Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 54
Um amor perdido


Notas iniciais do capítulo

Algumas verdades são finalmente aceitas.



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Thomaz caminha a passos largos ao lado de Rebeca. Ela sempre o acaba convencendo a fazer coisas que ele jamais se imaginou fazendo: como se exercitar em uma tarde ensolarada. Thomaz tem consciência de que não ama Rebeca como um dia amou Melina. Mas faz por ela o que jamais se imaginou fazendo por Melina. Nem mesmo por amor. Talvez ele realmente esteja mudando.

— Vem! Chega. Vamos descansar – ela senta-se em um dos bancos vazios e estende as pernas grossas para cima do colo dele. — Beba água, você precisa hidratar. Faz muito calor!

Em um ponto distante dali, enquanto Thomaz bebe água em sua garrafinha, Rebeca avista Melina na companhia de dois garotos. Essa é a oportunidade perfeita para envenenar ainda mais a Thomaz.

— Olha só quem está ali – ela aponta, com discrição. Thomaz cerra os olhos e consegue ver o que ela deseja.

— Melina? – há muito tempo que ele não a vê. — Como sempre, ela está incrivelmente bonita.

Melina está ao lado de Henrique e Nicolas. Eles tiraram à tarde de sol para caminhar um pouco. Nicolas precisava se exercitar, ainda mais depois que a médica autorizou que ele saísse mais de casa, do quarto, de cima da sua cama e fizesse o que tivesse vontade.

— Thom, você precisa entender, uma hora ou outra, que não faz mais parte dessa história. Seu lugar não é entre eles. Você é bonito demais, esperto demais, inteligente demais, homem demais para fazer parte de um quadrado amoroso. Esse não é o seu lugar. Você precisa ser único e exclusivo. Olhe bem para eles, são um triangulo amoroso! E não há espaço para você. Entendeu bem?

A fixa estava finalmente caindo para Thomaz. Há alguns meses atrás ele fazia parte de um quadrado amoroso. E saiu perdendo dessa história. Agora, estava mais que na hora dele compreender que seu lugar não era ali. Rebeca tem razão. Melina é uma jovem confusa, o que é muito normal para a idade dela, ela não sabe ao certo de quem gosta e nem com quem quer estar. Está em dúvida. Isso ele consegue perceber olhando para ela de longe. Thomaz nunca foi um namorado perfeito, mas conhecia bem sua namorada e sabe que ela está perdida entre dois mundos diferentes. Ela não sabe quem escolher. Mas uma hora ou outra ele terá que encolher entre um dos dois.

Thomaz sente pena de Melina. Ela é frágil, sensível, uma jovem adorável e bonita. É fácil se apaixonar por ela. Imagina-se no lugar daqueles dois rapazes. E pensa em qual dos dois ela vai preferir quando chegar o momento certo. Thomaz sabe que um deles vai sair de coração partido, assim como ele. Mas algum tempo depois, ele vai se recuperar, vai se levantar e partir pra outra. Assim como deve ser. Assim como ele está fazendo agora.

Eu preciso liberta-la por completo, ela já está presa demais em uma decisão que irá ter que tomar.

É uma pena que a relação deles não tem ido muito longe. Thomaz sente muito por isso até os dias de hoje. Sabe que não está completamente recuperado. E nem sabe se algum dia estará. Mas quando olha para o lado, consegue enxergar alguém que esteve o tempo todo com a razão. Esse alguém é Rebeca. Ele não a ama verdadeiramente. Mas ela mostra gostar muito dele. E é isso que importa. Chega um momento da vida em que nos damos conta de que no final não vamos estar com a pessoa que passamos a vida procurando e sim com a pessoa que nos procurou a vida toda.

— Talvez essa pessoa seja você, Rebeca.

— O que disse Thom? Eu não entendi.

Ele olhou pra Melina pela ultima vez. Sentiu uma lágrima perdida escorrer por seu rosto misturando-se com o suor. Afinal, não é fácil deixar quem a gente ama. Mas algumas vezes é preciso.

— Eu tomei uma decisão.

~*~

A noite está deslumbrante. As estrelas rodopiam em volta da lua minguante. As ondas do mar são musicas para o ouvido de Verônica. Ela encolhe os braços junto do corpo sentindo a brisa suave agitar seus cabelos soltos e bem arrumados.

Desde que chegou ao litoral, Verônica tem se esforçado de todas as formas possíveis para surpreender o noivo. Aquela noite, em especial, ela o convidou para um passeio na beira da praia. Algo simples, romântico e prazeroso. A última coisa que ela quer na vida é perdê-lo de vez. Jonathan, depois de sua filha, é o único que parece se importar realmente com ela.

