– Obrigada por me trazer – estávamos na frente de meu apartamento ainda dentro do carro.

– Não foi nada, sempre que quiser estou à disposição – sorrimos – E parabéns por hoje, mostrou-me que contratar você não foi um erro.

– Obrigada digo eu por ter me contratado e depositado confiança em uma inexperiente – riu alto – Então vou indo, até amanhã.

– Até amanhã – ia abrindo a porta do carro quando Damon segurou meu braço impedindo-me de fazer o mesmo – Posso te fazer uma pergunta? – assenti com a cabeça - Você e o Stefan ainda dormem juntos na mesma cama?

– Por que a pergunta? – pude sentir minhas bochechas ganharem uma coloração rosada.

– Nada, só uma curiosidade – disse simplesmente. Que raio de pergunta era aquela?

– Não acho que seja da sua conta Damon – disse da mesma forma, afinal por que ele queria saber disso? – Argh! Não, eu durmo na nossa antiga cama e ele no quarto de hospedes.

– Ele vai ficar morando ai até quando?

– Eu pedi pra ele ficar morando aqui até bem entender – bufei irritada com tantas perguntas – Acabaram as perguntas?

– Sim, acabaram – riu – Boa noite Elena até amanhã.

– Boa noite Damon – sorri ainda tentando entender o porquê das perguntas.

Fiquei o caminho da entrada do hotel até meu apartamento o porquê das perguntas do Damon. Não só o porquê como o objetivo daquilo. Pra algumas pessoas pode soar um pouco estranho termos terminado e estarmos morando juntos. Mas só nós dois sabemos o motivo, claro e a Caroline também.

Ah como sinto pena da minha amiga. Tyler era tudo pra ela. Nós conhecemos Ty no último ano de escola. Ele era de Toronto, mas se mudou pra Virgínia quando seu pai faleceu. Acabamos nos tornando melhores amigos e no baile Stefan o aconselhou a convidar Caroline para o baile de formatura. E então nasceu o romance épico.

Infelizmente ele morreu.

– Elena quantas vezes vou ter que dizer pra você me avisar quando for demorar? – Stefan saiu do corredor indo a minha direção com os olhos vermelhos.

– Desculpa, eu te avisei que não precisava me buscar – o acalmei chegando perto dele.

– Desculpa? Você não sabe o quanto eu fiquei preocupado com você.

– Eu imagino – dei de ombros.

– E você fala tão normal assim? “Eu imagino” – imitou minha voz em deboche – Pelo amor de Deus Elena, nunca mais faça isso.

– Não tem nenhum direito de falar assim comigo, Stefan – gritei com raiva pelo seu tom de posse – Não lhe devo satisfações pra onde eu vou ou deixo de ir.

– Não deve Elena, mas precisa – gritou indo pra cima de mim.

– Não preciso não e abaixe esse tom de voz – gritei com lágrimas nos olhos por estar presenciando algo que nunca aconteceu nem mesmo quando namorávamos. Sempre quando brigávamos ou discutíamos Stef vinha pedir perdão e me mimar.

– Você está com câncer Elena, será que você não entende que você não pode se achar a independente – colocou a mão na cabeça e tentou se acalmar – Lena será que você não entende que a qualquer momento...

– Eu posso morrer – o cortei afirmando a frase como um sussurro em vez de soar como imposição.

– Não foi isso o que eu quis dizer – pegou meu rosto obrigando-me a olhar em seus malditos olhos verdes que sempre me encantei – A qualquer momento você pode passar mal querida, e como eu disse, quero cuidar de você enquanto estou vivo.

– Eu sei Stefan, desculpe por te deixar preocupado – abriu os braços e me aconcheguei rapidamente tentando evitar que minhas lágrimas caiam e demonstram fraqueza.

– Me desculpe também por ter falado assim com você – beijou o topo de minha cabeça e suspirei – Eu te amo Lena e sempre vou cuidar de você mesmo que estejamos a milhares de distância.

– Eu também Stef e eu sei disso, na verdade – me afastei para olhar novamente em seus olhos – Você nunca me abandonaria.

– Nunca mesmo.

–x-

– Então como está a Caroline? – estava na sala do Damon. Depois de uma bela noite de sono acordei tão animada para trabalhar que até tinha me esquecido de minha amiga.

– Chorou a noite toda, dava pra ouvir seus soluços do meu quarto.

– Espero que ela supere. Ela amava muito o Tyler, era lindo de se ver – suspirei com tristeza – Ainda não consigo acreditar que o Ty tenha se apaixonado por outra.

– Eu avisei que ele não me passava confiança.

– Você nem conhece ele Damon, o Tyler é muito legal – sentei na cadeira em sua frente – Mimava muito a Caroline e não saia da casa dela estava quase morando juntos.

– É pode ser, mas só sei que atualmente não quero nem conhece-lo – fez careta mostrando raiva.

– Enfim, o que quer que eu faça hoje?

– Ontem passei quase a madrugada toda vendo os pedidos de patrocínio que você escolheu – pegou alguns papéis de sua mesa e me entregou – Os que escolheu são ótimas propostas porém tive que escolher apenas dez. Quero que passe todas essas propostas pro sistema SD com seu login e depois ligue para as empresas para marcar um entrevista.

