. – Suspirou pessimista.

– Mas pelo menos a gente pode tentar falar com ela. Eu prefiro brigar do que continuar nessa indiferença, pelo menos brigando alguma roupa é lavada. Alguma coisa é esclarecida e depois a chance de perdão é maior. Acho que uma tentativa não custa.

Diante dos argumentos da loira, todos ficaram sem resposta. Não eram orgulhosos o bastante para fingirem que não eram os errados naquela história toda. Principalmente Bonnie; Não fazia ideia de que o que Elena sentia por Damon era algo pra valer, ainda mais tanto como ela mesma demonstrou. Na hora pensou que era um capricho e com medo de que a amiga se afundasse tudo por conta de uma simples aventura ou curiosidade, caso tudo fosse descoberto, achou melhor fazer o que fez.

E agora estava pagando por isso.

Caroline estava certa. Era melhor mesmo tentar esclarecer algo, por mínimo que fosse. Ou até pedir perdão.

– Acha que consegue ir lá falar com ela? – Perguntou Bonnie à Caroline, assustando a todos.

Inclusive a própria Caroline.

– Acho... – Hesitou. – Mas o que quer que eu fale?

Rebekah se manifestou, antes que a baixinha tivesse tempo.

– Só pergunta se podemos sentar com ela e jantarmos todos juntos. Só. É melhor não ser tão direta assim. – Primeiro queriam mostrar para Elena que havia arrependimento para que assim ela pudesse tomar a iniciativa em perdoar.

Todos concordaram com o que Rebekah sugeriu e Caroline seguiu até a mesa, tomando coragem a cada passo que dava.

Elena não queria se deixar abalar pelas memórias do passado, mas assim que começou a lembrar de seus pais, juntos, não parou mais. Sua consciência a alertava que era definitivamente pelo fato de que há muito tempo havia parado de pensar com tanta frequência em Nova York e não era a primeira vez que constatava isso.

O barulho dos pés aproximando cada vez mais de si não captaram sua atenção logo de início, apenas quando a sombra de Caroline parou e ficou que ela virou o rosto para olhar finalmente quem era.

Naquele momento toda memória do passado se foi, ficando apenas a raiva que sentia no presente.

Revirou os olhos e bufou em tédio.

– O que estão fazendo aqui? – Perguntou indiferente após avistar o resto do grupo parado perto da porta.

Caroline não retirou o seu costumeiro sorriso simpático.

– Viemos jantar todos juntos, antes que o turno do Matt começasse. E você? Porque não está jantando em casa?

– Vim aqui pra passar o tempo. Mas se soubesse que estava tão mal frequentado continuaria lá mesmo – Elena não se importou em olhá-la nos olhos. Continuou parada, como se a presença dela ali não existisse.

Tímida, Caroline encarou o chão.

– E você tá sozinha?

– Olha, se a sua próxima pergunta for: Quer companhia? Já vou adiantando que não. Não quero. – Não se atentou em ser educada. Preferia sentar-se com alguém que comprasse roupas em brechós do que com qualquer um deles.

– Elena, eu até agora não te pedi nada. Nem eu nem eles. E não to falando de hoje não, to falando dessas semanas todas que passaram.

– Mas não faz diferença pra mim, Caroline. Essa semana, a outra semana. Não muda nada e eu sinceramente não espero que mude porque eu não sinto falta alguma. – Explodiu irritada levantando-se de seu lugar para ir embora. Fez questão de falar alto o bastante para que o resto deles ouvisse.

Antes que pudesse sair dali Caroline segurou seu braço. Parecia preocupada.

– Aonde você vai?

Elena riu irônica.

– Pra casa. E a pé já que eu não tenho mais meu carro por culpa de certas pessoas. – Livrou-se das mãos dela segurando em sua pele e andou até a porta, os passos rápidos que refletiam toda raiva de sua expressão.

Parou em frente a eles. Despejando o ódio dentro de si em uma simples olhada. Eles apenas aparentavam tristeza. Estava pronta para gritar e ter a maior briga de sua vida para quem quisesse presenciar. Mas não. Logo viu que não valeria a pena, porque brigar apenas é algo bom quando há chances de reconciliação; Quando não, era apenas perda de tempo útil. E ela não queria perder mais seu tempo com aquelas pessoas.

Deu uma última olhada, dessa vez com pena e partiu para fora do estabelecimento restando do lado de dentro vestígios de decepção.

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Definitivamente sapatos Prada não são feitos para caminhar. Pensou, ou melhor, concluiu Elena ao finalmente alcançar a porta de sua casa. Encostou as costas na porta de madeira marrom enquanto tomava coragem para abrir e entrar. Faria de tudo para não precisar ouvir sua mãe chorar aquela noite.

Andou cada rua, cada esquina e cada passo no mais lento ritmo que conseguiu, tudo para chegar o mais tarde que conseguisse e ela estar dormindo em paz quando voltasse.

Ainda sim sentia falta de um carro.

Grunhiu em raiva ao ver o gasto na sola de seus caros saltos. Automaticamente a raiva que sentiu ao sair do Grill regressou em seu corpo. Aquele sapato era um de seus prediletos; E agora, teria que ir para o lixo junto com os três mil que gastou para obtê-los.

Da entrada da varanda alguns trechos de luzes indicavam que alguém no andar de baixo ainda estava acordado. Ao reparar não pôde controlar sua estranheza. Logo pensou que por conta de sua mãe, seus irmãos possivelmente desceram para o andar de baixo para não ouvirem o que Elena tanto fugiu.

Hesitou em entrar por conta disso. Mas o que seria essa tragédia se comparasse a tudo que lhe aconteceu nos últimos dias? Com esse pensamento girou a chave e em seguida empurrou o objeto, que antes repousava seu corpo, com o auxílio da maçaneta. Logo foi recebida pela claridade das luzes da sala, o que era estranho para o horário. Quase 11 horas; O que parece cedo para muitos, mas que para sua mãe é madrugada. Ao fundo, na parte da cozinha e da sala de jantar também vinha um aspecto claro, precisando inclinar só um pouco para seu lado esquerdo para que Elena pudesse deduzir.

Algo estava acontecendo ali. Pensou ela, obtendo a resposta que precisava ao captar sons de risos, segundos depois. Um deles era o de sua mãe, o que deixavam as coisas mais estranhas ainda perante aquela data.

Não esperou andar até lá para que desvendasse esse mistério.

– Mãe? – Chamou duvidosa, já indo até onde as risadas estavam. Ao ouvirem sua voz, elas pararam.

Antes que Isobel pudesse respondê-la, Elena alcançou a soleira. Parando estática logo em seguida. Seu queixo desceu até o mais baixo que poderia alcançar de seu rosto, e as sobrancelhas também seguindo o caminho de cima e resultando a expressão de total choque em seu rosto. Por dentro, era como se todo seu peito se contraíssem levando todo seu ar junto.

Um rápido flash de quando descobriu que Damon moraria em sua casa a atingiu como um estranho sentimento de Déjà Vu. Havia acabado de chegar do Grill, após seu primeiro encontro com Tyler. Em ambos os momentos a surpresa e o baque eram os mesmo; A diferença era que dessa vez, uma pitada de felicidade também vinha misturada junto.

Piscou os olhos. Uma, duas, três vezes até ter a certeza de que a imagem de Damon jantando com sua mãe e seus irmãos aos risos era real. E para o assombro de todo seu ceticismo, realmente era.

Seus olhos ficaram nos dele e não conseguiu evitar que um pequeno sorriso nascesse em seus lábios.

– Senhor Salvatore... O que está fazendo aqui? – Tentou disfarçar seu entusiasmo.

Eles já não riam mais, apesar de também parecerem felizes. E o próprio Damon também.

– Como vai, Elena?

Ela demorou um pouco para responder, ainda um pouco desordenada com aquela situação.

– Bem... Mas confusa.

Damon iria responder, mas Isobel interviu antes.