— Vai ficar o tempo todo calado? – ela pergunta com a voz suave, olhando para ele. — Nem vai pegar na minha mão?

— Estou esperando que você diga algo – ele não a olha, está sempre a tratando com indiferença.

Verônica respira fundo.

— Chega Jonathan – ela para sua caminhada vira-se de frente para ele e pega suas mãos. — Vamos parar com isso. Você está me torturando! Não que eu te culpe, apenas estou tentando lhe dizer o quanto é ruim se tratada com indiferença logo por você que sempre alegou me amar. A verdade é que, eu também te amo. E tenho medo de te perder. Não me deixe, por favor. Eu preciso de você como nunca precisei de alguém. Para mim, os outros, o que passaram, foram apenas outros. Mas com você, é diferente. Você é diferente. Faz-me me sentir viva, única, especial e jovem outra vez. Quero me casar com você, não só por todas as outras vezes que não deram certo. Mas sim, porque acredito que dessa vez vá ser diferente. Juntos vamos fazer dar certo dessa vez. Eu quero que dê certo! Não imagina o quanto eu quero...

Uma emoção repentina invadiu os olhos de Verônica e sem que ela percebesse já estava chorando feito uma colegial. Jonathan, escutava e observava com atenção e cuidado. Medindo cada palavra.

— Meu Deus, eu nem sei mais o que dizer. São tantas coisas que eu gostaria de dizer, mas que não sei como. Apenas peço que me perdoe. Perdoe-me! Eu nem sempre me comportei bem, eu nem sempre fui à mulher perfeita e nem sempre disse o que você gostaria de ouvir. Mas eu sou assim! Nasci, cresci e me tornei o que sou. Não há como mudar, mas posso tentar melhorar. Por você!

Pega de surpresa, Verônica sentiu seu corpo exprimido de encontro ao corpo forte e esguio de Jonathan. Ele a beijou, tirando-lhe o folego e acariciou sua nuca, beijando a curvatura do seu pescoço.

— Eu esperei muito por esse momento – ele sorriu, colando sua testa na dela. — Estava morrendo aos poucos de saudades de você. Só quero que saiba que não há o que perdoar Verônica. Eu amo você pelo o que é. E não quero que mude. Eu só queria que...

— Não tem mais importância – ela o beijou outra vez. Um beijo repleto de contentamento. — Já passou! Vamos ser feliz?

~*~

— O que foi? O que está acontecendo com você? – Henrique levantou sua cabeça sobre o colo de Melina. — O que houve? Você está diferente! Está mudada. Tem alguma coisa te preocupando?

— Eu não sei ao certo o que é – ela evitou olhar nos olhos dele, disfarçadamente ajeitando o vestido no colo.

— Você deveria estar feliz – ele se aproximou, passando uma mecha do cabelo dela por traz da orelha. — Sua mãe voltou com o noivo; Nicolas está se recuperando e se entendendo com Analu; o bebê de Daniele está cada vez mais próximo; você tirou boas notas nos testes na faculdade... Então, o que te preocupada?

— Eu não sei. Já disse. – ela realmente estava confusa, sentia o corpo pesado. — São tantas coisas e ao mesmo tempo nada. Sinto que essa temporada de felicidade logo vai passar e dias difíceis se aproximam. Eu tenho medo! – ela começou a chorar. — Tenho medo do que o destino reserva para mim. Para nós! Por favor, só me deixe aqui, quietinha com você. Eu preciso de você!

Ela deitou em seu colo, sentindo as mãos dele acarinharem sua cabeça. Henrique beijou o rosto dela, sentindo as lágrimas o molharem.

Ele realmente ficou preocupado com ela.

— Lembre-se: E não me importa, se faça chuva ou sol, eu sempre estarei ao seu lado. Mesmo que você não possa ver. Acompanharei cada passo seu. Exatamente como o sol: em dias nublados você não pode vê-lo, mas sabe que ele está lá em algum lugar. Mesmo que por um momento você esqueça disso.

Melina acabou adormecendo em seus braços. Assim que ele percebeu, pegou-a no colo com certa dificuldade, levou-a até sua cama e ali a repousou como um bebê é colocado em seu berço.

Henrique sentou-se ao lado de seu corpo adormecido e ficou ali a observa-la dormir tranquilamente. Adormecida ela parecia bem mais calma. Mas ele ainda estava preocupado com as palavras que ela havia dito minutos antes de dormir.

