Filhos escrita por Bellah102, CaahOShea


Capítulo 11
Capítulo 10 - Chantagem


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é para Katy Salvatore que conquistou meu coração com um único review. ^W^
Por favor, comentem!



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Elijah

Bati à porta dos Mikaelson. Tinha acabado de receber a mensagem de Angela confirmando o início do plano. Tínhamos discutido toda a noite passada sobre o nome da operação, mas não conseguíamos chegar à nada. O melhor que tínhamos era a “Operação Katy Perry”, por causa do clipe de The One That Got Away. Mas eu pedira que não usássemos esse. Não era muito masculino.

Tudo agora dependia da boa vontade de Grace e do poder de dedução de Finn.

Finn abriu a porta e olhou-me de cima abaixo. Estava de chinelos e de pijama, mas parecia bem desperto. Exatamente como Angela descrevera o “alvo” na mensagem.

-Olá.

Eu disse, depois de um longo silêncio. Será que eu devia mesmo juntar esse cara com a minha irmãzinha?

-Oi.

Mais silêncio. Ele apoiou-se ao batente da porta como se esperasse um ônibus que demoraria a chegar.

-Hum... A Angela já está de pé?

-Está sim.

Agora seu olhar era de quem zapeava por canais de televisão. Entediado. O quão lento é esse cara?

-Você pode chamá-la para mim?

-Posso, claro. – Ele suspirou e estava prestes a fechar a porta mas parou na metade do caminho e saiu da casa, fechando a porta atrás de si – Hum... A sua irmã está aí?

Senti um arrepio de vitória, mas fingi indiferença.

-Não.

-E ela pode vir?

-Por quê?

Ele soltou o ar e parecia desconfortável. Talvez eu fosse um pouco intimidador, principalmente para alguém acostumado a ser incomodado por valentões. Eu nunca tinha pensado nisso.

-O negócio é o seguinte... Minha irmã raptou o meu baixo. Ela diz que eu preciso... Socializar, e essa merda toda. Só que... Eu não sei se você percebeu o meu alto nível de talento com pessoas.

-É, eu percebi, sim.

Precisei reprimir o riso. Ele fez uma careta que logo se suavizou com um leve sorriso. Ele percebeu que eu estava do lado dele. Mais do que você imagina, colega.

-É. A questão é que eu não gosto muito de gente. Mas eu quero o meu baixo de volta. E a sua irmã é legal. Além disso, é a única pessoa que eu conheço na cidade além de você e dos seus pais. E sinceramente, vocês não são o meu tipo.

Bufei, assentindo.

-Claro cara, sem problemas. Eu peço para ela vir.

-Mas eu não quero sair com o irmãozinho estranho...

Grace gemeu do outro lado do telefone. Devia estar na cama ainda, onde estava quando eu saíra, ou no sofá assistindo desenhos como fazia todo o inverno quando vinha para casa, enquanto a mamãe lhe entupia de comida.

-Por favor, Grace. Só por hoje... Por mim...

-Ah El... – Ela suspirou – Os Mikaelson são coisa sua, e da mamãe. O único com quem eu quero me envolver é com o meu cobertor, aquele safado pervertido, e deixá-lo explorar meu corpo todinho.

Revirei os olhos.

-Gray. Por favor. Vai ser legal. E além do mais, Finn não vai chamar a Angela para baixo enquanto você não vier. Ela não atende o celular e eu não sei qual janela é a dela... Por favor...

-Você não pode sair com ela outro dia?

-Não. A reserva já está feita. Sem reembolso. Vamos, Gray...

-Sem chance, El. Não tem a menor possibilidade, a mais remota chance, a mais ínfima...

Era hora de usar a artilharia pesada. Me desculpe, Gray. É para o seu bem. Prometo.

Quando Grace estacionou a sua vespa, ela me fuzilou com o olhar, todo o seu 1,62 furioso. Ela parecia pronta para arrancar um membro meu. Enfiou o indicador com tanta força no meu peito que me fez cambalear para trás.

