Fading Into The Light escrita por Return To Zero


Capítulo 2
Caos


Notas iniciais do capítulo

Eu me afogo em um mar de caos
E você parece não me ouvir.
Eu me afogo em um mar de caos
E não tenho braços para nadar.
Eu me afogo em um mar de caos
Um mar que você mesmo criou.



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Eu os observei.

Caminharam pelos corredores do hospital, como se fossem almas invisiveis.

–- Toc toc

Era o barulho que os saltos de Kirishie faziam, ecoando pelo hospital, pelas ruas. Era dia, e seu cabelo ruivo brilhava ao céu, como uma continuação dele.

"Empty Skies é uma galeria de arte, e é lá que você vai viver. É lá onde vivemos. Bom, Stark tem sua propria casa, mas você não, então você ficará comigo. Wakatta?"

"Eu não posso lhe ouvir, Kirishie"

–- Blam!

A porta do carro preto se fechou. "Empty Skies" Kirishie disse, e o carro começou a se mover. Charlotte olhava pelo vidro, olhava para fora, procurando alguma coisa. Estaria procurando por mim?

"A minha galeria é um lugar muito especial. Stark adora ficar lá, e ele é ótimo com pinturas."

"Você me obrigou a ficar lá."

"Sim, sim. Mas," ela balançou as mãos no ar, despreocupada "com o tempo você se acostumou, e adorou."

Kirishie tagarelou mais um pouco sobre a galeria, mas eu não prestei atenção. Charlotte estava indiferente. Ela parecia não estar ali. Ela parecia não pertencer àquele lugar. Eu os segui, e o carro parou junto a um alto edificio de três andares, cinzento, com um letreiro em letras formais, Empty Skies.

"Enfim, chegamos. Você vai adorar, Lotti-chan!"

A ruiva saiu aos pulos. Stark segurava Charlotte pela mão, guiando-a pelo asfalto aquecido pelo sol. Estava descalça e ainda trajava sua camisola hospitalar.

Caminharam para além da entrada principal, até uma porta adornada com uma estrela dourada. "Assim eu finjo que sou uma grande estrela, e que aqui é meu camarim" explicou Kirishie.

Atrás da porta, não havia nada além de um jogo de sofá azul e mais outra porta. Charlotte observou o comodo vazio não esboçando emoção alguma.

Atrás da outra porta havia um extenso corredor.

–- Toc toc

Faziam os saltos de Kirishie, ecoando pelo corredor. Charlotte sentia-se como uma prisioneira que caminhava para sua sentença de morte.

Sentença de morte essa, que havia aparecido como um elevador, no fim do corredor. Os três entraram, Kirishie apertou um botão e eu não sou diferenciar se estavam subindo ou descendo.

Meio minuto de subida ou descida depois, o elevador parou. As portas se abriram para um amplo comodo aconchegante composto quase inteiramente em preto e branco. Havia um jogo de sofá de um lado, defronte à uma grande tela plana, aparelhos eletronicos, uma estante encostada na parede, livros de dificil leitura e capas coloridas que entravam em contraste com o restante da sala. Havia uma bola de cristal em um dos cantos, segurando os livros, e parecia emitir uma luz fraca. Duas gavetas junto aos pés da estante, que estavam muito bem trancadas. Eu vi.

Do outro lado, instalado timidamente em um dos cantos, estava um escritorio. Uma mesa branca que dispunha de um computador de última geração e mais outros aparatos eletronicos que não me importei em verificar. Uma poltrona de rodinhas de um lado, e duas cadeiras formais do outro. O computador emitiu um bipe.

Cortando o comodo ao meio havia uma escada escura, que levava para o segundo lugar. Uma especie de sacada que dispunha de quatro portas.

"Depois daquela porta é a cozinha. Você vai adorar a cozinha, Lotti-chan!" a ruiva deu alguns pulinhos

"É. Ela vai adorar tudo, Kirishie-senpai." Stark revirou os olhos

"Mas é sério! Chanto misete!" ela correu até à parede em que a porta da cozinha estava. Ao lado, havia um quadro de cor escura, marcado com algumas palavras.

