Animos Domi escrita por Chiye


Capítulo 37
Capítulo 37 - Pressentimento.


Notas iniciais do capítulo

oii. Postei o outro, que é pequeno, e esse. Esse é muito grande, tinha mais de cinco mil palavras, então cortei e vou postar dois, apenas para torturar quem está lendo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/382756/chapter/37

John e Rose estavam sentados em casa, assistindo the Matrix. Spock estava sentado na mesinha de centro, olhando vidrado para a tela. Na primeira cena de luta o bichano pulou, assustado, e correu dali. O casal riu.

Daniel havia lhes dado, de presente de casamento, um conjunto de lençóis e quatro dias de folga não consecutivos para que eles usassem quando quisessem. Já haviam usado um deles e agora usavam o segundo. Então a campainha tocou. John se levantou e abriu a porta.

No vão estavam Alden e Shiff. John a olhou nos olhos, como é normal entre os humanos, e notou que algo estava errado. Os olhos da mulher estavam tristes.

–-O que houve? –Perguntou ele e, antes que Alden pudesse responder, acrescentou, colocando a mão no ombro que Shiff deixava livre. –Entre.

Alden obedeceu, em silencio. Rose se levantou ao notar que havia algo errado e os três foram até a cozinha, onde John se ocupou fazendo um chá e pegando biscoitos que haviam ganho da vizinha pelo casamento. Rose pegou a mão de Alden por cima da mesa.

–-O que foi? –Perguntou.

Alden balançou negativamente a cabeça e seus olhos ficaram úmidos. Shiff lhe deu bicadinhas carinhosas na sua orelha. John e Rose se entreolharam. Ele serviu o chá e se sentou também. Perguntou o que havia acontecido e Alden ergueu o olhar.

–-Você sabe que todos os humanos são diferentes, não? –Perguntou ela. Sua voz estava mais aguda e rápida. O casal concordou com a cabeça. –Mas todos eles tem uma coisa em comum. Duas letras. Sabem quais?

Rose balançou negativamente a cabeça e John deu de ombros.

–-Alfa e ômega. –Respondeu ela, e precisou respirar fundo algumas vezes para não chorar. –Eu gosto de viver. –E mordeu o lábio. –Mas para mim... Meu ômega... Eu... Será amanhã!

Alfa e ômega. Começo e fim.

O rosto de Alden havia virado uma máscara e ela parecia prestes a sucumbir. Rose a agarrou pela mão, antes que isso ocorresse, e as duas correram escadas acima, o que derrubou Shiff. John tratou de segui-las. As duas entraram no quarto do casal e Rose fechou a porta na cara de John, sem a menor cerimônia, dizendo que aquilo era coisa para mulheres resolverem. Ele ficou parado com uma sobrancelha erguida.

Shiff voou a escada acima logo depois e se pôs a bicar a porta. John grudou o ouvido na madeira, mas os resquícios de sussurros que chegavam a ele eram indecifráveis. Ele continuou tentando ouvir por dez minutos, então desistiu e se sentou com as costas apoiadas na parede. Baixou a cabeça e apoiou-a entre os joelhos, ouvindo Shiff bicar a porta e arrulhar baixinho.

Não. Alden não, ela não, não pode, não Alden...

Alfa e ômega. Todo ser humano morre.

Então... Um dia... Rose e eu...

John ainda não havia pensado nisso. Associou o fato ao processo de negação, presente em todo cérebro humano, onde a mente simplesmente não pensava em certos assuntos por serem assustadores. Mas a vinda do Doutor, somada à notícia de Alden trouxeram o assunto a sua mente. A morte. A única certeza da existência humana.

Um dia, ele morreria. Futuro.

Alden estava morrendo agora. Presente.

Ele havia deixado o Doutor partir para morrer sozinho por que não houvera escolha. Mas ele não entregaria Alden ao destino sozinha. Nem ela nem ninguém. Sua mente humana vagava...

Doeria morrer? Sabia que a pergunta soava infantil, mas mesmo assim ela retumbava em sua mente... Onde quer que lesse ou ouvisse, não tinha informações sobre a dor. Não que ele se lembrasse, pelo menos. Mas tinha certeza que tudo o que vira ou lera sobre a morte mencionara a solidão. As histórias eram unanimes nisso. Um arrepio percorreu sua coluna. As palavras do Doutor ecoaram em sua mente.

Eu não quero ir.

John se pegou tomando a frase por sua opinião. Ele não queria. Pelo jeito com que Alden agira, ela também não.

Ele não ouviu a porta abrir, mas ouviu o roçar de asas de Shiff voando para o ombro da dona. Ele levantou a cabeça.

