POV Christopher

Nos afastamos um pouco e não pude deixar reparar que durante todo o "trajeto" ela me lançava olhares e uma vez ou outra pareceu querer falar alguma coisa, mas seja lá o que era, optou por não dizer. Chegamos ao fim do corredor e eu não sabia como começar a conversa.

– Angela, eu queria... O motivo de querer conver... - Droga, de onde veio aquela gagueira? Era só o que faltava, me passar por retardado na frente dela.

– Fala logo Cristhian. - Falou Angela me lançando um olhar indiferente.

–Ééé... Christopher. - Corrigi.

– Tanto faz, estou com sono! É melhor começar a falar logo enquanto ainda tem a minha atenção. - Falou em um tom meio irritado. Não posso culpá-la, já eram 3:15 da madrugada, eu a levei para um canto que não possuía luz de emergência e para fechar, eu ainda estava gaguejando igual a um retardado.

– Angela, eu só queria pedir desculpa pela forma a qual venho tratando você. Nós começamos com o pé esquerdo, ou melhor, começamos do avesso e desculpa também por achar que você tinha roubado minhas ideias e...

– Você achou mesmo que eu me rebaixaria ao ponto de roubar as ideias de alguém?

– Não me entenda mal, eu cheguei atrasado, você tinha terminado a apresentação sem mim, depois todos foram embora e... Foi mal eu estava realmente irritado e... Quer saber? Não importa, já passou. Podemos recomeçar?

– Sério que você pensa que eu vou esquecer assim...

– MEU DEUS ANGELA! Você não sabe o quanto esta sendo difícil para eu engolir o que restou do meu orgulho para te pedir desculpas e você ainda quer dificultar ainda mais o meu lado? Caramba!

– Não pense que as coisas ficaram mais fáceis daqui para frente. Escolhi você para esse cargo, pois preciso de alguém habilidoso, e criativo e que saiba lidar bem sob pressão para continuar o trabalho que a pessoa antes de você começou.

– A pessoa antes de mim era você.

– É claro. E como os projetos são brilhantes, precisava de alguém disposto a mergulhar de cabeça neles para dar continuidade. - Falou com um olhar confiante. Incrível como ela era humilde.

Não sabia bem como lidar com aqueles elogios, se é que posso chamar assim, mas estava cada vez mais confuso, primeiro ela havia sido grossa, depois me infernizou a semana inteira e do nada ela se transforma numa pessoa sexy e... ÓH CÉUS, ainda tinha que falar com ela a respeito do beijo. Era muita informação em 30 segundos.

– Então... Não sei o que dizer e...

–Você pode, por favor, desembuchar logo estou esgotada e ainda por cima com dor de cabeça.

– Foi mal. Bem... Era só isso, queria tornar o ambiente de trabalho mais agradável. - Falei desistindo de contar a ela sobre o beijo. Não quero estar por perto quando ela descobrir.

No curto caminho de volta, percebo a tensão em Angela, já estava ficando louco.

– Céus porque você está tão tensa?

– Não estou tensa, estou cansada e quero ir para casa. - Falou sem me mexer a cabeça para me olhar.

–Ok então. - Ela não estava falando a verdade, mas achei melhor deixar para lá, finalmente estávamos nos "dando bem", se é que posso chamar assim.

Voltamos para o lugar onde estávamos e encontramos Tony deitado de olhos fechados no colo da Nathalie que mexia no celular despreocupadamente.

–Cara, sai daí! Mostre um pouco de respeito. - Falei me dirigindo ao Tony.

– Desista, não vai conseguir acorda-lo. Ele devia estar muito bêbado, enquanto conversávamos conversando ele fechou os olhos e quando percebi já tinha caído no meu colo dormido. - Disse Nathalie.

Sentamos-nos ao lado deles e logo cada um arrumou alguma coisa para fazer. Mexer no celular e jogar algum jogo (já que estávamos todos sem sinal). No final das contas acabamos os quatro pegando no sono.

(...)

Acordei com uma dor de cabeça dos infernos e uma luz incrivelmente forte me impedindo de abrir os olhos. Quando me dei conta, o local já estava devidamente iluminado e as luzes de emergência estavam apagadas. Olhei para a direita e Tony dormia com a cabeça no colo de Nathalie. Olhei para a esquerda e vi uma cascata de cabelos ruivos caindo pelos meus ombros. Angela havia cochilado agarrada no meu braço... Pera! A ANGELA TINHA COCHILADO AGARRADA NO MEU BRAÇO. Como isso foi acontecer? Ela deve ter dormido e nem percebeu quem era o dono do braço.

