Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 52
Agindo por impulso


Notas iniciais do capítulo

É tudo muito rápido. Mas aconteceu.



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Nicolas chorava como um bebê. Sentia-se esgotado, quase sem forças até mesmo para respirar. Era tudo muito complicado e isso causava um nó dentro da sua cabeça. De um lado sua mãe dizia uma coisa e do outro seu pai tentava lhe convencer de outra. Ele queria explodir, gritar, sumir dali ou simplesmente... Abraçar Melina, pois ela sim poderia ajuda-lo, fazer com que ele compreendesse aquele tumulto em sua vida. Ela não palpitaria como Analu, nem daria sua opinião e nem o criticaria. Se preciso, ela apenas o escutaria, segurando sua mão, passando-lhe confiança. Depois ela o abraçaria e faria com que ele se sentisse bem pelo simples fato dela estar ao seu lado.

— Nicolas, filho, aonde você vai? – Carolina pergunta ao filho ao vê-lo se levantar da cadeira. — Filho, você é capaz de me perdoar?

Nicolas não responde, apenas a ignora. Assim como ignora seu pai e Juliana. Nicolas quer poder perdoar sua mãe, mas não tem certeza se está preparado para isso. Antes ela precisa ouvir o que ele tem a dizer, são muitas coisas das quais ele gostaria de poder falar, mas não sabe nem por onde começar. Teve uma infância muito complica, especialmente pela ausência dela em sua vida. Ele é o que é hoje, justamente pela falta que ela deixou. Não que a culpe por isso. Mas sabe que muitas coisas poderiam ter sido diferente se ela estivesse do seu lado quando ele precisou de uma mãe.

Ele sai apressadamente pela porta. Tateia o bolso do jeans e verifica se as chaves de sua moto estão ali, onde ele precisa que estejam. Ao confirmar, ele corre até a garagem, pega um dos capacetes e enfia a cabeça dentro. Depois monta na moto.

Nicolas dirige com pressa, sentindo a adrenalina pulsar pelas veias em um ato de desespero. Dirigir lhe pareceu a melhor alternativa para poder refletir um pouco melhor em tudo que estava acontecendo. Ele gosta de sentir o vento bater no seu rosto e corpo à medida que a moto ganha velocidade a cada acelerada. A paisagem ao seu redor passa muito rapidamente, quase como um borrão.

Muitos diriam que ele está louco e que não pensou de maneira coerente ao decidir subir na moto. Mas para Nicolas, foi a melhor coisa que ele poderia ter pensando naquele momento desesperador. Precisava sair dali, fugir para longe e voltar só quando estivesse preparado.

A sua frente viu alguns semáforos se abrindo e fechado. Ignorou todos eles com frieza. Sentindo as lágrimas banharem seu rosto enquanto ele pensava em tudo que perdeu na vida depois do momento em que sua mãe fez sua escolha: partir. Seu corpo todo tremia, não só por causa do vento forte de encontro ao seu corpo, mas também pelo medo que tinha por dentro por não conseguir voltar a se como era antes dela ter aparecido àquela tarde para tentar concertar as coisas.

Suas mãos começaram a suar e latejar ao mesmo tempo, Nicolas acelerou ainda mais. Como se a velocidade pudesse liberta-lo. Sua visão embaçou por causa do acumulo de algumas lágrimas, mas bastou ele piscar, para elas escorrerem livremente.

Preciso de colo.

Antes de sair de casa, poderia ter ligado para Melina em busca da ajuda dela. Mas imaginou que ela estaria ocupada com o namorado e não queria atrapalhar, mesmo que ela dissesse que ele nunca atrapalha, mas Nicolas sabe que sim. Ela quer ficar em paz com Henrique. Melina já tem tantos problemas com sua mãe, o ex-namorado e agora com a amiguinha do passado de Henrique.

Analu, sua namorada, era sua ultima alternativa. Ela é uma boa companheira, até melhor do que ele imaginou. No começou, tinha convicção que não iria ama-la nunca, não da mesma maneira que ela o ama. E disso ele teve razão. Ele a ama, foi sincero ao dizer isso a Melina depois de sua insistência. Mas não a ama da maneira como ela espera que ele ame. E nunca vai amar.

