A Fuga escrita por Summer


Capítulo 4
Conforme-se garota, você não é mais criança!


Notas iniciais do capítulo

R.I.P Cory ;(



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Abro meus olhos, as árvores passam com velocidade por mim, sinto um cobertor ao meu redor, e meus pés estão envoltos em uma gosma estranha, não quero mostrar que estou acordada, ainda não sei quem esta no carro comigo, estou virada de costas para eles, por um momento penso em me jogar com o carro ainda em movimento, mas essa não é exatamente uma boa ideia, hoje eu não estou muito propensa a boas ideias. Felizmente meus sentidos voltam por completo e eu posso reconhecer com certa dificuldade as vozes no carro.

– O que vocês estão fazendo aqui? – Pergunto olhando com espanto para Frank que é quem está mais perto de mim.

– Viemos te salvar. – Ele diz como se fosse a resposta mais óbvia do mundo.

– Vocês vão se meter em encrenca. – Eu digo olhando para ele severamente.

– Fique calma! – Mike, que está no volante, me aconselhou.

– Ficar calma? – Eu replico exasperada – Você esta realmente me pedindo para ficar calma? – Ele me olha por um segundo como se eu fosse uma adolescente inoportuna – Você percebeu que existem centenas de policias atrás de mim?! Centenas! – Repito para dar ênfase, uma característica minha.

– Nós sabemos o que estamos fazendo. – Mike me responde sem emoção.

– Não, vocês não sabem! – Eu grito – Vocês não tem a menor ideia.

– E o que você sugere que nós façamos? – Ele pergunta com sua voz um pouco mais grossa, mas sem nunca gritar.

–Me deixem aqui e vão viver suas vidas! – Eu retruco irritada e a beira das lágrimas. Não gosto de chorar publicamente, por isso evito o máximo possível, levanto a cabeça na esperança de fazer as lágrimas desaparecerem em meus olhos.

Michael para o carro no acostamento e eu percebo que não quero ser deixada para trás, mas preciso fazer isso por eles, meus amigos não podem comprar minha briga. Saio do carro e fecho a porta com força atrás de mim. Michael sai do carro logo depois de mim e caminha até minha direção, não sei o qual é a dele, ele para a minha frente.

–O que você espera que nós façamos? – Ele pergunta com os punhos em riste – Nos sentemos confortáveis em nossas casas? Sinto lhe dizer, mas nem você nem nós fazemos alguma ideia do que é tudo isso – Ele faz um gesto abrangente com as mãos como se houvesse algum tipo de circuito de câmeras no meio do nada – Eu sei que você é orgulhosa, muitas vezes, mas precisa de nós, e nós precisamos de você. Você faz parte do time, e eu sei, assim como todo o resto de nós, que você não, nós não te abandonaríamos, então, por favor, não nos abandone.

Mike é o tipo de pessoa que nunca fala. Olho para ele sem ação. Sinto as lágrimas chegando, mas não as deixo cair, não estou pensando direito, não quero que eles me acompanhem, porque mesmo não fazendo ideia do que quer que esteja acontecendo, de uma coisa eu sei, é um caminho sem volta.

Abraço Mike, um ato que deixa ambos surpresos, não sou o tipo de pessoa que abraça os outros, nem que fala “Eu te amo”, mas quando isso sai de mim, todos podem ter certeza de que é verdadeiro. Seu abraço é forte, como se de alguma forma ele quisesse diminuir ainda mais a distância entre nós, eu não ligo, me sinto confortada e percebo que durante toda noite eu quis inconscientemente um abraço.

Ele beija minha testa, ok, eu corei um pouquinho. Finalmente Frank nos avisa que precisamos partir, eu o soltorelutantemente, ele tem realmente belos músculos abdominais, e caminhamos juntos até o carro. Frank passa para o banco da frente e Kath vem para o de trás, nunca vi Kath ficar quieta por tanto tempo, sua expressão é séria enquanto começa a fazer curativos nos vários arranhões nos meus braços e nas minhas pernas, meu vestido esta um lixo.Fico tristepor um segundo, eu comprei esse vestido na Índia, era um vestido muito legal, então me lembro das razões pelas quais perdi o vestido, bem, só posso agradecer por estar viva.

E com pés, Zeus, meus pés estão horríveis, o sangue não para de escorrer, Kath esta preocupada, acha que eu posso ter contraído alguma doença, ou Buda sabe o que. Meus pés estão totalmente esfolados, e algumas feridas estão muito profundas e não param de sangrar, que horror, Kath esta tentando tirar as pedrinhas, folhas e gravetos que se instalaram no meu pé, não quero entrar em detalhes, mas isso é tão desagradável e doloroso quanto parece, é engraçado o fato de eu não ter sentido tanto meu tornozelo quebrado quanto agora, e nossa, não desejo isso a ninguém.