– O Damon veio jantar com a gente hoje, Elena. – Explicou pausadamente por não saber como ela reagiria. Desde quando Damon foi embora não conseguiu perceber se a reação de sua filha havia sido uma feliz ou uma triste. – Na verdade nem avisou que viria, foi uma surpresa pra todo mundo. Mas ele veio pra dá a notícia de que... Ele...

Dessa vez foi Damon que preferiu interrompê-la.

– Isobel eu acho que eu vou recolhendo os pratos e se a Elena quiser ela pode me ajudar. – Sugeriu, embora soasse levemente como um ordem. – Então a gente conversa. O que acha, Elena? Me ajuda com a louça?

Isobel pareceu concordar com o que foi dito e se calou. Para Elena, nem mesmo a absurda ideia de lavar uma louça, coisa na qual jurou que jamais faria, fora o bastante para a impedir de aceitar aquele convite. E não só de aceitar, como também de querê-lo com toda sua alma.

Esforçou para não responder de maneira muito afoita. Afinal, tinha que se controlar, não só para todos ali como para ele.

– Claro. – Disse simplesmente.

Enquanto sua voz soasse normalidade, seu corpo e seus atos gritavam efusividade enquanto recolhia os pratos. Apanhou todos que conseguiu em um tempo recorde tudo para que chegasse até a cozinha, com ele, o mais rápido possível e se visse abandonados por aquelas pessoas ao redor.

Ao contrário dela, Damon não aparentava nenhum tipo de ansiedade ou sobressalto, o que a intrigou de início. Seguiram o caminho da sala de jantar até a cozinha em um silêncio aconselhável pela pouca distancia que ainda estavam dos outros.

Mas quando se viram livres, não demorou para as vozes se liberarem.

E a de Elena, domada pela curiosidade, foi a primeira a percorrer os obstáculos da garganta.

– O que tá havendo?

Não conseguiu controlar sua impulsividade e foi direto ao ponto. Largaram os pratos e talheres na pia e Damon começou a enxaguá-los.

– Pode me ajudar aqui? – Perguntou em referência aquela pilha de objetos.

Elena, de imediato, pensou seriamente em gargalhar. No instante em que ele propôs a ideia, perante sua família, raciocinou que se tratava de um pretexto. E agora diante a seriedade com que ele a perguntou, via que poderia sim ser um pretexto. Mas um levado ao pé da letra.

Não iria argumentar por conta disso. Em má vontade apanhou umas luvas de plástico próximas a pia e as vestiu. Damon lhe entregou uma esponja, com detergente e ela resolveu começar por um garfo. Como não sabia como fazia aquilo, resolveu imitar os movimentos dele.

Ficaram assim, novamente sem dizer nada, por alguns minutos. Sendo interrompidos, por uma gargalhada dele diante a falta de jeito dela.

– Isso é algum tipo de vingança por todas as vezes que eu te deixei lavando louça sozinho? – Perguntou bem humorada, após deixar um prato escorregar de sua mão. Surpreendentemente, até a própria estava se divertindo agora.

– Talvez. – Respondeu na mesma ironia.

– Mas pra uma primeira vez tá excelente. Não quebrei nada até agora.

– Mas é claro. Das duas vezes que você quase deixou o copo cair no chão eu tive que pegar.

– A verdade é que eu to indo muito bem e você não quer admitir. – Sorriu travessa, esfregando um pouco do sabão no braço dele. Ele riu alto, a sujando levemente no nariz. – Contrário ao que você pensa eu não sou só uma patricinha mimada. Tanto que o que eu lavo tá bem mais limpo do que os seus.

Damon parou de sorri. Elena conseguiu enxergar pelo vidro da janela à frente a expressão séria na qual assumiu sua face.

Preocupou-se. Mas nada disse. Porque foi ele quem disse primeiro.

– Se tem uma coisa que eu não acho de você é isso. Que é só uma menininha mimada. – Sem coragem de perguntar o porque Elena ficou em silêncio, constrangida. Não queria relembrar o passado e querendo ou não ainda tinha que manter seu acordo com Mason por mais que odiasse. – Ainda mais depois do que você fez por mim ontem.

Um observava as reações do outro através do vidro. Incomodada com os olhares, Elena abaixou os seus desviando para os pés. Sabia do que ele falava e falava de Grace e pelo modo com que disse, as coisas haviam entrado no seu eixo.

Sorriu em fraco agradecendo.

– Pelo visto deu tudo certo. – Sussurrou contendo sua alegria.

Ele sorriu também.

– Me lembre de te agradecer e de te recompensar pelo resto da sua vida por isso. Em meu nome, no dela e até do Stefan também.

Ignorou o vidro dessa vez e resolveu olhar seus olhos. Ele fez o mesmo a encarando; Não esperava que Stefan também estivesse na conversa entre os dois. Com medo que estivesse invadindo a privacidade dele e o desconforto viesse, achou melhor não inquirir sobre isso. O importante era o tão forte brilho que conseguia captar dos olhos dele, algo que muitas vezes nem mesmo o dominante azul conseguia submeter aquelas tamanhas tristezas de antes.

– Não fiz esperando agradecimentos. Muito menos recompensas. Só que talvez assim você pudesse ser feliz. – Ele sentiu sua sinceridade.

Damon lembrou-se da última conversa que ele e ela tiveram antes de se mudarem. Onde discutiram sobre o que era felicidade.

– E eu fui, e acredite eu estou. Por isso eu resolvi correr atrás do que me fazia feliz e parar de fugir. – Elena franziu as sobrancelhas sem entender. – Fugi da minha mãe esses anos todos e quando finalmente dei uma brecha... Foi muito bom, por isso resolvi que não vou mais me afastar de nada que me faça bem.

Aquilo assustou Elena de início, por não saber aonde ele queria chegar dizendo essas coisas. Mas controlou suas reações.

– Como o quê? – Sua voz saiu fraca, quase inexistente por querer disfarçar sua curiosidade.

Por estar tão perto Damon a ouviu sem dificuldades.

– Como essa casa. – Ambos já ignoravam a louça. – Essa casa me fazia muito feliz.

Só a casa? Pensou ela contendo-se para que não dissesse. Foi então que parou para analisar as palavras dele. Estava tão entorpecida pela presença única dele sem uma sala de aula ao redor, por seu cheiro de colonia italiana que parecia impossível ouvir o que ele lhe dizia e depois raciocinar para dar sentido a toda uma frase.

Parar de fugir do que me faz feliz. Ele havia dito. Essa casa me faz feliz.

A boca de Elena abriu-se em um ''o'' por entender o que aquilo significava.

Percebendo Damon, que queria dizer por conta própria, preferiu falar logo antes que ela concluísse tudo em voz alta.

– Por isso eu vim jantar aqui hoje. Pra avisar que eu não quero mais sentir falta dessa casa até a data que for necessária que eu vá.

Elena suspirou, afoita. Sentiu-se perdendo seu ar.

– Então isso quer dizer que...

– Isso mesmo. – Exclamou firme. Agora parecia o professor de sua sala de aula. – Isso significa que em dois meses eu volto pra cá.

De imediato, os braços de Elena se apoiaram na pia para que apoiasse seu corpo sedento por um desmaio. A pele aos poucos empaleceu e se fosse possível o coração pararia, literalmente, de bater.

Houve uma curta pausa. Não por faltar o que perguntar e sim pelo motivo de que sua voz não conseguia sair sem que indicasse toda sua veemência.

– Mas porque em dois meses? – Falou após se acalmar, por dentro e por fora.

Damon pensou um pouco antes de responder. Isobel havia lhe feito a mesma pergunta.

– Faz pouco tempo que eu fui pra lá. Não seria legal ir, ficar tão pouco tempo e voltar. Faria essa mudança ser uma coisa totalmente inútil e não quero que o Ric fique com essa impressão de mim.

– Entendo... – Assentiu em concordância.

Observou os olhos dele fitando sua boca. Não disse nada; Era impossível não se abater e impedir a mente de imaginar coisas com a maneira na qual ele mirava seus lábios. Não era necessário que soubesse ler pensamentos para que soubesse o que ponderava.

