Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 31
- Bem me quer, mal me quer.


Notas iniciais do capítulo

Mais uma semana de capitulo novo... Muito feliz pelos comentários dos últimos que lindos, agradeço a todos por terem vindo e comentado. Um agradecimento em especial a lív, a leticia pierce, ane, bruna, camila, fernanda thavellik e anny bitch (my bitch) pelas recomendações incriveis que fizeram, muito obrigada pulei de felicidade aqui. Boa leitura a todos.



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Ele não era como aquele homem nojento do bar! Ele não era como ninguém.

Ele é único! Ele é meu!

Depois daquele encontro no meio das escadas. Onde ela corria descendo na direção do aposento dele, e ele subia apressadamente em direção ao seu. Damon a conduziu de volta ao quarto. Fez com que ela entrasse e fechou a porta suavemente.

‘’Boa noite, Elena.’’ Ele sussurrou envergonhado, sem coragem de olha-la.

Boa? Aquela tinha sido a melhor noite da minha vida!

Sua alma acordou em festa; Havia dormido de madrugada na casa do Tyler, e comparado ao horário que adormeceu, acordou cedo demais. Depois, tinha dormido a tarde inteira, enquanto a cidade se preparava para a festa. Não conseguiria dormir três vezes em um mesmo dia. Teve que tomar um calmante e só assim pegou no sono, estava agitada demais. Depois que Damon a deixou no quarto, a primeira coisa que fez foi subir em sua cama e pular até que suas pernas implorassem por um descanso.

Estava sentada deitada, com o edredom cobrindo seu corpo da cintura para baixo. Ansiosa para vê-lo como nunca esteve para ver ninguém em toda sua vida, mas sua mente se retraia. Não tinha ideia de como seria a reação dele depois daquilo; Na hora, Damon sorria entre os beijos, descia para o canto de sua boca ou para o seu queixo e descarregava todo o excesso de ar que tinha em seus pulmões, como se tivesse livrando-se de toda preocupação ou de qualquer consequência futura, na qual Elena sabia muito bem quais eram.

Era o medo.

Medo do julgamento dos outros. Medo das sequelas. Damon poderia ir preso, perder seu emprego. Sua mãe definitivamente o expulsaria de casa e o mandaria para prisão. Nunca mais o veria.

E ele tinha noção de todos esses paradoxos, por isso ela sentia receio, porque sabia que a partir do momento que colocasse os pés no chão e levantasse, não estaria apenas dando mais um passo para fora da cama, estaria dando um passo para fora da fantasia e entrando na vida real, e se tinha algo que aprendeu nos últimos meses era o quanto a vida real poderia ser um lixo.

Hesitou o máximo que pôde. Tirou as cobertas de seu corpo e ajeitou-se para sair da cama. Quando viu seus pés, próximos de encostar ao chão respirou fundo em busca de ar. Não estava pronta para deixar a fantasia ainda. Apertou os dedos e os esticou, ainda sem tocar o piso de madeira de seu quarto.

Resolveu começar pelo direito. Não era muito de superstições, mas nesse caso exigia medidas necessárias, drásticas e desesperadas. Ao sentir o atrito gelado do carvalho em sua sola, soltou outro suspiro forte.

Hora de acordar, Alice.

—---x----

Aquele era o pior dia para ser domingo, de todos.

Nunca pensou que isso um dia seria dito por algum ser humano nessa terra: Queria mais do que tudo que fosse segunda feira.

Era um idiota. Um inconsequente, sem o menor profissionalismo. Não merecia o diploma que tinha, não merecia nada. Ou melhor, merecia algo; Merecia ser preso e condenado à prisão perpetua. Isobel descobriria. Primeiro seria expulso, de novo, e depois seria denunciado e perderia seu emprego por falta de ética e nunca mais iria lecionar outra vez.

Como vou pagar um advogado se nem emprego eu vou ter?

Não dormiu a noite inteira, não conseguiu. Queria culpar alguém, ter uma pessoa para jogar seu fardo, mas não tinha. A culpa era sua e somente sua. Nem Elena tinha culpa, ela era apenas uma aluna, menor de idade, uma criança. Quem devia ter o controle e ser o responsável para lidar com essa situação era ele e mais ninguém.

Eu sou o adulto.

Era como se tivesse uma bola de cristão bem a sua frente e pudesse ver todo seu futuro. E não era bonito. Era a ultima vez que deixaria se levar por um impulso.

Nem ele sabia direito o que havia acontecido consigo mesmo para ter feito o que fez, era racional na maioria das vezes. Estavam dançando, e algum sentido dentro de si, uma vontade maluca o acendeu um desejo de provar do pêssego da boca dela, mas ela fugiu. Deve ter percebido sua intenção e fugiu.

Ficou preocupado com ela, com medo de que tivesse a impressão errada de si. Depois de um tempo, decidiu ir até o quarto dela e se desculpar pelo que quase fez, mas Elena estava lá... No topo da escada, mandou toda sua ética para o inferno.

Talvez fosse o clima de despedida ou somente uma fraqueza de momento, afinal se tinha algo que estava claro em sua cabeça, era que querendo ou não querendo ele ainda era homem; E uma mulher como ela é difícil de resistir, até se você for à pessoa com mais moral de todo o universo.

Mulher...

Aquele era o, porém da frase, Elena ainda é uma criança.

O pior era que não podia fazer nada, o que estava feito estava feito e agora o que bastava a fazer era, ter certeza de que aquilo não se repetiria; Que ninguém descobrisse e que as coisas com Elena ficassem bem explicadas para que, os dois, pudessem chegar a um esclarecimento.

Tomou um banho demorado, eram quase 08h30min. O Grill abria a essa hora, talvez uma bebida não caísse mal.

Precisava disso.

Seus dedos tremiam pela ansiedade e suas mãos suavam pelo medo, não passaria de dois copos. Só isso.

Talvez uma garrafa, levando em conta a situação... Ou duas.

Três garrafas. Só.

Colocou uma blusa verde clara e um casaco de malha preto, uma calça jeans comum e um tênis marrom. Checou o dinheiro na carteira e pelas suas contas daria para cinco garrafas de Bourbon e uma de tequila amarela. Sabia o preço das bebidas de cabeça.

Guardou as chaves e a carteira no bolso saiu tentando não fazer muito barulho.

Nem havia chegado à sala, quando pensou seriamente em voltar para o quarto e não sair nunca mais. Nem para beber tinha ânimo. Já estava retirando as chaves do bolso novamente quando viu uma sombra pular em seu colo e o abraçar, jogando-o para dentro da sala de jantar.

Desequilibrando-se, Damon tateou em busca de uma parede atrás de si, Jenna havia acordado muito disposta para alguém que mal devia ter dormido a noite.

