Noite escrita por Tincampy


Capítulo 19
Procura-se: Azulzinha!


Notas iniciais do capítulo

hey, pessoas! Saiu! Yey!
Boa leitura! :3



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_03 de Janeiro_

Meus pais, meus tios, – Até mesmo a tia Lídia com dois moleques dependurados no pescoço. – alguns vizinhos e eu, procuramos pela Tabhita por umas boas horas. Circulamos por toda a cidade perguntando por uma garota de cabelo azul. Ninguém pareceu tê-la visto e, os que se recordavam dela, falavam apenas do jogo perdido de domingo. Ou seja, meu humor estava uma merda. De modo que, quando ouvi alguém me chamar, já esperava outro relato detalhado sobre como os camisas-azul perderam e etc. etc. etc., logo, tudo o que o meu cérebro brilhante e esgotado conseguiu soltar, foi um estridente e grosseiro semi-berro:

— Que é? — inquiri virando-me e deparando-me com a Felícia que me encarou levemente sem graça com o meu tom cortante.

— O-Oi, Felipe. V-vim ajudar...

— Oi. — eu disse respirando fundo e bem consciente do quão estúpido eu estava sendo, não é culpa de ninguém além de mim a Tabhita ter sido arrastada para toda essa porcaria.

— Trouxe água, você quer? — ela disse me mostrando uma garrafinha de água mineral e me perguntei o quão aparentemente transtornado eu estava para que ela ficasse me olhando daquela forma.

— Aceito. — eu disse pegando a garrafinha estendida, abrindo-a rapidamente e dando enormes goladas. — Obrigado.

— De nada. — ela disse voltando o rosto para a rua e fitando por alguns breves segundos a movimentação do festival que ainda fervilhava em sua música alta, multidão animada e tons vibrantes de vermelho. Verdade seja dita, ainda bem que esse festival está acontecendo, ou nessa hora, plenas duas horas da madrugada, não se vislumbraria uma alma viva nas ruas de Martina e minha busca seria bem mais complicada. — Sua mãe falou com a polícia?

— Falou. — eu respondi em um tom tão amargurado quanto me sentia. — Eles queriam esperar mais um tempo e... — suspirei. — Digamos que minha mãe e minha tia, juntas, são um furacão grande demais para aquele delegado dar conta. Há alguns policiais circulando pela cidade, procurando-a. — E aí está a parte que anima os outros e faz eu querer me jogar de um precipício. A polícia dessa cidade não serve de nada. Tenho certeza de que a maioria é só um bando de pau mandando de prontidão para ferrar com a vida do primeiro idiota que sair berrando “vampiros” por aí. Os surtados que se cuidem, eu, bem... Estou tentando ardentemente não chegar a esse nível.

Aff.

Não se preocupe, Felipe. Vamos achá-la!

— Sim, sim... Você me leva até o início da mata? Talvez se dermos uma olhada por lá... — eu comecei a dizer, coçando a cabeça, como quem não quer nada.

— Não, Felipe. — cortou Felícia e, admito, que isso me surpreendeu. — Vamos lá de manhã, está bem? Nós só nos perderíamos e não ajudaríamos ninguém!

Suspirei, todos diziam a mesma coisa. E, se eu fosse lá sozinho, de fato, eu me perderia.

— Ok. E Toni? — eu inquiri sem poder me segurar mais. — Sabe... O Toni de ontem? O grandão que estava arranjando briga e que quase matou, com as boladas assassinas, o goleiro do time adversário... Onde ele mora?

— Onde o Toni mora? Por que quer saber? — ela perguntou cruzando os braços.

— Acho que ele pode ter sido um dos últimos a falar com a Tabhita... — eu disse tentando manter o meu tom de voz neutro, não demonstrando a náusea que eu sentia ao ter a imagem daquele cara com as tripas de fora na minha cabeça ou a perspectiva de o Toni ter sido a causa do desaparecimento da Tabhita.

Na verdade, eu estava em negação. O quão ruim seria se o Toni, realmente, tivesse feito algo com a Tabhita?

— Ah. Eu não sei onde ele mora... Talvez os meninos do time...

— Eu já perguntei. — eu disse tomando outro gole de água. Numa porcaria de cidade minúscula nem os caras do time dele sabem onde ele mora. Isso faz sentido? Ah, faz! Porque essa mesma porcaria de cara que ninguém sabe onde mora, é a porcaria de um vampiro! E, sendo honesto, o time de futebol da Tabhita já estava ajudando muito, levando-se em conta que eu praticamente cuspi na cara deles que eles teriam que sair procurando-a até que as solas de seus sapatos deixassem de existir. Em um dia normal, eles provavelmente ficariam bravos com o meu descontrole e tudo ou mais, mas acho que hoje (duas horas da manhã), serviu para que eles vissem o quão desesperante é a situação.

Uma coisa é uma garota ter sumido.

Outra coisa é ela ter sumido e um vampiro ser o suspeito.