Talvez pudesse ama-la na mesma intensidade se... Sua mãe nunca tivesse saído de sua vida. Mais o que isso tem a ver? Sua mãe. Sentiu raiva dela por muitas coisas que vieram à tona. Carolina não estava sendo justa ao voltar pra casa depois de tanto tempo. Logo agora que seu pai estava se acertando de vez com Juliana e Nicolas vivia uma vida normal e praticamente perfeita ao lado das pessoas que ama fazendo as coisas que gosta.

Ele deve muito ao seu pai. Ele foi lutador e guerreiro quando decidiu que iria cuidar de um bebê mesmo sozinho depois do abandono da própria esposa. Agradeceria a ele quando chegasse a casa. Quando estivesse preparado. Diria que o ama e estaria sempre ao seu lado, pois tem muito a agradecer e retribuir.

Mas e sua mãe. O que diria a ela quando voltasse? Diria que a perdoa? Diria que quer recomeçar do zero e esquecer tudo? Iria aproveitar os pequenos prazeres e momentos da vida em que nunca tiveram juntos? Os dias das mães, o natal, dias das crianças, festa de formatura e aniversário. Seria mesmo capaz de fingir que nada nunca aconteceu?

Se Melina estivesse aqui, poderia me ajudar a entender.

Nicolas não viu, pois não conseguia enxergar nada além da sua raiva, do seu desconforto, decepção, desapontamento e a tristeza de uma infância perdida. Mais a sua frente, surgiu um empecilho que de longe ele não pôde enxergar. Mas estava lá. E foi inevitável. Aconteceu tudo muito rápido e nem deu tempo de frear e parar com a moto. Já estava inconsciente quando foi arremessado para o outro lado por causa do forte impacto da moto chocando-se com a mureta.

~*~

Melina estava furiosa com Henrique, esperava por ele em seu apartamento. Já havia feito diversas coisas para se distrair: organizou a casa, preparou algo para comer, tentou ler um de seus livros, olhou diversas vezes no celular para conferir as horas e agora estava ali, parada, sem conseguir prestar a atenção no programa da tevê.

Henrique saiu para se encontrar com Bruna há duas horas e ainda não havia entrado em contanto com Melina nem se ao menos para dizer se estava bem e por quanto tempo ainda poderia demorar.

— Tio Renato? – Melina estranhou quando viu o nome dele no identificar de chamadas. — O que foi tio?

— Melina, precisamos de você – seu tom de voz era desesperador e Melina ficou assustada. — Nicolas sofreu um acidente.

Ele deu mais algumas informações necessárias e Melina saiu apressadamente do apartamento de Henrique para saber de perto o que realmente aconteceu com Nicolas. Torcia mentalmente para que não fosse nada demais.

Chegou no hospital muito assustada, procurando por todos os lados o doutor Renato. Melina sentia o corpo todo tremer antes mesmo de saber a verdade. Estava aflita e sentia o coração oprimido. De longe viu Analu próxima a uma ruiva, Renato e Juliana.

— O que está acontecendo aqui? – ela se aproximou do grupo, já com lágrimas nos olhos e a voz falha.

— Melina – Renato a abraçou, choroso. — Nicolas sofreu um acidente de moto. Está inconsciente.

No mesmo momento, Melina não viu mais nada depois de ter ouvido aquela última frase. Foi como se não pudesse mais respirar, lhe faltava ar. Ela desmaiou.

~*~

— Como ele está doutora? – Renato perguntou ao ver a médica se aproximar, aparentando ter mais de cinquenta anos.

— As noticias são as mesmas. O estado de Nicolas é grave. Ele está sobre observação e medicamente fortes. Bateu com a cabeça muito forte, mas ainda não podemos afirmar nenhuma das nossas incertezas. Teve muita sorte em ter sobrevivido. Ele acordou algumas poucas vezes e chamou por uma garota, mas logo depois apagou outra vez.

— Tenho certeza que ele chamou por mim! – Analu se intrometeu, aflita com coração apertado. — Sou Analu. A namorada dele.

— Analu? Bom, não foi esse nome que ele chamou – a médica respondeu, sem rodeios. — Ele chamou por... Melissa... Não tenho certeza quanto ao nome. Ele estava muito assustado...

— Não foi Melissa – Juliana observou. — Não tem nenhuma Melissa aqui. Deve ter sido... Melina.

— Sim, foi. Você tem razão. O nome era Melina – a médica sorriu, satisfeita por lembrar. — Quem é Melina?

