Desejos escrita por Vivian Sweet


Capítulo 32
Capítulo 32 - Feelings for you




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'Através dos olhos podemos enxergar sentimentos que ninguém mais vê.'

...

Se afastaram, sem desgrudarem o olhar. Julie ajeitou os cabelos, enquanto ele tocou seu rosto, contornando cada detalhe.

— Quero me lembrar do seu rosto... caso você vá embora. Da sua voz, todos os momentos que ficamos juntos.

Ela desviou o olhar pra baixo. Sentia-se triste com essa situação. Queria ficar, afinal, a vida era dela, mas não queria que nada de mal acontecesse com Nicolas, apesar de tudo.

Daniel continuou: — Você tem um bom coração. Tenho ciúmes, mas também orgulho de você ser assim.

Quando ouviu isso ficou surpresa de ver que ele parecia ter lido seus pensamentos. 

— A música acabou. – ela disse.

— É mesmo... Vou colocar outra.

Levantaram-se. Julie segurou no seu braço e disse: - Obrigada... por me entender.

Ele apenas sorriu, mas por dentro sentia que a cada toque, tinha mais vontade de agarra-la e enchê-la de beijos. Ao invés disso, afastou devagar a mão que ela mantinha em seu braço. "Preciso ficar longe dela ou não vou resistir."

— Acho que você deveria dormir. 

— Por quê?

— Você não está cansada?

— Um pouco.

— Então vem. Vou te levar pro quarto... 

Ela sentiu um frio na barriga. Ele era irresistível, sedutor e sua voz fez seu coração acelerar.

Daniel percebeu sua reação e sorriu.

Subiram as escadas que levavam até o quarto. Enquanto ele acendia as velas, ela andou pelo quarto. Na parede do fundo havia duas portas: a do banheiro e a da sala onde ele ensaiava. Espiou dentro da sala. Na penumbra só conseguiu ver uma guitarra despedaçada no chão.

— O que aconteceu com ela?

— Nada, ela caiu da parede.

— E se quebrou tanto assim?

— Era só uma guitarra caindo aos pedaços. – mentiu.

— Hum. – ela viu um papel caído perto da guitarra e foi pegar.

— Não precisa... – ele ia dizer, mas era tarde demais.

— Quem é? Sua mãe? – mostrou a foto pra ele.

— Não Você não conhece.

— Oi? Isso eu sei.

— Ela era... minha irmã – mentiu – mais velha.

— Nossa. Não parece com você.

— Verdade. Não parece mesmo. Me dá. Vou guardar.

— Eu não sabia que você tinha irmã... Ela me lembra alguém...

Pra não ter mais que falar daquilo, Daniel a puxa de repente e a beija. Não queria que ela soubesse que era a ex-namorada. Quando se separaram era difícil regular a respiração e resistir.

Ele balançou a cabeça negativamente, pensando, e ela perguntou o que foi.

— Não pode ser assim – fechou os olhos. – Não posso ultrapassar esse limite. Não pode ser assim. – soltou-a e foi em direção à cama.

Ela sorriu. No fundo um pouco frustrada, por outro lado, feliz por ele respeita-la.

— Por razões óbvias eu não tenho uma camisola pra te emprestar, mas, se quiser, tem esse moletom.

Ela pegou e foi se trocar no banheiro.

— Pronto! Já está tudo arrumado pra você se deitar. Bons sonhos. – deu um beijinho leve em seus lábios.

Julie se deitou – “na cama dele” – pensou. – E você? Não vai dormir?

— Agora não. – ele disse. – Vou ficar te olhando até você dormir.

Ela achou isso fofo. Sorriu pra ele e disse boa noite.

“Nem tudo está perdido” – ele pensou. – “Talvez eu consiga ajuda-la a ajudar esse noivo irresponsável. Quem sabe ela não fica.” – sorriu ao lembrar que ela lhe disse “Eu te amo”.

Enquanto tentava dormir em vão, Julie se lembrava do que aconteceu no bosque e que Nicolas sabia de tudo.

— Daniel!

— Hum? Não vai dormir?

— Não consigo. Estou com medo.

— Ah... não fica assim... – ele segurou sua mão. – Tenta dormir. Estou do seu lado.

Julie acabou adormecendo. Mas seu sono estava agitado. Se debatia na cama e falava. Acordou assustada! Mal conseguia se mexer na cama, de tanto medo. Chamou baixinho: - Daniel! Daniel!

— Oi. Estou bem aqui.

Ele estava no mesmo lugar, olhando pra ela.

— Estou com medo. Tive um pesadelo.

— Eu tenho uma ideia. - Vem aqui comigo. – ele falou.

Pegou um casaco forrado, touca, luvas e deu pra ela vestir.

— Isso deve ser suficiente. Quero te mostrar um lugar.

Saíram da sua casa. Estava pouco iluminado e muito frio. Mas tinha alguns lampiões, que Daniel acendeu.

— Agora me dê sua mão.

Ajudou-a a chegar até uma parte mais alta, onde ficava um jardim. Havia um balanço de dois lugares. Eles se deitaram lá. O céu estava incrivelmente estrelado como ela nunca tinha visto antes. Ela segurou a mão dele, apertando bem forte. Ainda estava com medo do que aconteceu. E ele apertou de volta, como se dissesse – “Fica tranquila! Está tudo bem”. Com Daniel ela se sentia segura.