– Senhoras e Senhores, o zelador chegou e conseguiu consertar o gerador e dentro de alguns minutos poderemos todos sair.

Coloquei minha mão livre em seu ombro e a chacoalhei de leve.

– Angela... Acorde! Já vamos poder sair. – Dava até pena acordá-la, dormindo parecia até um anjo, acordada era outra história...

– O que?

– Levante, o segurança falou que o zelador já vai abrir a porta. – De repente ela se deu conta de onde estava e como estava. Levantou-se num pulo e se recompôs, arrumando o vestido e os cabelos.

Nathalie e Anthony acordaram, devido à claridade, nos levantamos e andamos até a porta. Quando ela finalmente abriu, os manobristas começaram a trazer os carros. Eu e Anthony ficamos na fila esperando o carro dele chegar, Anthony estava tão bêbado que eu tinha que ampará-lo para que não se espatifasse no chão. Éramos os próximos na fila quando Angela timidamente veio andando na nossa direção.

– Err... Anthony será que poderia me dar uma carona? O Nathalie foi de carona com o Matthew e o carro dele já está cheio. – Anthony nada disse, apenas levantou a cabeça por uns instantes só para depois deixá-la cair novamente. Virei para ela, que provavelmente estava com vergonha de se dirigir a mim depois do que ocorreu mais cedo.

– Claro Angela, eu dou uma carona até em casa... Pera, em casa? Já são... Ah meu Deus 7h!

– JÁ? Então anda logo, vamos nos atrasar!

Eu queria chorar, estava meio tonto, com dor de cabeça, com fome, usando as roupas de ontem, morrendo de sono e ainda teria que ir trabalhar. Entrei no carro, coloquei as mãos no volante e fiquei encarando a saída por alguns minutos até ouvir a voz de Angela.

– Christopher, que cara é essa? O que foi?

–Nada.

– Você esta bem?

– Não.

– Quer que eu dirija?

– Quero. – Eu estava tão melancólico que se eu falasse muito acho que seria capaz de chorar.

Sai do carro e troquei de lugar com a Angela. Sentei, coloquei o sinto e tentei não dormir. Ela dirigia com pressa, mas pelo menos não era imprudente igual ao Anthony... Pera, eu realmente disse isso da mulher que bateu no meu carro há algumas semanas atrás?

Angela fazia as curvas com tanta pressa que o Anthony era jogado de um lado para o outro no banco de trás, se eu não estivesse com tanto sono, estaria assustado. Nessa vida podiam me privar de qualquer coisa... Menos do meu sono. Eu ficava realmente puto e mau humorado quando não dormia.

Chegamos ao estacionamento e começamos a procurar uma vaga, bem, Angela procurava por uma vaga porque eu estava vendo tudo trocado. Saímos do carro, fomos em direção ao elevador e enquanto esperávamos Nathalie, Matthew e mais algumas pessoas chegaram. Olhamos uns para os outros e caímos na gargalhada com exceção do Matthew. Nossa situação era tão trágica, que chegava a ser cômica. Todos com roupas de gala, cabelo bagunçado e cara de ontem; as mulheres com a maquiagem meio borrada e algumas estavam sem sapatos.

Quando o elevador chegou cada um foi se dirigindo ao seu andar e quando Angela, Nathalie e eu chegamos à recepção do nosso andar, Ethan Mclistter estava parado em frente ao balcão olhando alguns papeis e conversando com Zoe.

– Nathalie! Graças a Deus, onde você estava? Não consegui falar com você ontem e... Por que esta todo mundo vestido assim? Pelo visto a festa deve ter sido boa hein!

–Ethan, não é nada disso...

Ficamos todos na recepção explicando o que tinha acontecido naquela noite desastrosa, menos Matthew que passou direto por nós e entrou em sua sala. Eu estava torcendo para Ethan nos mandar para casa, mas com o Matthew veio trabalhar, é claro que isso não aconteceu.

Depois das não tão breves explicações, cada um foi para sua sala.

– Christopher, preciso disso pronto até o fim do dia. Já estamos super atrasa... Christopher?

Acordei com um barulho alto de pancada, mas o sono era tanto que nem me liguei da onde vinha aquilo até abrir os olhos e dar de cara com uma pilha de papel na minha mesa e a Angela me olhando com cara de poucos amigos.