Até porque também tinha a mesma coisa impregnada em cada canto de si. Fez o mesmo e logo a respiração dela descompensou de tamanho desejo. Percebendo, Damon se aproximou ainda com a visão focada no mesmo local, enquanto relembrava o gosto que tinha.

Elena sabia que ele não faria nada, ainda mais com sua família tão perto, mas por um segundo ela idealizou como seria se respondesse a esse impulso.

Até que fora interrompida.

– Terminaram? – A voz de sua mãe invadiu a cozinha.

Atordoados, ambos despertaram de sua própria imaginação.

– Sim. – Damon respondeu, envergonhado. Dirigiu os olhos para Elena rapidamente e conseguiu observar que o desejo ainda não tinha ido embora. Ela, assim como ele, tentava acalmar sua respiração. – A gente conversou bastante. – Para disfarçar, seguiu a vista para o relógio no pulso percebendo que já havia passado de sua hora. – É melhor eu ir. De verdade foi muito bom o jantar, Isobel.

Em passos apressados foi até a frente da mulher depositando um beijo em sua testa. Para Elena deixou apenas um olhar e um sussurrado '' até. '' Ela continuou ali, parada. Enquanto a alta líbido se esvairia de seu corpo. Sua mãe o acompanhou até a porta e logo ao ouvir o bater sentiu a saudades voltar, mesmo sabendo que amanhã o veria.

Mas não era bastante e nunca seria o bastante até que o tivesse de volta. E esse era o problema, porque não podia tê-lo. Nem hoje e nem em qualquer outro dia.

Damon saiu de lá com a confirmação que precisava para suas dúvidas. Desde aquele dia em que Elena o disse aquelas palavras, desconfiou que algo estava errado, que alguma coisa na qual ela não podia lhe contar acontecia.

E hoje, a poucos minutos, na forma tão cheia de paixão com que ela correspondeu seu olhar isso apenas confirmou. Depois daquele dia em que decidiu sair de lá após vê-la com Tyler, não pensou direito. Logo ele tão racional justo quando era momento de raciocinar não o fez, mas dias depois quando descansava a cabeça sob o travesseiro de seu mais novo quarto, era quando os pensamentos lhe atingiam.

Nunca mais viu Elena e Tyler juntos depois e o detalhe estava em que ela supostamente o deixou para que voltasse com ele, sendo que nem ao menos no dia o seguinte os viu. Algo acontecia, mas deixaria para descobrir depois que esses dois meses se passassem; Quem sabe até esclarecer as coisas com ela para que pudessem conversar, voltarem. Reconquistá-la. Normalmente Damon tinha dificuldades em perdoar quem errava assim tão grave com ele, mas estava obstinado em não correr mais do que lhe fazia feliz e Elena sabia como o fazer feliz.

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2 MESES DEPOIS.

15/05

Querido diário. Não sinto a mesma ansiedade que sentia nos anos anteriores toda vez que essa data chegava. Não sei mais se é por estar em Mystic Falls ou pela inquietude do que esse dia reservava.

Todo ano a rotina do dia quinze de maio é a mesma. Acordo com o maior sorriso de felicidade do mundo, desço e recebo os mimos que toda aniversariante merece de sua família e logo dou de cara com a enxurrada de flores, que filhos de empresários ricos que sonham em ter um encontro comigo, me mandam. Normalmente com algum cartão sem graça. Leio um ou dois e tomo meu café especial. Depois aceno para alguns paparazzi que fazem plantão na porta de meu antigo apartamento e vou para o clube encontrar Beth, minha organizadora de festas prediletas e conferir se tudo está pronto. Depois, seguia para um spar e em seguida para o meu salão predileto de Nova York onde fazia cabelo e as unhas. Já em casa, meu maquiador e minha stylist me preparavam e eu me vestia com algum vestido de um famoso estilista, feito exclusivamente para mim. Após isso era só subir na limousine e ir para a grande comemoração, sempre acompanhada de mais de mil amigos do lado de dentro e mil fotógrafos do de fora.

E dessa vez, sem tudo isso. Sem saber o que me espera dá uma sensação de medo. Ainda mais pela festa que tem hoje, na qual minha mãe só insistiu para que não perdêssemos a prática. Confesso que não queria porque não seria a mesma coisa, sem meus amigos e tudo na qual me acostumei nos anos anteriores. Voltei a ficar animada e querer essa festa ao saber que eles também viriam (claro que depois do meu pai fazer um por um assinar um acordo de confidencialidade onde garantiam que não contariam nada para a imprensa se não quisessem pagar uma multa milionária) ainda mais agora que tenho tido o desprazer que é a solidão depois do que houve com as horrorosas amizades que fiz por aqui. Mesmo assim resolvi não chamar apenas eles, como todos de Mystic Falls. Afinal é meu primeiro ano aqui e Elena Gilbert não é do tipo que faz coisas para serem esquecidas. Já em relação ao grupinho do mal, só convidei para poder esbanjar todo meu ar de superioridade na cara de cada um.

Até Rose eu convidei. Só não chamei Mason, esse não quero aqui. Ele ainda está com a gravação e só de pensar nele me vigiando, como tem feito algumas vezes depois da aula (ele acha que não o vejo) causariam a explosão de meus nervos.

Mas o motivo para eu estar tão hesitante em relação há essa festa tem nome próprio. John. Estava animada até ele confirmar a presença ontem de noite e não quero de maneira alguma vê-lo. Minha mãe vem com sua voz doce tentando me alentar dizendo '' mas ele é seu pai ''. E tudo que consigo pensar é '' e a culpa disso é sua''. Confesso que foi engraçado quando ele ligou ontem e Damon quem atendeu. Ele ficou louco pela ideia de que tinha algum homem na casa dando a minha mãe a felicidade que ele não conseguiu. Foi bom. Por alguns segundos até que April explicasse o que estava acontecendo.

Damon regressou há uma semana. Me preparei esses meses todos para a volta dele então não havia sido constrangedor. Ensaiei bem todas as minhas reações e atitudes para quando esse dia chegasse. O que era estranho era o comportamento dele, o Damon de antes ficava sempre em seu quarto, distante, falando nada mais que o básico e sempre tímido. Como ele é normalmente. Já esse é outro. Esse janta com a gente em família na mesa de jantar, conversa, interage e até faz piadas de vez em quando. Até televisão na sala, com todos nós juntos no sofá, ele assiste. Aqui todo mundo também notou sua mudança, e eu também, mas ainda não tive tempo de perguntar. Não ficamos sozinho nem conversamos sem a presença de ninguém ao redor por um minuto se quer.

Por enquanto prefiro que continue assim. Depois do dia em que tivemos aquela pequena conversa na cozinha, pude concluir que não importa Mason, não importa nada. É impossível para mim estar a sós com ele sem que beire ao abismo da dúvida de pular ou não no pescoço dele e o beijá-lo até que perca o ar, e não é segredo para ninguém a minha mania de me deixar levar por meus impulsos.

Mas tenho não pensado muito nisso ao longo desse último um mês. Tenho feito todo o esforço possível para focar em outras coisas. Aquele desenho que fiz no Grill da menina e seu cachorro foi o começo de tudo. Não parei mais. Desenho todo dia depois da aula. Árvores, pessoas, imagens, objetos... O que fez com que Mason se enjoasse rapidamente da minha rotina e cessasse sua perseguição. Estava colocando no papel as mesmas coisas que fazia em Nova York. Quando desenho me sinto longe daqui, nem na própria Manhattan eu me sinto, é algo muito mais além, como se fosse em outro mundo. Me sinto péssima por amar tanto isso, porque sei que não vou poder levar adiante para o meu futuro e ter o desenho, principalmente meus modelos de vestidos, sapatos, tudo como um simples hobby. Queria mais, só que não posso; Pelos motivos na qual só eu e mais ninguém sabe (nem pode saber).

