Já fazia uma semana que tinha descoberto minha doença e em todos esses dias Stefan esteve comigo e não me abandonou em nenhum momento. Fico mal de ver Stefan preso a mim, ele nem trabalha mais só pra ficar comigo. Não, não estamos juntos. Naquele mesmo dia que eu decidi começar o tratamento conversamos sobre isso.

- Acabei de ligar pra doutora e ela agendou sua consulta pra amanhã de manhã e eu vou com você - entrou no quarto balançando o celular.

- Não, você não vai e isso é uma ordem - falei dura e ele me olhou confuso - Nós terminamos se lembra?

- Eu sei, mas nessas condições não posso te deixar sozinha. Que tipo de amigo eu seria?

- E que tipo de amiga eu seria vendo você aqui sofrendo cuidando de mim sendo que poderia estar vivendo sua vida feliz e sem problemas?

- Aquela amiga que agradeceria por ter um amigo que está cuidando de você - sentou-se do meu lado com lágrimas nos olhos - Por favor, me deixa cuidar de você, eu preciso cuidar de você.

- Não quero que abra mão da sua vida pra cuidar de mim, não quero que perca seu tempo cuidando de quem uma hora irá morrer - caiu uma lágrima de seus olhos.

- Não fale isso, por favor, me deia cuidar de você Elena - suplicou com os olhos.

- Mas e você? Quero que você encontre uma pessoa que te faça feliz e não uma que está no leito da morte.

- Estou solteiro certo? - assenti - Posso morar aqui como seu amigo - limpou minhas lágrimas que caiam como cascata de meus olhos - Que quer te proteger deixa? - assenti e ele beijou minha testa enquanto eu chorava.

Minha primeira - tecnicamente - consulta foi tranquila, não teve agulhas, soro ou qualquer remédio apenas marquei meu tratamento. Fiquei com muito medo no momento que coloquei meus pés naquele consultório, mas Stefan sempre apertava minha mão e isso me aliviava um pouco. Naquela noite tive um sonho horrível.

Estava andando em uma floresta, vestia um vestido branco de seda e meus cabelos estavam soltos. Ouvi um barulho e seu som parecia estar atrás de mim, corri o mais rápido que poderia. Logo tudo se transformou em uma caixa preta rodeada por espelhos. Estava sozinha até ver uma imagem atrás de mim sorrindo.

- Vó.

- Princesinha, vai ficar tudo bem.

- Não vai vó, estou morrendo.

- Olhe pro espelho - fiz oque ela pediu - Você é linda, forte e guerreira. Esse problema é apenas passageiro.

Enquanto eu olhava pro espelho não vi mais o reflexo dela atrás de mim, procurei-a por todos os lados até olhar novamente pra frente e ver minha imagem no espelho. Meus olhos aparentavam estar cansados e debaixo deles tinham olheiras, minha boca estava seca e eu estava pálida e magra demais.

- Oque tá acontecendo? Vó me ajuda, oque aconteceu?

- Você está morrendo querida, sinto muito.

Lembro-me muito bem daquele sonho, todos os detalhes. Não consegui mais dormir naquela noite, pedi pra Stefan dormi comigo, mas mesmo com seus braços me envolvendo eu não conseguia. Estava com medo, medo da morte.

Já faz uma semana que não vejo Caroline. Tentei ligar pra ela várias vezes, mas ela não atende. Talvez ela tenha ficado com raiva de mim, mas tudo que eu precisava agora era da minha amiga comigo.

- Pronta pro primeiro dia? - Stefan chegou no quarto arrumando seus cabelos enquanto eu estava sentada na cama já pronta.

- Pronta, eu acho - sorri meiga - Só estou com medo.

- Eu vou te proteger, sempre.

- Eu sei você sempre me protege - sorrimos.

Não contei ainda pra minha mãe, falei com ela ontem por telefone mais fui indiferente. Stefan insistiu pra eu contar, mas não quero mais outra pessoa que amo sofrendo.

- Vamos? - perguntou estendendo a mão.

- Vamos - suspirei alto e peguei sua mão.

Entramos no carro, o caminho todo foi silencioso. Olhava meu celular toda hora pra ver se Caroline mandava uma mensagem ou ligava, mas nada. Eu precisava muito dela nesse momento, sempre fomos tão apegadas. Quando erámos crianças, sempre que ficávamos doentes e precisávamos ir ao médico nós duas fazíamos companhia uma pra outra.

Chegamos ao hospital e fomos direto ao consultório, logo vimos a mulher loira que nos esperava com um sorriso lindo no rosto.

- Bom dia Elena, fico feliz que não tenha desistido - estendeu a mão pra mim e Stefan.

- Também fico feliz em não ter desistido - sorrimos.

- Venha vamos há sala do tratamento - abriu a porta e a seguimos. Eu estava tremendo e minha pele era fria. Chegamos a sala e gelei, havia uma maca e uma cadeira e vários equipamentos de UTI - Prefere deitada ou sentada?

- Sentada - falei baixo.

- Sente-se então - sorriu e fui em direção há cadeira junto com Stefan que segurou minha mão quando eu sentei.

