Tsumi Is Mine! escrita por Lucy Himeno


Capítulo 4
Pesadelo pra mim é viver sem você


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu usei "cada poça dessa rua tem um pouco de minhas lágrimas" da Fresno como inspiração para escrever o pesadelo... Inventar sonhos é difícil, sabia?! xD



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Era um dia claro e com poucas nuvens, enquanto Tsumi e Daiji caminhavam de mãos dadas pelas ruas do bairro comercial de Mekata. Eu os seguia e observava de longe, sentindo um aperto no peito. Inveja? Ciúmes? Mas espera... Isso é perigoso! Nesse país, eles podem ser denunciados à polícia por “homossexualismo”. Não que eu realmente me importe com aquele loiro azedo, mas não posso deixar que nada de mal aconteça à meu querido Tsumi! Então, corri em direção à eles, tropecei, recomecei, fui o mais rápido que pude, ignorando as gotas de chuva que começaram a cair sem aviso prévio, eu continuava a desviar das pessoas e pisar nas poças do chão, ágora, formadas não apenas pela água que precipitava, mas misturada às minhas lágrimas. Quando pisei em uma das poças, descobri que ela era formada por um líquido espesso que me impediu de continuar. De repente, o sol que iluminava o rosto daqueles dois desaparece, tudo ao meu redor se foi, restando apenas trevas, enquanto eu afundava em um líquido negro sufocante. À medida em que eu me debatia, minhas forças pareciam se esvair, assim como minha consciência... Vi a linha do horizonte conectar o céu azul àquele mar de trevas, até que ambos estivessem indistinguíveis, assim como eu, em meio a escuridão que agora fazia parte de mim. Então esse seria meu fim? O mesmo sentimento que fez meu coração brilhar foi o que o fez se partir em mil pedaços, então, que serventia me tem esse órgão agora? Seria muito melhor se eu pudesse viver sem coração. Eu não sentiria dor e poderia doá-lo à Higa…

 

De repente, uma luz inebriante invade meus olhos e eu acordo subitamente, com a mão em meu peito, arfando, enquanto meus pulmões buscavam ar. Olho ao redor, desnorteado, tentando entender o que estava acontecendo, enquanto meus olhos ofuscados começam a se acostumar com a luz… Vejo a  mobília conhecida, as cortinas abertas, meu urso Pupi jogado no chão e, a seu lado, uma figura feminina de cabelos esverdeados… 

 

—...Midore?

—Ora, quisera ela ter um por cento do meu intelecto, já estaria rica e bem sucedida por conta própria… - Disse a garota, jogando Pupi na minha cara sem nem um pingo de delicadeza.

—Que? Kaoru! O que você está fazendo aqui?!

—Você não mandou mensagem depois de ontem! O que aconteceu? Eu entrei aqui e vi você chorando e gemendo… Oh! Não me diga que você estava sonhando com Tsumi… - A garota leva a mão até a boca, tentando abafar o riso e emitindo um “huhuhu” assombroso e doentio.

—Cala a boca, sua pervertida! - Jogo o travesseiro na cara dela, derrubando seus óculos redondos no chão - Eu tive um pesadelo terrível!

—Sério? - Ela parecia interessada enquanto recolhia seus óculos e o travesseiro, se abraçando a este enquanto se sentava aos pés da minha cama - Me conta!

 

Kaoru escutou todo o sonho seriamente. Era a primeira vez que eu não a via fazer piadinhas e, por um instante, ela emanava uma aura confiável. Ao fim da minha narrativa, ela respirou fundo, ergueu os óculos pelas hastes e começou a falar:

—Sabe, Toshi… Para Freud, pai da psicanálise, o sonho é o principal acesso ao seu inconsciente. Eles expressam desejos reprimidos, permitindo à você se comunicar consigo mesmo. Em 1996, François disse que "O fato de contar a si mesmo ou aos outros é uma das características que faz a originalidade do ser humano", assim, passamos nosso tempo a contar a nós mesmos nosso futuro, nosso passado e o que somos. Ainda sobre Freud, nós falamos conosco através dos sonhos, porém, essa comunicação sofre efeito do superego e do pré-consciente, por isso, o sonho é formado formado a partir de processos de modificação, como a condensação, o deslocamento, o esquecimento... Que encobrem um significado oculto, ou seja...

 

Ela continuava a falar coisas que mais pareciam estar em um idioma estrangeiro que não era japonês ou inglês, que eu dominava, e eu precisei interrompê-la

—CHEGA! O que é tudo isso? Quantos anos você tem garota?!

—15! - Disse, bastante cínica - Sou apenas um ano mais velha que você, mas como sou um prodígio já estou na faculdade, huhuhu… - A garota começou a se gabar, mas foi interrompida por alguém que acabara de chegar.

—Eu sei que você não cresceu muito em alguns lugares, mas há quanto tempo você está com 15 anos, priminha? 3 anos? 7 anos? Ou... - Interrompeu minha irmã, que até então escutava nossa conversa através da porta entreaberta

—M-Midore! - Kaoru estava vermelha e tentava não expressar sua raiva.

 

Eu não sabia o quanto minha irmã havia ouvido de nossa conversa, mas uma vez que me certifiquei que ela não sabia nada sobre Tsumi, consegui convencê-la com uma desculpa qualquer sobre rivalidade entre primos.