— Felipe. — disse a Felícia depois de alguns segundos. — O que você acha de ir para casa? Encontrei com a Mariana e é bem como ela disse... Você está uma pilha de nervos. Vai para casa, dorme um pouco. A gente vai continuar procurando, não se preocupe.

Abri a boca para contestar, mas dado a que todas as palavras que vieram na minha boca eram variações de xingamentos nada gentis, apenas a fechei e respirei fundo. Talvez a Felícia estivesse certa.

— Ok. Me desculpe por isso.

— Não se preocupe! — ela disse abanando os braços e forçando um sorriso.

Me arrastei até em casa, sem perder a oportunidade de perguntar para todo mundo que passasse, se haviam visto uma garota de cabelo azul e sacudindo a tela do meu celular, com a foto dela, na cara deles. Acabei por enfiar-me no meu quarto, tentando dormir. Talvez não tenha sido o Toni...

— Humanos podem fazer todo tipo de coisa horrível, um vampiro só leva a malvadeza a outro nível. — argumentei comigo mesmo.

Respirei fundo umas mil vezes, sem conseguir fazer com que meus pensamentos se acalmassem. Resolvi tomar banho e quase evaporei junto com a água lá dentro do box, de tão longo que foi a droga do banho. A natureza agradece!

Tentei dormir de novo, mas sendo mais honesto comigo mesmo... Desisti logo e resolvi arranjar uma atividade mais construtiva. Peguei o diário e comecei a escrever sobre o dia de ontem. É meio irritante ficar me lembrando propositalmente de certas coisas e ainda registrá-las, mas acho que é uma boa forma de pensar.

Depois que terminei, estava com mais raiva ainda do Toni. Quem mais? Quem mais, droga! Como eu não sabia onde ele mora e não tinha real esperança de descobrir às 3 da manhã, tentei pensar em algo para esfriar a cabeça. Eu estava com fome, podia ir preparar algo para comer na cozinha... Mas logo descartei a ideia. Não estava com muita paciência – Lê-se preguiça. – para ir caçar algo na geladeira. Portanto, assim que dei por mim, minhas pernas tinham parado em frente à porta do quarto da Tabhita.

Fiquei encarando a madeira por alguns segundos, quase que me preparando mentalmente para não sei o quê, e abri a porta. O quarto estava uma bagunça, assim como eu me lembrava. Havia um enorme espelho encostado na parede e um monte de papeizinhos coloridos colados nele, com lembretes ou ideias de cenas de livro anotadas. Algumas camisetas estavam jogadas sobre a cama, junto com seu lap top e um monte de papel. Peguei alguns e comecei a ler, sem um real objetivo e me deparei com algumas folhas arrancadas de livros, contendo poesias de Drummond ou Eliza Lucinda. Achei estranho ela ter mutilado um livro daquela forma, mas dei de ombros sem me importar e comecei a navegar os olhos por alguns versos que pareciam familiares. A Tabhita é a única pessoa que conheço que, realmente, lê poesia. Ela é do tipo que arranja um café, se joga na cama e passa uma tarde inteira transitando de poesia à poesia.

Eu não consigo fazer isso. Poesia é legal e tals, mas depois de meia hora... – Se muito. – já largo de lado e vou ler alguma coisa de ficção ou jogar ou fazer o que quer que seja.

Suspirei, pensar nessas coisas é bom. É quente, familiar... E me lembra de que a Tabhita pufou, simplesmente! Aos poucos, tentei fazer com que minha mente voltasse aos trilhos do raciocínio e pensasse em algo melhor do que “vou sair procurando a Tabhita desvairadamente pela cidade”. Não exclui o Toni da equação, apenas estava levando-a a um terreno em que, talvez, eu não fosse morrer ao confrontá-lo. Um terreno muito otimista, dada a realidade.

Depois de alguns montes de minutos lá no quarto da Tabhita, já me sentindo um voyeur, resolvi ir para meu quarto e dormir. Tipo, dormir mesmo. As únicas pessoas que talvez tivessem alguma pista sobre a Tabhita, eram: o Toni e a Melinda. Ambos provavelmente estariam no Colégio Silvana Batista mais tarde. A Melinda eu não tinha certeza de que encontraria, mas o Toni estuda lá. Portanto, adiei o plano de suicídio e quando estava prestes a ir para meu quarto, reparei em uma sombra embolada jogada no cabide. Imediatamente, a imagem da Tabhita de shorts, meia calça e blusa cumprida vieram a minha cabeça. Ela estava usando aquela blusa no primeiro dia do Festival da Batata.

Peguei a blusa, sentindo minha garganta seca. Desde que minha mãe me dissera que a Tabhita não foi vista desde o jogo de futebol, eu estive tentando controlar o meu pânico. Mas nessa hora, sei lá... Eu apenas fiquei estático, fitando a blusa; lembrando-me como que em recortes, como a Tabhita estava com as mangas arregaçadas logo antes de começar a gritar como uma doida. Olhar aquele pedaço de pano, apenas me deu mais consciência de que eu não faço parte de alguma fantasia de final feliz. A manga esquerda estava rasgada e suja de sangue até a metade.