Elas eram: São, Meia, Meio, Cinco, Dez, Quinze, Vinte, Minutos, Para, Um, Dois, Três, Quatro, Cinco, Seis, Sete, Oito, Nove, Dez, Onze, Doze e Horas.

Kirishie bateu palmas "Nan jikan desu ka?" E as palavras São, Quinze, Minutos, Para, Onze, Horas se acenderam. Ela se virou, animada, os olhos flamejavam excitação "Viram?! É um relogio!" ela voltou-se ao relogio, admirando-o "Tokei desu!"

Charlotte elevou uma sobrancelha e Stark revirou os olhos novamente, sentindo vergonha alheia.

"Ela é afetada assim o tempo todo?" a morena perguntou.

Charlotte era morena. Cabelos castanhos como mogno e grandes olhos no mesmo tom, que pareciam raramente piscar. A pele era palida e podia-se descobrir seus ossos e suas veias por baixo dela, visiveis.

"Ela só está animada. Faz tempo que não recebemos visitas." ele respondeu, enfiando as mãos dentro dos bolsos da calça "Visitas que ficam. Não clientes."

Segundos depois, Charlotte meneeou a cabeça, fitando o rapaz. Os olhos mortos e turvos e os labios secos, tremulos.

"Quanto tempo mais vai insistir em não me ouvir?"

"Eu não posso lhe ouvir."

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"Etto... Como são quase onze horas, isso significa que é hora do almoço." Kirishie decidiu, com sua personalidade sã recuperada "Leve-a até o banheiro e dê um banho nela."

"Dar um banho nela?!" Stark repetiu, perplexo

"Sou desu. Ela pode escorregar, cair, bater a cabeça e morrer de novo." respondeu, sumindo pela porta dupla esbranquiçada que dava à cozinha.

Stark apanhou a garota pela mão, subindo as escadas, parando em frente as portas.

"Esses são nossos quartos. Todos são suites." disse, constrangido. Apontou para o primeiro quarto, e assim consecutivamente "Aquele é o seu quarto. O meu. O da Kirishie-senpai."

A garota apontou para o quarto mais afastado. O quarto quarto. Rapidamente, o loiro procurou por seu celular e digitou algo. Convidado especial.

Enquanto Charlotte se pergunta o porquê de, ocasionalmente, lhe responderem com mensagens escritas, Stark a conduziu até seu quarto.

Este era em tons amarelados. Os moveis eram brancos e o assoalho de madeira rangia em alguns pontos.

–- Nheeeck. Nheeeck

Faziam as passadas de Charlotte, mas ela nunca ouviria.

Stark sentou-se na cama e digitou novamente no celular. Consegue tomar banho sozinha? A garota respondeu que sim. Kirishie pediu para que eu lhe desse banho.

"Eu sei me virar." respondeu, trancando-se no banheiro.

Despiu-se, jogando a camisola no chão. Havia uma banheira ali, mas ela a ignorou. Ligou o chuveiro e a água quente acariciou sua pele seca e aspera, sem vida. Deixou que ela escorresse pelos fios dos cabelos, por sua barriga e coxas, até chegar em seus pés.

Por seu rosto estar molhado não pude perceber se chorava ou não. Mas, a seus pés, se formava um pequeno mar caotico. Um mar de caos, de águas escuras, vermelhas e negras ao mesmo tempo, composta por todo o caos que carregava.

Stark bateu à porta.

"Está tudo bem?"

Não houve resposta.

Com cuidado, Charlotte girou a borboleta, cessando a água. Apanhou a toalha felpuda e passou por todo o seu corpo. Piscou algumas vezes, até que as manchas enegrecidas de seu passado desaparecessem da toalha clara.

Abriu a porta, se encontrando com Stark em sua cama. Curiosamente, não se sentiu acanhada por estar enrolada em uma toalha. Se virasse seu rosto e olhasse para um ponto qualquer, poderia até acreditar que ele não estaria ali.