— Bom dia! – Gritou ela, não deu tempo para ele falar nada, o beijou com voracidade antes disso.

As longas pernas de Jenna abraçado sua cintura com força contra o concreto da parede. Percebendo que ele não correspondia o beijo impedindo a passagem de sua língua, ela parou fitando seu rosto com preocupação.

— O que foi? – Perguntou ela.

Ontem de noite, antes de Elena sair correndo para o quarto, tinha perguntado para ela a mesma coisa. No mesmo tom de confusão; Lembrou-se dos lábios dela indo à direção dos seus e do gosto de pêssego que eles possuíam.

— Nada... – Tentou parecer normal. – Não aconteceu nada... Eu só acordei cedo demais, eu acho. – Ela ainda não havia saído de seu colo. Não queria parecer frio com ela, então não a tirou. Faria o que tivesse ao seu alcance para voltar ao normal e não levantar desconfiança de ninguém a sua volta

— Sei como é. Não troquei meu despertador e acabei acordando cedo, fui dormir lá pelas três da manhã.

Ela tentou o beijar novamente, mas ele desviou com cuidado. Retirou uma das mãos das costas dela e fez um carinho em seu rosto com o polegar.

— É melhor você ir descansar. Não dormiu nada.

— Mas eu queria ficar com você hoje.

— Eu também queria ficar com você hoje. – Mentiu. Não queria ficar com ninguém hoje. A única companhia que desejava era um copo de álcool e um buraco que pudesse se jogar e não sair nunca mais.

— Eu tive uma ideia ontem de noite... – Disse Jenna, abrindo um sorriso sedutor. Aproximou os lábios de sua orelha e passou a língua calmamente pela área. Damon, atordoado e fechou os olhos e a segurou mais para perto, para que não a deixasse cair. – Fiquei decepcionada por não ter ido à festa. – Sussurrou. – Eu tava com um vestido, bem curtinho e tava usando a minha lingerie predileta... – Ainda na provocativa, Jenna aproveitou a posição e deu uma leve rebolada na cintura dele. Sua respiração falhou e seus olhos se abriram, encarando os dela, já meio coberto pelos cabelos ruivos. – O que acha dessa noite? Isobel mencionou que domingo é dia de missa e eu posso dar um jeito de não ir. A casa vai ser só nossa.

Não podia. Não era correto. Parecia que depois do que fez, nem tentar manter um relacionamento parecia certo mais, não sentia como se tivesse traído Jenna. Os dois não tinham nada, quer dizer, não era serio ainda para se chamar de compromisso. E ele acreditava que traição só era existente quando havia concordância das duas partes. E o que havia ali, eram alguns beijos e jogos de sedução.

Mesmo assim, não era certo.

— Acho melhor não. – Respondeu ele não a encarando. Colocou Jenna delicadamente no chão e voltou os olhos para seus pés.

— Tem certeza que você tá mesmo bem, Damon? – Dessa vez o tom de voz dela carregava raiva. Também pudera qualquer um, quando se é rejeitado se sente assim pela vergonha.

— Sim... Estou bem. Só acho que a gente devia terminar isso que tá acontecendo, dar uma pausa e pensar em tudo que...

Não conseguiu terminar de falar. Jenna saiu apressada do cômodo e o deixou ali falando com as paredes. Ela estava certa, isso entre muitas outras coisas, era só o que ele merecia pelo que fez.

Sem esperanças por uma melhora de seu dia, foi para o Grill. Com a sua sorte, descobririam o que aconteceu e sua vida iria para o buraco outra vez. Então, se fosse para cair, que caísse direito.

Como costumava cair; Sem uma gota de dignidade e milhões de gostas de Uísque.

Foi para a garagem e ligou o carro em direção ao bar.

O pós-feriado às vezes tinham suas vantagens. Ruas vazias. Ninguém além de alguns donos de comercio somente. Estacionou em uma vaga sem problemas; Não olhou direito para dentro do estabelecimento, somente entrou e seguiu para seu lugar de costume.

Deu uma batida fraca no carvalho escuro da madeira do balcão para chamar o garçom, sentou-se e abaixou a cabeça esperando alguém o atender. Não demorou muito até um jovem alto de cabelos loiros e olhos azuis escuros se aproximar, limpando as mãos no avental e com um sorriso frouxo. Damon não reconheceu de primeira quem era pela tontura que sua vista estava pelo cansaço da falta de sono na noite anterior.

— Senhor Salvatore... Que surpresa. – Disse o loiro tentando disfarçar seu desgosto pela presença do professor. Damon sorriu seco pela ironia e rolou os olhos rapidamente; Sabia que as pestes o odiavam e para ser sincero, para ele não fazia nenhuma diferença.

— Donovan... Bourbon... Agora. – Estava sem paciência para tentar ser gentil.

Matt rapidamente travou hesitante e assustado. Não pelo jeito grosseiro de Damon, afinal todos que tinham aula com ele estavam acostumados, mas sim por não ter certeza se era correto vender bebida para ele. A cidade inteira estava a par dos problemas que Damon tinha; Se seu chefe tivesse perto, mandaria vender na hora, desde que o cliente pagasse não era da conta de quem os serviam, mas Matt o conhecia e por mais que o odiasse era um rapaz bom o suficiente para saber que aquilo não era algo certo.

— Senhor Salvatore, o senhor tem certeza que quer mesmo isso, porque o senhor...

— Quer ficar com zero? – Perguntou Damon o cortando, com o tom de voz ainda mais rude.

— Não... Não... Não Senhor. – Gaguejou Matt.

— Então me traz logo a porcaria da garrafa, cala essa boca e não se intromete no que você não sabe.

‘’ Anda’’ Disse Damon sem voz. Matt afastou-se com raiva nos olhos devia estar pensando: ‘’Quer saber? Ele que se dane’’. Tão previsível para Damon.

Olhou em volta, a sua esquerda, entediado. Ninguém. Olhou novamente, dessa vez para sua direita. Também ninguém.

Olhou rápido demais. Só na segunda passada de olhar foi quando viu; Ultima mesa, quase entrando na lateral do bar, onde ficava a parte reservada para aniversários. Também estava de cabeça baixa, com uma garrafa de bebida vazia no meio da mesa.

Podia não ter reconhecido Matt logo de cara, mas não precisava olhar demais para ele saber quem era. Esperou que o loirinho voltasse com seu copo cheio, aguardou novamente até que ele se afastasse para jogar o recipiente de volta na a garrafa.

Depois, Matt seguiu para algum lugar do lado de dentro com umas caixas brancas, Damon previu que fossem para estoque. Deixou o dinheiro em cima do balcão e correu para o fundo do bar antes que alguém o visse.

