A Fuga escrita por Summer


Capítulo 3
Adeus liberdade, não acho que nos veremos no natal


Notas iniciais do capítulo

Gente, não estou podendo postar porque estou sem net, sorry =
mas sexta-feira já tenho a internet e tudo volta ao normal =)
Vou responder e dar print em TODOS os comentários, e eu realmente agradeço os comentários de vocês, vlw.



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Estamos aqui fora há cerca de 50 minutos, já estou preocupada, não podemos sair, policiais cercam a área por todos os lados, não há como entrar nem como sair, meus pés doem, estou sem sapatos, minha cabeça dói, as pessoas gritam a meu redor, o desespero é palpável, já estou cansada, meus amigos sussurram entre si, não quero participar da conversa, quero informações.

Vou até o policial mais próximo de mim, ele se encontra apoiado em uma viatura, seu rosto é a expressão do desespero, é possível ver as veias em sua testa, seu rosto é de um tom quase impossível de vermelho, seus olhos estão saltados, ele observa com desespero a tela de ipad, coloco a mão em seu ombro, ele pede um minuto com a mão, estou impaciente, cutuco seu ombro novamente, com mais força dessa vez, ele me olha sua expressão é aborrecida, ele parece estar pronto para me dar uma resposta bem mal humorada, mas ele para sua expressão muda de raiva para o mais puro espanto, sua expressão passa do vermelho escuro para o violeta, ele abre a boca em um “o”, sem nada dizer, seus olhos estão arregalados ele mantem um profundo silêncio, estou pronta para chamar uma ambulância, mas ele grita.

– É ela! – ele grita apontando para mim, seu rosto era desespero – Foi ela! Ela matou o Presidente! Corram!

Meu sangue vira gelo, fico parada, não sei o que fazer, olho para os lados, policiais vem de todos os lados, o homem continua com o dedo apontado para mim. Não sou mais eu governado meu corpo, vejo a mim mesma correndo contra a barreira policial, pego eles de surpresa, é minha chance, corro como se minha dependesse disso, e nesse momento eu sei que depende, sigo reto e eles correm atrás de mim, não sei o que fazer, minha mente esta vazia, não tenho coragem de olhar para trás, não quero saber o que me espera, já estou correndo por muito tempo, já não tenho mais fôlego, a cada segundo eles estão mais perto, vejo na frente de um supermercado, umcasal qualquer de namorados, a garota perde seu xale para o vento e o rapaz vai busca–lo, deixam para trás uma moto brilhante, a chave esta na ignição, posso ver mesmo distante, eu nunca roubei nada, nunca dirigi nada, não acho que tenho capacidade de quebrar dois tabus ao mesmo tempo, mas eu sei que preciso me salvar, e no momento essa parece à única maneira, subo na moto dou a partida, a moto ganha vida em menos de meio segundo, ouço o casal atrás de mim, ouço a policia atrás de mim, mas não me importo, eu sei o que preciso fazer, não sei para onde estou indo só quero ficar o mais longe possível desse lugar.

Eu poderia não saber para onde ir, mas meu subconsciente sabe, ele sempre sabe. Aqui estou, depois de cinco anos estou de volta à casa de campo da família Campusales, tudo permaneceu no seu lugar mesmo depois de todos esses anos, mas agora, uma grossa camada de poeira encobre todos os móveis, a Sra. Campusales não se deu ao trabalho de tentar conservar os móveis da casa, ela simplesmente saiu, e nunca mais voltou, nenhum de nós voltou,até hoje.

Meus olhos são levados até a imagem no meio da sala, uma família feliz é retratada, pousam na garota que esta na ponta da foto, ela sorri, um sorriso realmente feliz, de uma garota de onze anos que não tem nada a temer, seus cabelos pretos são encaracolados e cortados bem abaixo da orelha, seus olhos são azuis, quase da cor da água, por um segundo eu me permito um sorriso, nossas aventuras enchem minha mente, mas então a última de todas aflora, meu sorriso desaparece tão rápido quanto surgiu, desvio meus olhos da foto e contemplo o vazio, não há nada que eu possa fazer para melhorar a situação, agora que estou sozinha o pânico me encontra, não posso acreditar no que eu fiz, eu roubei uma moto, eu fugi da cena do crime com uma moto roubada, toda experiência que tenho no quesito “policia” me diz que você nunca, jamais, de maneira alguma deve fugir da cena do crime, isso só faz você parecer culpada, mas é claro que eu não liguei para isso naquele momento, não liguei para nada naquele momento. Eles devem ter enchido meus amigos de perguntas, e pela primeira vez eu paro para pensar sobre eles.

Eu os deixei, na minha ânsia de fugir daquele maldito lugar eu os deixei a mercê deles, dos “homens da lei”, sinto raiva e vergonha de mim mesma, não posso acreditar no que fiz, tampouco posso acreditar no que aconteceu, estou confusa, e confusão é um sentimento que outrora fora familiar, mas agora não é mais, quero correr, quero gritar, mas muito mais que tudo isso quero voltar para casa e quero saber que tudo esta bem, a pior parte e ter certeza que não esta, não é um sonho, em algum momento entre a fuga e achegada até aqui me dei conta de que tudo isso não é um sonho.

Minhas roupas estão sujas e meus pés esfolados, mas não consigo me preocupar com isso, não consigo pensar em nada além do desespero e do medo que fazem com que eu me encolha a cada ruído, quero minha casa tão desesperadamente, quero me encolher na minha cama e quero ouvir que tudo ficará bem, quero meus pais e quero meu irmão irritante e barulhento, quero meus amigos, como eu quero falar com eles, saber que estão bem.