Para suprir a falta de amigos tenho mergulhado de cabeça nos estudos. Estou indo devagar, apenas uma hora no máximo, quando tenho dificuldade na matéria, duas. Por mais que também deteste essa minha nova postura nerd, é incontestável o fato de que estar me fazendo bem. Esse que era meu grande problema antes, a falta de distração. E quando não era o estudo, nem os desenhos, era o blog. E esse eu tenho atualizado pontualmente como uma boa menina responsável.

Só não sei o que farei daqui há alguns dias quando a semana de moda começar e não consegui estar lá. Sei que reclamarão. Falei com a minha mãe sobre isso e ela disse para não sofrer por antecipação; Fiquei pensando no que ela queria dizer com aquilo.

Daqui um mês era início de verão. O que significaria férias. Será que ela estaria pensando em passarmos as férias em Nova York?

Elena parou a escrita ainda com aquela pergunta na mente, devolveu o diário para a gaveta no qual sempre o mantinha e aconchegou-se mais em seu edredom. Queria dormir outra vez, era sábado e ainda por cima nove da manhã, mas o sono não voltou. Não aguentaria ficar com aquela dúvida palpitando dentro de si, jogaria sua mãe contra a parede e exigiria uma resposta no primeiro momento que a visse.

Como seria voltar pra Nova York depois desse tempo todo? Pensou ela, querendo prolongar essa ponderação, mas fora interrompida pelo bater da porta.

Estranhou de imediato, mas em seguida lembrou que era seu aniversário e a sensação foi embora.

– Entra, mãe – Sorriu animada.

– Não é a sua mãe. Posso entrar? – A voz rouca atravessou a porta vindo em sua direção.

No mesmo instante saltou de sua cama indo em direção ao espelho mais próximo. Não houve tempo nem ao menos de pensar o que Damon possivelmente queria.

DROGA. Seu pensamento gritou ao alcançar o refletor.

Voltou para o quarto, batendo os pés, com força ao chão, por tamanha fúria.

– Não vai dar Damon, desculpa. – Lamentou triste.

Ele percebeu que não era por um motivo qualquer.

– Porque? Aconteceu alguma coisa?

Um choro baixo, como o de um ratinho preso na ratoeira, saía de lá do quarto, aumentando a preocupação dele. Se não tivesse tanto respeito por ela, invadia o cômodo no mesmo segundo.

– Sim... – Disse após um fraco soluço. – Eu to sem maquiagem, desculpa...

Damon rolou os olhos e bufou entediado, queria que ela repetisse aquelas palavras por não crer no que ouvia. Esqueceu todo o respeito que lhe restava e invadiu o quarto, colocando apenas sua cabeça para dentro. Em reflexo, Elena cobriu todo sua face com o cobertor pelo pavor que lhe arrepiava a espinha caso ele a encontrasse como estava.

Damon segurou o riso em sua garganta ao deparar-se com aquela visão. Para Elena aquilo era algo sério.

– Elena... – A chamou, mas ela não se mexeu. – Elena para com isso, qual o problema de te ver sem maquiagem? Eu já vi algumas vezes até e não muda nada. – Já te vi até sem roupa. Pensou ele, mas não ia dizer aquilo. Mesmo tendo invadido o quarto dela, uma mínima partícula de gentileza, lhe restava.

– Mas não é só a maquiagem. É o cabelo despenteado e eu acabei de acordar, além de sem maquiagem também tô com a cara amassada.

Damon bufou outra vez.

– Você acha mesmo que homem repara nessas coisas? – Voltou os olhos para o corredor. – Sua mãe e seus irmãos saíram. – Outro arrepio atingiu Elena; Estavam sozinhos. Pela primeira vez desde que ele regressou. – ... Eu tenho uma surpresa pra você. – Completou a atingindo no seu ponto fraco. A curiosidade.

Aos poucos, as mãos empurrava a grande coberta para baixo, o fazendo descer. Quando todo seu rosto se expôs e encontrou os olhos dele, qualquer vergonha foi embora. Ele sorriu ao vê-la e pôde ver naquele olhar que ainda a achava linda.

Ela retribuiu o riso.

Para sua surpresa, ao invés dele entrar na quarto, retirou seu rosto e dirigiu de volta para o corredor. Não houve tempo de perguntar nem de o chamar novamente, segundos depois, o mesmo homem reaparece carregando consigo uma bandeja de café da manhã.

Seu sorriso alargou-se mais.

– Damon... – Suspirou encantada. – Damon, o que é isso? Meu Deus.

Ele riu ao observar sua reação e se sentou ao pé da cama, após colocar a surpresa no colo da aniversariante.

– Vou te decepcionar falando isso, mas... Não fui eu que fiz. Foi a sua mãe, mas ela teve que sair e pediu pra mim trazer. Gostou?

Ela assentiu em resposta, observando o que tinha na bandeja. Apanhou uma maça e mordeu um pedaço. Claro que gostaria que ele tivesse feito aquilo para ela, mas não se abateu por isso, a presença dele ali valia todo e qualquer desapontamento.

– Você vai na minha festa hoje, não vai? – Tomou coragem e perguntou, apesar de ter medo da resposta.

– Vou. – Ele respondeu sorrindo.

Após engolir o restante de seu suco, reiniciou a fala.

– Não se preocupa com bebida. Eu mesmo garanti que nenhuma garrafa se quer entrasse. Vai poder curtir tranquilo.

– Então, quer dizer que... Sabia que eu não ia faltar. – Conforme as palavras iam saindo dele, a expressão envergonhada de Elena aumentava de tamanho. Não podia crer que havia soltado tamanha gafe.

Voltou os olhos para a comida e deu os ombros, tentando disfarçar.

– Sou uma mulher precavida.

Sua mãe estranhou de início sua preocupação com o que seria servido, em todas suas festas apesar de ter os melhores organizadores de eventos de todo Estados Unidos sempre que decidia assumir o controle de algo era sempre da decoração. Mas não poderia arriscar, queria que ele viesse e não que fosse se vangloriar, mas sabia que a possibilidade de ele ir era grande, por isso até mesmo vinho proibiu. Isobel disse que estava sendo exagerada e que, querendo ou não, as pessoas reclamariam se nem mesmo uma gota de champanhe estivesse ao dispor. Ainda mais seus amigos Nova-Iorquinos que costumam festejar sempre acompanhados de uma boa taça de bebidas caras.

– Não imaginava que você fosse Taurina. – Ele a retirou de seus pensamentos, querendo quebrar aquele silêncio. – Pensei que... Pelo seu jeito fosse de aries, leão. Talvez libra... Não libra não.

Ela assentiu em concordância.

– É. As pessoas se surpreendem por eu ser de touro. Deve ser esse ascendente maldito em leão.

– É. agora tá explicado muita coisa. – Gargalhou e Elena lhe fingiu um olhar raivoso, adentrando na brincadeira.

– E você? Qual o seu? Quero vê se bate com as suas características.

– Advinha. – Falou em desafio.

Elena pensou um pouco antes de responder, olhando fixamente para ele.

– Capricórnio, talvez virgem. Mas chuto em capricórnio, você é bem capricorniano. – Havia lido em uma revista uma vez que Virgem e Capricórnio eram os signos que mais combinavam com o seu; Cruzou os dedos para estar certa.

Ele negou, bem humorado.

– Você acertou metade. O ascendente é mesmo Capricórnio. Mas o signo não...

– Não é virginiano? – Perguntou tristonha e ele respondeu que não com a cabeça.

Droga. Pensou ela.

– Meu irmão é virginiano. Faz dia 2 de Setembro... Eu sou um pouco mais complexo.

Sua mãe também era virginiana.

– Não sei. – Ergueu as mãos dando ênfase a sua desistência.

– 28 de Outubro. – Ele riu sem mostrar os dentes.

– Ah, não. Escorpião? – Ela jogou a cabeça para trás, fingindo um choro. Signos opostos. To ferrada. Pensou ela. – Tem um assassino debaixo do meu teto. Que pesadelo, o meu pai é escorpião.