Muito sangue, droga!

— Que porcaria, Tabhita! Que porcaria! — eu esbravejei para as paredes do quarto que apenas ameaçaram me devolver um eco, mas o som se perdeu em algum momento antes que eu pudesse distingui-lo como a repetição da minha voz.

Sério, como eu sou estúpido! Tão preocupado com as porcarias das tripas de um cara em um beco... Que... Merda! Quando a Tabhita veio até aqui? Minha mãe deu a entender que ela foi direto para a casa da Mariana... E mesmo que algo tenha acontecido, não tem como essa blusa ter vindo parar aqui. Ela tem que ter vindo aqui em algum momento.

Respirei fundo e fui pisando firme até o meu quarto. A Tabhita veio em casa antes de sumir. A Tabhita estava machucada... Droga! Droga! Droga! E com essa inquietação e o pavor vibrando em minhas veias, eu abarquei a inconsciência antes mesmo que pudesse perceber o sono chegando.

Mais tarde, minha mãe fez um bolo que eu gosto, cheio de chocolate, na tentativa de me animar. Estava me sentindo um trapo atropelado e sei que se eu quisesse faltar aula ela não reclamaria, mas isso era tudo o que eu menos desejava. Toni estava na escola. Melinda estava na escola. Ângela estava na escola. Ou seja, eu iria para a escola.

— Mãe? — eu a chamei, enquanto cutucava sem fome o pedaço de bolo a minha frente. — Como vão as buscas?

Minha mãe largou por alguns instantes a torta que estava cortando para o café da manhã dos turistas e me estudou, preocupada. Detesto quando ela me olha assim.

— Seu pai, alguns vizinhos e o guarda florestal foram procurar na mata. Levaram cachorro e tudo e talvez...

—É, talvez... — eu disse tendo consciência do quão insuportável eu deveria estar e não me importando. Tudo o que meu cérebro fazia era imaginar como lidar com o Toni. Até onde sei, não tenho nenhuma metralhadora com balas de madeira debaixo da cama. E todas essas circunstâncias me deixam louco!

— Ei, mãe... — eu chamei depois de um tempo. — Ontem, quando a Tabhita disse que iria dormir na casa da Mariana... Como ela disse? Ela ligou?

— Oh, não. — ela disse me lançando um olhar de dúvida, como se avaliasse se estava tudo bem me contar. Talvez eu pudesse fazer alguma besteira com o que quer que ela fosse dizer. Realmente, mães são sábias... Não que vampiros e tripas tenham entrado em alguma das incógnitas de suas equações especulativas... — Encontrei com ela no festival, Júnior. Ela me disse que iria direto para lá.

Estreitei os olhos. Tabhita deu toda uma volta pelo quarteirão para voltar ao festival? Porque se ela tivesse ido em casa e voltado pela mesma rua... Eu a teria visto, não? Ou se ela tivesse simplesmente voltado... Merda, ela deveria estar com muita raiva para me evitar tanto assim!

— Ei, mãe. E a blusa... Ela estava de blusa? Quero dizer, uma de mangas cumpridas... Azul...

— Sim, estava. — disse minha mãe franzindo o cenho. — Acho que estava. Aonde está querendo chegar, Júnior?

— Uh, não é nada. — eu disse enfiando uma garfada de bolo na boca e me sentindo mais confuso. — E o que mais ela disse? Ela parecia estranha?

— Não. — disse minha mãe levantando uma sobrancelha. — Eu já disse isso ao delegado. Sei que você está preocupado, mas tente se acalmar, está bem? Nós vamos achá-la! Eu falei com o Victor hoje e ele e a Célia estão vindo para cá. Tenho certeza de que tudo dará certo. — ela disse e eu percebi o quão egoísta eu estava sendo. Ok, estou completamente pirado com o sumiço da Tabhita, mas a minha mãe está segurando a barra e ainda tentando bancar a forte. Ótimo, me sinto um fracote sentimental agora, mas não menos surtado.

— É, mãe. Sei disso. — eu disse tentando parecer mais suave. — Mas o que mais ela disse? Talvez isso possa nos ajudar a pensar em algo diferente... — eu disse, quando, na verdade, eu estava tentando desesperadamente achar algum vestígio de realidade que me dissesse que talvez a Tabhita tivesse pegado o ônibus errado e estivesse na cidade vizinha com um celular sem bateria. Ok, estúpido! Mas 100% melhor que vampiros!

— Ela apenas disse que iria passar a noite na casa da Mariana. Em uma noite ‘de garotas’ e que não era para eu me preocupar, porque de lá ela iria direto para o colégio Eliza com essa mesma Mariana.

— E ela estava com a Mariana quando falou com você?

— Felipe. — ela disse meu nome com uma paciência que foi como se estivesse me abraçando. — Você sabe tão bem quanto eu que não. A Mariana nem sabia que a Tabhita iria dormir lá. Ela mentiu, Felipe.