"Vamos escolher uma roupa para você." disse, animado, abrindo o armario que havia ali. Fechou os olhos e suspirou diante da visão. Contraiu os labios e marchou decididamente até à sacada. "Kirishie!" Berrou, perto do corrimão.

"Stark!" ela berrou de volta, da cozinha. Ela pareceu derrubar alguns pratos, ou qualquer outra coisa feita de porcelana. Eu não sabia, não estava olhando.

"Você e essa sua maldita descendencia!" Stark agitou o punho esquerdo no ar, irritado. Acabei rindo "Você só comprou quimonos para ela?!"

"Claro que não." a ruiva respondeu "Estamos na Primavera, e logo o Verão vai chegar. Ela morreria de calor..." Justamente quando Stark fez uma expressão aliviada, ela completou "Eu comprei yutaka também."

Stark mordeu o labio e voltou para o quarto. Nesse meio tempo, Charlotte havia cavocado as gavetas a procura de calcinha e sutian. Ele apenas a contemplou, com um sorriso tremulo, ao perceber seus seios gordos e palidos a mostra.

"Eu não sei colocar aquele tipo de roupa." ela reclamou.

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Minutos depois, Kirishie os chamou, notando a demora. Charlotte desceu as escadas silenciosa, com seus pés descalços. Um yukata preto com flores rosadas adornava seu corpo. Era leve, e feito de seda.

"Kawaii~! Sabia que ficaria perfeito em você!"

"Não faz sentido, não combina com ela."

"Combina sim, kouhai. Você vai ver."

Charlotte ajeitou o coque que havia feito com seus cabelos e seguiu-os até a cozinha. Ao centro, havia uma mesa de quatro lugares. E ao centro da mesa, um enorme bolo de carne e quatro pratos.

"Quem é a quarta pessoa?" Charlotte perguntou.

Stark puxou a cadeira para Charlotte e sentou-se ao lado dela. Kirishie cortou o bolo de carne e serviu-os, sentando-se à frente de Stark.

"Alguém está para vir?" ela insistiu

Kirishie juntou as palmas, bateu-as duas vezes e disse "Itadakimasu"

"Estamos na America. Por que você sempre diz algo na sua lingua?" resmugou Stark, cortando um pedaço do bolo.

"Urusai, kusaree bocchan." disse, de boca cheia.

Stark fez uma careta, e Kirishie a devolveu na hora. Charlotte observou a cena, sem esboçar um pingo de emoção.

"Quem é a quarta pessoa?" tentou novamente

Stark procurou seu celular novamente e digitou Convidado especial.

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Depois do almoço, Kirishie os guiou até as escadas.

Charlotte arqueou os sobrancelhas em espanto pois havia uma outra porta ao lado da sua. Era avermelhada.

"Aquela porta. Não estava lá."

"Claro que estava. Você que não percebeu antes." explicou Kirishie "É a entrada para a galeria e, já que a notou, vamos passear por lá."

A ruiva girou a maçaneta, empurrando a porta. Charlotte sofre uma cegueira momentanea, devido a alta luminosidade do lugar.

Quando abriu os olhos novamente, deparou-se com um amplo ambiente, repleto de molduras. Grandes, pequenas, minusculas, gigantes, que pegavam uma parede toda.

O lugar era infestado de luz e de cores. Formas e rabiscos e mais formas, como se o proprio predio fosse construido por obras de arte, e suas estruturas fossem feitas pelas belas esculturas.

Charlotte sentiu que queria sorrir. A Charlotte que sabia, que se importava queria sorrir mas, mais do que rapidamente, Charlotte apertou seus frios dedos pelo seu pescoço, e após um estralo, a garota voltou a dormir.

Havia uma seção em que as pinturas era dispostas pelo chão. Rabiscos de flores crescendo e até um pedaço do oceano, fielmente reproduzido, que a convidava a mergulhar.

