Nicest Thing escrita por Nina Spim


Capítulo 14
Chapter Fourteen


Notas iniciais do capítulo

Oi, cherries!
Como vocês puderam notar, não tive oportunidade de atualizar a fanfic na quarta-feira, e temo que isso venha a se repetir na próxima semana. Por favor, tenham paciência, ok? Não vou deixar de postar, garanto!
Anyway, enjoy it! (:



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Ela está quieta. É sexta-feira, mas Lucy está aqui. Fazendo parte da mobília. Não fazendo parte de nós. Quero perguntar-lhe o porquê disso. Por que não está gastando sua noite com seu suposto namorado, o qual ela diz não ser “nada sério, pois não está apaixonada”. Ou por que, ao invés de estar dormindo com um cara que ninguém conhece, não está desfrutando de uma Noite Maluca de Sexta com Santana e Brittany. Ninguém, entretanto, ligou para ela para convidá-la a sair daqui. É como se Lucy tivesse sido esquecida por todos aqueles fora do loft.

Para minha satisfação, Kurt quebra o silêncio.

– O que planeja para o recesso de verão? – ele questiona explicitamente para Lucy, que permanece contida no seu pequeno espaço do sofá, afastado de todos nós.

Ela para de encarar a noite lá fora e dirige um olhar para Kurt. Noto que não há variações em sua expressão. Não há absolutamente nada nela, na verdade.

– Não sei. Aspen, eu acho – ela balança os ombros com descaso.

– Jura? – Blaine está surpreso – Não parece animada.

Lucy repete o gesto com os ombros.

– As viagens programadas pela minha família nunca terminam bem sucedidas – ela diz, sem entonação alguma. Sua face ainda continua inexpressiva.

– Você não fala muito sobre a sua família – as apalavras escapam da minha boca antes que eu reflita por um período a respeito.

– Não há muito que saber.

Kurt troca um olhar esquisito comigo, o qual não sou capaz de interpretar.

– Nós sempre voltamos para Lima, neste período – Kurt comunica – O Glee Club conseguiu sinal verde para permanecer aberto durante as férias, tornando-se assim uma espécie de oficina musical de verão, e nós gostamos de retornar para auxiliar os aspirantes a músicos ou a dançarinos.

– Além do mais – retomo a palavra, ansiosa para que ela transpareça alguma reação –, comemoramos o aniversário do Sr. Schue, o coordenador do Glee Club. É meio que uma data que nos remete ao que éramos e fomos, sabe? Apesar de cada um ter traçado um caminho diferente depois da formatura, nos reunimos nesta data em especial para sermos mais uma vez o Glee.

– Bonito isso – Lucy diz, mas noto que não existe muita emoção em suas palavras.

– Gostamos do que fomos – Kurt declara – Aprendemos muito lá. E acho que não exagero quando digo que muito do que somos hoje foi construído dentro daquela sala.

Lucy dá um breve aceno, afirmando que está acompanhando a conversa.

– Parece que vocês tiveram um passado legal – ela fala.

– É e não tentamos fugir dele – adiciono com um quê de segurança que provoca alguma coisa nela. Por um momento, Lucy franze a testa para mim, como se esperasse maiores explicações para minha frase e como se soubesse exatamente o que ela significa.

– Ótimo para vocês, Rachel – o tom de Lucy sugere sarcasmo e impaciência. Comprimo os lábios, porque estou irritada. Ela é ridícula. Não consigo evitar pensar que o que quer que o passado dela tenha lhe feito é algo que, terminantemente, arruinou qualquer possibilidade de resgatar um pouco da felicidade dela. Se que, algum dia, ela tenha sido feliz genuinamente.

Kurt me dá uma cotovelada dolorosa. Reprimo o ímpeto de olhar feio para ele, porque estou focada demais no rosto de Lucy para me permitir deixar escapar qualquer variação dele.

– Você deveria vir conosco – acabo dizendo, pois sei que foi com essa intenção que Kurt quase quebrou uma das minhas costelas.

– Claro. E fingir que fui uma grande estrela adolescente dentro da escola de vocês, e que ganhou prêmios por todos os solos que cantei sem desafinar nas competições. Sem esquecer, também, de fingir que fiz parte de um grupo especial que me fez sentir-se especial.

