Nicest Thing escrita por Nina Spim


Capítulo 2
Chapter Two


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Mais um capítulo para vocês! Espero que vocês gostem! (:



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– Garoto gay passando! GAROTO GAY PASSANDO, MENINAS! – Kurt berra para ser devidamente escutado pelo bando de garotas em um ataque de histeria por vê-lo me acompanhar banheiro feminino adentro.

Não tenho tempo de rir da situação, porque ainda parece que alguém me acertou na cabeça com um taco de basebol. Conduzo-o até perto das pias, porque todas as cabines estão ocupadas – e seria um pouco esquisito se eu entrasse em alguma delas junto com ele. Em todo caso, esse é o menor dos meus problemas, neste momento.

– Pode me explicar agora o que está acontecendo? – Kurt ignora a horda de meninas que, agora, parecem curiosas a respeito do nosso assunto; elas tentam se empoleirar ao nosso redor como se não existisse mais espaço ali – Você praticamente voou pra cima de mim, depois que a Lucy sentou conosco. Qual é o seu problema? Ainda é o tal do desequilíbrio hormonal? Porque, uau, isso está deixando você completamente assustadora!

Não dou atenção às palavras aleatórias dele, porque não me importo com elas; não há o que eu lhe responder sobre elas. E eu achava que estava sofrendo de desequilíbrio sentimental, não hormonal. Mas tanto faz. Sigo em frente com meus pensamentos:

– Tem certeza de que é a garota certa? De que ela é a garota do e-mail? – meus questionamentos pulam da minha boca mais rápido do que mísseis.

– A Lucy? – ele parece surpreso. E confuso – Claro que é! Qual é o problema com ela?

– Eu não sei – digo, porque não pensei sobre o assunto o suficiente. Tudo o que fiz em trinta segundos foi correr até o banheiro com o Kurt a reboque – Quer dizer, você a viu?

– Claro que a vi, aquele sobretudo pink dela não passa exatamente despercebido por ninguém...

Correção: a Lucy INTEIRA não passa despercebida por ninguém. Será que eu sou a única a notar isso?

– Ela não se encaixa conosco!

– Rachel – ele parece um pouco irritado demais para o Kurt que conheço –, só porque você passou os últimos trinta dias enfiada na cama não significa que o restante das pessoas também tenha parado com suas vidas. Ela pode não se encaixar no seu perfil de garota Nota 10, mas se encaixa no nosso! E é muito bom saber que pelo menos alguém não vai ficar se lamuriando pelos cantos e agindo como se estivesse em um velório.

É muita coisa para assimilar. Posso ver que ele está descontando tudo o que ainda não teve chance de dizer a mim, por todo esse tempo. Maravilha. Um pé na bunda no meio do inverno, alguns quilos a mais, uma garota bonita demais para aprender a conviver comigo e com meus amigos e agora isso. Deveria me aposentar do meu cargo. Deveria me tornar uma garota chorona pelo resto da vida. Quem sabe, assim, possa curtir a minha fossa sem ninguém por perto.

– Além do mais, você nem dirigiu uma única palavra a ela. Como pode fazer algum julgamento tão precipitado sem nem mesmo ter trocado uma palavra com a garota? – Kurt prosseguiu seu sermão incandescente.

Há um pouco de pressão sobre mim e, sinceramente, estou muito cansada dela. A cada dia que passou eu só me via atolada de pressão, quase sem conseguir respirar. E ela persiste: é quase como se Kurt fosse minha sombra, pronta para embaralhar meus pensamentos.

Gostaria de poder retrucar alguma coisa. Gostaria que existisse fundamento em minhas afirmações. Mas não existe, nem um pouco. Sei que estou sendo idiota demais julgando alguém apenas por conta de um sobretudo pink, saltos altos demais e um sorriso muito diferente do que todos viram no meu rosto no último mês. Talvez houvesse algumas gramas de inveja quando Kurt abraçou a Lucy com extrema alegria. Porque, nas reentrâncias do meu cérebro e em alguma parte sensibilizada de meu coração sofredor, eu queria ser como ela, como a Lucy. Irradiar mais felicidade. Ser alguém positiva. Ser alguém que não aceita ser tomada pela depressão pós-termino de namoro.