É, ela mentiu. Eu sabia disso, mas a única coisa que passeava pelo meu cérebro era o Toni. Ele consegue hipnotizar as pessoas, ao que parece. Ele poderia ter feito a Tabhita mentir e então tê-la levado para um banquete em algum outro beco onde não pudesse ser interrompido.

Trinquei os dentes. Não!

— Então você foi a última a falar com ela, mãe!

— Não, Júnior. Não fui. Logo depois... Eu os vi juntos, ela te deu maçã do amor... — ela disse com um breve sorriso em meio a situação caótica.

Portanto, a Tabhita foi hipnotizada na hora que pegou a maçã do amor, ou antes. Quando nos beijamos, quando fomos juntos para casa... Ela já planejava dormir na casa da Mariana. Então porque ela não foi logo? Por que se deu ao trabalho de ir comigo até quase em casa e voltar? Qual o sentido dessa merda? Porque raios nesse mundo ela veio aqui deixar a blusa azul suja de sangue?

— Júnior. — minha mãe chamou e pude vagamente perceber que não era a primeira vez. — Vai para seu quarto, vai. Tenta dormir mais um pouco... Passamos uma madrugada agitada.

— Não estou com sono, mãe. — eu disse enfiando outro pedaço de bolo na boca, apenas para me arranjar mais algum tempo sem ter que falar nada. — Eu estou bem. Vou para escola hoje.

Quando cheguei ao Silvana Batista, enrolei um bom tempo no pátio da entrada, na expectativa de ver o Toni, a Melinda ou, quem sabe, a Ângela, sem nenhum sucesso. O sinal tocou e eu acabei por encontrar quem eu menos queria. O tal Hugo que deixei plantado ontem. O cara simplesmente me arrastou para sala de aula. – Sério, lá é da conta de outro cara se eu pretendo ou não matar aula? Onde fica a ética tácita, entre estudantes no meio disso tudo? – As carteiras já estavam quase todas ocupadas e o povo conversava como se se conhecessem há um bom tempo, o que não duvido que seja verdade. Sentei-me na segunda carteira achando aquela formação de fileiras, milimetricamente organizadas, irritante.

Não demorou para que uma professora risonha e baixinha entrasse. Fiquei um bom tempo voando, com aquela velha técnica de encarar as sobrancelhas do professor, enquanto ela se apresentava brevemente e começava a falar sobre algo que eu definitivamente não tenho como registrar aqui, já que não ouvi uma palavra.

— Por favor, né, garotos! — meus olhos se detiveram nela de repente, captando o tom estridente. — Todos os anos é isso! Todos nós já nos conhecemos, a turma é mesma, não tem necessidade de nos apresentarmos...

— Tem três alunos novos, Mariela! — berrou alguém lá de trás e eu torci para que ela continuasse a falar ao invés de levar a aula para alguma dinâmica legalzinha da qual eu não estava com vontade de participar.

Tsc. Tsc.

— Hum... — ela disse parecendo considerar enquanto ajeitava seus óculos, grandes demais para seu rosto pequeno. — Ok, ok.

Depois disso, seguiu-se uma enorme comoção para que as carteiras ficassem em círculo, só para nos apresentarmos. A próxima hora passou com eu tentando guardar pelo menos alguns nomes em meio aos vinte e nove estudantes que diziam o nome, sobrenome, o que fizeram nas férias, o que gostavam de comer, o que queriam de presente e outros montes de coisas que não tinham nada haver... Por mais que tenha me irritado no inicio, foi bom. Relaxei um pouco e quase, quase dei umas risadas. Por favor, né? Não vou desperdiçar minhas risadas em um cara que diz que o objetivo da sua vida é conseguir lamber o próprio cotovelo.

— Felipe. — eu disse demorando um longo meio segundo para perceber que já era minha vez. Eu já tinha deduzido quem eram os outros dois estudantes novos. Uma garota chamada Silvia e um idiota chamado Paulo Pulguinha, para os íntimos. – Sério, mesmo com essas, por incrível que pareça, ainda tenho fé na humanidade. – Para ambos, todos tinham perguntado um monte de coisas ao invés de rirem logo de cara, então, apenas tentei responder a maioria do que eles perguntaram anteriormente e me livrar logo. — Faço dezessete esse mês. Não curto cotovelos e nem picles... — eu disse arrancando umas risadas de alguns ao fazer menção às apresentações anteriores. — Moro em Martina tem pouco mais de dois meses. Gosto de pizza e de molho de pimenta. Gosto de música. Gosto de dormir. — dei de ombros, sem saber mais o que dizer.

— Você é repetente? — ouvi Hugo perguntar e arqueei as sobrancelhas tendo certeza que ele já sabia disso.

— Hum, é, sou. Repeti na sexta série. — eu disse sem me importar muito e lançando-lhe um olhar inocente, perguntei-lhe: — Por quê? Ofende seu histórico escolar saber disso? — eu disse com um sorriso amistoso. E aí está, Dra. Alzira! Como consigo ser péssimo com amizades e ter um diagnóstico materno de introspecção social! Começa por aí, minha língua estúpida funciona antes do cérebro. Não que eu me sinta particularmente arrependido.