-Você vai ter que lamber o chão onde eu passar agora – Sussurrou ameaçadora – E pode deixar, que eu vou passar em uns lugares bem legais, tá? – Ela me empurrou, indo na direção da casa – Francamente, Elijah, essa é a última coisa que eu gostaria de estar fazendo! – Ela virou-se para mim, confirmando o que eu temia. Estava magoada. É claro que sim. Não poderia ser diferente depois da idiotice que eu fizera. Tentei me consolar e dizer a mim mesmo que era necessário, mas isso não me fez sentir melhor – E você é a última pessoa que eu esperava que me ameaçasse. Ainda mais com isso!

-Você sabe que eu nunca faria isso.

Eu disse, arrependido, me aproximando.

-E você sabe que eu não posso arriscar. Se a mamãe e o papai soubessem...

-Nada aconteceria.

-Não é sua escolha. Eles trariam tudo de volta. Iam querer saber dele, e processá-lo. E eu só quero que essa coisa toda acabe.

Ela bateu na porta e cruzou os braços, esperando.

–Gray, escute...

–Quieto, Elijah, quieto! – Ela fechou os olhos, rosnando. – Cara, eu poderia matar você agora! – Ela abriu os olhos, fixando-os em mim com raiva. – Só espero que valha a pena para você.

Grace

Enquanto Elijah e Angela tinha o que parecia ser uma adorável conversa na mesa atrás de nós, eu e Finn nos encarávamos em completo silêncio. Melhor encontro de todos os tempos. Um sonho de domingo: Encarar calada um punk que estava me usando para conseguir um baixo estúpido de volta.

-Qual é a sua, Mikaelson?

Perguntei, emburrada. Queria espernear e chutar meu irmão. Sua coerção me machucara mais do que tudo. Elijah era o único que eu sabia que poderia contar para sempre e para qualquer coisa. Mas aquilo... Aquilo era a pior das traições. Talvez pior do que a que Ele fizera.

-Eu estou tentando descobrir a mesma coisa, Black. Pelo que eu saiba, as pessoas conversam em encontros.

Ele levantou uma das sobrancelhas como se avaliasse a minha reação à sua resposta. Eu não sou seu maldito rato de laboratório, seu psicopata. Olhe ara o outro lado. Permaneci em silêncio.

-Você é bonita, sabia disso?

Soltei o ar, desviando o olhar para o nada. Ele dizia isso o tempo todo. Levantei os olhos. Não pensaria nisso. Eu era outra pessoa agora, mais forte. Não seria mais refém de ninguém.

-Eu estou aqui pelo meu irmão e nós dois sabemos disso. Então não tenha ilusões de me levar para casa e ganhar um beijinho na calçada, porque não vai rolar – Eu não sou esse tipo de garota.

Seu olhar se suavizou, perdendo a pose e ele uniu as sobrancelhas, curioso.

-Que tipo de garota?

Dei de ombros, fingindo indiferença. Sempre fingindo. Até quando?

-Que se apaixona.

Não mais. Nunca mais. Ele riu e virou a cabeça de lado, como se se divertisse comigo. Pelo menos um de nós está se divertindo.

-E se eu fizer você se divertir?

Foi a minha vez de rir.

-Vai me dar alguma droga? Será que eu devo avisar meus pais que eu vou voltar para casa em partes numa mala?

Ele deu de ombros, se levantou e me estendeu a mão.

-Acho que você vai ter que descobrir.

-Um parque de diversões? É sério? Que clichê! Por favor, todas as comédias românticas tem uma cena dessas!

Ele desceu da sua moto, pendurando o capacete no guidão e acorrentando-o.

-Era de se imaginar que uma garota que não se apaixona não assistisse esse tipo de filme.

-Digo o mesmo de um punk.

Ele deu de ombros.

-Vivo com uma garota.

Imitei-o, passando a sua frente.

–Eu sou uma garota.

–Sério mesmo?! Qual a sua idade?! Doze?!

Dei ré no carrinho bate-bate e persegui-o através da pista. Ele escapou habilmente, fazendo uma curva no último segundo e me fazendo bater em duas secundaristas estúpidas, apertadas em um só carrinho.

–Errou de novo. Que barbeira, Black!

Apertei o acelerador, virando atrás dele. Estava prestes a atingi-lo, quando o brinquedo parou do nada, me projetando para frente. Os funcionários começaram a guiar as pessoas para fora do brinquedo. A nossa vez tinha acabado. Soltei o cinto. Quando levantei os olhos, Finn estendeu a mão para que eu levantasse. Pulei do carrinho pelo lado contrário e avancei a passo firme para fora.