– Ela ainda parece... deslocada demais para nós – por fim pontuo. Não quero mudar minha opinião, porque sou assim. Além do mais, é sempre bom ter um pé atrás em tudo. E dessa vez não será diferente.

Kurt faz questão de rolar os olhos, impaciente.

– Fale um oi, ao menos. Você saiu correndo, praticamente, antes de olhar direito para ela!

Estou resistente. Não vou concordar e sorrir. Meu humor ainda está fragilizado – e, confesso, um pouco insensível. Não digo nada e saio de perto dele. Estou decidida a parecer que não estou abalada. Desvio das outras garotas na minha frente, que fofocam, e caminho até o restaurante.

De onde finquei as botas, perto dos guichês de comida, posso assistir Blaine conversar com a garota Lucy. Eles estão sorrindo e parecem absurdamente entrosados e relaxados – como antigos conhecidos que acabaram de se reencontrar. Solto um suspiro, entendendo que estou agindo como uma louca. Kurt tem razão: nem dei nenhuma chance à Lucy para dizer algo. E eu nem lhe dei oi! Que tipo de pessoa ela deve achar que sou? Deve estar pensando que sou muito esnobe, só porque consegui uma bolsa em Juilliard! Com certeza, não vai querer ser minha amiga e só vai ficar fofocando com Kurt e Blaine! Ah, que vergonha!

– O que você está esperando? – Kurt está ao meu lado novamente e me olha como se eu tivesse algum tipo de doença contagiosa.

– A minha vergonha desaparecer? – deixo escapulir, com uma careta suave.

– É melhor mandá-la se apressar. Só temos meia hora para almoçar.

E então segue em frente, em direção à mesa. Senta-se e puxa o assunto para ele também. Seja o que for, o mantém distraído. Claramente já me esqueceu. E esqueceu qualquer coisa que eu tenha dito. Hora de eu seguir em frente também, eu sei.

– Hey – limpo a garganta e digo. Lucy levanta o olhar e seus olhos batem no meu rosto. Tento parecer descontraída, mas estou nervosa por algum motivo. Acho que eu deveria ter ficado na cama. Ao menos, não precisaria enfrentar isso. Não uma garota bonita que parece ser bem mais centrada do que eu – Desculpe pelo sumiço. Hã... Emergência, certo? – olho para Kurt em busca de apoio – Garotas – deixo escapar um riso.

Lucy não sabe, posso notar, se ri ou se permanece com seu rosto sereno, apenas me analisando. Ocorre-me que ela sabe que estou fingindo ser alguém legal e que está pensando em reaver sua decisão de nos ter procurado. Certamente, não quer conviver com alguém tão desequilibrada quanto eu.

Sustento meu sorriso forçado, tendo ciência de que os olhos dela parecem perfurar minha pele. É tão esquisito que tudo o que faço é recuar o suficiente dela ao arrastar minha cadeira entre Kurt e Blaine. Sento-me ainda sorrindo. Um sorriso congelado. Respiro superficialmente.

Ela sabe que estou encenando. Seu cenho está franzido como se estivesse contestando tudo o que vê. Ou seja, eu. Ela está me vigiando como se fosse um leão mirando sua presa. Não gosto disso. Ela não disse nada ainda. Isso não é um bom começo.

– Eu sou Rachel – perfuro a distância entre nós com a minha mão estendida, esperando que ela aceite meus cumprimentos – E você é Lucy, certo?

Há certo desespero e dúvida carregando meu tom. Não aprecio isso, porque dá a impressão de que não sei nem mesmo onde estou. É como se eu tivesse acabado de retornar de uma ilha: estou desorientada.

– Sim – Lucy assente, agarrando meus dedos com cuidado. Ela, ao contrário de mim, está trajando luvas, o que é meio esquisito, já que temos café e aqui dentro não parece tão gelado – Oi, Rachel. Não se preocupe, sei o quanto segundas-feiras são abarrotadas. A minha sorte é que tenho um tempo vago antes das 13h.

– Oh – guincho, feliz. Ela é estudante também. Isso simplifica um pouco as coisas. Já tinha imaginado muitas vezes que, talvez, nosso novo colega de loft possa ser um agente disfarçado, ou um professor decadente que não consegue pagar seus investimentos. É reconfortante saber que Lucy deve ter a mesma faixa etária que nós – Você é daqui mesmo? Da Juilliard, quero dizer.