– Eu sei que você está cansado, afinal todos estão, mas se eu te pegar dormindo ao invés de terminando de atualizar os projetos que já estão atrasados, teremos sérios problemas.

A essa altura já tinha desistido de tentar explicar ou fazer qualquer comentário que seja maior que uma frase. Ela sempre saia enquanto eu estava falando.

– Desculpe, não irá acontecer de novo. - Foi o tempo exato de terminar de falar e Angela já estava na porta.

– Vai por mim, também estou exausta... Ainda tenho que ir no departamento financeiro e saber com o Anthony qual é o limite de capital da próxima campanha.

– Achei que já estivesse tudo acertado.

– Pois é, eu também... Tentei falar com o Anthony mais cedo, mas ele não me atendeu. - Aposto que ele estava dormindo

– Eu também não o vi o dia inteiro...

–AI MEU DEUS! O CARRO. - Falamos ao mesmo tempo.

Não acredito que eu esqueci Anthony no banco de trás do carro, eu e Angela saímos em disparada pelos corredores, só para chegarmos no elevador e depois voltarmos tudo de novo.

– Não acredito que você esqueceu a chave!

–Espera um minuto... Não lembro aonde eu coloquei!

– Só me faltava essa... Eu te entreguei dentro do elevador quando chegamos, veja no bolso do paletó.

Peguei meu paletó e como Angela disse, a chave estava lá. Voltamos a correr pelos corredores, Tive que segura-la umas duas vezes por causa de seus saltos, a pele dela era macia do jeito que eu me lembrava... FOCO CHRISTOPHER, FOCO.

Pegamos o elevador e nós dois estávamos inquietos, coitado do Tony, ele deve estar lá a umas 4 horas... Assim que chegamos ao estacionamento eu e Angela nos encaramos.

– Você lembra aonde eu estacionei o carro?

– Angela meu amor... ESTOU COM CARA DE QUEM LEMBRA DE ALGUMA COISA? - Falei com a minha melhor cara de ironia.

– Para de brincar Christopher!

Demos algumas voltas chamando por ele até que ouvimos gritos desesperados do outro lado do estacionamento. Corremos até o lugar e encontramos o carro com um Anthony desesperado, sentado no banco de trás e chorando copiosamente.

Abri a porta do carro e ele pulou para fora abraçando a mim e Angela que por não estarmos contando, acabamos caindo no chão.

– Pronto, pronto... Passou Anthony, já passou!

– Eu achei que fosse morrer! - Falou chorando e murmurando coisas desconexas. Depois secou as lagrimas na manga da camisa.

– Ah meu Deus Anthony! Me desculpa, estávamos com tanta pressa que esquecemos que você estava no carro! - Angela falou afagando as costas do coitado sem se importar em ter caído

. - Agora que está tudo bem, vamos voltar ao trabalho... Não se esqueça Christopher, quero aqueles projetos para hoje! – Falou se levantando e indo embora.

Virei para Anthony e dessa vez quem chorou fui eu.

– Calma cara, eu sei, eu sei!

– Ela é muito má! Eu não aguento mais - Anthony me apoiou e depois que eu parei de chorar, voltamos para nossas salas.

Depois do episódio deplorável de hoje cedo, estava no limite da sanidade mental quando o telefone tocou, olhei o visor e era o Anthony.

– Nunca fiquei tão feliz por você me ligar!

– Qual foi cara, não curto sua fruta não.

– Deixa de ser idiota, eu estava morrendo de tédio com tanto trabalho, você ligou na hora certa.

– Tu é mesmo estranho hein, agora to com medo de te chamar para almoçar e você achar que é um encontro.

Porque raios eu fiquei aliviado com esse louco?

– Não to com paciência para isso Anthony. Estou até o pescoço de coisas para fazer, estou com sono, de ressaca e como se não fosse o suficiente, a Angela me pegou dormindo no meio do expediente.

– Você precisa relaxar, que tal almoçarmos hoje em um lugar diferente? E já que você falou em ressaca, me fala sobre ontem à noite. Notei que você desapareceu depois que eu fui falar com a Nathalie...

– É... Sobre isso, quando eu te contar você não vai acreditar!

Comecei a explicar-lhe todo o ocorrido... Falei do champanhe; da mulher misteriosa; (nem tão misteriosa assim); do tango; do beijo e deixei de fora apenas a sua identidade.