—Então foi isso que aconteceu? Eu sabia. Toshi estava agindo estranho ultimamente… - Minha irmã falava enquanto segurava Kaoru pelo braço, impedindo-a de escapar

—Não é nada disso! Eu não estava tentando bancar a prima escrota dos vestibulares com o Toshi! - Kaoru se debatia e tentava se soltar, sem sucesso

—Escuta aqui garota, vocês são os únicos adolescentes da família, mas ser mais velha não te dá o direito de subjugar meu irmãozinho tá me ouvindo? - Vi as unhas compridas da minha irmã pressionar a pele da minha prima e percebi que seria hora de intervir

—Calma, calma, irmã - falei no meu tom animado habitual, enquanto segurava sua mão, tentando convencê-la a soltar Kaoru - A Kaoru não fez por mal! Ela vai me ajudar a estudar para os exames do ensino médio para o ano que vem

—É mesmo…? - Disse a mais velha, finalmente soltando o braço da menor - Eu espero que você seja uma boa influência para o Toshi, mas se eu ver meu irmãozinho magoado novamente eu vou impedir que se vejam! 

 

Midore deu meia volta, deixando o quarto e trancando a porta, enquanto eu e minha prima esperávamos para ouvir seus passos descendo a escada, tendo certeza que ela tinha ido embora

—ADULTOS SÃO ASSUSTADORES! - Disse Kaoru, pulando em meus braços e se queixando, em um falso tom de choro.

—Mas você não é adulta também? Você parece jovem, e eu não sou bom em matemática, mas me desculpe por não ter percebido antes, pff... - Falei, tentando abafar o riso enquanto afagava sua cabeça. Minha irmã e minha prima nunca se deram bem, desde a infância

—Claro que não, baka! Eu ainda sou uma loli!

—Hai, hai...

—Sabe, Toshi? - Disse Kaoru, se aconchegando ao meu lado - De acordo com seu sonho, eu entendo que você se sente mal por atrapalhar o amor de alguém que você ama tanto…

—É mesmo? - Engoli seco ao perceber que o que ela dizia fazia sentido - Eu não tenho mais nada a dizer, mas gostaria de ouvir mais sobre isso.

—Você não é o vilão, Toshi. Todos têm o direito de expressar seu amor. -  As palavras de Kaoru me surpreenderam. A ideia de ser um vilão malvado nunca passou por minha cabeça antes, mas vejo que faz sentido.

—Mas eu fui egoísta, Kao-chan… Eu não deveria atrapalhar a  felicidade de Tsumi… Além disso, ele já está se sentindo mal o bastante, depois que terminou com aquele loiro… Quer dizer, com o Daiji, por medo de ser preso por “homossexualismo”.

—“Homossexualismo”? Ah! Aquela lei ridícula desse país? Assim como toda lei, ela tem muitas brechas, mas eu fui descuidada! Você acredita que, por causa disso, eles confiscaram meus mangás no aeroporto, dizendo que faziam apologia a relacionamentos homossexuais?! Eu tinha alguns doujinshis exclusivos e autografados!

—Er… Sinto muito? Seja lá o que isso for… - Eu nem sempre entendia o que minha prima falava, mas ela era bastante divertida. Era engraçado como uma menina tão inteligente podia ser tão pervertida ao mesmo tempo.

—Aqui, seu bobo! Vamos ler um pouco no meu celular! Assim, você vai parar de pensar mal de si mesmo, e ver que todo bom romance precisa de um rival!

 

Nós lemos alguns mangás de romance entre garotos. Fiquei envergonhado no começo, mas depois, foi muito divertido ver esse tipo de relacionamento retratado pela primeira vez. Todos os personagens eram muito bonitos, e eu pensava em como gostaria de criar roupas baseadas na personalidade de cada um. Não sei em que momento, mas eu e Kaoru dormimos lado a lado por algum tempo, talvez minutos, talvez horas. Quando acordei, ela estava ao meu lado, babando e balbuciando coisas estranhas sobre garotos, coisas que eu não fiz questão de tentar entender. Fiquei olhando para o teto por alguns instantes. Eu estava feliz pela visita anual da minha prima. Provavelmente, dormir assim me fez lembrar na nossa infância e, por isso, acabei sonhando com doces lembranças. Quando crianças, costumávamos brincar os três até tarde, eu, Midore e Kaoru. Nós fazíamos uma tenda de cobertores no sótão e passamos a noite comendo doces e contando histórias de terror. Bem, elas contavam, mas eu apenas ouvia, com medo. Percebi que tive muita sorte em crescer com a presença de duas meninas mais velhas tão afetuosas como minha irmã e minha prima. Nossos pais estavam sempre ocupados, mas elas nunca deixaram eu me sentir sozinho. Eu sou carente e, por isso, sonho com um príncipe encantado para me fazer feliz... Porém, eu cresci cercado de bastante amor.

 

—Um rival no amor, hm… - Pensei alto.

—O que? - disse Kaoru, sonolenta

—Nada, vai dormir, garota!


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Notas finais do capítulo

Nesse capítulo eu pude aprofundar a personagem Kaoru e suas relações familiares! Escrever um momento fofo entre ela e Toshi deixou meu coração quentinho ♥

...Em pensar que eu só voltei a escrever essa fanfic porque tô procrastinando ao invés de fazer meus trabalhos do ead......................



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