Pegou uma agulha grossa e enfiou em meu braço, estava com tanto medo que não senti nada. Colocou uma espécie de tubo fino em meu braço e ali ficou.

- Esse tubo é um cateter e esse tipo de saco é o remédio. Vai demorar um pouquinho, mas não dói nada, quer dizer na hora.

 - Como assim? - Stefan perguntou.

- A quimioterapia digamos que deixara ela incapacitada. Esse processo tem efeitos colaterais, como fraqueza, perda ou aumento de peso, vômitos e queda de cabelo - gelei.

- Então oque vimos nos filmes os efeitos não é da doença e sim da quimioterapia? - perguntou de novo enquanto eu apenas observava.

- Depende. A quimioterapia causa isso, desgasta a pessoa. Mas a quimioterapia é a cura pro câncer então vale a pena - sorriu e se retirou do ambiente.

Fiquei olhando pro tubo que estava em meu braço e por incrível que pareça não chorei. O meu sonho dizia pra eu ser forte e é oque eu vou fazer. Minha vó lutou por três meses contra o aneurisma, mas foi vencida, porém não desistiu. E é isso oque eu vou fazer, eu sei que vou sofrer, sentir dores e até mesmo morrer, mas eu vou lutar.

Depois de quase uma hora com o cateter e doutora entrou no quarto e retirou aquilo do meu braço colocando um curativo no pequeno furo aberto.

- A segunda quimioterapia vai ser depois de vinte e um dias dessa primeira - Falou enquanto eu me levantava - Você pode sentir enjoos, tontura, fraqueza depois de algumas horas mas faz parte do tratamento.

- Claro, faz parte sofrer - ironizei.

- Porem o resultado é ótimo Elena e você pode ser curada.

- Posso? Não é certeza então? - oh não.

- A quimioterapia não resolve em algum dos casos então corremos para o transplante.

- E porque não pulamos para o transplante? - Stefan perguntou.

- O transplante não é fácil e precisamos de doador compatível e disponível - assentiu - Então até daqui três semanas?

- Até, obrigada doutora Lexi - Stefan levantou e apertou sua mão.

- É o meu trabalho - sorriu e saímos.

Saímos do hospital e não falamos nada, não queria falar. A dor em meu peito é muito grande. Apesar da minha boca dizer que sou forte, minha cabeça não pensa isso e meu coração diz que eu não vou aguentar. Eu quero vencer, quero voltar a ser pura.

Descemos do carro e subimos para nosso apartamento. Era estranho morar com Stefan agora já que não estamos mais juntos, mesmo que ainda usamos nossa aliança de compromisso. Lembro-me do dia que ele pediu em casamento, foi o melhor dia da minha vida. Mas o destino não quis assim, talvez nem o passado quisesse.

- Caroline oque foi? - ela estava chorando na frente de meu apartamento com os olhos pretos devido ás lágrimas que se juntaram a maquiagem.

- Só me abraça, por favor? - pediu soluçando e correu para meus braços assim que eu assenti.

- Oque aconteceu? - perguntei limpando suas lágrimas.

- Amiga me desculpa por ter te deixado, por não ter dado apoio quando você mais precisou.

- Vamos entrar e conversamos ok? - assentiu e entramos seguidos por Stefan que apenas nos olhava - Tudo bem Car - falei quando já estávamos no quarto sentadas na cama de frente pra outra.

- Não está tudo bem, não adianta fingir que está tudo bem - gritou - Eu te abandonei quando mais precisou de mim, ótima amiga que fui.

- Você estava apenas com raiva, não é fácil ouvir da boca da melhor amiga que quer morrer - suspirei - Mas agora...

- Eu sei - interrompeu - Stefan mandou uma mensagem dizendo - sorri - Ele é um ótimo noivo.

- Sobre isso...  - seu sorriso sumiu - Nós terminamos um pouco antes de eu desmaiar e descobrir a doença.

- Então não estão mais juntos há uma semana? - assenti - E porque ele ainda está aqui?

- Ele quer cuidar de mim, mesmo eu insistindo pra ele seguir sua vida.

- E oque resolveram?

- Stef vai morar aqui comigo, mas como amigos, afinal ele sempre foi meu amigo.

- Que bom que ele vai te ajudar diferente de mim que te abandonou - abaixou a cabeça decepcionada.

- Esquece isso Car, agora você tá comigo e não vai mais me deixar certo? - sorri segurando sua mão.

- Jamais - sorrimos e nos abraçamos.

- Então como está com Tyler? - o sorriso que estava em meu rosto sumiu e eu senti uma dor de cabeça muito forte e tontura.

- Oque foi Lena? - perguntou preocupada.

- Só os efeitos da quimioterapia dando olá aos meus dias de sofrimento - sorri seu humor e logo a dor de cabeça começou aumentar - Carol ficaria triste se eu dormisse, tá doendo muito.

- Claro pode dormir, vou estar aqui quando acordar - sorriu.

- Deita aqui comigo?

- Claro - se deitou do meu lado e me abraçou e assim com a forte dor de cabeça fui domada na inconsciência.