As Aventuras de Rin Casaco Marrom escrita por Sem Nome


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 13 :D



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Capítulo 13

Aquele com treinos e ladrões.



Meiko usava um pedaço de madeira achada no chão como uma bengala improvisada. Deixaram o barco para trás, amarrado à uma rocha com uma corda achada dentro dele. Era muito suspeito três pessoas navegando em um barco da polícia da Cidade da Tempestade.

Estavam indo em direção a qualquer cidade que oferecesse comida e um lugar para sentar. Rin estava ensinando Len à diferenciar as cobras venenosas das cobras das quais ele poderia pegar.

Meiko até que tentou prestar atenção na explicação da loura (você sempre parecia estar aprendendo alguma coisa com ela, mesmo sendo mais velho), mas sua mente sempre ia parar em Len.

Ele tinha um ar despreocupado, e olhava sempre para os lados, evitando observar a estrada sem graça à frente (fazia sentido, depois de tantos anos preso). Só desviava o olhar das laterais quando Rin falava com ele.

A menina terminou sua pequena aula, recebendo um balançar afirmativo de cabeça. O rapaz logo voltou a distrair-se, segurando um inseto que havia caído dos galhos das árvores até sua cabeça e observando-o caminhar pela sua mão, até chegar na ponta dos dedos, levantando voo.

Ele parecia a pessoa mais calma, distraída e, quem sabe, desajeitada do mundo. Pelos deuses, aparentava ser tão inofensivo quanto Rin. Não parecia alguém que seria usado como pena de morte, alguém que fosse capaz de matar.

Mas não foi bem assim quando estava a ponto de matá-la. Como uma pessoa poderia ficar tão diferente de uma hora para outra? A morena balançou a cabeça, nada disso importava. O que importava era se ele era, ou não, uma ameaça.

Bem, Len parecia ter muito carinho por Rin, então a menina não precisava ter nenhuma preocupação em relação à isso. Ela, por outro lado, teria que manter os olhos abertos por algum tempo.

A morena avistou uma espécie de buraco nas copas das árvores e parou de andar.

– Esperem – os dois viraram-se – vamos acampar naquela clareira. Vai anoitecer logo, e está claro que não chegaremos à lugar algum.

Os três embrenharam-se por entre as árvores, até chegar ao amplo círculo formado por elas. A grama chegava até um pouco acima dos calcanhares. Algumas flores amarelas enfeitavam as bordas.

Meiko perguntou se Rin sabia fazer uma fogueira e, quando recebeu uma resposta positiva, pediu para o rapaz procurar a madeira necessária. Esperava que ele não trouxesse galhos insuficientes. Ou talvez até galhos demais.

– Tire o casaco, baixinha – tomou posição de luta – Vou ensiná-la a lutar.

Rin se surpreendeu com a atitude da moça.

– Você não quer descansar um pouco, Meiko? – questionou – Quero dizer, você parece bem mal.

– Escute, mesmo no estado em que estou agora, um soco vindo de mim seria o suficiente para quebrar todos os seus ossos. Tem sorte de ter uma regeneração acelerada, muita sorte.

Rin riu, aceitando a amarga verdade sem reclamar. Pendurou o casaco em um galho de árvore.

– Você quer treinar com as armas? – quis saber.

– Ficou louca? – riu a moça – Eu a fatiaria!

Seguindo o conselho, a loura pôs suas armas no pé da árvore. Tentou imitar apostura da moça, mas acabou resultando em uma imitação frágil e deficiente da posição correta.

– Ótimo – aprovou a mais velha, depois de corrigir a postura da menina – Agora me ataque.

– Perdão?

– Me ataque, oras!

Rin engoliu em seco, se aproximando cautelosamente. Quando chegou a uma certa distância, tentou socar Meiko no rosto. Tentou. A moça segurou seu punho e girou o pulso dolorosamente, até que a menina se ajoelhou no chão, abafando um grito.

– Mais uma vez – disse a morena, se afastando.

A loura concordou com a cabeça fracamente, e, dessa vez, não hesitou em atacar de verdade, com um chute. O golpe também foi bloqueado, mas Meiko não largou a perna da menina. Em vez disso, continuou segurando com a mão esquerda e, com a direita, socou-lhe no rosto.

