- Doutora ainda está no começo? - Stefan perguntou.

- Infelizmente não - suspirou e eu continuava estática - O câncer já se espalhou e a Elena já estava com essa doença há muito tempo.

Não isso não poderia estar acontecendo. Porque eu meu Deus? Oque eu fiz? Eu acabei de tomar uma decisão na minha vida, eu estava liberta. Agora eu estou presa há essa doença.

- Mãe eu quero ser médica - estava em meu quarto brincando de médica com minhas bonecas enquanto minha mãe passava minha roupa.

- Você vai ser filha - chegou perto de mim e beijou minha cabeça - Mas ainda você tem muito oque viver até lá.

- Mas eu quero mãezinha.

- Eu sei meu amor - sorriu pra mim - Mas você ainda tem sete aninhos, tem que brincar bastante e estudar muito.

- Estudar também mamãe? - falei emburrada e ela riu.

- Sim querida - sentou no chão junto comigo - Pra ser uma boa médica tem que estudar muito.

- Tudo bem mãe - suspirei derrotada - Vou estudar bastante pra cuidar dos doentes.

Todos os meus sonhos, todos os meus planos foram jogadas ao vento. Estava no meu segundo ano de medicina pediatria. Porque o destino faz isso conosco? Isso é uma forma de provar ou mostrar que somos fortes? Se for isso, sinto muito mais essa guerra eu perdi.

Oh meu Deus, eu vou morrer. Eu sei que vou, faço medicina e sei que o é câncer. E o meu é maligno. Não tem cura. Meu pai sempre me dizia que a cura é a nossa fé, mas eu não acredito. Oque é a minha fé sabendo que estou com câncer? Se não ter fé é não acreditar em Deus,  tudo bem. Eu sei que eu não vou sobreviver, porque iria?

- Elena vamos marcar o tratamento? - A loira que estava em minha frente me tirou dos pensamentos vazios e escuros que eu me encontrava.

Tratamento... Não, isso não tem tratamento. Eu sei que vou morrer, sei que isso será apenas mais sofrimento pra mim. Talvez isso seja um sinal. Deus não coloca nada em nossa vida por acaso, se eu estou com essa doença é porque chegou a minha hora de partir desse mundo. Ninguém deve viver pra sempre.

- Elena - Stefan me chamou - Elena responda, você está me assustando - me cutucou - Elena.

Sai correndo do consultório e fui até a saída do hospital e abri a porta. A chuva caia forte lá fora junto com os trovões barulhentos. Dei mais três passos pra fora e senti a chuva forte caindo sobre mim. Dizem que a chuva tira nossos males, mas não foi isso oque eu senti. Estou perdida, sem rumo...sem saída.

- Elena - ouvi Stefan me gritar e arregalou os olhos quando viu eu de joelhos no chão chorando, logo correu pra perto de mim sem se importar com a chuva e se ajoelhou me abraçando - Vai ficar tudo bem.

- Não vai ficar tudo bem - chorei com o calor do seu corpo me passando proteção - Não vai.

Não vi mais nada, não desmaiei. Apenas cai na inconsciência do sono e sonhando com os mais lindos sonhos do qual não se encontrava na minha realidade.

Abri meus olhos e vi que estava em meu quarto com uma roupa de moletom e várias cobertas sobre mim. Meu apartamento e de Stefan era do nosso jeito. Quando me pediu em noivado decidimos morar juntos, não queríamos uma casa grande então optamos por um apartamento.

- Vejo que já acordou - meu ex-noivo chegou com uma xícara nas mãos - Fiz um chocolate quente pra você - sorriu.

- Obrigada - peguei o copo de suas mãos e bebi um gole.

- Quer falar sobre isso? - neguei com a cabeça e ele se deitou na cama comigo - Vem aqui - me puxou pra seus braços e eu novamente adormeci, mas em peito.

Acordei novamente e diferente de quem eu vi a última vez que estava com os olhos abertos, tinha uma garota loira me olhando com lágrimas nos olhos.

- Pelo visto o Stefan te contou - falei ainda com os olhos fechados - Não precisa sentir pena de mim.

- Não estou sentindo pena de você - sussurrou devido ao soluço que saia de sua garganta - Estou triste por você.