– O meu também. – Ele riu, sendo acompanhado por ela. Os risos cessaram-se aos poucos, ficando apenas o silêncio carinhoso. Que logo ganhou a companhia da intensividade da troca de olhares. Estavam os dois sozinhos e em um quarto, Damon sabia que se ela o provocasse ou se ficasse tempo demais com os olhos envoltos aquela pele, acabaria fazendo o que não deveria. Resolveu acabar com isso antes que perdesse a cabeça. – Eu tenho um presente pra você. – Falou enquanto levantava-se.

A surpresa pelas palavras de Damon fez com que a decepção por ele ter interrompido fosse embora logo.

– Como assim? – Perguntou confusa, mas ele já havia saído do quarto. Pelos passos no corredor, ainda perto, tranquilizou-se por ele continuar ali.

– Voltei – Disse ele ao adentrar no quarto novamente. Trazendo consigo um grande papel. De em média um metro, envolto em uma fita vermelha.

As sobrancelhas dela franziram.

– Damon, o que é isso?

– Calma. – Ele disse sereno, retirando a bandeja de seu colo e voltando para a mesa mais próxima. – Toma. – Respondeu nervoso, entregando o objeto em suas mãos.

– O que é?

– Um presente. Abre. – Incentivou a acalmando. Conseguia ver o nervosismo dela.

Aos poucos, as mãos curiosas foram desenrolando o pequeno e fácil nó que envolvia aquele papel; Que mais parecia uma cartolina. Era branco, embora houvesse algumas dobraduras na volta, que indicavam que uma coisa estava pintada ali dentro, fazendo-a deduzir que era um quadro.

Ao final, a imagem revelou-se diante de seus olhos castanhos, que umedeceram perante as lágrimas que vieram no mesmo instante. As segurou. Damon não podia vê-la chorando.

Diante da perplexidade dela, Damon temeu que não tivesse gostado.

– Eu lembro do dia que a gente foi na Faculdade grega e você... Adorou esse quadro. – Ela não o encarava, podia notar o aguaceiro que se agarravam em seu globo ocular. – Falei com o Wes, o diretor e ele concordou em me vender. Não é pintura famosa nem nada, então foi fácil. – Incomodado pelo silêncio dela, Damon entristeceu-se. – Que foi? Não gostou... É isso? Porque se foi isso pode fal...

– Não. – Ela disse gentilmente. Não queria que ele obtivesse a impressão errada, mas também sabia que não podia contar há ele a verdade. – Eu gostei... – A voz saía intercortada. – Só não esperava. Só isso.

Estranhando por tamanha reação, Damon preferiu não perguntar. Havia algo, algum segredo ali. Pensou ele com toda sua convicção, mas sabia que mesmo que perguntasse mil vezes, Elena não o diria.

– Feliz aniversário. – Sorriu, mesmo que ela, por estar olhando para baixo, não visse. – Eu vou indo agora... Tenho um monte de coisa pra corrigir.

Elena, agora mais educada, sorriu e em seguida assentiu para ele. Olhava apenas superficialmente.

Ainda com a dúvida do que ela escondia, Damon saiu do quarto analisando todas as possibilidades possíveis e não encontrou nenhuma. Ela era uma menina estranha, era uma pessoa quando a conheciam melhor e aos olhos de todos era outra completamente oposta. Mas esse era o porém, ele e nem ninguém conheciam nenhuma das duas personalidades. Ao menos não a fundo.

Voltou para o quarto e banhou-se sem deixar de se perguntar um minuto sobre isso. Em seus aposentos, Elena chorava compulsivamente agarrada a pintura, com mente repleta pelos pensamentos que toda manhã ao acordar, expulsava de si, os soluços corriam pelo quarto aonde chegavam em rápida velocidade ao corredor. Agradeceu por ninguém estar em casa e rezou para que Damon não estivesse lá, pois havia reparado que ele notou o sobressalto de sua reação.

Chorou por em média outros vinte minutos até que seguisse para o banho.

Quadro da Elena

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Ao deixar os rastros de fumaça pela água quente do banho para trás, Elena voltou ao quarto com a sensação de leveza regressando. Guardou o quadro em algum lugar de seu closet, totalmente decidia a parar com aqueles pensamentos. De certa forma era algo que já havia se acostumado, todos os dias praticamente tinha que ignorar essas vozes e esses porquês. Retirou a toalha que envolvia os cabelos, mas continuou com o roupão vermelho felpudo vestido ao corpo. Ao ir até a penteadeira, agradeceu mentalmente pelos olhos não estarem mais inchados pelo choro.

Puc. Puc. Puc. Ouviu esses três pequenos barulhos de pedra, enquanto passeava a escova pela cascata de chocolate em sua cabeça. Ou seria de vidro?

Sem intenção, mirou sua esquerda no mesmo instante em que outra pequena pedra atingia sua janela. O primeiro nome que lhe veio a cabeça fora Damon (como sempre) mas logo desistiu. Era absurdo imaginar Damon, na rua, aonde qualquer um pudesse o ver, jogando pedrinhas em sua janela como um adolescente. Ainda mais agora que não estavam mais juntos.

Ao dar a curiosidade por encerrada e ir até lá foi quando se surpreendeu ainda mais. Era Jeremy quem jogava; Ao lado dele estavam April e sua mãe, olhando fixamente para onde seu quarto localizava para ver se aparecia.

– O que foi? – Perguntou assim que abriu o vidro.

Isobel reparou em suas vestes.

– Tava no banho? – Respondeu com outra pergunta.

– Acabei de sair. O que tá havendo?

April sorriu animada.

– Se troca e desce que a gente tem uma surpresa pra você.

Mais uma... Pensou, sentindo o medo de chorar a abater outra vez. Não queria aquilo novamente. Nem hoje e nem nunca, não sabia como não enterrou esses sentimentos ainda.

Quer dizer, sabia. Mas era difícil admitir o quão impossível era.

– O que é? O que estão aprontando?

– Desce e verá. – Jeremy assumiu o tom de mistério. – Feliz aniversário irmãzinha.

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Os dentes mordiscando com força os lábios inferiores denunciava toda a ansiedade de April, assim como os pés incessantes e impacientes de sua mãe contra o concreto ou até mesmo o olhar mais animado do sempre tenso e calado Jeremy. Tudo remetia a Elena de que haviam preparado algo grande.

Enquanto se arrumava e descia os degraus até a fachada de casa, acreditava que o presente na qual esperava por si lá fora fosse algo realmente bom e grande como tantos outros presentes que já ganhou ao longo desses dezessete anos, mas agora conseguia ver nitidamente que não era uma lembrancinha qualquer comprada em qualquer loja de Mystic Falls.

– Primeiro deixa eu te dá um abraço. – Sua mãe disse animada após ter perguntado o que era. Sussurrou o velho mantra de '' muita saúde, muitas felicidades. Mamãe te ama'' como em todos os anos fazia.

Depois, Jeremy e April repetiram o mesmo ato ( April, um pouco mais animada do que Jeremy).

Ao se ver livre das formalidades e convenções sociais, os encarou com seu melhor olhar de '' vocês não me enganam''.

– Podem me dizer agora pra quê isso tudo? – Fingiu-se por entediada, para mascarar seu grande interesse.

Isobel parou de balançar os pés.

– Sabe aonde estávamos até agora? E porque saímos tão cedo de casa? –Diante daquelas perguntas retóricas, Elena não respondeu. – Fomos até a rodoviária... Buscar seu presente.

Antes que Elena pudesse responder, ou sequer reagir a fala de sua mãe, o assobio forte e alto de Jeremy atingiu o seu corpo provocando um leve arrepiar. Com os olhos de sua família todos voltados para a esquina, os seus, automaticamente também se apontaram para lá. Aonde poucos segundos depois a silhueta de um carro, com um enorme laço rosa em seu topo, virou a esquina, trazendo o queixo de Elena para o chão e um sorriso enorme se ascender em seu rosto.