Eu, Blaine e Kurt ficamos paralisados diante a atitude dela. Todos nós ficamos piscando para Lucy, sem ser capaz de proferir sequer uma frase que possa rebater seu sarcasmo cru e desnecessário.

– Você pode não ter sido especial, mas agora é. Para nós – recupero minha capacidade de falar antes que Kurt e Blaine e não tenho receio de utilizá-la.

Ocorre uma variação no semblante dela. Seus lábios se comprimem como se estivesse retendo toda a sua aptidão de não ceder a minha réplica. Não sei com exatidão o que ela quer retrucar, mas parece ser algo ferino o bastante.

– É mesmo? – a resposta enfim vem – Não vejo isso acontecer – como eu premeditei, seu tom está ferino.

Franzo minhas sobrancelhas, incapaz de esconder o quanto isso está me ofendendo e o quanto ela está equivocada.

– Sugiro que preste mais atenção, então – digo quase na mesma inflexão que ela, para que fique claro que, se ela acha que pode agir como bem entende, eu também posso. Quem disse que não?

– Ahn, bem... – Kurt pigarreia teatralmente – Se quiser vir conosco, será bem vinda. Não é mesmo, Rachel? – ele aperta meu pulso e me lança um olhar significativo. Sua voz está persuasiva.

Dou de ombros. O problema é dela. Eu é que não irei concordar apenas para fazê-la sentir-se um pouco mais inclusa em nossas vidas, quando, muito claramente, ela já abandonou o ambiente há algum tempo.

– Você quem decide – digo apenas por dizer. Apenas para que ela sinta que não me importo com sua decisão. Sei que é uma grande hipocrisia, pois ficaria muito satisfeita se Lucy embarcasse nessa junto conosco. Mas quem pode me culpar? Tudo está tão diferente entre nós! Não consigo mais lhe oferecer o mesmo tratamento de antes, porque ela deixou de fazer o mesmo. Agora, há uma espécie de ressentimento esquisito que não consigo entender de onde surgiu.

Lucy está pronta para retrucar algo, no entanto seu celular toca. Percebo que, antes de ir apanhá-lo, ela me fulmina com um olhar que passa despercebido pelos meninos. Respiro fundo para controlar todas as inúmeras frases que poderia atirar a ela neste momento. Frases, por sinal, nada elegantes ou educadas.

Sua expressão, enfim, exprime algo. Sua face está contorcida de um modo que nunca vi. Meu olhar sobre ela está inquisidor, porém ela o ignora. E então diz:

– Eu já volto, preciso atender isso privadamente – e se tranca no banheiro.

Meu pescoço maneia em direção a Kurt primeiro.

– Que diabos aconteceu? – ele quer saber.

– Alguém deve ter morrido, tenho certeza – Blaine sugere.

– Não acho que ela se importaria, caso fosse algum familiar – faço questão de pontuar com um pouquinho de sarcasmo.

– Eu já comentei que há alguma coisa errada nela?

Ele já comentou. E faço as palavras dele as minhas, no instante seguinte.

~*~

“Quinnie, você está aí?”.

Sinto falta de ar. Não, sinto falta de controlar as palavras dela. Por que diabos ela ainda acha que pode continuar a me chamar assim? Odeio essa mulher. Odeio todos eles.

– Estou – minha mandíbula está tão contraída que minha voz mal se propaga.

Ela solta um suspiro aliviado.

“Ótimo. Isso é um sim? Porque você sabe que, apesar de tudo, nós sentimos a sua falta. Pode não parece, mas é verdade. Sei que nos afastamos um pouco depois da sua decisão, mas ainda assim...”.

Ah, quanta petulância! Ela ainda tem a audácia de se referir a minha mudança para NY como se o meu despache tivesse partido de mim! Como se ela não fosse uma enorme hipócrita que acata tudo o que meu pai delibera! É corriqueiro que eu ainda reflita se ela tem alguma opinião própria, ou se simplesmente não sabe lidar com nada e acha que deve obediência meramente por ter aceitado se casar para livrar a família da falência.

