POV Christopher

A semana estava sendo uma droga, sem a Angela as coisas estavam uma loucura. Era reunião de um lado, autorização do outro e as aprovações precisavam de duas assinaturas. Quando isso acontecia, eu separava, Nathalie levava para Angela e trazia na manhã seguinte.
De tanto separar, empilhar e autorizar, meu cérebro já estava no piloto automático e ainda assim aquilo levaria horas para terminar.

– Fala ae Chris! - Anthony entrou na sala me dando um susto tão grande que quase me faz cair da cadeira.

– Cara, já falei para você não entrar assim de fininho quando estou trabalhando! Que droga!

– Ih já vi que acordou do lado errado da cama. - Falou enquanto se jogava no sofá.

– Se for assim eu devo ter acordado do lado errado da vida. Você já viu quanta coisa eu tenho que resolver? Estou mega enrolado, não posso perder tempo. No almoço a gente conversa. - Falei tentando voltar ao trabalho.

– Chris, já passou da hora do almoço! Você falou que iria nos encontrar no restaurante mas não apareceu. Você não atendia o celular então vim ver se você estava vivo... Acho que esse trabalho está te deixando meio pancado das ideias.

– Como assim? Eu perdi o almoço? Mas só se passaram alguns min... São 3 horas da tarde? Mas já? Não vai dar tempo, de fazer tudo! - Falei ignorando Anthony.

– Bem... Trouxe seu almoço, me avisa quando você voltar a ser o Chris que eu conheço. - Falou colocando a quentinha em cima da mesinha de centro e indo embora.

Ótimo, agora além de estar atolado em trabalho, estava ignorando meu melhor amigo. Eu não o via a dias e alem de dar um bolo nele no restaurante, ainda o ignorei quando ele trouxe meu almoço.

Voltei para a minha mesa e para os papeis que me aguardavam... Eu mesmo teria que leva- los para Angela, escanear e depois enviar por e- mail para o Ethan. Se isso não estivesse nas mãos dele ate as 8:00 de amanhã, ele ira comer o figado de alguém.

Passei mais umas duas horas depois do meu horário até que achei melhor ir logo até a casa de Angela. Era impossível resolver aquilo tudo sozinho, não dava mais para adiar, teria que pedir a ajuda dela.

(...)

E aqui estou eu, parado, dentro do carro, em frente ao condomínio dela, com duas caixas cheias de papeis no banco de trás, as 9 horas da noite de uma sexta feira.

Quando estava prestes a tocar a campainha, meu estomago estava gritando não sabia se era de nervoso ou de fome.

– Christopher, finalmente! Já estava me perguntando se você tinha se perdido. - Falou Angela aparecendo de repente ao meu lado me fazendo pular e derrubar as caixas no chão.

– MEU DEUS! Quer me matar do coração? - Falei enquanto me abaixava e recolhia os papeis. Pude ver pela minha visão periférica que ela tentava segurar o riso.

– Levando susto atoa Christopher? Tava fazendo coisa errada? - Falou dando aquele risinho que não sei porque me irritava profundamente.

– Coisa errada? Estarei morto se não entregar para Ethan o projeto até as 8:00 amanhã. A unica coisa errada que estou fazendo é não estar lendo e assinando essa papelada toda.- Falei mostrando meu melhor sorriso irônico. Ela sorriu e fez sinal para que eu entrasse.

– Pode colocar as caixas na mesinha de centro. Sabia que mais cedo ou mais tarde você viria aqui pedir a minha ajuda. - Disse enquanto se dirigia a algum lugar. Nem discuti, também sabia que mais cedo ou mais tarde iria pedir a ajuda dela.

A sala dela era praticamente do tamanho do meu apartamento inteiro. Parei olhar alguns porta retratos, a maioria era dela com a família. Sei por que ela tem um assim na mesa do trabalho, ela, o pai, a mãe e os avós. Só de olhar dava para perceber que era uma garota de família. Apenas um dos retratos não era com a família, era dela com Nathalie. Duas garotinhas de vestidos brancos todas sujas de tintas multicoloridas sentadas em um chão igualmente sujo. Meus pensamentos foram interrompidos por um barulho de vidro caindo no chão.

– AI MEU DEUS DO CÉU, SOCORRO! CHRIS!!!!!

– Angela? O que aconteceu onde você esta? - Larguei a foto e corri na direção de sua voz.

– Na cozinha... Ah meu Deus, corre!!!

– Ta tudo bem? O que aconteceu? Se machucou?

– Ali! MATA PELO AMOR DE DEUS! - Falou apontando para uma barata na parede da cozinha, eu mereço!! Esse drama todo por causa de uma barata que nem era tão grande assim!

– Sério que você quase me matou do coração por uma baratinha de nada? Eu crente que você tinha caído e se machucado - Falei meio revoltado pelo susto. Já é a segunda vez que ela me assusta assim

– Baratinha de nada? Ela é enorme!