–E agora? Vai me levar para comer?

Perguntei, olhando-o por cima do ombro e erguendo uma das sobrancelhas.

–Não. Um último brinquedo antes de comer.

Ele disse, me alcançando. Ombro a ombro saímos na multidão do parque. Eu não sabia qual era a pira de toda essa gente de ir a um parque num frio daquele, mas a aglomeração era a que devia ser em um lugar quente, embora eu nunca tivesse ido a um lugar como esse.

–Qual?

–O essencial de qualquer filme romântico.

Parei e balancei a cabeça.

–Você não vai me levar na roda gigante.

–Porque não? É muito hardcore para você?

–Porque só casais e crianças vão lá. Nós não somos um casal e não vamos ser.

Ele cruzou os braços e sorriu como se eu fosse um inserto que ele podia esmagar se pudesse. Imitei-o, firmando minha decisão.

–Está com fome?

–Morrendo de fome.

–Sem roda, sem comida. Simples.

–E se eu tiver dinheiro?

–Você tem?

–Tenho.

–Quanto?

–18, 75 U$.

–Isso é mentira.

–De fato, é.

–Porque o 75¢?

–Para parecer mais autêntico.

–Vamos?

–Eu não vou para a roda com você.

Ele semicerrou os olhos, me analisando.

–Quanto você pesa?

–Sério mesmo que você está me perguntando isso, seu sem noção? – Ele sustentou meu olhar como se aquela pergunta fosse totalmente aceitável – Sei lá, uns 55...

Ele assentiu.

–Magrinha ein?

–Obrigada.

Voltou a assentiu, coçando o início de barba.

–É, dá para carregar.

Acho que os funcionários do parque acharam bonitinho que o namoradinho estivesse carregando a sua cuti-cuti emburradinha para o brinquedo. Também se divertiram quando eu gritei que estava sendo sequestrada e que alguém encontrasse os meus pais. Devia estar sendo um grande show para eles depois daquele dia frio de trabalho com todas aquelas crianças chatas. Um deles caiu no chão de tanto rir.

Cruzei os braços e fiz uma carranca enquanto o cesto subia.

–Vamos lá, não fique assim. Sorria, o mundo é belo.

–Pode ser, para você. Mas o meu mundo deixou de ser bonito um tempão atrás. Sem contar que ele tirou o dia para se fazer de engraçadinho e ignorar os meus desejos.

Ele deu de ombros.

–Você nem sempre pode conseguir o que quer...

Fiz uma careta, olhando para ele, surpresa.

But if you try sometime…

–I’ll get what you need.

Ele completou com um sorrisinho metido. Deixei um sorriso acidental escapar.

–Você é um poser! Nenhum punk pode conhecer essa música!

–E você é uma hater! Fica julgando o tempo todo. Além de que... Todo mundo sabe que punks não seguem regras.

Apertei os lábios, assentindo e considerando sua frase.

–É, tá certo. Acho que eu odeio você um pouco menos agora.

Ele fez uma pequena mesura com a cabeça.

–Obrigado.

Observei-o de lado, evitando olhar para o chão que se afastava. Finn parecia perfeitamente confortável no banco de vinil gasto e com o estofamento estourando.

–Você gosta de mim?

Eu perguntei, dando voz ao que estava me incomodando aquele dia inteiro.

–É, eu gosto, sim.

–Então não estamos aqui só por causa do seu baixo?

Ele pensou por um tempo, olhando o horizonte.

–É, acho que não. – Ele não olhou para mim. Não estava desconfortável. – Eu poderia ter saído com qualquer pessoa. Mas por algum razão, eu quis sair com você.

–E que razão é essa?

Ele ficou em silêncio por um longo tempo.

–Eu não sei – Disse por fim – Acho que gosto dos seus olhos.

Baixei o olhar, corando. Tinha perdido as contas de quanto tempo fazia desde que eu havia recebido um elogio de alguém que não fosse da minha família. Eu sempre chamava atenção, mas nem sempre do jeito certo. Olhei para o horizonte atrás de mim e puxei as pernas para perto do peito, olhando o lindo por do sol por trás das montanhas nevadas.