– Só isso? – assentiu – Ok – levantei-me e fui em direção à saída, mas assim que toquei a maçaneta Damon chamou-me.

– Vem almoçar hoje comigo?

– Claro, aonde vamos?

– Você escolhe – riu e ficou me encarando como se estivesse hipnotizado. Posso dizer o quão extremamente isso é estranho.

– Que tal Virginia Diner? É um dos melhores restaurantes daqui e digamos que a Caroline adora pelo fato de setenta por cento do cardápio ser frituras.

– Tudo bem, quando der o horário nós vamos.

– Ok, tchau – fiz o meu processo interrompido de abrir a porta e ir a minha mesa trabalhar.

–x-

– Vou querer um Country Fried Chicken Tenderloins e um suco de morango e você, Lena?

– Um Chef Salad e suco de laranja com leite.

– Vou trazer, vão querer alguma sobremesa pra ir preparando enquanto almoçam? – perguntou o velhinho que nos atendia.

– Não vou querer nada, você vai? – Damon perguntou pra mim e eu neguei – Só isso por enquanto – o atendendo saiu e novamente Damon voltou-me a olhar da mesma maneira que algumas horas atrás em seu escritório – Por que você só come comidas leves?

– Como eu já disse, sou saudável – ri – Tenho vinte anos tenho que me cuidar, você não acha? – na verdade eu estava mentindo. Se fosse Stefan ou Caroline saberiam que essa desculpa é uma grande mentira, afinal eu nunca fui de ligar pra isso. Entretanto minha vida agora é seguida por regras. E minha alimentação não foge disso.

– Tenho vinte e quatro, como frituras e sou saudável – riu com sua lógica – Na verdade não gosto de nada que seja verde.

– Então se tiver a melhor comida com a cor verde você não vai comer por causa da cor? – negou e eu ri alto – Isso é preconceito.

– Sim, mas não adianta isso não vai fazer com que eu coma comidas verdes.

– Tudo bem, não vou discutir – ri e senti alguém do meu lado, era o velhinho com nossos pedidos em uma bandeja – Obrigada – agradeci a ele e sorri. Sempre fui apaixonada por idosos, quando vejo algum velhinho na rua minha vontade é de levar pra casa. Alguns têm fetiches por bebês ou animais, e eu tenho por idosos.

Desde que perdi minha vó e presenciei-a na beira da morte comecei a dar mais valor em pessoas mais velhas. Ia quase todos os dias vê-la quando ainda estava no hospital. Estive presente em cada suspiro doloroso que ela dava. Foram três meses de luta e mesmo assim ela não desistia. Ela teve duas crises de AVC e na terceira não suportou. Lembro-me até hoje da minha reação quando descobri que ela faleceu. Estava na casa de meus pais e então eles chegaram com os olhos vermelhos e disse-me “Sua vó morreu”. Mesmo acreditando em Deus não pude deixar de culpa-lo pela morte de minha querida vó. Mas sei que ele deu um final melhor a ela, foram três meses de sofrimento e agora ela encontrou a paz.

– Lena, por que está chorando? – mesmo que tenham se passado quase um ano que ela se foi sempre que me lembro não consigo aguentar a combustão de sentimentos no peito.

– Estava lembrando de minha vó – limpei algumas lágrimas que ainda estavam em meu rosto.

– Caroline me contou na época, sinto muito – assenti olhando pro nada – Qual era o nome dela?

– Evarista, mas era conhecida por todos como Eva – comentei a ele com um sorriso, adorava conversar sobre minha vó, isso fazia com que a existência dela não tenha sido esquecida.

– Você era muito chegada a ela? – perguntou enquanto comia, fiz o mesmo.

– Não, e isso é o que mais me dói – tomei meu suco tentando tirar o embrulho de minha garganta – Porem no hospital eu ia todos os dias ver ela e sempre ficávamos conversando e rindo. Ela falava para o Stefan cuidar de mim porque eu era muito linda e gaviões podiam estar de olho – ri lembrando-me dela cochichando isso para meu ex-noivo.

– Ela tem razão – olhou pra mim e sorriu – Se sua beleza é hereditária posso imaginar que sua vó era muito bonita.

– Obrigada – voltei a comer tentado voltar a minha cor normal.

Depois desse elogio voltamos a comer em silêncio. Damon tem me impressionado cada dia mais, quem viu ele há três anos não imaginaria que ele seria assim romântico, sério e suportável. Talvez ele tenha mudado pela Ashley. O amor faz isso com as pessoas, mas será que ele ainda a ama? Por que essa dúvida me faz arrepiar?

– Que tal cabular o trabalho e irmos a um lugar? – Damon perguntou quando já estávamos em seu carro.

– Você até pode porque é o dono – ri – Tenho muito coisa para fazer, Damon.

– Eu sou o dono e estou de dando permissão para isso, que tal? – rimos juntos – Isso foi um sim?

– Foi um sim se você prometer que não vai me demitir – arqueei as sobrancelhas esperando sua resposta.

– Prometo, então vamos? – ri e assenti.

– Aonde vamos? – perguntei ansiosa.

– Relaxa mocinha e aproveite a estrada – apenas assenti e deixei que ele guiasse pra onde iriamos.