Lágrimas de dor vem aos meus enquanto Kath retira uma pedra particularmente grande e afiada, por um momento a dor física me afasta, mesmo por poucos segundos da realidade, mas é muito difícil fugir por mais tempo, quando a dor se torna quase suportável, eu volto meus pensamentos para o momento em que percebi que eu tinha que correr, meu instinto primitivo me dizia que aquilo era o que eu precisava fazer, é claro que estou confusa, porque tudo isso não faz o menor sentido, desde a parte em que policiais decidem correr atrás de mim no meio da noite sem nenhuma razão aparente – estou crendo que não há razões para isso – até o fato de que eu corri, porque eu não fiz nada, e tenho certeza disso.

– Onde esta o resto do pessoal? – Pergunto assim que a questão vem a minhacabeça, porque eu não fazia a menor ideia de onde eles estavam, e já estava ficando preocupada, minha respiração começou a acelerar, não sou do tipo que fica preocupada com todos o tempo todo, ao menos eu não era.

– Se acalme.–Mike me disse sem tirar os olhos da estrada – Eles foram buscar alguns suprimentos e coisas do tipo, tenho a impressão de que não voltaremos pra casa tão cedo. – Sua voz carrega um estranho tipo de humor, descubro rapidamente o conhecido “humor negro”. Não sei por que isso me deixa tão abalada, olho para Kath que continua silenciosa, e Mike, que raramente fala alto, que raramente faz algum tipo de piada, e que agora esta batucando o volante com alguma melodia que só pode ser ouvida na sua cabeça, Frank esta silencioso, ele mantem as mão unidas e olha para o céu, como se fizesse uma oração fervorosa, é a primeira vez em meses que eu o vejo sem Hazel, não é como se eles se prendessem, mas nas palavras dele “eles são mais felizes juntos”.

As coisas estão mudando rápido demais, e se há algo que eu não suporto são mudanças, porque elas sempre geram dor, não importa se são mudanças para melhorar ou piorar, algum lado sempre sai ferido.

Não tenho ideia do nosso destino, mas confio em Mike, Frank continua na sua oração silenciosa e Kath permanece em seus devaneios, normalmente quando estamos sem assunto – o que é uma situação extremamente rara – Kath começa a falar de sua banda favorita, só porque nenhum de nós compartilha seu encanto por K-Pop, que é estilo de musica asiática que ela ama. Sinto falta disso, nunca havia percebido o quanto amo minha vida, até estar tão perto de perder tudo.

Um carro de policia se aproxima e meu coração acelera como se eu estivesse pulando de um prédio de cem andares e no meio do caminho percebo que não tem nada para me segurar, mas a viatura passa direto por nós. A curiosidade, ou talvez o tédio – é comprovado cientificamente que adolescentes sofrem de tédio muito mais do que em qualquer outra fase da vida – me vence.

– Para onde estamos indo? – Faço a pergunta crucial.

– Para uma casa que fica próxima da cidade, mas afastada o suficiente. – Mike me responde também entediado, agora que a adrenalina passara, o tédio era algo até suportável, mas agora, ele vinha com uma dosagem igual de medo, um sentimento novo e completamente estranho para mim, mas que começava a se tornar irritantemente familiar.

– A quem pertence essa casa? – Eu pergunto preocupada, não é exatamente normal um grupo de adolescentes aparecerem no meio da madrugada pedindo asilo na residência de um estranho.

– No momento... – Ele faz uma pausa – A ninguém, é uma das casas que são caras demais para meus pais venderem para qualquer um.

Ah, é claro, nessas casas Mike fazia suas “festinhas” da faculdade, eu não esquecia que ele e Matt já estavam na faculdade, participando de seus dias de glória, apenas ignorava esse fato. Nessas festas rolava de tudo, e embora eles sempre me convidassem, eu não me sentia atraída a esse ambiente propenso à embriaguez e à uma criança ocasional, não bebo, nunca bebi, embora a maioria dos meus amigos já tenha passado pela experiência, preferi me privar disso, já que sempre sou eu que acaba levando todos para casa e tentando esconder o bafo de vodca que sempre fica, nunca me importei muito com isso, por alguma razão isso fazia eu me sentir necessária de um modo que nada mais faz.