— Ah. Não, — disse Hugo ficando vermelho e com um olhar irritado. — mas se precisar de ajuda em alguma matéria... Pode me pedir, sabe...

— Tirei 10 até mesmo em física, ano passado! — completou outro colega do qual não me lembrei do nome. — Fala sério, né, Hugo! Larga disso, seu geniosinho ‘Não passo cola’!

Com isso, todo mundo riu e não me perturbou mais pelo resto da aula.

A tarde transcorreu mais rápido do que eu esperava e eu tentei relaxar um pouco resolvendo uns exercícios de matemática que o professor Clemente passou na aula seguinte. Interessante, relaxar com matemática. Mas sei lá, repeti por causa dessa matéria na sexta série, depois disso passei a estudar matemática e, estranhamente, passei a gostar também. Talvez... Psicologia reversa? Ah, quem se importa! O lance é que serviu para que eu arranjasse o que pensar até o intervalo, sem que o tema envolvesse alguém com Azulzinha entre o primeiro e o último nome.

Assim que o sinal tocou, eu já ia saindo da sala o mais rápido que podia, dispensando quem vinha falar comigo quando me dei conta do óbvio: talvez meu próprios colegas de sala soubessem onde encontrar o Toni.

— Toni? Está falando do Maxuel? — disse a garota fazendo cachos no cabelo com os dedos. — Você conhece ele? — ela fez uma careta.

— Ele jogou no mesmo time que... hm... — eu hesitei, não querendo me referir a Tabhita como prima. Claro, o mundo desabando e eu preocupado com isso! — Uma amiga minha. Sabe de qual turma ele é?

— Terceiro ano A. O maior babaca que existe, se me perguntar. Apenas não se envolva com ele, ok? Ou vai virar um babaca também e eu, provavelmente, não vou rir quando fizer alguma piada com o histórico escolar do Hugo.

— Ah, ok. — eu disse querendo do fundo do meu rim não ter que me envolver com o Toni. — Obrigado...

— Esqueceu, é? Aline!

— Ok, valeu, Aline! — eu disse e fui andando rápido pelos corredores, procurando o 3°A. Achei bem rápido, mas, aparentemente, o Toni faltou.

Oh, padroeiro dos ferrados-mor... Por que eu não adivinhei?

Passei o resto do intervalo procurando encontrar a Ângela ou a Melinda. Perguntando pela Melinda, só consegui olhares desconfiados. Acho que começaram a achar que tenho alguns fetiches exóticos. Até por que, não sei o que é mais notável, uma lolita albina andando pelo pátio do colégio ou um cara perguntando por uma Lolita albina andando pelo colégio. E quanto a Ângela... Ela também faltou e pelo o que Hugo, gentilmente me disse, ela faltou ontem também. Normalmente eu pensaria que ela só não estava a fim de aparecer na entediante cerimônia de abertura, mas... Como tem vampiros nos parâmetros de análise... E como eu me senti vagamente culpado por tê-la jogado em uma lata de lixo e depois tê-la abandonado, desmaiada nos braços do Carlos e ido embora, achei que talvez ela merecesse uma visita. – Isso e, claro, eu tinha a esperança de que ela soubesse o endereço do Toni; a não ser que ele esteja se escondendo em alguma caverna por aí, eu tinha uma forte convicção de que a Ângela poderia saber onde ele morava.

O último horário foi de geografia e o professor até que foi legal. Um baixinho de bigode, que parecia ser meio surdo e extremamente amigável. Também é o responsável por algum acampamento escolar pelo qual todos estão ansiosos; saiu distribuindo uns folhetinhos que eu usei para fazer aviõezinhos de papel. Não estava com humor nem paciência para lê-lo ou prestar atenção na aula, portanto fiquei divagando enquanto fitava o quadro e me lamentava por não ter chegado mais cedo para poder sentar lá atrás e poder dormir mais discretamente. Honestidade é o que há!

Quando a aula acabou, eu ignorei as equipes de esportes – Inclusive a de natação. – que convocavam os interessados para o primeiro dia das atividades extracurriculares. Há: teatro, natação, capoeira, futebol, vôlei, ping pong, basquete, xadrez, balé, coral e uma banda do colégio. Bem diversificado até. Na minha antiga escola só havia futebol e eu sempre era escalado como goleiro. Um saco!

Enrolei-me um pouco para achar a casa da Ângela do ponto em que o ônibus havia parado, mas não demorou mais do que alguns quinze minutos até que eu me encontrasse em uma ruazinha reconhecível e conseguisse me guiar até a fachada da casa enorme dela. Toquei a campainha umas duas vezes até que uma mulher de cara amarrada veio me atender.

— Oi. — eu disse percebendo que ela me fitava inquisitivamente.

— Oi, quem é você? — ela disse com as sobrancelhas arqueadas.

— Felipe. Sou, hum, amigo da Ângela. Você pode chamá-la? — eu disse tentando disfarçar minha impaciência.

— Amigo? — a mulher enrugou a testa e travou os lábios em uma linha fina de pura irritação. Ok, esse não foi o melhor dia da minha vida. — Volte outro dia, rapazinho. A Ângela está dormindo, ela não está se sentindo bem.