–É bonito, não é?

–É... Silencioso.

Ele sorriu de leve.

–Concordo. É uma pena que a trilha sonora tenha sido inventada só algum tempo depois do pôr-do-sol.

Deixei um risinho escapar. Olhei para ele. Finn estendeu a mão, como se esperasse que eu a segurasse. Nunca mais. Virei o rosto, imaginando se eu morreria direto se me jogasse lá de cima.

Elijah

-Dá para ver alguma coisa?

-Não. Está muito longe. – Passei o binóculo para ela. Ela me passou o pacote de batatas chips. Coloquei-o sobre a mesa e ataquei os nachos – Será que eles nos viram?

-Não, acho que não. Mas Finn curte privacidade, de uma forma ou de outra. Será que eles estão indo bem?

Dei de ombros.

-Pareciam legais mais cedo.

Ela suspirou e baixou o binóculo, sorrindo de forma orgulhosa. Pousando o binóculo sobre a mesa, e pegando sua enorme coxa de peru e dando uma mordida nada delicada, diferente de qualquer lado dela que eu já tivesse visto. Me senti mais intimo dela. Ela olhou para mim e, envergonhada, cobriu a boca e limpou-a com um guardanapo.

-Foi um bom plano, El. Você é um bom irmão.

Eu sorri e desviei o olhar para os nachos.

-Espero que a Gray ainda pense isso. Eu disse umas coisas que eu não devia ter dito hoje de manhã.

Ela sorriu de leve o tocou o meu pulso de leve.

-Não se preocupe com isso. Um dia ela vai ver como é para o bem dela. Isso e a melhor amiga dela vai elogiar muito um certo irmão.

Sorri para ela e fechei o punho, estendendo-o. Ela fechou o dela e bateu-o contra o meu. Mordeu a coxa novamente e voltou a olhar para a roda gigante pelo binóculo.

Depois da gritaria e loucura do parque o som das cigarras era uma melodia singela e bem vinda. Finn insistiu em me levar para casa, mesmo que cada um tivesse sua moto. Nós paramos a frente de casa. A luz do quarto de El já estava acesa. Eles já haviam voltado. Suspirei, recolhendo a moto na garagem.

Quando voltei ao portão da garagem, Finn estava acariciando CB, agachado ao seu lado na grama úmida de geada. Sorri e cruzei os braços, observando a cena. Havia algo nele. Algo resiliente, forte, escondido sob o couro e as correntes. Era bonito. Decente. É irmãozinho, nada mal.

-Vem CB. Vamos para dentro.

Animado pela perspectiva de uma lareira e um tapete quentinho, ele entrou correndo na garagem, esperando-me à porta que dava para a casa. Finn sorriu de lado e se levantou. Dei um passo a frente, balançando as mãos de forma descontraída.

-Bem, é isso.

-De fato, é.

Ele continuou ali, calado, ainda me observando. Soltei o ar.

-O que foi?

-Admita.

-O que?

-Que você se divertiu.

Revirei os olhos.

-Você nunca vai arrancar uma palavra sequer de mim, Sr. Mikaelson.

Ele sorriu e deu de ombros.

-Não se pode culpar um cara por tentar.

Sorri de leve, retrocedendo de costas para a garagem.

-Tchau Finn.

E é claro que, o mundo, ainda decidido a brincar comigo, me fez tropeçar. Obviamente, Finn me pegou, envolvendo uma mão ao redor da minha cintura e uma dos meus ombros. E lá ficamos nós dois naquela posição desconfortável enquanto eu sussurrava “Eu estou bem, eu estou bem.”. Eu queria que alguém estivesse filmando aquele dia todo. Eu ia ganhar milhões dos bolsos de solteiras desesperançosas pelo mundo todo, se editasse aquilo para o cinema. Teria até um título da matinê da TNT: O irmão da melhor amiga.

E estávamos ali, e estávamos próximos. A mão dele ainda estava na minha cintura, como se eu ainda fosse cair. Éramos quase da mesma altura. Não foi preciso esforço. Foi como curvar-se.

Nada de beijinho na calçada. Isso não tem nada a ver com você, tem a ver com Elijah. Sempre teve e sempre vai ter. Eu não posso fazer isso.