Cada vez mais em que o Toyota Carolla 2015, em cor cinza, vinha em sua direção as mãos subiam a boca.

– MÃE, É LINDO. – Gritou com toda sua voz, após ele parar. O vidro escuro impedia de ver quem comandava seu interior. Afinal, alguém estava dirigindo e toda sua família estava ali. Novamente o nome Damon veio em sua cabeça, mas logo, de novo, viu que era um tanto quanto improvável. – É o melhor presente de todos. E é bem mais lindo do que o antigo. – A abraçou forte.

Ainda ávidos, os braços da filha foram se afastando e ela a mirou profundamente. Elena estranhou, mas por alguma razão enxergou pena no olhar de sua mãe.

– O que foi? – Perguntou a filha, triste.

Isobel colocou uma mexa do cabelo da menina atrás da orelha.

Hesitou em responder, mas Elena precisava saber.

– É que... Eu tenho medo de que o carro te faça mais feliz do que o verdadeiro presente.

Elena franziu as sobrancelhas.

Antes que sua mãe, ou seus irmãos pudessem responder, o som de uma das portas abrindo atrás de si foi mais predominante, captando sua atenção total poucos segundos depois. Um pé, com um sapato de boa marca em volta, foi a primeira coisa que seus olhos viram, seguidos pelo corpo da bela adolescente alta e esguia. Instantes depois, outra a segue, e Elena sente toda sua felicidade completa.

Sem a necessidade que mais palavras pudessem ser ditas. Elas gritam ao vê-la e Elena faz o mesmo ao cair da ficha de que Vicki e Hayley, sua melhores amigas, estavam mesmo ali.

– AI MEU DEUS. – Outro grito escapou de sua gargante ao correr em direção aqueles quatro braços tão conhecidos, chocando seus corpos com toda velocidade ao alcança-los. – Não acredito. – Chorou novamente, dessa vez sem o receio de disfarçar.

– Que saudade. – Hayley sorriu, a beijando na testa. – Você tá tão linda.

– Eu? E você... Quer dizer, vocês, já se olharam no espelho hoje?

– Para de falar de espelho, mulher. – Interviu Vicki em meio as lágrimas. No mesmo estado que as outras duas. – Abraça a gente e cala essa boca. – Gargalhou sendo acompanhada por Elena.

Foi então que Hayley lembrou.

– Espera... – Se separou das duas. – A gente quase se esquece, Vicki. – Disse para amiga, que bateu na cabeça ao recordar-se. Por um minuto haviam esquecido.

Elena as olhou sem entender.

– Ei. – Vicki bateu, de leve, na janela do carro, no banco de trás. – Podem sair.

– Mais gente? – Elena gritou animada.

Como se achasse possível, o já sorriso que ia de uma ponta de sua orelha até a outra, aumentou ao deparar-se com aquelas outras duas presenças.

– NÁDIA. – Gritou ao ver sua ex-stylist e ex-agente.

– Baby Girl. – Ela correu em sua direção, onde o impacto quase tombou seu corpo para trás. Não se importou.

Ao separarem seus corpos um outro alguém saiu, ainda do banco de trás.

– Tripp. – Elena gargalhou de imediato, subindo no colo de seu antigo cabeleireiro. Apesar do susto pelo corpo pulando em seus quadris, a segurou com força. – Você tá chorando. – Ela disse, enquanto secava as lágrimas dele

Os dois gargalharam juntos.

– Olha quem fala. Não tem ideia de como o teu olho tá vermelho.

Ainda emocionada, desceu do colo do amigo recebendo o caloroso abraço dos quatro em sua volta. Se antes tinha o pensamento de que cada vez menos lembrava de sua vida antiga ou sentia menos falta, agora via o quão equivocada estava. Não importava o quanto o tempo passava ou o quão as coisas iam acontecendo, sempre pertenceria e amaria Nova York e tudo que deixou lá.

– Eu amo vocês. – Sussurrou ainda chorando, apertando ainda mais todos contra si.

– ELENA! – Sua mãe a chamou, fazendo-a recordar que ainda estavam ali. Olhou-a rapidamente e viu como ela e April também se comoviam ao assistir a cena. – Ainda tem mais. – Disse simplesmente e a respiração de Elena fraquejou pelo nervosismo.

Em um rápido movimento, Isobel retirou o controle remoto da garagem de seu bolso e apontou para o local. Aos poucos, a porta ia saindo do chão em direção ao teto, onde ela se enrolava imitando a posição de um caracol, via vários pés presentes lá dentro enquanto subia, onde iam e transformavam-se em corpos. Sorriu ao finalmente enxergar os rostos.

De imediato fora impossível identificar todos, precisou de um segundo até que as lágrimas a deixassem ver com precisão.

Suas primas: Sarah e Sloan. Seu primo Liam e seu primo Luke.

Amigos: Ivy, Markos, Aaron, Maggie, Jesse, Galen, Kol.

Kol. Merda. Pensou ao vê-lo.

Sem esperadas ou delongas, eles vieram até si abraçando um por um. Cada abraço era como uma lembrança, fosse ela de uma tarde em que bolaram aula para pegar um jatinho até miami ou até as mais simples e normais como patinar no gelo ou um boliche. Era oficial. Estava em Nova York, estava outra vez lá. Tudo bem que ainda faltavam outros 3.000 amigos e 5.000 conhecidos para que tivesse uma festa com as mesmas faces das que teve o resto de sua vida, mas ainda sim era Nova York, em uma versão mais enxuta e aconchegante.

– Minha gatinha linda. – Disse Kol, na sua vez, após abraçá-la. Separaram-se poucos segundos depois ao sentir o nariz dele, junto a barba, roçando em seu pescoço. – Pensei que eu nunca mais fosse te ver. Feliz aniversário. – A puxou para si.

Elena sorriu sem graça, tentando camuflar seu incômodo.

– Obrigada. Eu também pensei que não fosse mais te ver. E como você está?

– Bom, sem você em Nova York como acha que estaria? Entediado logicamente.

Percebendo o falsete de suas reações, Vicki resolveu intervir pela amiga.

– Então Elena, que horas vai ser a festa? Afinal a gente viajou mais de oito horas de ônibus só por sua causa, então é melhor que eu acorde amanhã de ressaca por tanto beber. É o mínimo de recompensa que eu mereço.

Afastou-se de Kol agradecendo, pela sua expressão, a amiga em frente. Em seguida, passou os braços em volta dos ombros dela, abraçando-a.

– Nunca pensei que sentiria tanta falta desse ombro ossudo. – Gargalhou fazendo a amiga revirar os olhos. Seria um trabalho explicar para a maior viciada em open bar que já conhecera na vida que não haveria álcool na festa. Achou melhor trocar o assunto. – Vem, chama a Hayley e vamos lá que eu quero conhecer o meu carro, já que essa sessão de abraços não deixou.

Ao levar as amigas consigo, Elena regressou ao local de antes em frente ao carro. Não pareceu perceber a postura tensa de sua mãe ao lado de Jeremy, já que April não estava mais ali. Passeou os olhos por cada canto, dentro e fora, do veículo. Era perfeito. Já estava sentindo falta de um bom carro para se ver livre das conversas matutinas de seus irmão e sua mãe ao irem para aula, daqui a pouco cogitaria a possibilidade de ir de ônibus escolar como muitos alunos.

Desceu de dentro dele, pela milésima vez, ao testar cada artificio especial que o carro oferecia. A maioria de seus amigos, rondavam-o elogiando e repetindo as palavras de como era belo. Seus primos conversavam com Jeremy e suas primas, como não estavam lá dentro, imaginou que tivesse com April dentro de casa.

– Mas olha. Eu confesso. – Ria Elena, animada enquanto conversava com o resto do grupo, tão alegres quanto ela. – Quando eu vi... Vicki, Hayley, Tripp, Nádia. Todos eles, os piores motoristas do mundo, saindo do meu carro: Confesso. A primeira coisa que eu pensei foi '' Será que bateram? Será que bateram?'' Desesperada, tudo menos o meu carro novo.

