No meio do turno de trabalho Daniel chamou John e Rose de repente, sem explicar nada. Os dois correram para a sala onde o chefe os esperava e Daniel falou depressa, sem ao menos cumprimentá-los.

–-Registramos um pico de energia temporal.

John ficou muito quieto. O que energia temporal, muito provavelmente do mesmo tipo que a TARDIS usava, estaria fazendo naquela dimensão?

–-Quero que vocês vão até lá investigar. –Disse Daniel. –Sei que estão cansados, mas os agentes comuns já estão em missão.

Daniel os acompanhou até o saguão, depois saiu para seus outros afazeres. Os dois vestiram os uniformes, pegaram as mochilas e seus manipuladores de vortex. Agora teriam cada um seu manipulador. Seriam responsáveis por quebras, furtos e tudo o mais, mas ficariam com eles em tempo integral, até mesmo em casa. Dez minutos depois, partiram em um jato preto pequeno.

–-O que será que produziu a energia? –Perguntou Rose em algum momento da viagem. Ela parecia preocupada também, mas não conseguiu disfarçar o traço de contentamento em sua voz, coisa que deixou John bastante aborrecido.

–-Pode ter sido qualquer coisa. –Disse ele. –ALIENS, projetos secretos do governo... –E acrescentou, baixinho, só para si. –Ou a TARDIS.

Era um vale enorme e muito silencioso. Os dois andaram por mais de uma hora sem encontrar absolutamente nada. Até que o cansaço venceu.

–-Ah, vamos voltar e dizer a verdade: Não achamos nada. –Disse Rose. –Torchwood pode enviar mais gente depois...

Mas um enorme estrondo os fez calar. Lembrava uma bobina de tesla.

Três.

John estacou, completamente imóvel, apurando os sentidos. Não podia ser, em hipótese alguma podia ser o que estava pensando... Rose continuou por mais três metros antes de notar que John ficara para trás, então parou também. Passou os olhos pelo humano e voltou para a frente, então soltou um pequeno gritinho.

Mais a frente, caído de bruços, estava alguém alto, magro e que usava um sobretudo marrom. John e Rose ficaram em silencio por vários minutos.

Os dedos do senhor do tempo se mexeram levemente. Isso pareceu despertar os dois: Eles correram até lá e o viraram.

–-Ele não está mal. –Disse John. –Corações batendo, pele não muito pálida, olhos úmidos...

–-Mas como ele veio parar aqui?—Perguntou Rose, desesperada. –Isso é... Impossível!

Os dois se fitaram por um longo momento. Não saberiam dizer o que sentiam ou pensavam: A situação era a mais estranha imaginável. O pensamento de que era um simples humano comum e que O Doutor era o incrível senhor do tempo voltou para atormentar John.

–-Vamos levá-lo para casa. –Disse John de repente. –Torchwood não é uma boa opção agora, vão querer estudá-lo...

–-Claro. –Disse Rose. –Mas você sabe que se nos tele transportamos daqui agora sem dar nenhum motivo eles irão bater lá em casa.

–-Sei. –Concordou ele. –Mas podemos acomodá-lo antes de torchwood chegar. Então vou até a base responder tudo o que eles quiserem saber, mas não podem levar O Doutor.

John colocou uma das mãos d’O Doutor sobre seu próprio manipulador e nesse momento notou que ele também usava um manipulador de vortex.

–-No três. –Disse o humano. –Um... Dois... TRÊS!

Um segundo depois estavam na cozinha da casa. Os dois levaram o senhor do tempo, Rose segurando suas pernas e John, seu tronco, até seu próprio quarto. Tiraram seu manipulador, seus sapatos, seus óculos e seu sobretudo, depois colocaram um cobertor sobre ele.

–-O melhor é esperar ele acordar. –Disse John. –Tente fazer algo para ele comer quando acordar. Vou indo para torchwood, tudo bem?

–-Seria bom você descansar, John, Torchwood realmente nos cansou hoje...

–-Descanse por aqui, vou tentar voltar rápido. –Respondeu ele, passando a mão pelo rosto cansado. Deu um beijinho em Rose, depois achou estranho fazer isso com O Doutor por perto, mesmo que ele estivesse inconsciente. Então saiu.