Ela nega, e seus cabelos lisos e cor de cobre batem em seu rosto maquiado e mais claro que o meu.

– Faço Administração na NYU. Estou no segundo período. Mudei-me para a cidade há um pouco mais de um ano – ela me conta. Pelo visto, Kurt e Blaine já têm ciência de todas essas informações, por isso não parecem surpresos.

– Também não sou nova-iorquina. Na verdade, todos nós somos de Lima, Ohio.

– Kurt me contou! É uma estranha coincidência, também sou de Lima!

– Oh, verdade? – não contenho a minha surpresa.

Lima é um buraco. Não, um ovo. Pequeno e insignificante. Se você deseja ser alguém precisa sair de lá. Caso contrário, vai acabar sendo gerente de uma pequena loja, ou caixa no mercado. Nada mais que isso. Sem prestígio, eu sei.

Por isso, estou em NY. Passei o colégio inteiro tentando me destacar e ser alguém inesquecível. Mas claro que isso é uma coisa um pouco irracional e impossível de se conseguir, especialmente se seus colegas a consideram uma fracassada. E, sim, eu era uma fracassada. Mesmo depois de começar a namorar aquele cara. Mas, você sabe. A vida é exatamente como a Taylor Swift escreveu uma vez. Na vida você vai fazer coisas maiores do que namorar o menino do time de futebol. E, com quinze anos, eu não tinha ideia disso. Quer dizer, tinha. Mas, você sabe mais uma vez. Nós sempre nos contentamos com o que temos, mesmo que seja por pouco tempo.

Acontece que meus sonhos cresceram, juntamente com o amor que trouxe na mala por aquele cara. Daí, quase dois anos depois da nossa mudança para cá, ele me deixou. Por outra. Mas isso é passado. Tenho de me lembrar constantemente disso: o que já passou não me serve mais. E não posso almejar o passado. Ele está morto e enterrado.

E se Lucy é de Lima, como nenhum de nós três não a conhecemos? Não é como se existissem inúmeras escolas na cidade. E ela é do tipo que todo mundo vê.

– Bem, na verdade, não morei muito tempo em Lima – Lucy compartilha a informação comigo como quem está repensando em até onde pode abrir seus segredos. Fico achando que existe muito mais debaixo dessa Lucy de casaco pink do que qualquer um de nós podemos visualizar – Nasci lá, mas me mudei para o Canadá, ainda criança. Vivi até os dezesseis anos em Belleville, mas voltei para Lima por conta de alguns... – ela tenta procurar a palavra adequada a se dizer; uma que não vai nos fazer pensar que temos de acusá-la de algo, talvez – Problemas. E vim para cá.

– Uau – é tudo o que consigo dizer. É realmente impressionante, levando em conta que eu mal saí de Ohio por quase 18 anos – Impressionante. E com certeza não deve ter estudado no McKinley, certo? Todos nós nos formamos lá.

– Já ouvi falar de vocês – Lucy não parece muito surpresa. Kurt já deve ter mencionado qualquer coisa a ela – Muitos concursos de corais, hã? Lembro-me disso – ela sorri para demonstrar que, ao contrário da maioria dos nossos ex-colegas, não pensa que somos fracassados. Isso é ótimo. E ela se lembra de nós. Isso é estranho. Isso quer dizer que nos conhece? Talvez dos sites de fofoca adolescentes? – O Lima Senior High, felizmente, não competiu com o McKinley, porque tenho certeza de que perderíamos! – Lucy finaliza com uma risada, que leva Kurt e Blaine rirem também. E, de um modo esquisito, seja lá quem Lucy é de verdade, fico compelida a rir também.

– Você fez parte de um clube de música? – tenho a curiosidade de lhe inquirir.

– Oh, não! – ela ri mais uma vez – Absolutamente não! Não nasci para esse tipo de coisa. Eu era líder de torcida. Eu sei – Lucy sai dizendo como se soubesse ler o que quer que esteja em minha mente –, clichê demais. E bobo também. Mas eu era atlética, então foi natural. Como se estivessem guardando um posto para mim lá.