– Tente sair desta – desafiou, com um outro soco.

A perna presa impedia que Rin se afastasse, e os socos no rosto não exatamente a ajudavam a pensar em algum plano mirabolante de fuga. A perna livre, que sustentava todo seu peso, acabou falhando, e a menina caiu.

Meiko suspirou. Teria bastante trabalho pela frente.

O treino continuou, Rin tentando de todos as maneiras abrir uma brecha na defesa de sua professora, e Meiko aparando todos os golpes e revidando depois. Pararam apenas quando Len voltou com a madeira e com um pequeno cervo morto nas mãos.

– Jantar! – informou com um sorriso, mas depois percebeu o estado de Rin, e o sorriso deu lugar a um misto de raiva e preocupação.

– Meiko está me ensinando a lutar – a loura o tranquilizou, antes que ele pudesse abrir a boca mais uma vez.

Rin fez uma fogueira com o esqueiro e Len tirou a carne que iria ser comida do cervo, mas como nenhum deles sabia separar as partes boas, a caça não foi bem aproveitada. De qualquer modo, espetaram a comida em galhos e a puseram próximo do fogo.

Enquanto isso, Rin continuou tentando golpear Meiko, mas todas as tentativas foram falhadas. O sentimento de vergonha era ainda maior agora que Len assistia tudo. Ela começou a perguntar-se como havia sobrevivido até ali. Até uma criança era mais forte que ela!

As pequenas lutas duraram até de noite, quando Rin já não aquentava mais de cansaço, dor e frustração. Como era possível Meiko, que estava completamente ferida e menos descansada, superá-la daquela maneira?

– Pelo palácio, Meiko! Deixe-me descansar um pouco! – jogou-se no chão, ofegante e derrotada.

Mordiscou seu pedaço de carne, sem fome. Como não tinha sal, pimenta ou molho, não foi o jantar mais agrdável de todos, mas com certeza melhor que ficar com fome.

A morena nada falou enquanto comia, entendia a decepção da menina. Rin sabia muito bem que as coisas só tendiam a piorar e que, no estado em que estava, ela não duraria muito. Tudo bem que contava com uma astúcia sobrenatural, mas e quando isso não fosse o suficiente?

– Boa noite – Rin mancou até o local menos iluminado da clareira, deitando próximo às flores.

Não sabia quanto tempo passou deitada, pensando em tudo e em nada, quando alguém, ou Meiko ou Len, apagou a fogueira e tudo ficou escuro. Escutou passos vindo em sua direção e sentiu seu casaco ser colocado em cima de seu corpo castigado.

Virou-se um pouco, só para reconhecer os olhos de Len no escuro. Ele lhe deu um rápido beijo na bochecha antes de deitar-se a poucos metros dela.

Sorriu. Pelo o menos alguém lhe ofereceu um pouco de gentileza naquele dia.


. . .




– Você tem certeza de que estamos indo para o lugar certo? – Meiko olhava em volta do porto cheio de gente.

– Para falar a verdade, não – admitiu Rin – Mas não custa tentar.

Ela desconfiava que o tal “tesouro dos sete mares profundos” estava escondido em algum lugar dentro do A Vingança de Anne, um navio pirata que havia afundado centenas de anos atrás. Todos diziam que o barco estava rodeado de feras marinhas, por isso ninguém sabe se há algo dentro dele.

O navio havia afundado sem causa aparente, perto da Ilha dos Marinheiros, e era para lá que estavam indo. A viagem era longa, e era preciso ser paciente.

Rin olhou em volta. Estavam com tanta presa de se afastar da cadeia aruínada que nem haviam parado para perguntar o nome da cidade onde se encontravam. Havia lojinhas de comida e livros feitas de tijolinhos e telhados vermelhos no porto.

– O navio ainda vai demorar – constatou – Eu já volto.

Len, invariavelmente, a seguiu, deixando Meiko sentada no banco de madeira. Ela os teria acompanhado se seu corpo não estivesse tão dolorido e a vista do mar não fosse tão encantadora.