— Ah. Eu sei, ela me disse. — eu disse tentando suavizar minha expressão e delineando os lábios em um sorriso que torci para que fosse realmente um sorriso e não uma tosca tentativa. — Vim visitá-la porque estou meio preocupado, ela faltou ontem também e alguns professores...

— Por favor, rapazinho. Outra hora. Outra hora. — ela disse com uma expressão feroz. — Quer que eu deixe algum recado?

— Hum, não. Obrigado. — eu disse meio desapontado, vendo-a fechar a porta em seguida.

Pensei em ir embora. Pensei. – Bom, uma parte muito minúscula do meu cérebro cogitou a possibilidade. – No entanto, além de estar fazendo muita força para não entrar em pânico com o desaparecimento da Tabhita, a tia do mal lá disse que a Ângela estava passando mal. E cara, a última vez que eu havia visto a Ângela, fora no primeiro dia do festival da Batata, domingo. O que significa que foi no mesmo dia em que ela teve o cérebro quase derretido – Eu esperava que fosse quase mesmo. – pelo Toni, e se tivesse desencadeado algum efeito colateral? Quando aconteceu comigo, no campo de futebol, eu dormi que nem um morto e só, mas e se...?

Enfim, a droga da minha consciência estava se sentindo muito culpada por ter esquecido a Ângela nos braços de outro cara e nem ter procurado saber se ela estava viva, com danos cerebrais, ópticos ou de qualquer outra natureza. – Ok, provavelmente só uns 30% do meu cérebro estava se preocupando com isso. Os outros 70% estavam muito concentrados na Tabhita para serem dissuadidos tão facilmente. – Logo, lá estava eu tentando descobrir qual daquelas mil janelas é a do quarto da Ângela.

Fiquei uns dois minutos pensando em qual seria. Há um total de seis janelas na entrada – Janelas duplas. Quatro em cima e duas em baixo. – e quatro na lateral esquerda. – Duas em baixo e duas em cima. – Do lado direito eu não pude descobrir, porque há uma enorme árvore e o muro do vizinho é bem rente e eu não estava muito disposto a pular o muro só para descobrir quantas janelas há naquele lado. – Além disso, quem é que coloca janelas há um metro do muro do vizinho? – Eu já estava satisfeito o suficiente com dez janelas.

Na primeira vez que fui a casa dela, ela subiu as escadas para trocar de roupa, então me restavam seis janelas como opções. Quatro na frente e duas laterais, em cima. Também não achei que ela dormisse em um dos quartos que despontavam para a entrada da casa. Eu poderia dizer que houve toda uma dedução complexa ao concluir que me restavam só as duas janelas laterais, mas o grande lance óbvio da questão, é que nenhum adolescente em plena fase de crescimento e, claro, dedicado a arte de acordar tarde, dormiria ali; simplesmente porque os raios de sol entrariam como holofotes na cara do indivíduo.

Daí, entre as duas restantes, utilizei um método muito conveniente, sábio e acessível. Olhei qual dos dois lados parecia mais fácil de escalar. A janela direita tem uns vasos de flores nos beirais, se eu me apoiasse ali, iria derrubar alguns. Nada bom. A direita não tinha nada, mas em compensação, se eu despencasse de lá, era provável que quebrasse a coluna já que logo abaixo havia um daqueles anõezinhos de jardim de meio metro. – No fim das contas, pra que raios servem essas coias, hein? Quase quebrar minha coluna foi a única utilidade que já achei. – Subi rapidamente pela janela da direita e dei uma espiada no quarto escuro ao pisar na sacada.

Não havia ninguém, só um monte de móveis relativamente empoeirados. Algumas medalhas de karatê pendurada na parede, algumas camisas sobre a cama. O guarda roupa com a porta entre aberta, um bloco de notas aberto e uma caneta jogados sobre o teclado... Se não fosse a fina camada de poeira, eu diria que o vídeo que vi com o irmão da Ângela era só um troll ao qual, eu, na posição de idiota, caí.

Fiquei com vontade de dar uma fuçada, ando loucamente ávido por informações úteis ultimamente, mas ainda tenho algum pingo de bom senso. Aquele parecia o quarto que todos na casa evitavam, como se estivessem esperando a autorização do dono para mexer em algum palha, não seria eu que iria quebrar isso. Portanto, me esgueirei até o quarto ao lado, tentando não pensar no fato de que invadir a casa dos outros é crime; ia girar a maçaneta, mas putz, né... Quem que entra assim no quarto de uma garota? Ainda por cima quando ela tem uma faixa verde de karatê? Logo, contra todo o meu senso de discrição, eu bati na porta. – Agora que penso nisso... E se fosse um baita de um erro desgraçado e aquele fosse o quarto da VouTeMatar.com?

Como não tive resposta, abri a porta aos poucos e entrei tentando olhar para o chão.