Rose continuou olhando para o senhor do tempo por um longo momento. Sua cabeça trabalhava em um ritmo frenético mas seus olhos comichavam de cansaço. Como era possível O Doutor ter chegado ali? Os dois universos ainda estavam de pé, mas por quanto tempo? Por um segundo a lembrança de John ajoelhado e de smoking passou por sua mente, sendo logo substituída por uma d’O Doutor em uma moto, perguntando se ela iria pelo mesmo caminho...

E de repente a verdade a inundou. Meu Deus, ela estava noiva! Oficialmente, ela e John Smith estavam completamente inseridos na sociedade humana.

Rose dormiu por duas horas no sofá da sala, acordando sobressaltada com o som do celular tocando.

–-Alô?—Perguntou, tonta de sono.

–-Rose!? –Era a voz de Liz. –O que está acontecendo? O senhor cabelos chegou aqui em torchwood, eu o vi porque vim buscar umas coisas que tinha esquecido, e ele parece pálido e estressado... Ele está muito nervoso e se trancou com Daniel em uma sala de reuniões... Há quanto tempo ele não dorme, Rose? Ele está com uma cara péssima...

Rose não entendeu muito bem as palavras, ainda estava meio que dormindo.

–-Liz, olha... Está tudo bem. É sobre um pico de energia que houve... John acha isso perigoso, só isso...

–-Tudo bem, Tyler, tudo bem... –Cedeu Liz. –Mas ainda acho que tem alguma coisa acontecendo aqui. Ele está com uma cara péssima...

–-Te ligo depois. –Disse Rose, interrompendo a amiga. –Vou comer alguma coisa.

–-Tudo bem, tchau.

Mas Rose não foi até a cozinha. Primeiro foi ao quarto e viu se O Doutor continuava lá. Ele ainda dormia. Por um momento ela temeu que tudo pudesse ter sido um sonho. Então pegou novamente o celular e ligou para um restaurante que entregava em casa. Não estava nem um pouco a fim de cozinhar.

Ficou vendo televisão, fazendo de tudo para não cochilar novamente. Queria estar acordada quando John chegasse e quando O Doutor acordasse. Chegou a conferir se estava tudo bem com o senhor do tempo por duas vezes. Então a campainha tocou, depois de umas horas, e um rapaz entregou a comida pedida por telefone.

Rose largou a entrega em cima do armário e se jogou em uma cadeira. John largara o manipulador de vortex d’O Doutor em cima da mesa. Ela o pegou e o analisou. Parecia perfeitamente normal, mas era um fato que se tivesse ido parar naquela dimensão de propósito, O Doutor usaria sua TARDIS. Ou não?

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Passaram o resto do dia em silencio. Mas a noite, quando os dois estavam vendo televisão antes de dormir, Rose, já recuperada de tudo, resolveu iniciar um dialogo.

–-John. –Ele virou para ela. –Estamos noivos. Você acha que eu teria aceitado se não te amasse?

John ficou escarlate.

–-Bom, é que... Somos a mesma pessoa, sabe? –Sua voz virou um sussurro. –E ele é O Doutor, com todo o espaço e tempo...

Rose riu e deitou a cabeça no ombro do humano.

–-Idiota. –Disse ela. –É por isso que eu gosto de você. Você é bobo e preocupado e inteligente e inocente.

–-Eu não sou inocente... –Rebateu ele.

–-É sim. –Interrompeu Rose. –Inocente e completamente humano. Você não consegue ver a enorme diferença entre você e O Doutor.

John sorriu internamente. Depois de ser confundido com O Doutor e comparado com O Doutor, ele amou ouvir que era diferente do senhor do tempo. Sentiu-se bem por ouvir aquilo de Rose, mas logo depois se sentiu mal por lembrar o que aconteceria com O Doutor. Ele iria morre. Ele estava sozinho. Ele iria morrer sozinho. O maior medo daquela regeneração se tornaria verdade: Morrer, mais especificamente morrer sozinho. O Doutor amava Rose da mesma maneira que John a amava. Era algo muito intenso. Ele merecia algo mais... Seria essa sua recompensa? John sentiu um aperto no coração e um bolo na garganta. Abraçou Rose, mas não virou o rosto. Os dois adormeceram por ali mesmo, ambos pensando n’O Doutor.