Por isso ela não o ouviu, estava com dois pequeninos fones de ouvido rosa. O volume alto fazia com que ele ouvisse pequenas partes da musica que ela ouvia. Era country, definitivamente.

Pelo abafado que ouvia presumiu que fosse Randy Houser, por conta voz grossa que saia do aparelho pregado nas orelhas dela não foi tão difícil adivinhar; A canção era Anything Goes. Um dos clássicos favoritos de Damon na música country.

Esperaria até que ela levantasse a cabeça e desse conta de sua presença ali, sentado na cadeira da frente, certamente tomaria um susto. A garrafa era de uma simples Smirnoff. Não era nada muito forte, nem uma bebida capaz de derrubar, mas ainda sim o preocupava. Se tinha algo que odiasse era assistir jovens bebendo álcool, não importava qual fosse. Poderia parecer hipócrita de sua parte, e era; Só não gostava de imaginar pessoas jogando a vida fora como ele fez. Soava velho de sua parte, mas ele sabia como tudo começava.

Anything Goes... When everythings gone.

Cantou Randy, encerrando a musica. Elena rapidamente apanhou o celular no bolso para que pudesse escolher a próxima musica que ouvia. Nesse momento qualquer melodia, desde que fosse deprimente romântica e triste, serviria para ela.

Calmamente levantou a cabeça, para que não tivesse tontura. Havia bebido aquela garrafa inteira e por mais que fosse pequena, nunca havia feito nada assim. Temia pelos seus cabelos e pela sua pele.

Foi quando sentiu tudo parar. Quando elevou seus olhos por completo, Elena viu seus pensamentos se esvaziarem e o seus medos penetrarem. Ele estava ali; Sentado na cadeira da sua frente, pensou estar alucinando, mas com a sorte que estava tendo nesses dias, se tivesse sonhando seria o louco do bar sentado e não Damon. Rapidamente, recuperou sua postura e tentou controlar a respiração. Queria ter um espelho para ver como estava, mas pelas poucas lagrimas que tinha soltado, sua maquiagem deveria estar borrada e definitivamente alguns fios de cabelo estavam armados pelo tempo que ficou com a cabeça baixa.

— Oi. – Ele sussurrou aparentando estar tão assustado quanto ela. – ... Eu. Eu precisava muito falar com você. – Continuou, agora havia deixado de lado toda timidez. Parecia desesperado e aflito para falar. Elena tentou responder, mas ele não permitiu pela ânsia de argumentar em sua defesa. – Olha, eu sei que você deve tá pensando que eu sou um molestador de adolescentes ou... Algo do gênero, mas não. Eu não sou a melhor pessoa do mundo confesso. – Disse com certa dor, continuando a falar baixo. – Mas eu não esse tipo de pessoa, e eu te peço, por favor, não me denuncia, Elena. Não me denuncia. Se eu perder essa casa e perder meu emprego minha vida acaba. Eu nunca, NUNCA, na minha carreira inteira fiz o que eu fiz naquela noite e eu te prometo que não vai se repetir de novo.

Seria egoísmo de sua parte se dissesse que a única coisa que assimilou daquele discurso foi à parte do ‘’Nunca’’? Ele não tinha ficado com nenhuma aluna, nenhuma vez; E tinha conseguido quebrar essa barreira dele. Mesmo sentindo que Damon considerava-se totalmente arrependido, ainda sim, tinha conseguido algo. E pela aparência dele era obvio que já devia ter recebido cantadas e olhares de outras estudantes. Sim, podia estar com o corpo totalmente cheio pela vanglória de seus encantos, mas era humana e possuía orgulho próprio.

Damon ainda a encarava, a expressão de assustado voltou ao seu rosto enquanto esperava pela resposta vinda da parte de Elena.

— Eu não vou te denunciar. – Disse ela seriamente, fazendo Damon suspirar aliviado. – Eu também quis; Acredite eu quis muito...

— Elena, por favor, é melhor a gente não... – Tentou a interromper, mas ela tomou o controle da conversa de novo.

— Sim, Damon, a gente tem que falar. Eu quero falar, to esperando pra falar isso há um tempo já e eu sei que você não vai querer ouvir, mas Damon, eu to apaixona...

— Chega – Gritou ele, fazendo-a parar.

Assombrada, Elena voltou os olhos para as cadeiras vazias, evitando sua presença. Não queria magoa-la, mas aquilo estava se tornando uma bola de neve maior do que ele achou que seria. Não queria ser grosso com ela e deixar por ser assim, queria poder explicar, mas aquele não era o lugar.

— Elena... – Continuou ele, tentando se desculpar. Ela não virou o rosto de volta. – Elena, olha pra mim. – Pediu sem colocar autoridade em sua voz, lentamente Elena o encarou de relance, ainda sem virar o rosto por completo. – Quer sair daqui? Vamos... Eu sei um lugar, acho que a gente precisa conversar. – Se ela realmente achava que estava apaixonada por ele, aquilo poderia ser mais serio do que Damon pensava. Ela era uma criança, não sabia o que era amor, mas nessa idade os jovens podem ser muito vulneráveis e se magoarem facilmente, não queria que acontecesse isso com ela por estar vivendo uma fantasia platônica e idealizada por si. Não adiantaria nada, iria se sentir ainda mais culpado se isso acontecesse. Não estendeu a mão para ela, até mesmo um toque poderia passar a impressão errada para Elena. Somente deu um olhar sugestivo e ela logo captou levantando-se e guardando seu celular de volta na bolsa.

Saíram devagar, mas mesmo assim não certificaram de ver se Matt ou algum outro funcionário do bar havia visto os dois indo embora juntos.

O caminho foi horrível, Elena estava claramente triste e quando ela se zangava, não deixava barato; Dava um jeito de revidar, seja em pequenos detalhes ou fazendo algo que te destrua para o resto da vida, para sorte dele, ela não fez nada que corresse risco a sua existência, somente a seus ouvidos. Não deixou que ela pegasse o celular de novo, então concordou em ligar o radio e deixar ela escolher a estação que quisesse. Se tinha algo na qual ele e Elena conversaram muito durante seu tempo de amizade foi música, e ela sabia exatamente o que ele gostava e o que odiava nesse departamento. Para provocar, ela escolheu a estação que exibia exatamente o tipo de musica que Damon mais odiava. Teve que passar o percurso inteiro ouvindo todo o tipo de pop adolescente que existia na atualidade e o fato do lugar para onde iriam ser longe, o obrigou a ouvir mais do que sua taxa de limite aguentava. E o sorriso vitorioso que Elena abria cada vez que via sua fúria o deixava ainda com mais vontade de quebrar aquele som.