Deixou sua mente vaguear e, como sempre acontecia quando ela não se policiava, pensou em casa. Não na casa em que morava agora (aquela que Rin conheceu). Na enorme casa em que morou há muito tempo atrás, com seu pai e sua mãe... sua mãe... Imaginava como ela estava agora.

Há quantos anos não se viam? Quatro, cinco? Será que iriam se ver de novo?

Pulou de susto quando Rin depositou uma sacola ao seu lado. Quanto tempo havia passado perdida em pensamentos? Poderiam tê-la roubado e ela nem perceberia!

– O que vocês trouxeram? – indagou, vasculhando os objetos. Encontrou, em meio a pacotinhos de doces e salgados, vários livrinhos infantis, daqueles com letras grandes e repleto de imagens.

– Para ensinar Len a ler – explicou Rin – Vejam, o navio está aqui!

Diferentemente do último navio em que Rin e Meiko estiveram, aquele era maior e mais confortável. A comida tinha sabor, e a cama não era dura. Mas, em compensação, eram cinco dias no mar.

Os três dividiam uma cabine (uma cama de solteiro e um beliche), dessa vez com um banheiro nele, e logo entenderam o porquê. O navio era usado em viagens longas e, não importa o quão resistente fosse seu estômago, mais cedo ou mais tarde, você vomitaria.

Cada um descobriu um modo de passar o tempo. Len tentava aprender a ler com a ajuda de Rin (ela não estava brincando quando disse que não era uma boa professora, explicava rápido demais, e ele tinha que pedir para que repetisse o tempo todo).

Meiko encarava uma vela por umas duas horas todos os dias, com o objetivo de acendê-la, assim como fez com a armadura do monstro na cadeia. Até agora só havia conseguido fumaça, e isso se concentrando bastante.

E a menina treinava com a morena em uma sala vazia do barco que, de manhã e de noite, era usada para dar aulas de dança para outros passageiros.

Rin não conseguiu vencer nenhuma das pequenas lutas que travava com Meiko, mas em uma delas acertou-lhe um soco no estômago, o que a deixou de bom humor pelo resto do dia (mesmo que tenha sido surrada o resto do treino inteiro).

Pelo o menos sabia que tudo o que estava fazendo não era em vão, mesmo que o progresso fosse lento e doloroso.


. . .



 A Ilha dos Marinheiros era exatamente isso; Uma ilha para marinheiros. Nenhum deles passava muito tempo lá, apenas uma tarde ou uma noite, porque o continente mais próximo não era nem um pouco perto. Quatro dias de viagem, no mínimo.

Não era o lugar mais afortunado do mundo. As casas e lojinhas eram feitos de madeira ou pedaços de metal achados em barcos naufragados. O chão era de terra batida, e vários animais como porcos e galinhas corriam livremente. O clima estava entre o frio e o quente, mas talvez quando a manhã acabasse e a tarde chegasse, faria mais calor.

As moradias eram contruídas umas em cima das outras, com escadas enferrujadas usadas para chegar nos andares de cima. A terra que subia com o vento pintava as paredes de um amarelo alaranjado.

– Eu gosto daqui – comentou Len, observando um porco passar por eles – Eles deixam os animais soltos.

– Gosta de porcos? – perguntou Rin. Ele normalmente não falava muita coisa, então a menina tentava alongar a conversa o máximo possível sempre que tinha chance.

– Dizem que a carne é gostosa – lembrou-se de quando estava preso naquele buraco dos infernos e ouviu a conversa de dois guardas que estavam combinando de fazer um churrasco.

– É, si...

– Mas eu prefiro bananas – cortou o rapaz, antes que ela pudesse fazer mais perguntas.

– Tudo bem – riu, decifrando o olhar que lhe era lançado – Eu compro mais bananas para você assim que tiver chance.

Meiko não participava do bate-papo, estava prestando atenção à paísagem ao redor, juntando as peças do quebra-cabeça.