Ele esperou por muito tempo para tê-la em seus braços. Chegou a acreditar que isso nunca aconteceria. E seria apenas mais um desejo reprimido, guardado no fundo de seu coração na caixinha de decepções. Agora, quando finalmente tinha ela em seus braços, como um dia imaginou, estava realmente começando a ficar com medo de perdê-la. Mais independentemente, se isso acontecesse ou não, suas palavras nunca deixariam de serem verdades: ele sempre estaria com ela, de uma forma ou de outra. Bastava ela querer.

~*~

— Me deixa ver se entendi direito – Rebeca não podia acreditar no que acabara de ouvir. — você quer dizer que...

— Exatamente! – ele a interrompeu. — Quero recomeçar longe daqui. E quero que você venha comigo.

— Tá brincando comigo? – Rebeca olhou bem para ele. — Quer mesmo que eu vá com você?

— Você quer ir comigo? Eu já falei com meus pais e com Tiago também. A decisão está tomada. Quero recomeçar minha vida longe de qualquer laço que me ligue ao passado. Quero esquecer tudo que aconteceu. Eu finalmente entendi: que pra recomeçar eu preciso me desligar de Melina. Ela foi muito importante pra mim, mas hoje, isso não importa mais. Melina tem muito que resolver de sua vida. E se ela é capaz de seguir bem e tomar suas próprias decisões, eu devo fazer o mesmo. Afinal, também mereço ser feliz, certo?

Ainda incrédula a tudo que acabara de ouvir, Rebeca não conseguiu dizer nada. Apenas levantou-se de onde estava e se jogou nos braços dele. Alegre demais para acreditar que aquilo estava mesmo finalmente acontecendo.

Viu só papai? Eu finalmente consegui. Não te decepcionarei.

E seria sempre assim: Rebeca sempre conseguiria o que deseja, pois ela acredita que foi feita para vencer. Arrancou Thomaz de Melina e fez ele enxergar a verdade. Foi preciso tempo e paciência. Agora, mesmo não sendo exatamente como ela desejou, ele era todinho seu e não teria que dividir com mais nada e ninguém. Seriam felizes bem longe dali, como nos contos de fada.

~*~

Nicolas sentia-se perdido e incomodado. Analu estava a sua frente chorando feito uma criança mimada. Ele tentou explicar a ela de todas as formas que não se lembrava mais dela e não sabia exatamente o porque, simplesmente se esqueceu. Que culpa ele tinha?

— Você não pode fazer isso comigo! – ela gritou, fazendo o ouvido dele zunir. — Nicolas! Você precisa lembrar!

Mesmo chorando ela socava o peito dele enraivada feito uma fera lutando contra seu inimigo.

— Você não vai ficar com ela! Ouviu bem? Não vai! Se depender de mim vocês nunca ficarão juntos. Nunca!

Educadamente, sem parecer grosseiro, Nicolas segurou os punhos dela e os retirou de cima dele. Olhou bem para ela e beijou sua testa.

— Eu preciso ir. Sinto muito. Fiquei de me encontrar com a minha mãe para uma conversa. Acho que finalmente vamos nos acertar.

Nicolas ouviu calmamente todos os motivos de sua mãe pelo abandono. Depois, foi sua vez de falar. Disse a ele como se sentiu todas as vezes que se sentiu sozinho, humilhado pelos amigos, esquecido e a falta de uma mãe ao seu lado. Ela também o ouviu com calma e escutou cada palavra dele sentindo um peso maior sendo colocando sobre suas costas, culpando-se por ter o deixado.

— Me perdoe meu filho! Perdoe-me.

Carolina segurava as mãos do filho e chorava baixinho.

Nicolas olhava para ela com compaixão, sentindo o calor do seu toque e admirando cada detalhe do seu rosto esbelto. Ela é linda! Apesar de não entender os motivos dela, ele poderia aceita-los. Pois a vontade de recuperar o tempo perdido era muito maior do que pensar na possibilidade de odiá-la para sempre.

— Você é o filho que toda mãe deseja ter – ela finalmente conseguiu sorrir. Para ele, o sorriso dela ficava entre um dos mais bonito que já presenciou. — seu pai fez um ótimo trabalho!

Passaram o resto da noite conversando sobre coisas que não sabia sobre um ao outro. Como em uma entrevista de trabalho. Ela pergunta, ele respondia. Ele perguntava, e ela respondia. Ao termino da noite, Nicolas deitou em sua cama satisfeito em já saber o suficiente de sua mãe. O resto poderia ficar para outra hora, outro dia. Teriam a vida toda para descobrir mais a respeito um do outro.

Gosto da ideia de ter uma mãe.


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Notas finais do capítulo

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