Quando entraram na floresta, o radio saiu de sinal e o barulho insuportável da voz de alguma cantorazinha finalmente se calou. Elena olhou assustada e sem entender para os lados. Não iria tentar explicar, mas pôde ver que ela estava com medo, mas ainda sim possuía confiança nele e foi o bastante para que não abrisse a porta do carro e pulasse; Isso e o pavor de quebrar a unha na queda.

— O que estamos fazendo aqui? – Perguntou tentando controlar seu temor.

— Elena eu disse a verdade quando falei que não era um estuprador, então calma.

— Eu to calma. – Contrariou gritando nervosa. Damon, rapidamente a olhou com a ironia entre sua frase e a maneira com desesperada com que ela berrou. – Quer parar de rir de mim? – Gritou outra vez, ainda mais aflita. Cruzou os braços e fez bico durante o resto do caminho.

— Chegamos. – Anunciou ele retirando seu cinto e saindo do automóvel. Ela nunca havia estado naquela parte da cidade, então não reconheceu que lugar era aquele.

Não demorou muito até que sua curiosidade a dominasse e Elena saísse do carro, seguindo Damon.

Andou mais alguns passos entre a clareira; Não gostava de florestas, não era um bom lugar para andar de salto, sem falar que sujava toda a sola de seus sapatos de marca. E a ideia dos mosquitos a picando também não era algo que mais a agradava em cogitar.

Ouviu um barulho de água, mal havia reparado no começo, mas conforme seus passos seguiam para frente o som aumentava. Quando finalmente atravessou a clareira, o azul cristalino das águas daquela cascata iluminaram seus olhos. Já havia ouvido falar daquela cachoeira. A cachoeira dos Lockwood. Nunca tinha ido a uma, não gostava de visitar esse tipo de lugar. Sempre preferiu cidades ao campo e a natureza. Se fosse para a praia, somente com a condição de ser reservada ou de preferência ilhas privadas para alta classe, mas nunca foi problema porque, afinal sempre optou por piscinas ao invés de se misturar com desconhecidos no mar.

Era lindo. As pedras em volta, a pequena cascata, a floresta que mantinha tudo ainda mais escondido e a água em tom azul cristalino com um toque esverdeado ao meio. Ficou com vontade de ter papel e lápis ali, queria registrar em seus desenhos, colocar tudo na folha enquanto sugava o aroma do verde ao seu redor. Só ela e a musica cantada pelos pássaros mata adentro.

— Damon, é lindo. – Disse ela sem fôlego pela imagem.

— Faltou um momento pra gente reviver ontem. – Elena já iria perguntar qual seria, mas ele prosseguiu. – Aquele na ponte. Onde você me ajudou, foi muito importante pra mim, e eu pensei em te levar pra lá e que nós poderíamos recordar e conversar, mas... Talvez seja hora de adquirir novas memórias, eu acho.

Talvez ele tivesse razão, não fazia ideia do que ele diria. Seria totalmente rejeitada e pela maneira que ele falou no bar, Damon tinha visto o beijo como um erro, mas então porque ele a trouxe em lugar como esse? Para confundi-la ainda mais? Porque estava funcionando.

Resolveu acabar com aquela duvida. Damon observava a paisagem normalmente, olhando para algum ponto da água que escorria para a nascente. Acabou com aquele espaço entre os dois e levou sua boca em direção à dele outra vez.

Ele tentou puxa-la, mas a delicadeza com que ele a segurava para não a machucar não foi suficiente para contê-la. Selou seus lábios em um beijo contraído, sem dar a passagem para sua língua adentrar.

— Por favor... – Pediu ela murmurando ainda em seus lábios.

Ele se afastou um pouco, tentando puxa-la para trás, ainda sem que a ferisse, não só fisicamente como emocionalmente.

— Elena não podemos.

— Mas já fizemos. – Disse Elena o puxando de volta. Dessa vez sem resistir, ele entre abriu seus lábios e mais um beijo avassalador se foi trocado. Ambos não pareciam na intenção de se controlarem agora.

Elena logo tratou de descer as mãos para a lateral do tórax dele, apertando com força e puxando o tecido daquela camiseta para todos os lados.

Ela queria rasga-la.

Damon voltou à consciência e percebeu aonde ela queria chegar com aquilo. Separou-os imediatamente ao sentir um dos dedos dela em seu cinto.

Sobressaltado, ele começou a falar.

— Elena... Elena. – Chamou Damon trazendo as mãos dela para cima e a segurando com força. Elena rapidamente tentou soltar-se e voltar seus dedos para a área abaixo na cintura dele, mas Damon a contraiu com mais força. – Elena me escuta. Eu amo meu trabalho.

— Sim, eu entendo, mas deixa eu só fazer...

— Elena, escuta. Agora. – Gritou outra vez, despertando o medo adormecido em Elena. – Eu amo meu trabalho. – Repetiu olhando profundamente nos olhos castanhos dela. – E se descobrirem sobre isso que aconteceu, ou pior, se isso ir pra frente, acaba tudo. Acaba a minha vida; Eu já caí muitas vezes. Tantas quedas que nem contar eu consigo direito. Isso não é certo.

— Por quê? Por que não é certo, me diz. Eu quero, e eu sei que você também sente alguma coisa senão nós nem estaríamos aqui. Ninguém precisa saber...

— Elena. – Disse ele em tom de choro. – Minha obrigação é te ensinar, só isso. Eu sou um adulto, eu tenho ética eu não sei onde ela tava ontem, mas eu tenho... Você é uma criança, é a minha aluna. Eu sei que devido a circunstancias a gente criou uma... Amizade, mas... Isso não é motivo pra você se confundir.

— Mas eu gosto de você. Eu gosto de você, Damon. – Tentou o puxar outra vez, mas ele apertou ainda mais suas mãos.

— Você tem dezesseis anos. É linda, e é muito jovem pra saber o que realmente significa amar uma pessoa. – Damon tentava passar o tom mais compreensível e gentil que possuía; Tinha afeição por Elena, não queria que isso doesse para ela. – Sentimentos platônicos são algo totalmente normal, a gente cria essa ilusão por alguém, eu entendo. Alguém mais velho, que sabe instruir, comandar uma turma, se comunicar... É normal, e as meninas criam essa ilusão pela pessoa ser esperto ou ser instruído. Qualquer coisa. É fantasia, Elena. É só isso, é pura fantasia. – Não aguentou ao ver as lágrimas descerem pelos olhos dela. Eram pequenas e ela abaixava o rosto para que ele não percebesse. Damon fechou os olhos e engoliu em seco, esperando que as que se acumulassem nos seus olhos também fossem embora, mas não foram. Quando os abriu, todas aquelas minúsculas gotas já estavam despencando por todo o seu rosto. – Elena... – Chamou ele outra vez, querendo que ela o olhasse. – Você é linda, Elena. Qualquer garoto te quer. Você até tem mais sorte que as outras que tão nessa mesma situação. Muitas não se sentem bem com a aparência e acabam criando essa fantasia, mas você não tem motivos pra isso. Você tem tudo. – Desprendeu-se mais as mãos dela, sentiu que não iria tentar mais nada.