– Agora entendo porque este é o lugar favorito dos piratas – chegou a conclusão, ainda observando as frágeis e mal acabadas contruções – É um local com poucos ou nenhum nobre. A população menos afortunada não deve se importar com eles. A Vingança de Anne devia estar vindo para cá para fugir da marinha e, com a pressa, não viu uma pedra, ou uma serpente do mar. E acabou afundando, simples assim.

Rin abriu o mapa cuidadosamente, apoiando-o em um caixote que aparentemente havia sido largado na rua. Passou as pontas dos dedos no mar ao redor da ilha, até tocar em um barquinho partido ao meio, não muito longe dela.

– Bem, não importa como ele afundou – constatou – Só o que importa é quem nos levará até lá. E eu até já sei quem pode ajudar!

– Quem? – Meiko arqueou uma sobrancelha, enquanto Len apenas continuou a encarando.

– Big Al Destruidor de Navios! – ela abriu os braços, feliz – Ele disse que, se algum dia eu tivesse um problema, poderia chamá-lo!

Dessa vez, era Len que iria perguntar alguma coisa, mas uma jovem de cabelos esverdeados, acompanhada de um homem de cabelos azulados, falou antes que ele.

– Desculpe atrapalhar sua conversa, amigos. – disse baixinho –, mas nós nos sentimos na obrigação de alertá-los. Estão vendo aqueles homens? – ela apontou para um trio mal encarado, apoiado na parede suja – Eles são conhecidos por roubar as coisas dos turistas e dos marinheiros. Vocês não deveriam estar aqui. É melhor irem para a área dos portos ou hotéis.

– Se não souberem como chegar lá – continuou o de cabelos azuis – nós estaremos mais que felizes em ajudar.

Tanto Meiko quanto Len olharam para Rin, que era a melhor do trio quando se tratava de habilidades sociais.

– Bem, nem sabemos se vamos passar a noite aqui, mas – respondeu, olhando de relance para os ladrões apoiados na parede – se é mais seguro perto dos hotéis...

– Vamos indo, então! – a jovem de cabelos verdes deu um pulinho de alegria – Ah, meu nome é Miku, a Bela, e esse é meu irmão, Kaito, o Grande.

Kaito fingiu tirar um chapéu imaginário, com um sorriso perfeito no rosto. Miku usava um vestido esverdeado e sandálhas, enquanto ele vestia calças surradas e uma blusa branca com alguns buraquinhos, tinha um cachecol enrolado no pescoço, também calçava chinelas.

– Vocês tem sobrenomes de nobres – observou Rin.

– Não somos de nenhuma família abastada – explicou Kaito – Mas quem sabe nossos antepassados não foram reis e rainhas?

– E por que os dois nobres estão nós ajudando? – Meiko desconfiou, braços cruzados.

– Bem... – Kaito coçou o pescoço – Nós temos uma padaria. Com o melhor pão de alho do mundo, sem querer me gabar. Mas os negócios vão mal e...

– ...Vocês querem que demos uma passada lá, qualquer hora – completou.

– Sim – confirmou Miku, entregando um papelzinho que estava segurando até agora para Rin. Era um cartão indicando o nome e o endereço da loja.

O resto do caminho consistiu em Rin conversando com Miku, que nunca havia saído da ilha, e fazia várias perguntas para a viajante veterana, e Kaito procurando iniciar uma conversação com Len.

– E então, companheiro – disse Kaito, olhando para seu o rosto cortado e mal tratado –, fez a barba com um machado? – recebeu somente um rosnado em resposta.

Os hotéis eram feitos com tijolos (ainda assim não eram lá muito bonitos), e os restaurantes eram barracas servindo carne de carneiro apimentada e, claro, frutos do mar.

– Até a proxima! – disse Miku, dando um abraço de urso em Rin. Como ela conseguia ser tão forte?

Kaito apenas acenou com a mão, com um sorriso no rosto, e os dois foram se distânciando, misturando-se com os outros cidadãos.

– Gente meio esquisita – disse Rin, quando teve certeza de que não poderia ser ouvida –, mas de bom coração.

– É – concordou Meiko, vagamente – Vamos comer alguma coisa.

As duas foram até Len, que já estava sentado em uma mesa na barraca de frutos do mar. Comeram bolinhos de siri (especialidade do lugar) e camarão com aneis de cebola. Podia não ser a cidade mais bela de todas, mas a comida era farta e boa, e as pessoas, simpáticas.