Não ouço ruídos além dos grilos, não tenho ideia da razão, mas ei que não estou sozinha, não mais, sinto a aproximação silenciosa, mas não sei o que fazer, sei que estão próximos, e que são muito mais que um, estou na sala, corro o mais silenciosamente que posso até a cozinha, a visibilidade é mínima, apenas a luz da lua vinda de uma pequena janela ilumina a cozinha, tateio as paredes a procura da porta dos fundos, encontro-a e para meu azar ela esta trancada, em desespero tento chuta-la afim de abri-la, mas é um esforço inútil, sinto uma dor lancinante no tornozelo, que droga, agora estou mancando miseravelmente, além do que ao chutar a porta eu me denunciei, denunciei minha localização, e para meu azar estou sem saída, procuro desesperadamente por alguma forma de fugir, vejo na janela minha única saída, mas mesmo estando no térreo ainda era uma queda bem alta, sem contar é claro que a janela é muito estreita, existe uma grande chance de eu não poder passar por ela, mas não tenho outra opção, ouço eles já na varanda.

Subo na mesa que fica abaixo da janela, posso ouvi-los na sala, consigo passar com facilidade pela janela, estou parcialmente suspensa, vendo agora percebo que isso é uma péssima ideia, não sou exatamente uma grande fã de altura, mas eu sei que eles estão próximos, pulo antes de poder pensar mais sobre o assunto.

Ouço meu tornozelo antes de senti-lo, é um som enjoativo e agora tenho certeza de que está quebrado, sem tempo para pensar corro o mais rápido que posso para o pequeno matagal que pode me oferecer asilo até que eu chegue ao meu destino: A rodovia principal, que pode me levar para bem longe dessa cidade assustadora onde eu nasci e cresci, e onde agora estou sendo expulsa.

A escuridão é minha única companheira, já estou assustada, meu progresso é lento, eu carrego minha perna direita, enquanto minha pele é torturada pelos insetos e pelas árvores, não consigo ver muito além do meu nariz, o que faz com que eu constantemente bata a cabeça nos troncos das árvores ou escorregue em suas raízes, o pior de tudo é que não sei que direção estou tomando, sei que estou perdida, mas continuo andando o mais reto possível.

Quando eu era criança, atravessava essa mata em apenas cinco minutos, tudo era fácil, e simples, não existiam mortes misteriosas, ou policiais correndo atrás de você sem nenhuma razão aparente, eu sinto falta dessa época, mas sei que ela não pode voltar, me concentro em minha busca pela saída dessa prisão de plantas, preciso dar um jeito de provar minha inocência, minha sede por justiça me move, já que meu corpo não esta fazendo um bom trabalho.

Não tenho sinais de luz, ouço apenas eles se aproximarem, ando silenciosamente, não quero delatar minha posição, mas já esta difícil, meus pés não aguentam mais, provavelmente estou adquirindo centenas de doenças por andar na terra com os pés esfolados e descalços, sei que o santo esta siando aos montes.

Minhas esperanças já estão quase nulas, eis que surge a luz, faz muito tempo que não venho aqui, mas nunca me esquecerei desse muro, quando éramos crianças fazíamos competições para determinar quem era o melhor atleta entre nós, eu nunca ligava para isso, mas sempre tive um fascínio por aqueles muros, adorava escala-los e me sentia completa quando subia até o topo dele, aperfeiçoei por muito tempo minha técnica para pular aquele muro, e por fim meu esforço deu resultados.

Assim que me vejo na rodovia, senti um estranho alívio se apoderar de mim, mancando comecei minha caminhada, passo a passo, seguindo sempre reto, meus pés doíam, meu tornozelo doía, mas eu não ligava, só queria me ver longe daqui, quem sabe pedir asilo politico a algum país da União Europeia.

Justo quando estou começando a acreditar no meu plano, um carro surge bem distante, a adrenalina, que me move desde o inicio da noite, agora está aqui, presente, corro porque minha vida depende disso, corro tão rápido quanto posso, mas não há muito que fazer, mesmo com energia meu corpo não pode mais correr, eu sinceramente não gosto da ideia de que posso morrer ou algo do tipo, eu realmente gosto de viver, gosto de não ter certeza sobre algumas coisas, gosto das minhas tentativas infrutíferas de tentar conquistar o Mike, eu realmente gosto de gastar meu tempo passando trote com o Matt, gosto de ouvir o sotaque falso que Frank usa para pedir pizza, gosto de quando a Hazel faz pudim e todos tentam pegar um pedaço antes de estar pronto, e de como ela anda de um lado para outro com um canivete, eu gosto quando a Kath começa a rir por conto de uma piada que ela lembrou, e não importa onde nós estejamos, não importa se não sabemos a piada, todos nós rimos, eu tenho uma vida incrível, e amigos incríveis. O que há de tão errado em ser feliz? Parece que todas as forças do universo conspiram contra você quando você é feliz.

Tropeço no que acredito serem meus próprios pés e caio de cara no asfalto quente, sinto o sangue escorrer de meu nariz quebrado, preciso me levantar, mas não tenho mais forças, sento na rua, a mercê do que está me perseguindo, não tenho mais forças para continuar, só tenho esperança é a de que seja tudo rápido, talvez não indolor, mas rápido.

Um feixe de luz é aceso em meu rosto, não posso ver quem acendeu, não posso ver nada, o estranho sem nome grita algo, mas não consigo distinguir as palavras, sua voz parece vir de longe, alguém segura minhas mãos e me coloca no ombro, me carregando como se eu fosse um saco de batata, me joga com força em um banco de carro, e nesse momento, o cansaço me leva.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Prometo que não vou demorar para o próximo =)



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