— Exato. – Disse Elena engolindo em seco suas lagrimas. – Eu não tenho razões pra fantasiar, o que te dar motivo suficiente pra você saber que é real.

— Mas não faz diferença, Elena. Eu amo o que eu faço, é só o que eu sei fazer; Eu tenho orgulho da ética que eu tenho.

— E eu tenho orgulho do que eu sinto. – Retrucou ela, ainda mais brava. – Sei que você tem ética, não precisa provar isso pra mim. Eu sei.

— Então porque diabos você continua insistindo se sabe que é errado. – Diferente como quando foram pegos no quarto por Isobel, ninguém chegaria ali. Poderiam gritar e extravasar tudo que sentiam sem dó nem piedade um do outro. E era isso que eles fariam.

Depois disso, nenhum dos dois conseguiu mais conter suas gargantas.

— Não é errado, que droga. Porque você acha que é errado? Por pensar que é fantasia minha? Olha, pra minha cara, eu posso estalar meus dedos e conseguir o cara que eu quiser, qualquer um. Não me confunda com essas garotas desesperadas pra arranjar um homem que se apaixona até pelo primeiro que disser ‘’Bom dia’’.

— Será que você pode deixar seu egoísmo de lado por um segundo? As consequências vão cair em cima de mim, o adulto. E não de você, a criança. Eu é quem posso ficar sem onde morar, eu é quem posso ser preso, eu é quem posso perder meu emprego, eu é quem vou ser considerado o culpado, que deveria ter responsabilidade e não deixar com que alunas sintam-se dessa maneira. Sou eu que vou ser acusado perante toda a academia de educação como sem profissionalismo; E você? Vai chorar por alguns dias na sua cama com seus lençóis importados da Europa, mas depois sua mãe te tira do castigo devolve seu cartãozinho de crédito e tudo volta ao normal na sua vida. E a minha? Como eu faço depois?

Havia pensado em todas aquelas possibilidades, mas tê-las ali saindo da boca de Damon e ele listando todos os motivos pelo qual isso nunca daria certo, a fez abrir os olhos. Não daria. Não era uma ilusão o fato de estar apaixonada. O que era uma ilusão era a esperança que cultivou de que talvez pudessem seguir com algo a diante, mas não era pra ser, não podia ser.

Respirou fundo recuperando toda sua calma, Damon se afastou e fez o mesmo. Andando em passos aleatórios, com a mão na cabeça a olhando para o céu.

— Tem mais alguma coisa pra dizer que precisa ser dito? Porque eu não quero ter essa conversa outra vez, Elena.

Não importava o que ela dissesse, ele sempre a veria do mesmo jeito. Como uma criança mimada, e agora esse beijo, ou melhor, esses beijos, iriam assombra-lo e enche-lo de culpa pra sempre.

— Meus lençóis. – Disse ela, tentando recuperar seu tom de voz de costume. – Não são importados da Europa, são importados da Ásia.

Damon revirou os olhos e a encarou com expressão de distúrbio.

— Vai me deixar aqui, sozinha? – Gritou ela conforme Damon entrava de volta na floresta para procurar seu carro. Ele não respondeu. Elena não tinha como voltar, nem sabia como voltar para falar a verdade. Correu para alcança-lo, quebrando o salto esquerdo de seus sapatos Zanotti azul no caminho. – Ai não... Não, não, não. – Soltou a garganta novamente. Tudo menos aquilo; Tudo menos os seus Giuseppe Zanotti de sete mil dólares. Pior que não era só isso, a queda a vez cair sobre a lama no chão do matagal. Estava usando um macacão da Gucci de uma das lojas em Sydney. Sentiu passos se voltarem em sua direção. Damon a encontrou a gritar no chão. Um grito fininho como de uma patricinha após pintar a unha de uma cor que não combinasse. – Damon, me ajuda. Minha roupa, meu sapato. – Berrou ela; Aquilo não devia estar sendo engraçado para Elena, e a questão dela com a vaidade era algo na qual ele não ria tanto de seus descontroles, mas sim se preocupava com o excesso e obsessão pela estética que ela possuía.

— Calma. – Disse ele retirando os sapatos dos pés dela. – Dá pra concertar, não vou jogar fora. Se acalma.

— Damon é lama, eu odeio lama. É nojento, eu preciso de um esteticista, me chama um esteticista, por favor.

— Vêm... – Posicionou-se ao lado dela e a levantou no colo em posição de recém-casados. Colocando as pernas dela por cima de seus braços e segurando pelas costas. Elena deu um fraco impulso, e ele a colocou sentada em uma de suas coxas; Apoiando o pé em um pedaço de madeira no meio da floresta. Esticou-se o máximo que conseguiu para forrar um casaco seu no banco, para que Elena pudesse sentar.

— Não... – Disse ela ao olhar o estado de seus sapatos e de seu macacão vermelho. Damon desceu do carro abrindo o porta malas. Sabia que Elena reclamaria o caminho inteiro por suas roupas. Voltou para o banco da frente carregando uma pequena mala de mão amarela. – O que é isso?

— Isso é algumas das roupas que a Rose deixou. Eu não sabia onde guardar e não consegui jogar tudo fora. Desculpa. – Depois de cancelarem todos os preparativos, Elena fez com que ele prometesse que daria um jeito de se livrar das coisas que ela havia deixado. Seja doando, seja jogando fora, desde que não tivesse mais ao alcance dele para ela estava bom. Ele não tinha contado que ainda tinha uma mala, e tinha escondido... No porta malas, tudo para que ela não visse. Sentiu-se envergonhada, ainda mais envergonhada. – Acha alguma coisa, não tenho muito, eu doei quase tudo.

Duvidou que achasse algo bonito nas coisas horrorosas que aquela mulher deveria ter. Damon saiu do carro, dando privacidade suficiente para que ela se trocasse.

Abriu o zíper da maleta, retirando com cuidado as peças. Uma calça jeans cintura baixa foi à primeira coisa que veio em sua mão. Sorriu vitoriosa ao olhar a etiqueta e saber que era mais magra que a tal Rose.

Revirou mais algumas vestes e nada.

Cafona, cafona, fora de moda, marca barata, feio...

Definitivamente ela não sabe o que é sofisticação. Um cursinho de moda, ou um pouco de senso, não devia fazer mal a ninguém.

A maioria eram blusas em formato nadador ou no máximo uma ou duas batas cinza, bem desbotadas. Usou uma camiseta de ginástica marrom para limpar o resto da lama de seu macacão. Retirou sua roupa com cuidado para que não sujasse sua pele, no canto da maleta uma sacola com um par de chinelos roxo e uma sapatilha preta.