Dou de ombros. Não sei o que dizer, exatamente. Líderes de torcida nunca foram as minhas favoritas. Especialmente porque todas elas tentavam dar em cima do meu namorado. Digo, ex-namorado.

Ok. Preciso parar de sempre forçar meus pensamentos a se convergirem para aquele cara. Ele nem mais faz parte da minha vida, certo? Então, hora de seguir em frente. Deixe o passado no lugar onde ele morreu, Rachel.

– Deve ser difícil realizar todas aquelas coreografias. Sei que os campeonatos são realmente muito pesados – eu digo – Aquelas garotas de Hellcats parecem sofrer um monte.

– Inclua o fato de eu ser capitã – Lucy usa um tom divertido e continua a sorrir – Eu praticamente implorava para acordar com alguma doença que debilitaria meus movimentos. Mas, no final, foi uma boa experiência. Não levamos nenhum título, mas tudo bem. Usar aquelas saiazinhas já foi incrível – ela ri mais uma vez, arrancando mais risos de Blaine e Kurt.

Posso mencionar algo? Odeio aquelas saiazinhas. Só dizendo. Quero dizer, para que as saias minúsculas se elas não cobrem nada do que deveriam cobrir? Quem foi que as inventou? Algum pedófilo alucinado em saltos mortais? Não dá para entender, sinceramente.

Forço um sorriso, porque não quero dar a impressão de que quero dizer algo sarcástico demais, que não seria bem interpretado por ninguém e que apenas exporia o quanto eu sou exclusivista. Mais ou menos.

Preciso mudar o foco da conversa, caso contrário, posso entornar meu mocca na cabeça dela, eventualmente.

– E atualmente? Além da NYU, o que mais você faz?

– Sou sub-gerente da Party City. Uma loja de fantasias, acessórios e utensílios para festas.

Oi? Isso é sério? Deixei escapar alguma coisa? Minha mente dormiu por alguns minutos? Porque... Não pode ser verdade! O que uma ex-líder de torcida bonita e atual estudante na NYU está fazendo trabalhando em uma loja de fantasias?! Isso é tão bizarro quanto se ela tivesse dito que divide seu tempo recolhendo os bilhetes do cinema com uma garota fantasiada de Maria Antonieta!

– Vai ser perfeito poder ganhar desconto nas nossas fantasias de Halloween! – Kurt diz empolgado.

Lucy ri mais uma vez. Ela não parece nada deslocada por ter um emprego totalmente decadente. Porque, pense bem. Quem entra nessas lojas além de crianças puxando os pais e implorando a eles para comprarem a roupa do Homem-Aranha para a festinha de cinco anos e de pessoas completamente desocupadas que ainda ficam felizes pelo Halloween existir? Muito claramente preciso de um novo melhor amigo. Será que ele não sabe que não temos mais quinze anos? Que tipo de pessoa Kurt Hummel é, e eu ainda não tenho ciência? Por favor, que não seja do tipo que compra roupas do Homem-Aranha! Ou da Cyndi Lauper (isso seria muito embaraçoso de se explicar para a novata!).

– Quem sabe – Lucy fala, oferecendo um sorriso para nós três.

– Então, ah... – olho rápido para Kurt, prevendo o momento no qual ele me lançará um olhar torto por ter interpelado o rumo da conversa. Porém, eu sei que não temos mais muito tempo para ficar investigando a vida de Lucy. É agora ou nunca. Hora de fazer a proposta – Não sei a sua disponibilidade, mas por que você não nos visita ainda esta semana? Para tentar se habituar com o loft? Ou você prefere marcar mais encontros? Conversas como esta, digo?

Estou enrolada. É estranho. Por que não sei o que dizer direito? Nunca tive muita dificuldade em falar. No colégio, eu era uma tagarela, e todo mundo me considerava insuportável por isso.

– Nah, nada disso – Kurt diz antes de Lucy – Amanhã nos encontramos aqui de novo e vamos para o loft. Podemos comprar algum delivery no caminho. O loft não é longe daqui. É ruim para você? – ele enfim inquire alguma coisa.