— Ei, Ângela, é o Felipe. Você está vestida, né? — eu disse em alto e bom som, ouvindo um mini grito de susto em seguida. — Oi? — eu disse fazendo menção de olhar em sua direção quando um travesseiro se chocou contra meu rosto.

— Não olha! — eu ouvi a conhecida voz da Ângela dizer e só então percebi o quanto estava tenso. A Ângela estava comigo quando tudo isso começou. Começou para mim pelo menos. No fundo, acho que eu achava que talvez ela pudesse ter algum tipo de solução milagrosa e, claro, se tudo desse em porcaria... Pelo menos ela sabe que eu não sou um doido viciado em ocultismo nem nada...

— Posso olhar agora? — eu disse já me cansando de estudar os detalhes do chão de madeira encerada.

— O que está fazendo aqui? — ouvi-a inquirir em seu típico tom irritado.

— Você e a mulher que atendeu a porta são parentes? — eu disse tomando sua pergunta como um consentimento para encará-la. Ela não parecia diferente do normal, a não ser pelo pijama do super homem e pelo cabelo bagunçado. — Ei, você estava pelada?

— O-O quê? — ela disse fazendo uma careta que me fez relaxar um pouco.

— Você sabe... Você e aquela mulher que atendeu a porta têm esse... — eu fui dizendo, tentando ignorar seu olhar, que seria assassino se eu não estivesse achando graça demais do pijama do super homem. — Sei lá, vocês duas têm essa aura do mal, talvez...?

— Você é idiota? Eu não tenho nenhuma aura... — ela começou a dizer e parou no meio da sentença, como se se desse conta de algo ainda mais grave com o que se preocupar. — Você sempre entra assim no quarto dos outros? Perguntando se estão pelados?

— Não, só no de garotas, acho... — eu disse estudando o quarto. É relativamente parecido com o outro, a não ser pelo fato de que tinha uma vasilha de pipoca no chão, em frente a um TV LCD tão enorme quanto a dá sala. — O que nem é frequente, admito. — eu disse voltando meus olhos para estudá-la com mais atenção. Seu aspecto pálido não parecia diferente do que eu me lembrava e sua expressão não era a de alguém que tinha tido o cérebro derretido. — Você está bem?

— Estou. Pareço não estar?

— A sua mãe disse que não estava.

— Ah, por favor... Felipe! Nós nem nos parecemos!

— Fisicamente, não. — Mas ambas me assustam igualmente. Não que eu fosse dizer isso em voz alta.

— Ok. Ok. Ela é a Cris, diarista. Ela só não se dá muito bem com... Pessoas. — ela disse não parecendo mais tão lute por sua vida!.

— Dormiu por quanto tempo? — eu perguntei depois de um minuto inteiro de silencio.

— Umas vinte horas. Assustei algumas pessoas lá no hospital. — ela riu sem graça.

— Imagino.

— Então... Quer pipoca? — ela disse me estendendo a vasilha da qual eu peguei algumas e enfiei na minha boca apenas para ter alguma atividade mecânica com a qual me distrair. — Como convenceu a Cris a te deixar entrar?

— Não convenci. — eu disse ainda mastigando pipoca e pensando no que dizer. Eu pulei a janela do quarto do seu irmão possivelmente devorado por um vampiro, não parecia uma boa ideia. — E aí, tem alguma ideia do que possa estar acontecendo nessa cidade? — perguntei de repente, me dando conta de que eu gostaria de estar tendo essa conversa com a Tabhita.

— Não. — Ângela disse com uma expressão amargurada, sentando-se na cama. — E, acredite, eu tentei muito pensar em algo que fizesse sentido. Mas você não veio aqui só para isso, não é? — ela disse estreitando os olhos. — Você não precisa de mim para chegar a esse tipo de conclusão, o que aconteceu Felipe?

— A Tabhita desapareceu, Ângela. — eu soltei e não deixei de reparar no quão desconsolada saiu a minha voz.

— Tabhita? — ela disse pacientemente, sentando-se com uma postura mais ereta e suavizando seu semblante.

— Bom, você não conhece, ela é... — deixei a frase se perder. Não sei bem o que a Tabhita é. A Tabhita é a Tabhita. Simples. — É complicado, mas ela é alguém importante e...

— Desapareceu.

— É.

— E você acha...? — ela disse me estudando com seus olhos negros.

— Toni, Ângela. Toni. Você sabe quem é? Pois acho que foi ele que... — deixei a frase no ar. Na verdade, acho que ainda estou em negação.

— Sim, Toni Maxuel. Sei quem é aquele idiota. E o que você pretende? Arranjar um rifle e ir até a casa dele? Estamos lidando com gente perigosa, Felipe... Fui naquele beco hoje de manhã e quase não há mais vestígios de sangue. Fui na casa do Paulo, você sabe... O cara de domingo. A mãe dele está desesperada porque ele sumiu. Ninguém faz nem ideia de que ele tenha morrido!

— Está me dizendo para não fazer nada? — eu disse cruzando os braços, já com uma ponta de indignação na voz.