Uma escada levava ao primeiro andar. Era amarelada com o corrimão vermelho. Desembocaram em uma especia de corredor, iluminado apenas pela luz das janela. Estavam em manutenção, e Charlotte não pôde ver as pinturas corretamente.

Seguindo para a esquerda descobriram a recepção, onde a senhorita Potter, a propria recepcionista, estava.

"Senhorita Kiri--" a patroa fez um gesto com a mão, e a recepcionista se deteve "Kirishie-san, finalmente chegou. Já tivemos muitos visitantes hoje, Kirishie-san!"

"Yokatta ne!"

"E, ela é a senhorita Thompson?" a senhorita Potter estendeu a mão para Charlotte, que a apertou "Boa sorte com a senhorita Kirishie, senhorita Thompson."

"Nandaa~ Eu não sou tão ruim assim. Não acredite nela!" Kirishie afagou os cabelos de Charlotte, que ainda estavam umidos "Light, melhor você voltar para casa. Seus pais devem estar bravos, não?"

"Com certeza estão, mas..."

"Apareça aqui bem cedo. Não se preocupe, eu vou estar acordada."

Stark arqueou as sobrancelhas e acenou, desaparecendo pela porta principal.

Uma pena. Ele era tão bonito.

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Kirishie pigarreou, ajeitando os oculos.

"Então, quero lhe mostrar o museu melhor."

Por varias horas, Kirishie arrastou Charlotte pelos saguões, lhe mostrando as pinturas, explicando sobre seus autores, suas filosofias, expeculações. Embora Charlotte criasse suas proprias visões sobre o que via, queria desesperadamente saber das opiniões da mulher ruiva que, pelo visto, lhe acolhera.

Mas, apenas podia observar seus labios se moverem de forma urgente, esticando-se num sorriso avermelhado vez ou outra.

Talvez, pela primeira vez, Charlotte se sentiu triste. A Charlotte que sabia, que se importava. Tão rapido esse sentimento veio, ele voltou a dormir.

Uma pena.

Até então eu nunca consegui entender a razão desse assassinato. Até então, eu nunca entendi muita coisa.

–- Toc toc

Faziam os saltos de Kirishie pelo assoalho amarelado. Ela arrastou Charlotte para o saguão onde havia pinturas pelo chão. Ela passou os pés pela pintura azulada do fundo do mar e, curiosamente, viu seus pés molhados e descalços criarem pegadas pelo chão.

–- Toc toc

Faziam os saltos de Kirishie pelo corredor escuro do segundo andar. As escadas ainda estavam ali, mas ninguém estava trocando as lampadas. As pinturas pareciam ter olhos, e Kirishie hesitou diante uma escada que levava ao nivel inferior.

Percebeu a escuridão que se infiltrava pelas janelas e recuou.

"Melhor irmos dormir. Oyasuminasai." e, proferindo a última palavra em voz baixa, subiu as escadas e se dirigiu até a porta vermelha.



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Notas finais do capítulo

Ficou grandinho? Eu achei que ficou!
Vamos lá, um pequeno glossario.

Wakatta? = Entendeu?

Chanto misete! = Olhe bem!

Nan jikan desu ka? = Que horas são?

Tokei desu! = É um relogio!

Sou desu. = Isso mesmo.

Yutaka = É um quimono de verão, mais leve

Kawaii - hurrdurr Fofo

Kouhai = Junior

Itadakimasu = É um agradecimento, usado antes das refeições

Urusai, kusaree bocchan = Seria um "Calado, garoto mimado"

Yokatte ne = Que bom

Nandaa? = O quê?

Oyasuminasai = Boa noite na despedida

**
Ufa, acabou ~
Enfim, fiz esse capitulo especialmente para a minha Tinker, já que é aniversario dela. (como se eu já não houvesse dedicado o livro todo para ela. Me ame, garota. Me ame! V(=へ=)V )
Feliz aniversario, Tinker! ♥

**
Obrigada por lerem até aqui! ♥



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