– HAHA, como se você fosse muito boa motorista também. – Tripp gritou fazendo todos rirem. – Lembro até hoje de você paquerando o carinha da auto-escola pra ele passar você.

Elena fingiu-se de ofendida.

– Cada um usa as armas que tem, amor. Mas saibam que eu melhorei nesse tempo sem motorista; Já vocês, selvagens, da cidade grande...

Nádia lhe bateu de leve nas nádegas.

– Olha aqui pra tranquilidade da madame não era a gente dirigindo o seu novo precioso.

– Como assim? – Agora havia abandonado o bom humor da conversa. Foi então que Nádia percebeu o que tinha dito e Elena percebeu o arrependimento da amiga em suas expressões. Ao redor, todos haviam ficado calados, encarado o chão e um tanto envergonhado. – Não era nenhum de vocês dirigindo o carro? – Perguntou novamente, dessa vez mais alto e mais séria. – Falem. – Implorou, forçando-se para não gritar.

Hayley, que era sempre a mais pacífica, preferiu falar.

– Na verdade... Eu vim no banco de carona, na frente. Tripp, Vicki e Nádia vieram no banco de trás.

Elena irritou-se.

– Mas isso não responde a minha pergunta. – Bateu o pé. – Quem veio dirigindo? Responde Hayl...

– Eu vim. – Uma voz a interrompeu atrás de si. Elena fechou os olhos no mesmo instante na esperança de ser um pesadelo, mas logo os abriu, afinal não era uma covarde para fugir dele. Pelo contrário, se fosse preciso o enfrentaria quantas vezes fosse necessário.

Virou-se encontrando, sem surpresa o rosto na qual menos desejava ver entre todos do mundo. Lançou o seu mais frio olhar, embora por mais que odiasse admitir, enxergasse um pouco de amor nos dele.

– Oi John. – Sussurrou gélida para o homem que antes sempre chamou de pai.

Pôde ver por seus reflexos, sua mãe saindo da garagem e regressando para próximo deles. Não queria deixar isso complicado para ela e nem muito menos fazer um escândalo em frente aos seus amigos quando deveria estar comemorando por os tê-lo de volta, mesmo que fosse por uma única noite. Não.

John não estragaria tudo dessa vez.

– Pensei que tivesse entrado. – Exclamou Isobel confusa, se aproximado dele.

John, quando Elena fora para a garagem para retirar toda a saudade de seu corpo, preferiu entrar para dentro na intensão de que não jogasse a felicidade da filha ao chão. Não queria aquilo, mas também tinha que vir; Era o aniversário de sua filha e Elena continuava sangue de seu sangue gostando ou não

– É, mas ouvi um burburinho e... Achei melhor dar por encerrado. – Apesar da voz de John se encaminhar para Isobel, os olhos dele não saíam da direção de Elena. – Gostou do seu presente? – Perguntou, dando a entender que ele quem havia comprado o automóvel.

– Sim. Gostei e obrigada. – Sabia que se deixasse que seu orgulho falasse mais alto a dor de cabeça causada seria muito pior. Capaz de nenhum remédio resolver, principalmente em sua mãe. Novamente, por ela, manteria sua educação.

É pela minha mãe. Repetia aquilo para si mesma como um mantra, dando-a as forças que precisava para se manter.

– Pai. – April gritou chamando-o. Junto a ela e seu inseparável sorriso vinham Kimberley e Liv. Ótimo. Pensou Elena em ironia, revirando seus olhos. Não pôde disfarçar o alto bufo que saiu entre seus lábios.

– Trouxe as filhas da Miranda com você. – Proferiu sarcástica, antes que elas chegassem mais perto. – Espero que não tenha trago a vaca sagrada que as pariu também. – Completou no mesmo tom.

John segurou a resposta na garganta e atravancou a fala ao ver as outras três pararem ao seu lado.

Kimberley sorriu e depois a abraçou.

– Elena. Feliz aniversário. – Sendo copiada por Liv, segundos depois.

– Parabéns Elena.

– Obrigada meninas. – Disse simpática e voltou o rosto para o homem em sua frente em seguida.

John a conhecia bem demais, sabia o quão ela segurava a vontade de lhe arranhar o rosto mesmo que isso custasse o fim eterno de suas unhas. Era o mesmo olhar julgador que ela o mandava há quase um ano desde que sua traição a Isobel fora descoberta.

Não demorou muito para que ela regressasse com aquele mesmo sorriso e voltasse para a roda de amigos de antes, como se nada tivesse acontecido. Para Elena era a simples prática de seu pensamento, John não ia estragar seu dia e além do mais ''estava'' (ou pelo menos sentia que estava) em Nova York e em Nova York sempre foi e sempre seria a maior de todas: Elena Gilbert.

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A incerteza atingiu Elena mais uma vez enquanto repassava seus olhos pelo '' vestido'' em cima de sua cama. Sabia exatamente o tipo de reação que causaria no momento em que saísse de casa com aquilo em seu corpo.

Nunca fora tímida nem sentiu pudor em mostrar o que tinha de melhor, já havia vestido todo estilo de visual que representasse variadas personalidades. Desde o menininha ao sexy e chegando até o chique. Só que agora havia uma opinião que lhe valia mais do que o que achava ou do que a moda poderia dizer.

E essa opinião era Damon.

– É Kim Kardashian demais. – Negou pela insistência de Tripp para que o vestisse.

– Elena eu trouxe esse vestido de lá especialmente pra você. Pelo amor de Deus não me faça essa desfeita. – Elena percebia que ele já estava ficando mal humorado.

Sem saída sentou-se na cama, jogando todo peso de sua cabeça sob as mãos.

– Não sei porque você tá com esse pudor. Já usou coisas que mostrassem muito mais. – Disse Nádia, a estranhando, enquanto saía de seu closet. Vicki e Hayley continuavam lá.

Nervosa, Elena tentou explicar-se.

– É que... Eu...

– Olha, Elena eu vou te dá um conselho como sua stylist. Esquece a amiga: Stylist. Tudo bem que não é alta costura como você gosta. – Nádia apanhou vestido da cama o colocando sob seu corpo. – E que... Talvez seja um pouquinha periguete. – Mas quanto eufemismo. Pensou Elena. – Mas pensa: Imagina você, em uma cidade super conservadora como essa, fazendo uma super festa onde vá todos os moradores e chegando lá com essa belezinha. Afinal faz a Lady Gaga. O que vale é chocar– Elena a encarou, deixando-se convencer aos poucos, mas ainda sim temia que Damon a visse como uma vagabunda de esquina qualquer.

– No mínimo causaria um enfarto em metade da cidade. – Endossou Tripp, fazendo rir baixo.

Em rendição, Elena elevou os braços e sorriu sem mostrar os dentes.

– Me convenceram. – Disse simplesmente, fazendo os dois soltarem suspiros de alivio.

Tripp sentou-se ao seu lado na cama.

– Pois eu vou te fazer uma maquiagem e um cabelo terrivelmente sexy pra usar com esse mata homens, quer dizer... Vestido. Vestido muito elegante. – Atrapalhou-se na última sentença.

Houve uma curta pausa, aonde Elena conseguia ver pelos trejeitos e expressão do amigo que ele lhe queria dizer algo, mas deixou por assim mesmo após alguns minutos, afinal Tripp não costumava ser do tipo que tem papas na língua. Após ver que não passava de uma simples impressão, Elena preocupou-se; deveria ser algo sério para ele não conseguir falar.

– Tripp. – O chamou, minutos após ele iniciar sua maquiagem.

– Fala. – Sem prestar muita atenção, ele respondeu, atento em não errar nenhum detalhe da ''pintura'' que fazia sob o rosto de sua deusa Afrodite.

– Porque tava com aquela cara de curioso? Queria me perguntar alguma coisa? Porque pode falar...

Mesmo com o aval da amiga, Tripp pensou um pouco antes de dizer. Após isso lançou um sorriso malicioso para Nádia que o retribuiu, sem que Elena visse.