Empurrei Finn e virei o rosto, praticamente correndo para a garagem, apertando o botão para que a porta descesse.

-Vai embora, Finn!

O portão fechou-se antes que eu pudesse ver sua reação. Respirei fundo na escuridão e gemi, sentindo punhos imaginários sobre a carne, sempre companheiros inseparáveis dos beijos. CB encostou o focinho gelado contra a minha mão. Acariciei sua cabeça, tentando recuperar o fôlego. Fechei a mão ao redor dos seus pelos. Subimos para a casa. Mamãe e papai estavam no escritório, discutindo alguma coisa em voz alta.

-Grace? É você, meu amor?

-Sou eu. Acabei de chegar!

Ela saiu o escritório e sorriu de uma forma nervosa. Uni as sobrancelhas. O que será que estava acontecendo? Algo não parecia certo...

-Porque não vai tomar um banho quente, meu amor?

-Acho que só vou deitar. Estou exausta.

Ela assentiu.

-Está bem. Você comeu direitinho?

Assenti. Eu e Finn havíamos nos empanturrado de besteiras na lanchonete do parque. Ou tantas besteiras quanto dois vegetarianos podiam comer.

-Está tudo bem por aqui?

-Tudo. Tudo. Mas amanhã nós vamos precisar que você e seu irmão fiquem conosco, está bem?

-Por quê?

Ela parou por um segundo, olhando fundo nos meus olhos com seus olhos castanhos perturbados. Parecia prestes a dizer alguma coisa quando me abraçou com força.

-Porque nós amamos vocês e queremos vocês perto – Ela se afastou e colocou meu cabelo escuro e curto atrás da orelha. – Agora suba. Eu e seu pai precisamos conversar.

Assenti, analisando sua expressão uma última vez antes de subir as escadas. CB ficou lá embaixo. Entrei no meu quarto, sem acender as luzes e caí de costas na cama de dossel – coisas da tia Rosalie. Melhor nem perguntar onde ela conseguia esse tipo de coisa.

-Hum, Gray? – Elijah chamou da porta, batendo de leve com o nó dos dedos no beiral – Podemos conversar?

Soltei o ar.

-Claro, El. Entre aí.

Ele entrou no quarto, se jogando na cama ao meu lado. Olhei para ele e ele olhou para mim.

-Desculpe por ter te ameaçado. Você sabe que eu não contaria para ninguém.

-Eu sei. É só que... Você sabe que eu faria qualquer coisa por você, El. Eu ia acabar cedendo. Eu não quero que você pense que pode usar isso e que vai ficar tudo bem. Também não quero que você sinta que precise usar isso para me manipular.

-Eu não... Eu não... Eu juro, Grace. Eu nunca mais vou falar sobre isso de novo. Eu não sei o que deu em mim. - Assenti, agradecida. Ele beijou minha testa. – Desculpe mesmo. Você é minha irmãzinha. Eu devia estar protegendo você.

-Eu dou conta de mim mesma, seu bobão.

Eu disse, empurrando-o. Ele riu e rolou para fora da cama, quase se enroscando no dossel. Ele foi até a porta, mas parou no beiral e olhou para mim, o sorriso sumindo.

-Gray?

-Hum?

-Ainda dói?

Fiquei em silêncio. Que pergunta cretina.

-Achei que não falaríamos mais sobre isso.

-Mas dói?

Ele insistiu, teimoso. Calei-me por um longo tempo antes de responder.

-Dói. Claro que dói. Todos os dias, especialmente voltando para a cidade. Mesmo sabendo que ele está preso, todas as esquinas estão cheias de sombras e fantasmas. Às vezes, parece que eu não consigo respirar e que tudo vai cair em cima de mim. As vezes eu sonho que ele está de volta, ou que a mamãe e o papai descobrem. Acordo no meio da noite. Daí eu choro, tremo durante um tempo. E toda a vez que eu penso que já é hora de seguir em frente e achar alguém decente, eu sinto toda aquela merda voltar. E dói, Elijah. Dói para caramba.

Ele ficou em silêncio na porta do quarto. Fechei os olhos, tentando evitar as lágrimas, mesmo sabendo que elas viriam mais tarde, no silêncio da noite.

-Eu sinto muito que tenha que ser assim.

-É, eu também.


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