– Judy, não finja que pode se safar desta. Você o apoiou tanto quanto o fez anteriormente. E, por favor, não coloque sentimento onde não há – minha voz está firme e tingida de raiva.

Deus sabe o quanto eu preferiria aniquilar a relação que, por falta de opções, mantenho com todos eles. Russel ainda diz que “Família é sempre família”. Então, mesmo que eu não me sinta mais inserida nesta família, tenho que forjar o máximo de satisfação quando me comunico com algum deles. Ao menos, penso, é Judy quem está ao telefone. Duvido muito que eu conseguiria ministrar algum tipo de respeito com Russel, caso fosse ele.

“Quinn!”, minha mãe exclama denotando grande choque. “Quantas vezes já lhe disse que não sou “Judy”, mas “mamãe”, ou “mãe” para você? Quantas vezes precisarei repetir isto?”.

– Para sempre, se tiver paciência. Pessoalmente, sugiro que se canse de tentar me corrigir, uma vez que já provou o quanto você mesma não tem correção.

“Você vai continuar a me atacar até o último segundo desta ligação? Esta ligação, por sinal, que estou pagando um preço muito alto por ser internacional e que tem apenas o intuito de quebrar todo esse muro infernal que você construiu depois que saiu daqui?”, ela retoma com a voz revigorada. Ah, coitada. Acho que Judy nunca vai se cansar, essa é a verdade. “Vamos, por favor, parar de brigar só por quinze minutos?”.

– Isso é bem a sua cara. Fez o que fez e agora esconde a mão para não ter de lidar com a culpa. Ótimo saber que você cumpriu o seu dever estúpido de esposa fracassada.

“Não admito que fale assim comigo, mocinha! Você pode estar vivendo com o seu próprio dinheiro agora, mas não se esqueça que deve muito a nós!”, o tom dela está irritado, o que é inédito.

– Como eu deveria me dirigir a uma pessoa tão fraca como você, mãe? – faço questão de ressaltar a palavra com amargura. Depois, minha risada estoura sem previsão. Estou rindo de ódio, sinto isso – E, desculpe a pergunta, mas devo o que a vocês? Todas as minhas dores durante todos esses anos, todos os momentos que tive vontade de fugir de casa para sempre por conta das repressões de vocês, ou apenas o ódio que sinto cada vez que me recordo o porquê minha vida é uma grande piada?

Posso ouvir suas fungadas começarem, tímidas. Não sinto remorso. Preciso que ela sinta alguma coisa. Alguma coisa real. Quero que ela sofra um décimo de todo o sofrimento que me compeliu no passado.

“Quinn, por favor”, ela retoma o fôlego de modo choramingado. “Quantas vezes precisaremos lhe assegurar que foi para o seu próprio bem?”.

– Não, não me venha com essa! Antes de vocês tomarem alguma decisão para o bem de alguém ao seu redor, deveriam se lembrar que não sabem escolher nem mesmo o que é melhor para vocês. Para vocês, desde que escapemos de um escândalo ou que não percamos dinheiro, tudo está ótimo. Mas vocês se perguntaram como eu me senti depois daquilo? Depois de me sentir abandonada e renegada por cada um de vocês?

“Não a abandonamos! Não diga isso, Quinn! Nós apenas...”.

– Sei, apenas se cansaram de sustentar uma filha inútil, segundo as últimas palavras de Russel.

“Ele já pediu desculpas! Ele se expressou mal, você sabe que sim! Mas, agora, Quinn, nós temos orgulho de você. E é por isso que surgiu este convite!”.

– Têm orgulho porque estou longe de vocês e, assim, não posso criar mais nenhum tipo de empecilho familiar, isso sim! E, para finalizar finalmente esta conversa ridícula, pode dizer para a Francine que tenho planos para esse recesso e que se ela acha que uma viagem forçada para Aspen vai unir a nossa falsa família feliz é melhor que ela se esforce um pouco mais da próxima vez. Boa noite, Judy.

Desligo o celular sem nem mesmo escutar qualquer tipo de réplica por parte dela. Estou respirando raso, como se necessitasse represar o restante de oxigênio que me é vital para sobreviver. Preciso me acalmar, preciso parar de pensar que quero chorar. Fico ali no meio do banheiro, observando tudo, mas sem dar atenção a realmente nada.