- Pra mim é a mesma coisa - levantei e fiquei sentada na cama enquanto ela sentava na beirada da cama perto de mim.

- Como você está? - segurou minha mão.

- Não é todo dia que você descobre que tem pouco tempo de vida - sorri sem humor.

- Você não tem pouco tempo de vida - negou com a cabeça - Tudo tem uma solução Elena.

- Não tem Caroline - afirmei convicta - Você como psicóloga sabe que nem tudo tem solução.

- Tudo tem solução, basta ter fé e acreditar.

- Oque eu não tenho é fé, não agora.

- E quando vai começar o tratamento? - perguntou mudando de assunto - Stef me contou que você saiu correndo do consultório.

- Não haverá tratamento - fiquei séria e ela se levantou.

- Como assim? Claro que há tratamentos - riu - Quimioterapias, doação de sangue existe sabia?

- Pra quer chamar de tratamento se isso é apenas um processo para você viver "bem" com a doença - ri sem humor novamente - Eu não quero viver assim.

- Você tem oque na cabeça Elena? - olhou pra mim furiosa - Porque faz isso? Você sabe mais do que ninguém sabe como é perder uma pessoa. Para de ser negativas, várias pessoas já foram curadas de câncer maligno.

- Mas eu não quero Caroline, por favor, me entenda - levantei e fui em sua direção - Não quero fazer vocês sofrerem.

- Ah claro - riu sarcástica e olhou pra mim - Parabéns você está fazendo isso muito bem - foi em direção a porta do quarto - Tchau Elena, quando mudar de ideia me liga - limpou as lágrimas que caiam de seus olhos e saiu.

Porque ninguém pode me entender? Eu não quero sofrer, não quero fazer quem amo sofrer. Porque é tão difícil entender? Eu não quero ser a vilã, mas isso é o melhor pra mim. Não irei aguentar vivendo em hospitais, não posso viver em uma prisão. E essa prisão é a minha própria vida. Preciso me libertar, de novo.

Deitei novamente na cama e fiquei parando olhando pro nada enquanto sentia lágrimas caindo de meus olhos.

- Oh Lena - Stefan entrou no quarto - Vai dar tudo certo.

- Como a Caroline está? - ignorei seu consolo.

- Saiu chorando e com, hm... Raiva - se deitou do meu lado de modo que ficasse de frente pra mim - Ela está triste, ouvi oque disse.

- Então... - o encarei.

- Eu não vou deixar você fazer isso - falou firme - Vou cuidar de você.

- Não Stefan, nós terminamos se lembra?

- Sim, me lembro - deu de ombros - Mas agora nestas condições não posso te deixar.

- Você tem que viver a sua vida Stef - olhei bem nos olhos dele - Eu não quero te privar, por favor não faça isso.

- Eu quero cuidar de você Lena - oh não ele estava chorando - Você tem que aceitar esse tratamento.

- Porque iria?

- Porque não iria? - caiu uma lágrima de seus olhos.

- Todos nós morremos um dia, isso é inevitável - limpei suas lágrimas - Se isso tá acontecendo comigo é porque meu tempo já acabou.

- Não fale besteira Elena - riu sem humor - A vida não é um mar de rosas, temos problemas e são esses problemas que nós fazem ficar fortes.

- Eu não sou forte Stef - admiti - Eu não quero morrer, quero me formar e ser feliz. Desde criança eu sonhava em ser médica e olha oque me aconteceu? Eu tenho medo da morte - solucei - Tenho medo de não viver mais. Eu queria muito acreditar que vai ficar tudo bem, mas não vai. Eu só queria que tudo isso fosse um pesadelo e que logo eu estaria acordando ofegante mais saberia que não passava de um sonho ruim - meus olhos estavam marejados e vermelhos - Eu não vou aguentar.

Stefan me puxou para seu peito e ficamos abraçados enquanto ele afagava minha cabeça. A quem eu queria enganar? Eu sou fraca, eu tenho medo. Tive que admitir, tive que chorar.

- Me deixa cuidar de você Lena - pediu - Por favor.

- Tudo bem.

- Oque isso quer dizer? - perguntou com esperanças.

- Vou me tratar - olhei pra ele que sorriu com lágrimas nos olhos e beijou o topo da minha cabeça.