Achou um par de jeans customizados com pequenos rasgos na perna. Mais precisamente na parte do fêmur. As camisas conseguiam ser piores do que as da April. Preferiu optar por uma da banda Rolling Stones, branca com uma boca desenhada mostrando a língua vermelha. Para sua sorte calçava o mesmo número que o dela, limpou seus pés com uma das blusas feias que Rose tinha e pôs as sapatilhas.

Deu uma ultima olhada no espelho retrovisor, aquilo era estranho. Estava vestindo as roupas... Dela.

Não tinha mais muito que olhar, sentiu um elevado montinho no bolso da frente.

Um tecido azul claro bem enrolado no fundo da pequenina bagagem. Apanhou o pano sem pressa e o sentiu deslizar por sua mão; Uma echarpe de ceda bem suave e delicada. Aquilo era bonito, chique e de aparência fina. Enrolou em volta de seu pescoço sentindo o gelado da contextura em sua pele. Guardou a sacola com sua roupa de volta na mala e a jogou para o banco de trás.

— Damon. – Disse Elena o chamando, abriu o vidro e alocou a cabeça para fora da janela. Chamou outra vez. Não demorou muito para que ele voltasse e se acomodasse de volta no banco do motorista.

Não conseguiu disfarçar sua reação ao vê-la vestida naquelas roupas. Passou seus olhos de cima a baixo e admirou enquanto a nostalgia entrava pelo seu corpo.

— O que foi? – Perguntou ela percebendo o olhar dele. Não era de tristeza, nem de saudades, pareciam mais como admiração.

— Ficou maravilhoso em você. Essa aparência mais simples, descarregada. Não que o seu visual normal, toda arrumada e na moda, não seja bonito também. – Se atrapalhou na ultima parte, gaguejando lentamente e tremendo os lábios. – Você fica... Bonita de qualquer jeito. É... Exato. Isso mesmo. Você fica linda de qualquer jeito.

Não pôde deixar de sorrir, tanto por dentro como por fora, com a falta de jeito dele nas palavras. Sentia-se satisfeita com o elogio também, só que de alguma forma a maneira com que Damon disse aquelas palavras; Atrapalhado e nervoso, fez sua alegria aumentar ainda mais.

Em um ronronar baixo, ela falou:

— Obrigada.

Silêncio.

Damon assentiu retribuindo o agradecimento. Ligou o carro e fez o caminho de volta para a estrada; Ninguém tinha coragem suficiente para dizer nada. Durante metade do caminho, Elena passou com a cabeça recostada no banco e a mente longe; Queria beija-lo novamente, mas depois de tudo que ele disse era bem obvio que não daria certo e que ele não queria.

Não sabia se o fato de Damon saber que ela possuía algum sentimento era bom ou ruim. O bom era que agora ele sabia, e o ruim era que além dele achar que não era real, Damon nunca mais a veria da mesma maneira.

— Gostou? – Perguntou ele timidamente, tentando quebrar o silêncio. Elena arqueou a sobrancelha e o olhou, confusa. Adorava quando ela fazia aquilo sempre que não entendia alguma coisa. – Da echarpe. – Continuou Damon respondendo a duvida dela.

— Ah, sim. É muito bonita. – Levou suas mãos novamente para o tecido e o acariciou inclinando seu rosto e sentindo aquela textura.

— Ótimo saber que eu tenho bom gosto, então.

— Você comprou isso pra ela? – Questionou em tristeza. Dentre varias coisas que não queria ter de imaginar, Damon, todo carinhoso, dando presentes para Rose entrava nessa lista. E presentes caros, o tecido daquele pano parecia ter sido feito por uma boa marca.

Ou Damon estava esforçando-se para manter o clima o menos estranho possível ou realmente já havia se esquecido de tudo. Elena apostou na primeira opção.

Ainda tentando manter o silêncio e a sensação constrangedora para fora do carro, Damon continuou a falar bem animadamente.

— Sim, fui eu. Aniversario dois anos de namoro; E se alguém instruída pra moda como você gostou, é porque eu tenho jeito não acha?

— Sim, é linda. – Mas ela só respondeu em seco e desviando o olhar cada vez mais.

Ele rapidamente entendeu que ela não queria conversar, e procurou também compreender os motivos que ela tinha.

Resolveram parar umas três quadras antes de casa. Elena decidiu que iria andando ou pararia para ver se Caroline ou Bonnie já tinham acordado; Pelo horário que a festa havia acabado, duvidou que metade de Mystic Falls estivesse de pé.

E mais uma vez, Damon foi quem quebrou o silencio.

— Lembra-se do que conversamos, não é? – Tentaria ser o mais espontâneo possível. Ultimamente tem sido assim com os dois, brigavam, discutiam, mas ainda sim se importavam com o bem estar e sentimentos de um e outro. Elena sentia-se novamente como uma criança, Damon agora falava como se fosse um pediatra explicando para sua paciente de cinco anos, que chorava desesperadamente de medo, que se tomasse uma injeção iria melhorar e ficar livre para brincar com os amiguinhos. Aquilo era patético. – Eu tenho minha ética, Elena. Espero que você entenda.

E onde estava sua ética quando transou com a namorada do seu melhor amigo?

Não iria dizer aquilo. Embora a vontade fosse grande, não estavam os dois em um momento de raiva, mas que era verdade era. A ética não atrapalhou Damon de trair o melhor amigo, e agora ele usava a moral como uma desculpa. Talvez estivesse com pena de dizer que não a queria. Sim, só podia ser isso mesmo.

— Eu te entendo. É melhor a gente esquecer. Tchau, Damon. – Disse ela. Já havia retirado seu cinto, estava já abrindo a porta quando voltou atrás e a fechou outra vez, com força. – Espera. Antes eu preciso saber uma coisa. – Só isso. Perguntaria e depois, assim que saísse daquele carro, botaria um fim no assunto do beijo e continuaria sua vida, mas antes ela precisa saber. Precisa daquela resposta mais do que as abelhas precisam das flores. – Eu pergunto. Você me responde e pronto, acaba aqui. – Não tinha certeza se iria conseguir controlar todo aquele nervosismo no corpo. Nem muito menos na sua voz – Porque você subiu? Porque eu te encontrei no pé da escada indo lá pra cima? O que você queria? O que queria fazer?

A expressão de Damon contorceu-se em uma mistura de fúria e de vergonha. Toda aquela hesitação que o corpo dele estava só a fez querer saber mais e persistir mais. Abriu os lábios varias vezes tentando fazer com que soasse algo deles, mas tudo que ele conseguiu fazer era soltar ar acumulado.

— Eu... Eu... – Disse ele tentando falar.