Um minuto. Dois. Cinco.

Forço minha vista diante do espelho. Minha raiva se dissipou, porém há um resquício que não sou capaz de identificar dentro de meus olhos. Um brilho diferente, um brilho que não gosto.

Por fora continuo a mesma, porém por dentro estou mais bagunçada do que nunca. Mais perdida do que nunca. Mais quebrada do que nunca.

Sinto, por um momento, que me odeio também. Odeio a pessoa ridícula e fraca que me tornei, que é incapaz de se livrar de seus demônios e encarar a felicidade e a vida de frente. Não tenho influência sobre nada que ronda a minha maldita vida fracassada, a qual insisto em fingir que é perfeita.

As lágrimas escapulam dos meus olhos, e eu escondo meu rosto com as mãos.

Sou tão fraca quanto Judy é. Tão covarde quanto.

Assim que paro de chorar, constato que meu celular está tocando. É Russel. Ignoro a chamada diversas vezes. Ele é insistente. Francine, alguns minutos depois, também tenta me contatar, mas repito minha ação. Não quero fazer parte dessa família. Família deveria nos apoiar, nos amar incondicionalmente e nos fazer sentir confortáveis. No entanto, não é assim que me sinto com eles; sinto justamente o contrário disso tudo. Sinto-me desamparada, amedrontada, sem saber de quem partirá o próximo tapa.

É tarde demais para alguém consertar o que ficou pendente entre nós. Tudo vai ficar mal resolvido para sempre e não me importo nem um pouco. Francine pode continuar com o posto de filha perfeita. Judy pode continuar a fazer o papel da esposa submissa. Russel pode continuar a achar que é dono do mundo. Mas eu... Ah, eu vou consertar as coisas! Não vou continuar a ser essa estúpida fracassada sobre quem todos têm as mais diversas e piores suposições. Sinto-me a personagem da música Miss Nothing. Acho que essa canção me define muito bem. Mas é hora de virar a página e encontrar outra música para mim.

Suspiro fundo e ergo a cabeça. Preciso ser forte. Preciso ser eu, ao menos uma vez. Abro a porta e, de imediato, tenho ciência de que todos eles escutaram minha conversa. Claro que Kurt e Blaine, no mesmo instante, fingem estar engatados numa conversa interminável sobre os Rolling Stones. Mas Rachel não desvia seu olhar sobre mim, muito menos desfaz sua expressão preocupada. Por isso, não me surpreendo quando ela anda até mim, sem se preocupar com nada.

– Está tudo bem? – Rachel inquire.

Um misto de choro e compaixão me inunda, atingindo todos os recônditos do meu corpo. Sua voz está tão suave e tão doce que simplesmente esqueço que meu celular está tocando mais uma vez, dando-lhe brecha para averiguar quem é no visor.

– Lucy? Você quer conversar? – Rachel sobe seus olhos mais uma vez para meu rosto, ignorando, tal como eu, Francine na chamada. Uma onda ainda mais arrebatadora de choro me atinge, porém permaneço firme, constante. Não quero chorar na frente dela. Não quero ser fraca.

Balanço minha cabeça de um lado para o outro, negando.

– Meus planos familiares foram cancelados. Vou para Lima com vocês – minha voz está sussurrada por motivos que não conheço. Acho que porque estou tentando conter a oscilação incutida nela. Não quero que Rachel perceba que tudo o que preciso é ignorar toda essa situação e chorar junto a ela.

Rachel abre um sorriso vagaroso. E então inclina a cabeça.

– Verdade?

Assinto.

E ela faz o que tenho evitado que faça há algum tempo: joga os braços ao redor do meu pescoço, num abraço apertado e sincero. Quase não consigo respirar tamanha a dor que me consome.


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Notas finais do capítulo

Amados, desculpe pelos erros - não tive tempo de revisar; além do mais, estou me dedicando a outra fanfic (que, com o tempo, vou ver se posto aqui também) e perdi o ânsia de reler esta. No mais, mereço reviews ainda? Au revoir ;)



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