Lucy parece surpresa. Não do tipo que está achando algo esquisito, mas do tipo que não consegue acreditar que o que está acontecendo realmente está acontecendo. Acho que não esperava a nossa aprovação tão rápida. Não que eu estivesse sinalizando sinal verde. Na verdade, meu pé ainda está bem atrás. Porque sinto que tem alguma coisa errada ainda. Talvez não exatamente com ela, mas com o que quer que ela carregue. Algo que seja considerado “Problemas”, segundo ela mesma.

– Não – Lucy arregala um pouquinho os olhos – Sinceramente, é uma proposta maravilhosa. Tenho certeza de que o loft de vocês é incrível.

– Não é a toa que o chamo de “Loft do Paraíso” – Blaine sorri como quem está assegurando sua confiança – Você vai se sentir, literalmente, no paraíso.

– Claro que a Rachel vai ter de parar de ser depressiva – Kurt está dizendo com certa repreensão na voz, sem olhar realmente para mim – para que o paraíso entre na vida dela também. Mas deixe isso para lá – ele logo dispensa maiores explicações.

Fulmino-o com os olhos, porque estou repentinamente com raiva. Agora, acho que o meu mocca vai cair na cabeça dele.

Lucy fica sem entender, mas isso não aparenta incomodá-la.

– Ok – ela, por fim, diz. Seus olhos disparam para mim como meninas fazem quando sabem que precisam guardar segredos.

Obrigada, Kurt, por fazê-la achar que estou depressiva e que preciso me abrir com alguém. Porque não preciso. Não devemos mencionar o passado para que ele não reviva. Certo?

– Legal – eu digo para descontrair – Então, amanhã você conhecerá sua possível nova residência.

– Mal posso esperar – Lucy diz com um sorriso.

Todos nós sorrimos de volta, porque parece o certo a se fazer

~*~

– Então? – Santana ergue as sobrancelhas escuras para mim do outro lado do sofá.

– Então o quê? – faço o mesmo gesto, por não estar entendendo nada.

Felizmente, já é noite. Brittany está tomando banho; ela é sempre a última, pois costuma demorar bem mais do que o resto de nós, sem contar que o Lord Tubb se enfurece se alguém chega perto demais da caixinha de “coisas colecionáveis” dele, que fica atrás do vaso sanitário. Britt, antes de entrar no box, sempre lhe presenteia com alguma coisa brilhante para que ele fique quietinho pelo resto da noite.

– Quando a dramaqueen vai me deixar?

– Santana. – eu digo. Estou um pouco exausta de discutir esse tópico todas as noites. Brittany mal está abalada por conta da minha provável mudança. Ela apenas diz que quando eu precisar pode preparar cupcakes para mim a qualquer hora do dia, mesmo que eu vá morar no Brooklin. – Estou tentando retomar um pouco da minha vida, entendeu?

– Que vida, garota? – seu tom está ácido – Você tem vida aqui também, lembra? E ela é muito melhor do que era quando você estava em Lima – ela observa, porque não consegue se conter: Santana simplesmente não fecha a boca sobre nada. Sempre precisa opinar, mesmo quando ninguém precisa de suas avaliações – Mas me diga, como são os caras e a garota? Eles são gays mesmo? Vou precisar conhecê-los, sabe disso, não sabe?

Rolo os olhos. Não estou no clima de ficar detalhando quaisquer coisas ou pessoas. Além do quê, eu mal pude tirar conclusões certeiras sobre os três. Quer dizer, claro que conversei bastante com Kurt por e-mail – e já sei que me darei superbem com ele –, porém Blaine, apesar de ser do tipo aberto e convidativo, e Rachel não são aquele tipo de pessoa que eu acho poderia me entreter. Não do tipo que faz chocolate quente nas noites frias para ficarmos em frente à TV, assistindo qualquer programa bobo demais.

Rachel, com certeza, é uma louca. Está na cara. Que negócio foi aquele de ficar sorrindo como uma psicopata? Não, isso nem foi o mais esquisito! E a parte de nem dizer nada e correr como uma fugitiva para sei lá onde? Posso palpitar com propriedade que essa garota precisa de um terapeuta. Ou talvez apenas precise voltar para o planeta de onde veio. Quem sabe os pais intergalácticos dela estejam perdidos por aí e a nave-mãe ainda não aportou para buscá-la.

Então... O que dizer, exatamente, para a Santana?