— Você?

—... Fiquei preocupado.

— Preocupado? – Repetiu Elena aquelas palavras. Seu tom de voz era como se tivesse vomitado aquelas letras com uma boa dose de duvidas. – Como assim, preocupado? Preocupado com o que? – Perguntou outra vez.

Damon apertou os olhos fortemente, como se tivesse fazendo uma força enorme para poder conter-se; Assustou-se um pouco, pois sabia que na hora que ele falasse, iria explodir.

— Você... Você fugiu pro quarto bem na hora que a gente tava dançando e não voltou pra me explicar nada. Eu fiquei confuso, e depois não consegui dormir pensando que você tinha passado mal ou algo assim, então eu fui.

— Damon... – Sussurrou Elena em tristeza.

— Não me venha com Damon. Você me perguntou e eu respondi, e agora eu também quero saber: Porque você fugiu em primeiro lugar? Porque saiu correndo daquele jeito que nem uma maluca?

Elena rapidamente sentiu uma forte ânsia no estomago. Não queria lembrar-se do sonho e só a menção daquela memória já fazia com que quisesse começar a se esconder e arrancar sua cabeça para nunca mais sonhar novamente.

Não era egoísmo, mas o motivo dela conseguia ser mais importante que o dele. Não que a ideia da preocupação da parte sob si dele a incomodasse, mas aquele pensamento conseguia se tornar superior a tudo... Até mesmo... A quebrar uma unha ou queimar-se com uma chapinha ou até ter que usar uma roupa usada como as que ela vestia agora.

Desviou os olhos dele e os voltou para frente, encarando as ruas vazias ao norte. Nada. Ninguém. Era bom que fosse assim, se olhasse para o nada poderia sentir como se tivesse falando sozinha e ninguém ouviria aquela humilhação.

— Eu tenho tido alguns pesadelos. O mesmo pesadelo pra falar a verdade.

— Tá, me conta. – Disse ele naturalmente.

Se fosse tão fácil. Pensou Elena. Iria devagar; Falaria em voz mansa e não forçaria o tom, tudo para não demonstrar fragilidade.

— Eu tenho sonhado com aquele homem. Aquele do bar, que... Tentou, tentou... Tentou. Ah, Damon você sabe, você tava lá. – Gritou Elena fazendo seu plano de manter-se sã ir para os ares. Revirou os olhos e respirou profundamente. Damon pareceu entender e concedeu que continuasse sem precisar pronunciar aquelas palavras nojentas. – Nos meus sonhos, ele aparece na rua, eu normalmente to sozinha; Voltando da escola ou fazendo exercício, alguma coisa. Ele aparece, eu corro, ele dá a volta pelo atalho da rua do meio e me alcança... Aí eu acordo. Assustada, morrendo de medo. – Não foi difícil para Damon perceber a dificuldade que Elena tinha em contar tudo aquilo. Ela era do tipo que não gostava de mostrar fraqueza em momento algum, se identificava com isso, mas nem sempre manter a razão parece ser algo fácil.

As pessoas confundiam o orgulho com a falta de humanismo e isso era a linha mais próxima para se chegar ao preconceito. Calmamente, Damon apanhou a mão de Elena entrelaçando seus dedos, ela rapidamente se arrepiou ao toque e deixou-se levar.

— Eu só não entendi uma coisa. – Sua voz saiu um pouco mais baixa. Não sabia como o nível emocional dela estava com tudo isso que estava acontecendo, não queria elevar seu tom de vez nem um grau acima do comum, chegou mais perto de maneira que colasse suas testas uma nas outras. – O que o sonho tem haver com você ter fugido? Você ficou com medo de mim, Elena?

Pelo silêncio que se estabeleceu, Damon teve a confirmação. Elena o impediu de se afastar, achou melhor dar espaço para ela e estava claramente chateado, mas assim que tentou desfiar algum centímetro dela, suas unhas firmaram-se contra sua pele fazendo uma leve pressão.

— Eu não queria ter fugido – Disse ela se desculpando. – Eu só, imaginei que você poderia...

— Eu entendi. – Falou Damon a cortando. – Não posso te culpar, não tá longe de ser verdade, olha o que eu fiz, eu te beijei, Elena. Eu...

— Nós nos beijamos, Damon. – Agora foi sua vez de interromper. Odiava quando ele colocava a culpa inteira em cima de si mesmo. Era burrice, ela sabia que ele não era assim. Ontem foi um momento de medo passageiro e idiota. Damon não merecia tamanha comparação com aquele seboso. – Meu medo não teve sentido. Isso, agora, nesse momento. Isso tem sentido. – Moveu suas mãos para as a ponta dos ombros do rapaz, com cuidado para que não retraísse, foi subindo até alcançar o rosto. – Eu to com medo, Damon. – Ela confessou, escorregando as mãos pela face dele e voltar a tocar o pescoço. – Eu tenho medo de ficar sozinha outra vez e que ele venha.

— Ele não vai vim, Elena. Já passou.

— Eu sei, eu sei que passou. Hoje eu acordei e tive medo de pisar no chão porque eu sabia que eu estaria pisando na realidade, e aconteceu. Eu imaginei nos meus sonhos que poderia da certo. Isso entre a gente, mas não. A realidade foi o que ela sempre é: realista.

— Você não é a única que odeia o mundo real também, Elena. – Ele alegou remexendo nas pontas dos cabelos dela. Novamente, o incomodo por aquele ato não veio. – Mas quando algo bom acontece fora da fantasia, consegue ser muito melhor que as expectativas, e é por isso que você tem que ter esperança. Eu to aqui agora, Elena.

— Eu sei que você tá. – Respondeu sem muita paciência. Retirou as mãos do pescoço dele, cansada daqueles jogos, mas ele a trouxe de volta impedindo que se afastasse – Mas imagina que esse carro é como um porto seguro, e enquanto a gente tá aqui nós estamos fora da realidade. O que acontece quando a gente sair do carro? Eu fico sozinha de novo e você me dá outro discurso sobre ética?

— Elena, presta atenção. Olha em volta, estamos na realidade. Não saímos daqui. Esse homem nem deve te reconhecer se te vê na rua de tão bêbado que devia tá. Você não vai ficar sozinha; Já falei que eu to aqui.

— É, Damon. Você tá aqui. – Disse Elena inexpressiva. Mesmo assim, Damon ainda podia ver a chateação presente no rosto dela. – Mas e a minha garantia pro depois? Onde fica?

Damon hesitou em responder, ela havia o deixado sem palavras. Estavam os dois dando voltas desnecessárias e para acabar no mesmo lugar. Em nenhum lugar; Precisava dar ré e se caminhar em um novo trilho. Era arriscado e poderia ser mais cansativo do que andar em círculos. Fez novamente o que jurou nunca mais fazer: Mandar toda sua moral para o inferno.