– Então – começou a menina, quando terminaram de comer – vamos procurar o tesour... – vasculhou o bolso onde o não livro deveria estar. Deveria.

– O que foi? – a morena percebeu o desespero no rosto de Rin.

Ela não respondeu, continuou procurando, mãos geladas. Onde estava?

– Onde está?!

– Você o perdeu?! – Meiko se levantou.

– Juro que estava aqui! – se defendeu, a voz fina. Percebeu que não fora apenas o não livro que havia sumido, outras coisas também.

– Talvez você tenha sido roubada – Len opinou, fazendo as duas colocarem as mãos na boca.

– Pelos deuses... – disse a morena, simplismente.

– Aqueles dois... – Rin tirou do bolso o papelzinho. Quem sabe... – Len! Cheire isto!

Ele fez o que lhe foi pedido, já imaginando o que teria que fazer em seguida. Cheirou o ar em volta até achar a trilha. Meiko e Rin o seguiam onde quer que fosse. Até que o cheiro da esverdeada ficou muito mais forte e ele começou a correr. Acompanhá-lo não era nada fácil.

A única razão para ele não correr ainda mais rápido era que as pessoas insistiam em bloquear sua passagem. O cheiro adocicado de Miku ficava cada vez mais intenso, até que Len chegou à um mini prédio, feito de três casas construídas uma em cima da outra.

O odor vinha da última, e ele esperou que Rin e Meiko se aproximassem dele.

– Lá em cima.

Meiko assentiu e subiu a escada enferrujada na frente. Ela era a melhor em ameaças, mesmo. Len apontou para uma porta de madeira mal feita e desigual. A morena enconstou o ouvido na madeira, mas não havia ninguém conversando lá dentro. Ótimo, indicava que eram a maioria.

Sem mais nem menos, arrombou a porta com um chute, fazendo Miku quase ir parar no teto de tão assustada. Antes que pudesse gritar, sua boca foi tapada.

A “casa” não passava de um cubículo com dois colchões no chão, uma mesa, um fogão velho e um pequeno banheiro. A tinta das paredes e do teto estavam descascando e um fio cheio de roupas penduradas atravessava o lugar.

– Se você gritar, está morta, ok? – Meiko ameaçou, sacando uma das espadas em chamas.

Miku concordou com a cabeça, sentindo os olhos arderem, se pelo o fogo ou pelas lágrimas, ela não sabia. Foi jogada em uma das cadeiras de madeira.

– Vocês nos roubaram, não é mesmo? – dessa vez foi Rin quem perguntou, só para receber um olhar raivoso – Não é mesmo?!

Meiko, irritada com a teimosia da garota, aproximou a espada do rosto dela.

Escute aqui, seu rato, eu poderia muito bem te jogar na cadeia! – rosnou – mas eu não sou tão boazinha assim! Se você não cooperar eu vou marcar seu rosto com fogo, para que a queimadura não saia nunca mais e você fique parecendo uma vaca pelo resto da vida! Entendido!?

Bem, agora Miku sabia que os olhos estavam ardendo por conta das lágrimas.

– Vocês roubaram um livro, não? – Rin recebeu um balançar positivo de cabeça – E, pelo os deuses e pelo palácio, onde ele esta!?

– Está com o Kaito – Miku tentava esconder o rosto – Ele foi para o mercado, para ver se alguém trocaria algo pelas suas coisas.

– Você vai nos levar até ele! – isso não foi uma pergunta – Len, carregue-a!

– O que... – o rapaz a colocou no ombro como se fosse um saco de batatas – Me solte! Eu posso andar sozinha!

– Nem pensar – explicou Meiko – você fugiria!

Miku bufou, apesar de estar com vontade de chorar. Como a acharam? O que fariam com ela e Kaito? Será que iriam mandá-los para a cadeia? Será que iriam matá-los!?

Maldição, escolheram as pessoas erradas para roubar.


. . .