– É que eu fui na cozinha... – A voz era mansa e pausada. – Tomar uma água, eu e as meninas e... A gente viu um pedaço de carne lá. Simplesmente delicioso.

A expressão de Elena contorceu-se pela dúvida.

– Pedaço de carne? – Repetiu as palavras do amigo, sem entender. – Acho que você viu errado, heim. Minha mãe tem estado com uma mania tão vegetariana ultimamen... – Parou sua fala ao entender do que ele estava referindo-se. Elevou uma das mãos a testa soltando o ar preso em seus pulmões. – Esquece. – Disse direta e rápida.

Tripp a olhou assustado.

– Ah, mas é difícil de esquecer uma miragem daquela. Mas me fala quem é ele? Quantos anos? Status? Conta bancária? Tamanho?

Elena sabia que se fizesse muito mistério em relação a Damon, iriam querer saber mais. Reparou que Nádia também estava interessada nas respostas e agir com indiferença lhe pareceu a melhor opção que possuía.

– O nome dele é Damon. É inquilino aqui de casa.

– Inquilino? – Nádia adentrou a conversa, sem conseguir conter um sorriso. – E ele é solteiro?

Com medo de que uma repetição de Jenna estivesse diante de si, Elena estremeceu por dentro.

– Ele não é só inquilino. – Vicki a interrompeu antes que conseguisse falar. Hayley vinha atrás. – Ele é professor de matemática dela.

Um grito baixo escapou de Tripp.

– Deus, Elena então você vê isso em dose dupla todo dia? Agora entendo porque tem se esquecido da gente desde que veio pra cá. – Gargalhou sendo acompanhado pelas outras meninas. – Já dormiu com ele?

– Ai, fiquem quietos vocês. – Respondeu estressada, se afastando da cama até o centro do quarto.

Silêncio. Onde cada um olhava uns aos outros com mil pensamentos na mente e palavras sussurradas ao vento como '' o que deu nela?''. A verdade era que nem a própria sabia mais. Estava se tornando mais obsessiva que o próprio Damon com a possibilidade mais pessoas saberem. Alaric sabia, Rose sabia, seus ex- amigos e até Mason sabia. Eram pessoas demais para algo supostamente secreto.

Tentando reaver o bom humor de antes, Tripp, ainda que nervoso, voltou a falar.

– Aí, Elena eu te conheço. – Falou beirando entre a ironia e o pavor. – Sei que nem em outro mundo você deixaria um bofe desses escapar. Ainda mais morando de baixo do teu teto.

Conta até 10. Pensava tentando manter a paciência. Respirou profundamente e forçou um sorriso.

– Já disse. Ele... É... Complicado.

– Eu adoraria descomplicá-lo. – Nádia pensou alto.

A fúria voltou até Elena, dessa vez sem dor.

– MAS NÃO PODE.

– PORQUE NÃO?

– É ELENA PORQUE NÃO? – Hayley perguntou desconfiada.

– PORQUE MINHA MÃE GOSTA DELE. – Pensando na primeira coisa que veio em sua mente, Elena repetiu em voz alta para o choque até de si mesma.

Julgando tal desculpa como irrevogável, Elena ficou sem reação perante as risadas dos amigos.

– Elena conta outra. – Debochou Vicki quase que perdendo o ar.

Tripp completou olhando a amiga com descaro por tamanha mentira.

– Elena, todo mundo vê como a sua mãe fica quando tá perto do seu pai. Hoje mesmo você mesmo viu. Como espera que a gente acredite em algo assim? – Todos esperavam por uma resposta vinda da amiga, mas essa resposta não chegou. Ela desviou o olhar para baixo onde não foi necessário que explicasse mais nada. Era sua primeira mentira, em muito tempo que falhava. Conheciam Elena há muito tempo para entender o que a expressão de seu rosto queria dizer, só se surpreenderam exatamente por se tratar de Elena. A última pessoa no mundo que imaginariam naquele estado. – Você gosta dele, não é? – Sussurrou o amigo, recebendo o aleito de cada um deles em seu olhar. Já sabendo a resposta, outra vez não precisou haver resposta. – Tá apaixonada...

– Logo você Elena? – Nádia estranhou. Elena apaixonada era algo que sempre apostaram que nunca viveriam para saber.

Abatida, Hayley tentou produzir algo bom o suficiente para alegrar a faceta tão triste da amiga.

– Aconteceu... Alguma coisa entre os dois?

Demorou até que Elena finalmente assentisse arrancando suspiros pesados de todos que estavam presentes no cômodo.

– Eu vou contar tudo. – Murmurou, finalmente os encarando.

Os minutos corriam e cada palavra dita por Elena eram guardadas como um tesouro dentro de cada um. Tentaram controlar suas reações para que ela não se assustasse ou temesse um julgamento e interrompe-se a fala, por mais chocante que fosse cada coisa que dissesse.

Contou tudo, desde os primeiros até os últimos momentos sem dizer uma mentira que fosse. Foi difícil por tamanha vergonha que sentia de muitos momentos daquela confusão toda, horas que botava a mão na cabeça e dizia para si mesmo ''como pôde ser tão burra''. Com toda a tentação, mesmo assim, nenhuma virgula fora omitida.

– Mas quando você... Contou pra mim e pra Vicki desse plano eu te avisei que alguma coisa ia dá errado. – Hayley foi a primeira a se manifestar. Mesmo com a acusadora frase, sua voz soava compreensiva ao mesmo tempo.

Mas não a odiaria se a julgasse, sabia que merecia.

– Eu sei. Mas eu nunca ia imaginar que tudo isso... Fosse acontecer.

Vicki apanhou sua mão dando um beijo.

– Ninguém imaginaria Elena. Não precisa se culpar.

Olhando para o alto, Nádia coçou rapidamente a cabeça, voltando os olhos para Elena aos poucos.

– Só não entendo isso. Você o ama, ele te ama. Conta pra ele a verdade e fiquem juntos.

Elena a olhou atônita.

– Nádia, você por um acaso ouviu alguma coisa do que falei? O Maso...

– Aí, manda esse Mason pro inferno, Elena. – Explodiu em raiva. – Conta pra ele a verdade, vocês podem... Arranjar um jeito de consegui essa gravação de volta. Não sei, alguma coisa.

– Eu concordo com a Nádia, Elena. – Tripp a completou, só que mais calmo. – Pra mim a culpa é toda desses seus amigos. Pois se eu fosse você eu os obrigaria a conseguir a gravação de volta, só assim mesmo pra se redimirem contigo. – Por mais que odiasse admitir, Elena por um momento pensou seriamente naquela possibilidade. – Pois nem me mostre quem são essas pessoas nessa festa pra mim não avançar no pescoço dessa turminha.

Elena deu os ombros.

– Não vale mais a pena. Mesmo se eu arrancasse a cabeça de cada um eu não teria ele de volta.

– É, mais eu sei de algo que vai fazer você ter ele de volta. – Proferiu com certa vilania na voz. Voltou os olhos para o vestido de Elena e entregou a ela. – Se antes você não queria usar, agora eu a obrigo. Se ele não volta pra você hoje usando isso não volta nunca mais. – Mesmo com o ambiente repleto pela tensão, Tripp conseguia fazê-las rir. – E não se preocupe que a gente te ajuda. Não é meninas? – Perguntou e elas responderam sim em um uníssono. – Essa noite essa história acaba e nem que a gente tenha que amarrar os dois, mas vocês voltam a ficar juntos.


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Notas finais do capítulo

Vestido da Elena: http://shoppingcity.com.br/mini-vestido-preto-sexy-party-daring.html

Gente, dia 15 é na verdade o meu aniversário haha. Sexta feira e faço 17 tbm. Coloquei um pouco desso na história pois achei que daria um paralelo legal. Esse aniversário promete, já garanto. Na verdade o capítulo era um só, mas ficaria muito grande e demoraria pra conseguir postar pra vocês... O que acharam do capítulo? estão gostando da história novamente?