Alden parecia ter chorado e lavado o rosto. Ou poderia estar simplesmente cansada, John não soube dizer. Ela parecia desalentada. John se levantou e colocou a mão em seu ombro, sorrindo pequenamente. Alden tentou sorrir de volta, mas tudo o que conseguiu foi tremer o canto direito da boca. Rose sorriu também.

–-Rose, você realmente não precisava... –Começou Alden, mas foi interrompida por Rose.

–-Precisava, sim. –Disse ela.

John olhou confuso para Rose, e ela abanou a mão quase imperceptivelmente. Depois, era o que o gesto dizia.

–-Vamos, John. –Chamou ela. –Vamos levar Alden em casa. –E as duas começaram a descer as escadas.

–-O que? –Perguntou John.

–-Só vem. –Respondeu Rose, entregando um papel a John. Ele o desdobrou e encontrou um papel com um endereço na caligrafia de Alden. Então as seguiu, com cara de bobo.

John achou que Alden devia estar realmente assustada. Primeiramente, não era do feitio dela ir àT casa dos dois buscar ajuda. Ela sempre levava ajuda. Segundamente, Alden nunca, em hipótese alguma, revelava onde vivia. Fazendo essas coisas agora, era notável que ela estava assustada.

Rose se sentou no banco de trás do carro com Alden e Shiff. John dirigia, sob os comandos da cigana. Ele anotou mentalmente que seria bom comprar um GPS.

Passaram por várias ruas cheias de prédios abandonados. John estava começando a se sentir culpado por nunca ter perguntado a Alden onde e como ela vivia. Então viraram em uma rua tão diferente das outras que John simplesmente parou de acelerar, surpreso, e o carro morreu.

O lugar era formado por muitas casas sem segundo piso, todas muito bem construídas e pintadas em cores diferentes. Lá e cá havia prédios maiores. A rua era feita de pedras, onde crianças brincavam para lá e para cá. Casais passavam, mulheres conversavam e idosos estavam acomodados em cadeiras fofas na frente das casas.

–-É aqui que eu vivo. –Disse Alden, parecendo esquecer por um momento de sua tristeza. –Deixe o carro estacionado e vamos a pé.

O casal obedeceu. Algumas crianças pararam sua corrida para olhar o carro, mas logo foram cutucadas com força por outras e voltaram a correr.

A primeira vista John achara que o lugar era composto por apenas uma rua, mas se enganara. Várias outras ruas saiam em perpendicular da principal, formando um pequeno bairro. Todos pareciam ter uma enorme queda por roupas coloridas, de modo que as roupas de John e Rose pareciam sem graça.

A certa altura um homem veio andando na direção de do trio. Parecia ser mais velho que John; Tinha cabelos meio grisalhos e uma certa barriga. Seus olhos eram de um negro quase sobrenatural.

–-Caríssima! –Exclamou ele, em italiano mesmo. “Queridíssima!”. Depois falou em inglês, mas com um sotaque muito carregado. –Eu soube. –E abriu os braços. Alden sorriu e o abraçou. Murmurou algo e, para surpresa de John e Rose, o beijou no lábios.

–-John, Rose! –Exclamou o homem, como se já os conhecesse de longa data. –Que bom que vieram!

Alden notou que as sobrancelhas erguidas de John e tratou de explicar.

–-O que? –Perguntou. –Acharam que eu era uma louca que morava sozinha, rodeada de pombos e bules de chá?

John balançou a cabeça depressa, fazendo Rose rir.

–-Esse é Enrico, meu marido. –Disse ela.

–-Prazer. –Disseram John e Rose, cumprimentando Enrico.

–-Nossa casa fica, virando a esquerda, no fim da rua. –Disse ele.

–-E acho que você quer explicar a John por que estamos aqui. –Disse Alden a Rose. –Vamos indo na frente e você nos seguem, certo?

E os dois foram andando meio a frente. John e Rose ouviram, com toda a clareza, Enrico dizer: “...Falei por que eles iriam se perder...”

–-John. –Começou Rose. John voltou seu olhar para ela automaticamente, enquanto andavam. –Vou ser direta. Quando estávamos no quarto, Alden estava arrasada. Ela me contou que previu que sua morte seria amanhã, mas se negou a me contar como e onde. –Perguntei se podíamos fazer algo para impedir e ela disse que não, mas deixou escapar que gosta da gente, e que seria interessante se a conhecêssemos melhor e... Passássemos seu último dia ao seu lado.

Eles ficaram em silencio.

–-Hey! Onde estão Alden e Enrico? –Perguntou John de repente, girando trezentos e sessenta graus para olhar em volta. Rose riu.

–-Bem que ele disse. –Falou a loira, suspirando. –Ultima casa virando a esquerda, vamos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

No cap que vem tem mais coisas sobre a Alden que ninguém (nem eu) suspeitava.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Animos Domi" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.