– Sabe, você é um cara bastante forte – a esverdeada havia parado de se debater há muito tempo. Não havia como superar a força de Len – Seria um ótimo arrombador de cofres. Podia se juntar a mim e a Kaito, o que acha? Elas nem parecem te dar valor, mesmo!

Len deu um solavanco de propósito, assustando o saco de batatas.

– Não é verdade – garantiu – Rin me dá comida. E está me ensinando a ler!

Ela bufou pela centésima vez no mesmo dia. As pessoas pelas quais passavam lançavam olhares confusos para o grupo, mas nenhum deles tentava ajudar a ladra; achavam que era algum tipo de brincadeira.

– E então, saco de batatas – falou Meiko –, o mercado é aqui?

Miku olhou ao redor. Vários panos estendidos no chão tão próximos um do outro que era difícil achar um lugar para pisar, com todo tipo de coisa jogada neles, com cidadãos tentando lançar um preço mais barato que do vizinho.

– Sim... – suspirou.

Por sorte, não foi difícil avistar o pontinho azul no meio de tantas lojinhas.

Você! – exclamou Rin.

Kaito gelou ao ouvir a conhecida voz. Maldição, descobriram.

– Escute, se você quiser que a cabeça da sua irmã continue colada ao corpo, é melhor devolver nossas coisas! – Meiko era, sem dúvida, a melhor em ameaças.

O azulado engasgou quando avistou Miku com uma espada encostada na garganta.

– C-como eu vou saber que você não vai matá-la de qualquer jeito!? – por mais que quisesse, não conseguiu controlar a gagueira.

– Quer arriscar? – Meiko pressionou a espada com um pouquinho mais de força, imitando a ameaça do encapado.

Kaito xingou e jogou o saco com as coisas roubadas para a menina do laço. Lá se ia o jantar...

Miku foi solta, e correu para abraçar o irmão.

– E o que nós vamos fazer com eles? – Rin perguntou para Meiko, percebendo que havia também coisas de outras pessoas no saco.

– Como assim? – indagou o azulado – Nós já devolvemos suas coisas!

– E daí? – a morena pôs a espada de volta na bainha – Não muda o fato de que nos roubaram. São ladrões. E nem adianta correr, Len é muito mais veloz.

– Podemos usá-los como distração para os monstros marinhos – Len abriu um pacotinho de doces de banana que não havia comido no barco, devido ao enjoo.

– Rin, que tipos de livros você está lendo com ele? – Meiko riu – Mas, sim, é uma boa ideia.

Decidiram que era melhor se dirigir ao porto logo. Já era de tarde e a noite chegaria em um piscar de olhos, e havia uns albergues por lá. Levaram o homem e o saco de batatas com eles (sim, a ideia de Len estava realmente sendo considerada).

– Consegui! – Rin saiu de uma loja de vodu, com um papelzinho dourado na mão. Com ele, ela poderia chamar Big Al – Imagine quanta sorte teremos se ele estiver por perto! Não vai demorar nada para ele chegar! – escreveu o nome do pirata no papel dourado com um toquinho de lápis. As letras escritas começaram a queimar, consumindo o bilhetinho em poucos segundos.

– Só isso? – perguntou Len.

– Só isso – Rin limpou as cinzas das mãos, com um sorriso no rosto.

Àquela altura, Miku e Kaito já estavam com os pulsos presos por uma corda, sendo vigiados por Meiko.

– Pelos deuses – implorou Miku – Se vão nos arrastar para algum tipo de viagem suícida, pelo o menos nos deem mais detalhes!

– Muito bem – cedeu Meiko – Queremos chegar até o navio “A Vingança de Anne”, para pegar o que quer que esteja dentro dele.

– Pelo palácio! – Kaito engasgou – Aquele barco está rodeado de monstros! Ninguém nunca nem conseguiu se aproximar dele!

– Então seremos os primeiros – Rin decidiu, sentando-se ao lado de Len, que folheava um dos livrinhos de criança, pronto para mais uma aula.

Os irmãos se entreolharam, desesperados.

Estavam mesmo sendo arrastados para uma viagem suícida.


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Notas finais do capítulo

A Miku e o Kaito não vão ser tão malvados assim para sempre.