Melina havia acordado alguns minutos atrás, algumas enfermeiros cuidaram dela quando ela desmaiou.

— Eu posso vê-lo agora, doutora? Eu sou Melina.

Analu não podia acreditar no que estava acontecendo ali. Deixou a tristeza de lado, toda sua preocupação e sentiu a raiva invadi-la. Sentia ódio de Melina. Ela estava sempre no seu caminho e de Nicolas.

— Ele está desacordado, Melina. Mas pode vê-lo sim. Nicolas só pode receber uma visita por vez. Tudo bem pra você senhor? – a médica resolveu saber o que Renato pensava sobre aquilo.

— Isso não está certo! – Analu estava contrariada. — Eu deveria ser a primeira a vê-lo. Afinal, somos namorados! Melina não pode entrar, não agora. Se não for eu a primeira, que seja o pai ou a mãe.

Todos a ignoraram.

A médica, Cristina, levou Melina até o quarto onde Nicolas estava internato, na UTI. Recoberto por aparelhos e cercado por enfermeiros.

Saíram todos, assim que Cristina pediu que os deixassem a sós com a visita. Melina não poderia se demorar. Olhou piedosamente para o corpo deitado de Nicolas sobre a cama, estava inchado, com alguns ferimentos, hematomas e vermelhidão, com tubos fixados em seu rosto e corpo. Desacordado, respirando lentamente.

Melina começou a chorar baixinho. Aproximou-se de seu amigo com cautela, segurou-lhe a mão e a beijou. Nicolas parecia um anjo dormindo calmamente. Sua cabeça estava enfaixada e o rosto de traços delicados com alguns ferimentos já tratados, mas visivelmente feios. Os lábios estavam inchados e machucados, como se ele houvesse levado uma surra.

Melina já estava a par de tudo que acontecera. Do aparecimento de sua mãe, a briga entre os pais e o passeio de moto que causou o acidente e quase lhe tirou a vida. Ela não consegue imaginar-se caso ele houvesse morrido. Sente muito por tudo e não consegue controlar o medo que tem dele não se recuperar.

— Fique bem logo, Nick – ela aproxima o rosto do dele, acarinhando seu rosto com a ponta dos dedos, mas com medo de machuca-lo. — Eu preciso de você aqui. Comigo.

Melina colou sua testa na dele, sentindo sua respiração lenta de encontro ao seu rosto. Ela fechou os olhos e deixou as lagrima escorrerem. Nunca sentiu tanto medo de perder alguém. Todos os medos ela teve antes, foram insignificantes diante do medo que ela sentia agora. Sabia que a situação era grave.

Agora eu sei o que é ter medo de perder alguém.

Se pudesse, ficaria ali até que ele pudesse acordar. Queria ouvir da boca dele que ficaria tudo e que ele voltaria para sua vida normal ao lado dela. Desejava que aquela cena não passasse de um terrível pesadelo que uma hora ou outra teria fim. Melina piscou diversas vezes, rezando, pedindo aos céus, que quando voltasse a abrir os olhos encontraria os olhos de Nicolas nos seus e estaria tudo bem.

Mas isso não aconteceu. E nem aconteceria. Certas coisas precisam de tempo. E cabe a ela saber esperar.

— Eu amo você Nicolas! – ela sussurra docemente. — Não quero te perder. Nunca! Talvez você não esteja me ouvindo, mas eu sei que você sabe, sei que você é forte e vai sair dessa bem. Vai se recuperar e ainda vai sorrir pra mim daquele seu jeitinho tímido... Eu gosto tanto de quando você sorri. Seu sorriso é lindo! Se não o mais bonito, está entre os mais. E sabe de uma coisa? Gosto de quando você me abraça e faz me sentir como se não houvesse lugar melhor além dos seus braços...

— Melina – alguém entra no quarto. Ao se virar para trás, Melina vê a médica. — O tempo acabou. Eu sinto muito!

Melina sai chorando ainda mais de quando entrou. Por sorte, deparou-se com Henrique no corredor, a sua espera, como se milagrosamente soubesse que ela precisa de colo. Ele a abraça apertado e beija o alto da sua cabeça.

— Eu nunca vou saber ao certo como você está se sentindo – ele segura sua mão com firmeza. — Mas saiba que eu estou ao seu lado, para o que der e vier. Vai fica tudo bem, acredite.