Quando me aproximei para matar a barata, ela abriu as asas e voou na minha direção. Nenhum dos sustos que a Angela me deu supera esse.

– PUTA QUE PARIU! - Me abaixei antes que ela encostasse em mim. Cara, juro! Não tenho nada contra baratas, mas voar já é sacanagem.

– AH, SAI DE MIM, MEU DEUS EU VOU MORRER! - Angela gritou e saiu correndo em direção a sala. Fui logo atrás dela e ficamos parados na porta da cozinha. Nunca vi uma pessoa se mover tão rápido de muletas.

– Vai la e mata ela Christopher, ou eu... vou te demitir!

– Há há... você não pode me demitir! somos CO- DIRETORES, isso significa que você é igual a mim. E por que eu tenho que ir matar? O apartamento é seu, o que você faria se eu não estivesse aqui?
– Eu iria pra casa da Nathalie e ela mandaria o Ethan matar. Mas, quem diria, Christopher Morrinson com medo de uma barata.

– Não estou com medo! Quem disse que estou com medo? - Falei olhando para ela indignado. Eu, com medo, de uma barata? NUNCA. Ela só.... Me surpreendeu.

– Quem disse que você esta com medo? Seu grito de mulherzinha quando ela começou a voar ou talvez, o fato de você ter corrido mais do que o Usain Bolt para fora da cozinha. - Ela estava errada, mas não tinha tempo para discutir, a barata voou do esconderijo e foi para de baixo do fogão.

Depois de ter encontrado, matado, limpado o vidro do chão e garantido a Angela que não havia mais nenhuma barata, voltamos nossa atenção para o trabalho que ainda tínhamos que fazer. Após um tempo, parei de olhar para os papeis. Minha cabeça estava girando. Angela olhou para mim e sorriu.

– Já cansou? Mas não faz nem uma hora que estamos aqui.

– Você também estaria cansada se passasse o dia inteiro olhando para uma pilha de papeis que não diminui nunca e ainda por cima de estomago vazio.

– Nossa Chris, desculpa! Aquela barata me fez esquecer completamente! Já volto. - Falou enquanto se dirigia para a cozinha com suas muletas.

Não entendi nada, mas estava muito cansado para perguntar. Ouvi alguns barulhos e após alguns minutos um cheiro delicioso invadiu a sala.

– Vem Chris! - Angela disse da cozinha.

Fiquei completamente chocado ao chegar la e encontrar dois pratos de macarrão com molho branco.

– Não fique ai parado. Me ajude a levar para a mesa. - Falou enquanto andava desajeitadamente até a bancada.

– Nossa...

– O que foi?

– Nada... Não sabia que você sabia cozinhar. Algumas horas atras você parecia uma profissional quando fugiu daquela barata e agora esta toda desajeitada, pedindo ajuda para levar dois pratos - Falei rindo e levando os pratos para a sala, quando estava quase saindo, levei uma esponja molhada nas costas. Cortesia de Angela.

Afastei alguns papeis da mesa de centro, coloquei os pratos ali e voltei para a cozinha para pegar os copos. Sentamos no chão, começamos a comer e meu Deus, essa mulher sabe cozinhar.

– Esta muito bom, muito bom mesmo. Não fazia ideia de que você sabia cozinhar.

– Tem muitas coisas sobre mim que você não sabe.- Falou olhando para mim com um olhar convencido.

– Ah é, mas tem muitas coisas que eu sei.

– É mesmo? Tipo o que? - Ela parou de comer e olhava para mim curiosa, esperando uma resposta.

– Quer mesmo saber minhas teorias? Você pode não gostar.

– Por favor, conte- me. Estou curiosa.

– Sei que você cozinha muito bem, pelo menos macarrão. Sei que morre de medo de baratas. Sei que você e Nathalie são amigas de infância e que você a tem como uma irmã, se não, não teria posto um retrato de vocês duas junto com os retratos de sua família, que a proposito, você não vê a um bom tempo. - Ela olhou para mim com um olhar interrogativo, provavelmente se perguntando como eu sabia de tudo aquilo. - Nas fotos com a sua família no seu aparador e no porta retrato que esta na sua mesa, você era criança ou uma adolescente. Devia ter pelo menos uns 18 anos na ultima vez que os viu. Depois veio pra New York e se formou na NYU, acertei?

– Impressionante. O que mais? - Resolvi entrar no seu jogo e continuei falando sobre minhas teorias.

– Sei que Provavelmente Nathalie lhe ofereceu o cargo de diretora criativa assim que você saiu da faculdade mas, orgulhosa do jeito que é, você não aceitou e preferiu começar de baixo. Por enquanto é só.

– Muito bom, parabéns. Acertou quase tudo, menos uma coisa. Eu vou para casa todo ano nas festas de fim de ano. As fotos estão velhas por que aquela foi a casa que eu cresci e passei boa parte da minha vida, infelizmente ela pegou fogo algumas semanas depois que eu fui para a faculdade. Amava tudo naquela casa, inclusive a mancha de tinta no chão do quarto, consequência de quando minha mãe deixou eu e Nathalie sozinhas com o novo quite de pintura que eu ganhei no meu aniversario de 6 anos. - Ri com suas lembranças de Nathalie, difícil imagina- la hoje em dia se sujando de tinta sem dar a minima importância a suas roupas e cabelo.