“Deixe para lá, você não vai querer saber”. Essa pode ser uma boa resposta, caso eu não tenha medo de ser sufocada durante o sono.

– Todos parecem bem centrados – decido dizer qualquer coisa. Por mais que esteja mentindo. Rachel parece que está se recuperando de uma amnésia fashion e de personalidade, naturalmente. No entanto, os garotos me deixaram à vontade. Mesmo com a excitação sublime de Kurt. Acho que ele achou que eu fosse alguma nômade, ou canibal. É gratificante saber que atingi as expectativas dele.

– E isso equivale a “Gostei deles e nunca mais voltarei para visitá-la”, ou a “Eles não têm nada a ver comigo e pretendo declinar a oferta deles”?

Às vezes acho que Santana tem algum tipo de poder psíquico. Ela sabe ler mentes. Penso isso muitas vezes. Porque ela é ótima em palpitar sobre o que está rondando minha cabeça.

É fácil inferir que nem Kurt, nem Blaine, MUITO MENOS Rachel tem a ver comigo. Tudo bem, eu estava convencida de que nutriria uma afinidade imediata com a garota... Mas isso, muito claramente, não ocorreu. Não quando, todas as vezes que ela abriu a boca, pareceu que estava tentando agir como “alguém normal”. Alguém que está com a cabeça nas nuvens. E, só de olhar, pude perceber que estava tentando me impressionar. Como se estivéssemos enfrentando um encontro de casais na praia. Meio nojento, sinceramente. Com prudência, ignorei a maior parte do que registrei sobre ela. Talvez assim será mais fácil de lidar com a insanidade explícita dela.

– Gostei dos caras – falo editando as palavras inúteis na minha cabeça – e ficarei surpresa se, algum dia, a garota agir sem teatralidade. Tive a impressão de que ela estava em um filme subsidiado em algum lugar muito pobre espiritualmente.

– É mesmo? – isso parece animá-la, apenas porque adora fofocar sobre qualquer pessoa. – Qual é o nome dela? Será que ela não veio de uma aldeia longínqua que não acredita que as pessoas têm almas? Existem muitas aldeias presas nesse prisma na Ásia, eu li a respeito.

– Ah... – faço uma careta rápida, rejeitando a especulação de Santana – Não creio nisso. Acho que ela é mais do tipo que está perdida e não sabe quem é. Kurt mencionou algo sobre ela estar enfrentando uma depressão.

– Garotas fracas, por que elas não cavam um buraco e esperam adoecer de verdade? – Santana diz, rolando os olhos.

– Pelo que sei, isso é uma coisa séria – não deixo de declarar – A doença do novo milênio é a depressão, exatamente como escorbuto foi no começo das navegações. Certo?

– Isso não vem ao caso. Essa garota. Preciso conhecê-la e dizer algumas palavras a ela.

– Sant, sem essa. Posso lidar com ela bem melhor do que lido com você. Não dá para afirmar que morar com você seja como encontrar um pote de ouro todos os dias – comento.

– O pote de ouro sempre fica com a Britt, você apenas não está procurando direito.

Solto uma risada, tendo ciência de que sentirei falta desse tipo de coisa quando for para o Loft da Perfeição. Tenho certeza de que, muito embora Kurt tenha uma personalidade muito ativa, será tudo bem diferente. Aposto que demorarei algumas semanas para me habituar. Tenho a sensação de que as diferenças entre mim e o trio de Juilliard não serão vencidas tão facilmente como venci as barreiras que me separam de meu passado.

– Vou fazer um test-drive por algum tempo. Se não der certo, volto. Ok?

É o máximo que posso dizer. Sei que não voltarei, mas posso oferecer a ela a dúvida. Não, a esperança. E, apesar do que aparenta, Santana gosta muito da esperança. Talvez seja por isso que, até hoje, ela envia cartões de Natal endereçados à sua avó.

– Estarei torcendo para que não dê certo – ela me oferece um sorriso – Pode deixar que meu vodu é muito bom.

Evito rir mais uma vez, porque isso apenas a levaria a crer que, invariavelmente, retornarei a viver com elas.

Mas eu nunca mais irei.


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Notas finais do capítulo

É isso, por enquanto, pessoal! Mereço reviews? Espero que estejam apreciando! Beijos!



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