~*~

Querendo ou não, todos tiveram que seguir com suas vidas normalmente mesmo depois do grave acidente de Nicolas. Ele continuou internado, passou com uma cirurgia na cabeça e continua na UTI em estado de observação, tomando medicamentos fortes e controlados.

Carolina se sente culpada, tanto quanto Renato. Ela deveria ter encontrado outra maneira de contar toda a verdade ao filho e Renato não deveria ter tentando contraria-la sem antes ter tido uma conversa com ela em particular e com o filho. Na tentativa de resolver melhor aquela questão do passado.

Analu está muito atordoada com tudo que aconteceu, nunca imaginou que Nicolas sofreria um acidente tão grave. Agora mais do que nunca, ela não desgrudaria do lado dele. Apesar de ainda estar muito irritada com Melina sempre no seu caminho, querendo levar a melhor.

Renato fechou a clinica e loja por um tempo indeterminável, não tinha condições de trabalhar sabendo que seu filho estava desacordado em uma cama de hospital. Desde o incidente, ele não sabe onde Carolina está hospedada e nem onde e como vive. Vê ela apenas de vez em quando nos horários de visita do filho no hospital. Não pode impedi-la, afinal, antes de qualquer coisa, ela ainda é a mãe de Nicolas e eles têm muito que resolver quando tudo ficar bem.

Melina visita Nicolas todos os dias também. Tem evitado os mesmo horários que Analu. Pediu algumas informações básicas na recepção do hospital, falou com a médica e os enfermeiros. Ela prefere visitar o amigo quando está sozinha. Conversa com ele mesmo quando está desacordada. Poucas as vezes Nicolas abre os olhos. Isso a preocupada, apesar de não poder fazer nada.

Todas as noites, Melina tem pesadelos. Ainda tem muito medo de perder seu melhor amigo, um quase irmão. Mesmo sabendo que agora, ele está fora do risco de perder a vida. Ainda assim ainda a possibilidade de sofrer consequências por causa do impacto que bateu a cabeça.

— Melina? Melina! Acorde! – Henrique tenta desperta-la ao ouvir seus gritos horripilantes durante a madrugada. Ela se debate, grita, esperneia e chora ainda com os olhos fechados.

Henrique sente muito. Daria tudo para vê-la feliz outra vez sem preocupações, medo e pesadelos. Ele sente ainda mais por não poder ajuda-la. O mínimo que pode fazer é reconforta-la em seus braços.

— Filha – Alberto está muito preocupado com o estado dela. Teve uma conversa com Henrique, o namorado, e sabe que a situação é grave. Requer cuidados. — Quer que eu marque uma consulta com uma psicóloga amiga minha? Ela vai poder te ajudar a lhe dar melhor com essa situação, quem sabe até te livrar desses pesadelos...

— Não pai. Obrigada. Está tudo bem – Melina sorri. — Eu vou ficar bem. Assim que Nicolas estiver bem.

Na faculdade, mesmo rodeada de amigos, Melina sente-se sozinha e solitária. Olha para os lados e não vê Nicolas. Quando percebe que está sozinha, por não ter melhor amigo que ele, sente um aperto no coração e uma vontade incontrolável de chorar.

— Ele vai ficar bem? Como ele está? Está melhorando? – sempre há aqueles que gostavam de Nicolas, por ele ser querido por todos, que perguntam a ela sobre o seu estado de saúde dia após dia.

E as respostas dadas por ela são sempre as mesmas. Porém esperançosas.

~*~

Verônica tem feito de tudo para reconquistar o coração de Jonathan. Por nenhum outro homem, até mesmo Alberto o pai de sua filha, ela foi tão longe como está indo agora. Demorou um bom até reunir forças suficientes para dar sua cara a tapa e correr atrás de sua felicidade. No inicio ela acreditava que isso era uma bobagem, uma tolice ou perca de tempo. Afinal, ela poderia encontrar um partido melhor que ele, alguém que lhe desejasse. Havia muitos. Mas não estava sendo fácil. Nunca é fácil perder um amor. Verônica descobriu da pior forma qual é o verdadeiro significado da palavra saudade.

— Jonathan, querido – ela gritava ao telefone, impaciente de toda a indiferença dele, sem qualquer reconhecimento. — estou gastando uma fortuna com você!

— Não é o seu dinheiro que eu quero Verônica. – ele é paciente e compreensível. — Tudo que eu preciso, é do seu amor.


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Notas finais do capítulo

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