Continuamos a Conversar durante o jantar que por sinal estava uma delícia e por fim voltamos novamente ao trabalho, ainda faltava muito. E o cansaço já estava batendo afinal, acordar 6:00 tem seu preço.

– Acho que eu deveria ir embora... Você tem que descansar e eu estou te atrapalhando e estressando com trabalho.

– Descansei a semana toda estou bem... Agora se você quiser pode ir, não tem problema.

– Se não tiver atrapalhando eu fico, tem muita coisa ainda a ser feita. - E lá se vai minha esperança de dormir antes das 2:00. Que tipo de homem eu seria se a deixasse sozinha com tanto trabalho a ser feito?

A hora passou voando, já eram 3:30 e eu já estava vendo tudo trocado. Por incrível que pareça, não era uma tortura trabalhar com a Angela, conversamos sobre varias coisas enquanto trabalhávamos e foi bastante agradável mas eu realmente precisava dormir.
Encostei a cabeça no sofá para descansar um pouco a vista...

(...)

POV Angela

Eu realmente não fiquei surpresa quando Chris apareceu na minha porta, eu fiquei surpresa com a quantidade de coisas que tinha para fazer. Estava com saudade de trabalhar, mas não tanto assim. Pelo menos agora já tinha acabado.

– Pronto, acabou! Realmente, Ethan estava certo. É muito trabalho para uma pessoa só... Chris?... Christopher?...

Incrível, ele tinha dormido no sofá! E agora? Deixo ele dormir? Eu sentia pena dele, na sua primeira semana em um cargo novo, ele estava se virando sozinho, sem ajuda ou treinamento. Até que ele estava se saindo bem. Me apoiando nas paredes, (com muita dificuldade) fui até o meu quarto, apanhei um cobertor e um travesseiro. A pior parte foram as escadas, para descer todo santo ajuda agora para subir, foi dureza. Voltei até a sala, tirei seu blazer e seus sapatos (Hum... Mocassim Italiano, nada mal). Anos de prática ajudando meu pai a se deitar no sofá, depois de 50 horas de plantão no hospital, valeram para alguma coisa.

Ajudei Chris a se deitar no sofá da sala, enquanto ele murmurava palavras desconexas durante o sono e depois levei os pratos do nosso jantar até a cozinha. Para uma garota de muletas até que eu estava me virando muito bem mas, graças a Deus eu tiro esse maldito gesso em poucos dias.

Antes de deitar, enviei os emails com todos os projetos devidamente escaneados, assinados e aprovados por mim e pelo Christopher. Chequei mais um vez como ele estava antes de subir para o meu quarto e deixei um bilhete para Marta, minha empregada, para não acorda- lo pela manhã, ele estava realmente péssimo!

(...)

POV Christopher

Acordei me sentindo renovado, me espreguicei lentamente quando me toquei que estava sem sapato, sem e sem blazer. Estranho, não lembro de ter tirado ontem a noite, alias como foi que eu cheguei em casa? MEU DEUS DORMI NA CASA DA ANGELA! Levantei num pulo.

– Bom dia Cinderela ou devo dizer boa tarde? Se estiver com fome tem café na bancada.

– Angela falou atras de mim. Quando me virei a vi sentada numa poltrona mexendo em seu notebook.

– Angela! Meu Deus desculpa, por ter pego no sono e te deixado com... Por que você não me acordou? - Falei tentando não entrar em pânico, naquele ponto já devia estar vermelho igual a um camarão.

– Relaxa Chris, não tem problema. Você estava cansado, tinha acordado cedo e quando você adormeceu, eu fiquei com pena de te acordar.

– Você disse "boa tarde"? - Agora sim estava a beira do pânico. Como se não bastasse dormir na casa dela ainda tinha acordado tarde? Meu Deus, queria sumir agora.

– São 12:35. Se você quiser, a Marta já vai trazer o almoço...

– Desculpa mas acho que não vai dar... Você já fez demais, fez a janta, me deixou dormir. Obrigado mesmo, mas eu preciso ir... - Falei completamente envergonhado e sem jeito.

– Não foi nada, você teve o trabalho de vir aqui, era o mínimo que eu podia fazer. Ah é, não se preocupe que ontem a noite enviei tudo para o Ethan. Vou pedir a Marta para te levar até a porta.

– Mais uma vez obrigado... - Falei dando um riso nervoso, o que a fez rir novamente.

– Até segunda, Christopher.

– Até segunda...

Assim que a Marta fechou a porta, fui o mais rápido possível em direção o elevador e ao chegar no térreo, corri para meu carro. Dei a partida e fui correndo para casa. Estava louco para dormir mais um pouco.