— Estou dizendo para não se matar. — ela disse com um tom apaziguador o que é digno de nota vindo da Ângela, já que normalmente é ela que tem que se acalmar. — Simplesmente correr atrás do Toni não o tornará nada além de estúpido.

— Vou pensar em alguma coisa. Apenas me diga onde esse cara mora, todos a quem perguntei só sabiam chamá-lo de idiota. Nada mais.

— E não ache que sou eu que vai te dizer. Não vou compactuar com seu suicídio, Felipe. Só lamento. — ela disse quase impassível.

— Claro. — eu disse com mais sarcasmo do que pretendia e suspirei em seguida, tentando desanuviar meus pensamentos. — Você já foi lá, não foi? Logo depois que vimos esse Paulo... Você foi na casa do Toni, não foi? — eu disse sondando, de repente me pareceu muito estúpido não ter suposto isso desde o início. — Não tente me fazer de idiota, Ângela! Sei que está tão louca para achar o seu irmão, quanto eu estou para achar a Tabhita. — eu a pressionei já quase gritando.

— Vá embora! — ela disse de repende em um tom gélido, olhando para o chão. — Vá embora agora, Felipe! — Fitei-a por alguns segundos, estupefato, e saí pela porta pisando firme.

Se a Ângela havia se irritado dessa forma com o meu palpite, provavelmente eu estava certo e, pior, ela não havia descoberto nada encorajador. Talvez algo que atestasse a impossibilidade do seu irmão estar vivo?

Desci as escadas com um tsunami de irritação, dúvidas e desespero preenchendo minha cabeça. Faziam quase 24h que a Tabhita estava desaparecida, se eu não arranjasse logo um plano descente... Poderia ser tarde demais. Não é como se o Toni tivesse sequestrado a Tabhita para a fim de comprar o meu silêncio. Se ele quiser, ele pode apenas quebrar o meu pescoço e pronto. Fim! Mas independentemente de uma razão, Toni era o único vínculo tátil com toda essa coisa sobrenatural. Portanto, ainda que as causas do desaparecimento da Tabhita fossem totalmente diversas... O Toni é a única pista.

Passei reto pela sala entupida de quadros e escura, só então me dando conta que não era exatamente natural eu sair pela porta já que havia entrado pela janela. Cris estava muito entretida no alto de uma escada, no meio do cômodo trocando a lâmpada e me fitou com uma descrença que me faria rir se eu estivesse no clima.

— O que você... — ela começou a dizer, mas não terminei de ouvir o que ela dizia. Dirigi-lhe um breve aceno e praticamente corri até a saída. Brigar com a diarista não me faria achar a Tabhita.

Trinquei os dentes sem saber o que fazer em seguida e voltei meu olhar para a casa enorme. A Ângela sabia de algo que não queria me dizer. A Tabhita sabia de algo que não queria me dizer. Até mesmo o Zeca parecia estar enfiado em alguma coisa mais complicada... E no fim, todos pareciam estar se afastando. O Zeca caiu fora. A Tabhita sumiu e a Ângela não queria olhar para a minha cara.

Olhando o contorno vagamente iluminado do anão de jardim com o qual eu me estressara mais cedo, me senti inútil. O que faria? Obviamente a Ângela tinha razão, o que não significava que eu tivesse muitas opções ou que eu fosse ficar algo além de – intrigadamente – esperançoso ao ver um vulto olhar discretamente para os lados e cair como um gato no chão, saído da janela da Ângela.

De onde eu estava, pude vê-lo de relance, seguido do rosto da Ângela que surgiu na janela e esquadrinhou ao redor, à procura de alguém que pudesse ter visto o que eu vi e achado tão suspeito quanto eu achei. E, se eu não tivesse me enfiado atrás de uma árvore, seus olhos certamente teriam cruzado com os meus quando ela voltou seu rosto em minha direção.

Fiquei assim por alguns segundos. 74 segundos, espiando por entre os galhos, não querendo perder o vulto de vista. Ele desceu pela esquerda da rua da Ângela e eu teria corrido atrás dele, certo de que talvez ele tivesse alguma ideia... Se eu não tivesse ficado ocupado demais tentando fazer meu cérebro não dar tilti. Era ela! Era a ruiva do vídeo, a Maria Gabrielle ou Gabriella, não lembro, mas enfim... Era ela! Ela estava viva ou, bem... Nenhum humano consegue aterrissar daquela forma ao pular de uma janela.

E aí estava meu novo hobbie particular, perseguir vampiros e torcer para que todo esse negócio de que eles podem ouvir seu coração batendo, seu sangue pulsando, sentir seu cheiro – Só eu que acho isso nojento? – seja só mais um monte de invencionices junto com a parte em que eles são imunes ao sol.


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Notas finais do capítulo

p.s.: vcs devem ter percebido q o dia 3 de janeiro nao se encerra aí. Tive q dividir esse dia, pq ficou mt grande, em breve postarei a parte! ;)

E aí, gostaram??? Muitas emoções (sangue?) ainda estão por vir! hahaha
Estão ansiosos para saber onde a Tabhita se enfiou?? O.o

Bjus^^



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