— Essa é sua garantia. – Puxou-a rapidamente pelo queixo em direção a sua boca. Dessa vez mais suavemente e sem correr contra o tempo. Já haviam sentido o gosto das línguas de cada um outras vezes, agora era só saborear. Elena ficou imóvel esperando que ele se afastasse e insistisse que aquilo era um erro, mas dessa vez para sua surpresa a iniciativa foi tomada por ele ao insistir que ela entreabrisse seus lábios.

Elena podia jurar que sentiu uma faísca de romance no modo como trocaram aquele beijo. Cheio de ternura e delicadeza. Soltou um gemido baixo no toque dos dedos dele se enfiando nos buracos customizados da calça jeans. Queria retirar aquela echarpe e dar espaço para que ele se aventurasse por seu pescoço, mas do jeito que o conhecia sabia que Damon ainda sentia certa hesitação na ideia de passar por cima de seu profissionalismo, não faria isso tão cedo, nem muito menos dentro de um carro parado ao meio da rua.

Separaram-se ofegantes, o peito subindo e descendo rapidamente como um motor de uma Ferrari. Damon afundou as mãos dentro dos cabelos dela e a trouxe mais uma vez para perto, dessa vez para um demorado selinho.

— O que foi isso? – Perguntou ela arfando ainda em seus lábios. Nesse momento tudo que conseguia pensar era que ele não dissesse que foi uma despedida; Fora muito bom para não poder sentir de novo.

— Uma garantia. Não está sozinha, Elena – Afirmou com convicção. Seu tom de voz estava escasso igual ao dela.

— Seria um pedido?

Nem entendia direito o que ela falava. Desviou os olhos para aqueles lábios vermelhos, não ainda não acreditando no que acabou de fazer. Apertou as mãos suavemente ao rosto dela e a encarou olhando no fundo daquelas castanhas íris.

— Um pedido de quê? – Ponderou com um riso bobo no rosto.

— De namoro... – E ela não conseguiu conter a alegria em sua voz. Mesmo que tivesse que sofrer a maior vergonha de sua vida não se arrependeu de ter dito o que disse. – Isso seria um pedido de namoro? – Falou novamente. Dessa vez com mais hesitação.

— Seria o que você quiser que seja, Elena. Você quer? 

Não precisava nem responder perante tamanha obviedade que tinha aquela pergunta. Acabou com o pequeno espaço que restavam entre os dois e o puxou pelos ombros para mais perto iniciando outro beijo carinhoso. Antes que pudessem intensificar o contato ela os separou de novo, irradiando uma felicidade na qual ele nunca viu no rosto de ninguém durante toda sua vida.

— É tudo que eu mais quero nesse mundo. – Admitiu sorrindo sem medo ou orgulho.

Aquele gosto, aquele cheiro, a maciez dos lábios dele. Tudo se prendia em sua memória ocupando o lugar de todo seu autocontrole. Ficaram ali se encarando sem dizer uma palavra com a boca, mas falando tudo que tinham para expressar com os olhos; Acompanhado dos sorrisos que os dois soltavam entre seus suspiros, ainda não acreditando que aquilo estava realmente acontecendo. E ficaram naquela mesma posição, testas coladas, ainda sem acreditar, somente ouvindo a respiração um do outro enquanto afundavam naquelas sensações que sabiam que não seria tão duradora.

Até que ele, aos sussurros, resolveu quebrar o silêncio.

— Mas e quando a gente sair do carro e pisar na realidade, como vai ser?

Não sabia. Na verdade não fazia ideia, se tivesse que ir contra o mundo inteiro para ficar com ele faria. Tinha certeza de que os sentimentos do Damon não eram tão fortes e intensos como o seu, mas não significava que ele não sentia nada. Havia alguma coisa e isso para ela já era o básico. Claro, que gostaria que ele a amasse tão intensamente que nem mesmo o que sentiu pela Rose fosse ser capaz de competir, mas isso seria ir com muita pressa ao queijo e se fossem rápidos demais poderia o assusta-lo e o perder; E perder Damon era algo que estava fora de qualquer cogitação.

— Não vai ser fácil, mas eu te prometo que vai valer a pena. – Iria dizer que o amava, mas lembrou-se da regra do excesso de velocidade. Ainda não era hora, mesmo que quisesse gritar para o mundo, tinha de ir com cautela antes de poder gritar para ele.

— Não quero sair do carro. – Lentamente sentiu o toque das mãos dele em suas bochechas. Inclinou seu rosto ainda mais naquela pele e fechou os olhos, soltando um baixo murmuro pelo contato.

— Eu também não.

Mas teriam. Ainda tinha que resolver as coisas com o Tyler e ele, por mais estranho que possa soar, precisava conversar com sua tia Jenna.

— Você sai primeiro? – Questionou Damon bufando em raiva pelas responsabilidades que teriam que encarar. Elena assentiu em confirmação e ele apanhou a bolsa dela que estava no banco de trás. – Sua... – Entregou o acessório e ela sorriu delicadamente em resposta.

Abriu a porta do carro e repetiu o mesmo mantra pela manhã ao colocar os pés no chão. Agora as consequências na realidade pareciam bem mais pesadas, mas não tinha tanto receio porque não estava mais sozinha. Tinha alguém para dividir a carga. Colocou a sola da sapatilha preta no concreto e pisou sem medo. A rua ainda estava vazia, não devia ser tão cedo e pelo jeito em menos de meia hora o povo começaria a acordar.

Estava fora de seu porto seguro, mas aquilo não significava que não podia sonhar. Deu alguns passos em direção à esquina que viraria para a rua de sua casa e recuou de volta para o carro. Abriu a porta mais uma vez e adentrou o tronco no automóvel, puxando Damon pela camiseta e o trazendo para mais um beijo. Assustado, ele demorou a corresponder, mas logo sentiu sua língua afundar em toda a extensão da sua boca procurando uma sincronia com a língua dela.

O largou somente quando foi necessária a respiração. Agora, poderia viajar entre sua fantasia e o mundo real. Foi quando percebeu que podia estar na cama ou podia estar no carro. Aquela era a realidade. Damon era sua realidade. Não havia dois mundos, somente um e ele estava certo ao dizer que os sonhos realizados na vida são bem melhores do que os idealizados na mente, e agora poderia ter os dois.

Fechou a porta do automóvel e mandou uma piscadela para ele com toda sensualidade que poderia ser capaz de extrair. Continuou a caminhar até sua casa carregando a certeza de que nada poderia atingi-la.


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Notas finais do capítulo

Capitulo enorme heim, meninas... to sendo muito boazinha em fazer esses capitulos tão grandes, não acham? rs. COMENTEM. Beijos e até a próxima semana