Estávamos a cinco minutos do intervalo e eu já não aguentava mais ficar sentada. Meu pé balançava sem parar e meus olhos não saiam do relógio. Agora era aula de História e o professor falava sobre algo de como os escravos eram tratados naquela época. Quando estamos ansiosos parece que a hora demora a passar, é algo como um complô contra você. Estava começando a achar que chegava a hora de ir embora mas não chegava a hora do intervalo. Bem, pode parecer sem lógica mas estava demorando muito; de repente o sinal toca fazendo todos se levantarem desesperados. Alguns por quererem pegar um bom lugar na fila da cantina ou encontrar os amigos ou simplesmente para se livrar das aulas. Saí de sala acompanhada com minhas amigas, Nanda, Paula e Lu, essa por sua vez estava calada desde que chegou e não trocou nenhuma palavra com ninguém durante as aulas. De longe avistei a Mel saindo de sua sala e corri até ela.

– Oi amor! – Falei abraçando-a por trás

– Oi meu bebê – sorriu virando-se para mim, iriamos nos beijar, iriamos. Isso se o inspetor não tivesse pigarreado ao nosso lado e nos olhado com reprovação, não com preconceito ou algo do tipo mas avisando que aquele não era o lugar, logo depois sorriu e piscou para nós duas saindo em direção a fila da cantina para amenizar a bagunça.

– Então, o que vai fazer agora no intervalo?

– Não sei ainda, mas vou ficar com a Guta e com o Lipe, tive um desentendimento com a Bruna hoje de manhã e não quero vê-la por enquanto – logo atrás dela apareceu Guta e Lipe

– Oi – disseram juntos sorrindo em nossa direção.

– Olá, vocês não morrem tão cedo hein? A Mel acabou de falar que vai passar o intervalo com vocês, e então você não querem ficar comigo e com as meninas? – disse para os três a minha frente, e eles prontamente concordaram, nos dirigimos todos juntos até o ginásio e nos sentamos em baixo das arquibancadas. Apresentei a Mel, o Lipe e a Guta para as minhas amigas e logo estávamos todos conversando como velhos amigos. Todos estavam sentados juntos; Eu me encontrava sentada com a Mel entre as minhas pernas, depois estava a Nanda, o Lipe, a Guta, Paula e pôr fim a Lu.

– Então quer dizer que você é a namorada do meu irmãozinho? – perguntou a Melani para a Nanda.

– Er...é – respondeu já ficando vermelha e olhando pra baixo.

– haha não fique com vergonha, eu queria te conhecer já a algum tempo. A Duds me falou sobre vocês dois. E você não precisa ficar com medo de mim... você precisa ter medo da minha mãe quando ela descobrir que o filhinho dela está namorando – todos nós rimos depois dessa.

–Pena que o horário do intervalo dele não seja no mesmo do nosso – falei dando de ombros.

A única que parecia um tanto quanto por fora era a Luana e isso já estava me deixando intrigada. Quando todos estavam animados falando o jogo de vôlei que vai passar na ESPN hoje de noite, eu decidi me afastar um pouco, cochichei no ouvido da Mel.

– Amor, eu vou ali falar com a Lu pois desde que ela chegou está diferente, estou preocupada, ok?

– Certo pequena – Falou baixinho e me deu um selinho. Levantei-me e fui até a Lu que olhava para as mãos entrelaçadas, certo, essa não é a minha amiga.

– Lu – sentei-me ao seu lado.

– Oi Duda – olhou pra mim

– O que está acontecendo, você está triste. E eu não gosto disso.

– Sabe Duh, eu te falei uma vez que eu namorava não é? – concordei – pois bem, ela terminou comigo – abaixou a cabeça – disse que estava gostando de outra garota, isso aconteceu no domingo. Mas eu acreditava que iriamos voltar, decidi fazer uma surpresa pra ela ontem. Porém quem se surpreendeu foi eu. Ontem depois da escola fiz questão de passar em uma floricultura e comprar um buquê de rosas vermelhas, comprei chocolates e fui pra casa. Coloquei as rosas em um vaso para não murcharem até a hora de eu ir vê-la. Passei a tarde resolvendo tudo, liguei para o restaurando meu padrinho e contei o que aconteceu, ele logo se prontificou a me ajudar e reservou a melhor mesa para o comecinho da noite. Liguei para uma frota de táxi e pedi para o melhor táxi ficar a noite toda a meu serviço. Me arrumei e de 19 horas o táxi passou na minha casa – nessa hora ela já chora um pouco, o suficiente para fazer com que todos prestassem atenção na nossa conversa – paguei a ele adiantado, o combinado era que eu ia passar na casa dela, busca-la e de lá iriamos para o restaurante e depois ele iria nos levar de voltar para minha casa. Eu estava muito animada, sabia que ela seria minha de novo depois disso. Parei em frente à sua porta; vestia um vestido preto que só tinha usado uma vez, em uma mão segurava a caixa de bombons e na outra o buquê, respirei fundo e toquei a campainha, esperei com um sorriso no rosto até ela atender. Ela estava linda, parecia ter acordado a poucos minutos, usava um camisão azul que eu conhecia bem, ela olhou-me assusta e eu comecei a falar que eu queria uma nova chance para reconquista-la – agora ela chorava e isso me fez abraça-la – eu ia entregar os presentes e chama-la para jantar comigo quando uma mulher apareceu atrás dela, eu nunca, nunca me senti tão pequena quanto naquele momento. A mulher devia ter a idade dela e me encarava com certo divertimento. Saí de lá sem rumo, chorei a noite inteira, contei minha história para o taxista, afinal todos eles tem um pouco de psicólogos – riu um pouco e eu gostei disso – ele ficou com tanta pena de mim que queria devolver parte do dinheiro mas eu não aceitei. Chorei a noite inteira, nem viria para a escola hoje mas minha mãe me obrigou dizendo que não queria me ver com nota baixa ou me sentir pra baixo por causa de rabo de sai.

Todos escutavam atentos e ela chorava feito uma criança. Eu encostei sua cabeça em meu ombro e fazia cafuné.

– Não fique assim Lu, você vai encontrar alguém melhor vai mostrar pra essa sua namorada tudo o que ela perdeu – disse a Paula – sempre estaremos com você – segurou a mão dela e eu vi a clara troca de olhares entre as duas.

– Isso mesmo – falaram os outros. Iniciamos uma outra conversa para mudar um pouco a tensão no ambiente, mas logo o sinal tocou. Deixei a Lu com a Paula e fui com a minha morena, com a Guta e Lipe até a sala deles. Despedi-me e quando ia saindo senti o olhar fuzilante da Bruna e do Matheus sobre mim, esses dois me dão arrepios. Saí de lá diretamente para a minha turma. Me sentei e fiquei conversando com a Nanda, a Paula ainda reconfortava a Lu e eu podia ver que essas duas poderiam dar certo.

– Ei Fê, o que achas dessas duas?

– O que? Da Paula e da Luana?

– É...

– Não sei... a Paula não é muito de quem fica com uma pessoa só e a Lu é justamente ao contrário. Acha que dá certo?

– Não custa nada tentar. E isso pode fazer bem para as duas – eu ia falar mais alguma coisa mas logo vi os alunos se sentando e sabia que o professor tinha chegado. Virei-me e não acreditei no que eu vi.