– Cara, parece que você se deu bem! Mas e ai... Já sabe quem ela é?

– O pior vem agora cara... É a Angela!

– Não, é sério! Quem é? – No fundo, no fundo... Eu entendo a reação dele. Se não tivesse sido eu a beijá-la, também não iria acreditar nessa história toda.

– Seu animal! To falando sério! Não tem graça nenhuma.

–Espera ai!!! Você está falando sério? VOCÊ. BEIJOU. A. ANGIE? – E com essa frase de efeito, Anthony explodiu em uma gargalhada que podia ser ouvida a um quilometro de distancia.

Fala sério, ele iria me zoar eternamente depois dessa.

– Você tem que jurar que não vai contar para ninguém sobre a Angela.

Incrivelmente Nathalie entra na sala justamente quando eu disse o nome da Angela. Esse povo não sabe bater? Nem preciso dizer que eu desliguei o telefone com tudo né?

– O que tem a Angela? - Perguntou me olhando desconfiada

– Nada... Porque?

– Porque você falou o nome dela quando eu entrei e você desligou o telefone tão rápido e com tanta força que não sei como ele ainda esta inteiro.

– Eu tava conversando com um amigo ai eu falei que tinha uma porrada de coisa para fazer graças a ela. - O que não era totalmente mentira.

– Hum...

– Então, do que você precisa?

– Você já terminou alguma coisa? Estamos atrasados com o prazo.

– Desculpa, mas é loucura. A Angela me entregou ainda pouco. Só fiz um terço eu acho.

– Um terço e mais do que eu tenho agora. - Falou me apressando.

– Ok, mas eu não revisei.

– Eu reviso. Conforme for acabando, me manda.

– Pensei que tinha que mandar para Angela. - Perguntei confuso.

– Ela esta atolada então eu estou ajudando-a. - Falou enquanto se virava para ir embora.

Adiantei o máximo que consegui até próximo da hora do almoço e mandei logo para Nathalie já revisado. Assim que deu a hora, peguei minhas coisas e fui quase correndo encontrar o Anthony na recepção. Ao chegar, notei que ele conversava com a Nathalie e quando me viu, arregalou os olhos e deu um pulo.

–MEU DEUS, CHRISTOPHER! Esqueci completamente de você! - Falou colocando as mãos na cabeça.

– Poxa, valeu pela consideração, você é um grande amigo hein. Como se esquece do almoço?

– Não me esqueci do almoço, esqueci que tinha te chamado. Ai eu combinei com a Nat...

– Relaxa cara, não quero atrapalhar seu namoro. - Assim que falei me arrependi. Anthony me deu um tapa/soco no braço que doeu mais do que gostaria de admitir.

–Nós somos colegas de trabalho que vão almoçar juntos, para de ver coisa onde não tem. - Disse Anthony que em um movimento rápido e discreto piscou para Nathalie que se limitou a revirar os olhos.

– Desculpa minha confusão, costumo ficar meio lento quando não durmo. Enfim, vocês podem ir almoçar.

– Não seja bobo Christopher, não vou deixar você almoçar sozinho nem trabalhar na hora do almoço. - Falou Nathalie querendo parecer amigável. Não que ela não fosse muito pelo contrário, era uma das pessoas mais gentis que eu conheci.

Não discuti, estava morrendo de fome e sono sem falar que detestava comer sozinho, o que nos últimos dias era bastante frequente. Com a quantidade de trabalho que tinha, eu almoçava quase sempre na minha sala, de frente para o computador.

Ficamos em silêncio durante todo o trajeto, mas pude perceber a troca de olhares entre os dois. Quando finalmente chegamos, descemos do carro, notei nossos reflexos no carro ao lado e não pude deixar de imaginar a cara das pessoas quando três pessoas entrarem num restaurante árabe com roupas de gala.

Definitivamente eu não estava errado. Todos pararam e ficaram nos encarando, mas como estávamos extremamente cansados nem demos bola. Nathalie deu um sorriso sem graça e se dirigiu ao metre.

– Mesa para três, por favor.

O metre nos encarou durante alguns segundos e depois nos levou até a mesa. Provavelmente ele ficaria um bom tempo tentando entender o motivo de estarmos vestidos daquela forma.

Enquanto esperávamos o almoço, ficamos conversando até que para a minha infelicidade, Nathalie me vem com essa:

– Então Christopher, quando vai contar para Angela que foi você que ela beijou ontem na festa?