— Eu sei que pode parecer egoísta, errado e até impossível. Mas eu te quero. Eu sabia que não seria fácil. Mas o que posso fazer se é do seu lado que me sinto vivo? – ele falou e depois beijou-a, pois era a melhor forma de dizer “Eu te amo”.

“Seu beijo me entorpece de tanta felicidade. Você é o meu amor.” – Julie dizia pra si mesma.

Ele interrompe o beijo e fala pra ela: - Não vá embora!

Julie sorriu.

— Até que enfim você sorriu!

— É que isso me fez lembrar uma música.

— Qual música?

— É assim: “Não vá embora, fique um pouco mais... Ninguém sabe fazer o que você me faz... É exagero e pode até não ser... O que você consegue ninguém sabe fazer”.

— Bonita. Eu não conhecia. – ele diz.

— Não conhecia? É do Legião Urbana.

— É... né. – sorriu.

— Sim. Fizeram muito sucesso!

— Ah sim, claro!

— Já pensou em ser famoso algum dia?

— Eu? – ficou pensativo. – Pensei sim.

— E...

— Quando vim pra cá – voltou no tempo – tudo que eu queria era isso. – seu olhar estava distante. – No Brasil eu não ia fazer sucesso. Sempre sonhei alto. E então fiquei sabendo que procuravam banda com talento pra tocar fora do Brasil. Eu não tinha como recusar. Parecia uma chance em 1 milhão. Mas assim que eu conseguisse uma boa grana eu voltaria. Uma parte de mim ficou lá: minha mãe, minha namo... ex-namorada, escola, discos. Enfim, deixei minha vida pra trás porque eu queria provar que estavam enganados. Eu ainda seria muito importante.

Julie ouvia com atenção. E não gostou de saber que ele tinha uma namorada, claro.

— É que os pais dela não me aceitavam. Eles eram milionários. E minha família não era nem rica, nem pobre. Mas eles só queriam saber de status. – ficou em silêncio, pensativo.

— Mas e então?

— Quando cheguei aqui, a história não era bem assim. Eu tinha que tocar num pub e trabalhar durante o dia. E foi aí que conheci o Martin e o Félix. Eles também vieram atrás da mesma oportunidade. Então ficamos sabendo que precisavam de funcionários no hotel. E foi aí que... eu descobri que o hotel que todos chamam de “Black House” se chamava Hotel Castellamare.

— É verdade, você me disse isso no barco. E então o que aconteceu?

— E então que essa foi a parte fácil de contar. Agora é a sua vez. Me fala o que está te obrigando a ir embora.

— É o Nicolas. Antes da viagem eu achava que seria mesmo pra comemorar nosso noivado. Eu tinha uma leve desconfiança de que tinha alguma coisa de RPG também. Mas não imaginei que seria mais do que isso. Chegando aqui tudo ficou estranho, principalmente ele. Ficou aéreo, distante, não se importa comigo. Nem sequer resolveu os problemas que a irmãzinha dele causou. A situação chegou ao limite no dia da festa. Eu estava com ódio dele, por isso não mudei de ideia e fui pra outra festa sem ele. Só quando ele se explicasse eu iria perdoa-lo.

— Logo se vê que ele é um idiota.

— Hoje pela manhã nós tivemos uma conversa. E é por isso que eu tenho que ir embora.

— Mas qual é o motivo pra ir embora assim com tanta pressa?

— Primeiro que eu quase morri... ah... nem vou enumerar todos os meus motivos pra querer ir embora. Só que depois que descobri o que o Nicolas veio fazer aqui, eu tenho que ir embora o mais rápido possível. E eu ia fazer isso essa noite. Mas parece que o destino não quis colaborar.

— Ou o destino preferiu colaborar com nós dois.

Ele se aproximou e a beijou de novo. Era cada vez mais difícil pensar que teriam que se separar e talvez nunca mais se vissem.

— Essa conversa tá complicada...

— Hum-hum. E nós temos muitos segredos.

— E eu quero descobrir todos.

Voltaram a se beijar.

“Eu tinha sede desse beijo. Era o que eu mais desejava. Toda aquela conversa escondia o que estava sob a pele desde que nossos olhares se encontraram pela primeira vez. Queria estar perto dele, saber seus segredos, ouvir sua voz. Eu estava apaixonada, encantada e envolvida em todos os sentidos. Eu estava sentindo a angústia de ter que ir embora e não vê-lo nunca mais.” – Julie pensou.

Daniel se afastou dando vários beijinhos. Então parou e alisou seu cabelo pra trás. Queria admirar seu rosto mais uma vez. Contornou-o com os dedos, assim como se estivesse desenhando cada detalhe. Chegou mais perto e sussurrou.

— Encosta aqui no meu peito. Amanhã você pode estar longe a essa hora. Quero passar cada segundo dessa noite com você.

Julie encostou sua cabeça e ficaram no balanço, observando o céu, abraçados. Estava sonhando acordada, feliz por estar com ele. Acabaram adormecendo ali.

Uma hora depois ela despertou. Foi abrindo os olhos e se lembrando de onde estava. Sorriu com isso. Estava tudo tranquilo e ela estava nos braços dele. Mas então um pensamento perturbador invadiu sua mente e a deixou apavorada. O coração de Daniel não estava batendo.


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