Finalmente, depois de uma hora interminável de silêncio no carro, que só era cortado pelo rádio e pela mini televisão – que anunciava uma busca por mim em cada local da cidade e do estado, e mostrava fotos horríveis de mim – chegamos a tal casa, é grande, mas nada muito especial, é apenas uma casa sem quintal, mas a casa era luxuosa, tudo nela gritava “SOU CARO”, o que me faz entender o porque da mãe de Mike não conseguir vender a tal casa, Sra. McConner ou como eu a chamo:“Mãe-de-Mike-futura-sogra-e-coisa-e-tal” era uma corretora de imóveis muito prestigiada no estado, o que eu não entendia já que ela só vende casas como muitas outras pessoas, mas isso não estava no topo da lista de coisas que eu não entendo, o fato de eu estar fugindo-da-policia-por-conta-de-algo-que-eu-não-fiz está.

Mike estaciona o carro entre as árvores que ficam perto da casa, estou pronta para siar do carro quando sinto o aperto de uma mão pequena em meu pulso.

– Não precisa de tanto esforço, – Kath me olha nos olhos – Frank pode carregar você. – Ela me olha como se esperasse que fosse desafia-la, o que é claro, eu fiz.

– Eu posso andar até lá. – Eu digo medindo a distância do carro até a casa.

– Não, – Ela repete – Frank vai levar você, porque eu passei um bom tempo limpando seu maldito pé, e a não ser que você queira que eu mesma tome a liberdade de corta-los pelos tornozelos.

Kath sabe ser assustadora quando quer, são nesses momentos que eu percebo que devo obedece-la, Frank ainda parece confuso, mas me pega no colo e me carrega pela pequena distância até a casa que eu poderia ter caminhado perfeitamente, mas não vou reclamar, porque meu tornozelo continua doendo, e meus pés também, mas é meio humilhante ser carregada por alguém, é claro que Frank e forte, bonito e tal, e ele não se importa com isso, mas é claro que ele é namorado da Hazel e eu sou uma adolescente quase adulta.

Mike abre a porta da casa que dá para a cozinha, já que entramos pela porta dos fundos.

– Leve ela até o sofá mais próximo. – Kath instrui, o que é claro ele faz, porque todo mundo obedece a Kath quando ela esta no modo mandão.

Frank me coloca no sofá e senta na poltrona em frente ao sofá, me sinto exposta já que não tem praticamente nada me cobrindo, meu vestido esta em frangalhos e meu orgulho também, Kath vasculha a casa procurando por Buda sabe o que, e eu permaneço lá, sentada com meus pés apoiados na mesa de centro, Mike senta ao meu lado após vistoriar todas as janelas e portas da casa para ter certeza de que estão trancadas.

– Nós não vamos poder passar muito tempo aqui. – Eu não estou perguntando, sei da verdade, nós não estamos seguros em lugar algum. Mike pega minha mão entre as suas, não sei se suas mãos estão quentes, ou se a minha esta fria, mas ele as mantém lá por alguns segundos antes de responder.

– Vão nos procurar aqui, temos no máximo um dia até que alguém perceba as chaves desaparecidas do escritório da minha mãe, e depois será uma questão de tempo até que alguém chegue aqui.

Assinto silenciosamente e deito a cabeça em seu ombro, em circunstâncias normais eu não faria isso, mas não estava ligando muito para as circunstâncias normais no momento, Mike acaricia meu cabelo por algum tempo.

– Achei! – Kath grita do andar de cima, ouço seus passos descendo a escada, mas não me viro para olha-la, ela aparece no meu capo de visão segurando um cobertor e uma garrafa de champanhe, ela me cobre com o cobertor e abre a garrafa com um abridor embutido.

– Ao futuro! – Todos exclamam ao beberem um gole, Mike me oferece a garrafa, mas eu recuso, ele me oferece novamente, seu olhar mais firme.

Eu pego a garrafa, me sinto estranha, mas poderosa de uma maneira diferente, eu olho para ela, nunca havia bebido na vida, não liguei para isso.

– Ao imprevisível! – Exclamo antes de beber um gole generoso, porque o resto de nossos amigos ainda não voltou, porque estou sendo cassada e minha cara está em cada maldito jornal da cidade, meu nome soa por todas as rádios, e minha casa esta sendo invadida por policias, mas eu ireilutar, não sou o tipo de pessoa que cai, sorrio, um sorriso mínimo, não sei o que me aguardava no futuro, e seja lá o que for estou mais do que pronta para combater.


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Notas finais do capítulo

Então?



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