Filhos escrita por Bellah102, CaahOShea


Capítulo 10
Capítulo 9 - Filhos


Notas iniciais do capítulo

Não importa se está pequeno. Só a Evelin está merecendo mais capítulo, mais ninguém >:(



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Gabrielle

                -Algumas pessoas reclamam de suas famílias. De como seus irmãos são nojentos, as irmãs são frescas ou o pai trouxe os enteados para a casa depois de casar com a madrasta malvada. Falam sobre os hábitos nojentos do tio e da tagarelice da avó. Da falta de compreensão entre todos. Do beijo da velha tia gorda, dos primos irritantes, dos agregados inconvenientes. Tudo isso, é o que dizem.          

                Reclamam de barriga cheia. Aposto que nenhum deles nunca viveu em uma casa com outros 4 híbridos, um vampiro e uma mulher grávida.

                -Ei Gabrielle! Será que dá para parar de falar com esse gravador estúpido e dar uma olhada na mulher?O pai deve chegar logo!

                Engoli em seco e pulei da cama, descendo as escadas do sótão. Era o quarto de Elise, mas era para lá que eu ia quando queria ficar sozinha. Ela quase nunca estava lá. Infelizmente, quando se morava em uma casa com semi-imortais, ficar sozinha era um luxo quase impossível de se usufruir.

                Normalmente eu responderia e xingaria até me livrar da tarefa imposta para mim. Mas era Lucy quem estava mandando. E quando Lucy mandava era uma ordem.

               

                -Nós, híbridos, também temos dons, como nossos pais imortais. E como filhos Daquele que Fugiu, não seríamos diferentes. Lucy é nossa tenente, embora não seja a mais velha e nem ao menos a mais forte. Nosso pai lhe deu esse posto porque ela é... Bem... Por falta de palavra melhor, foda.

                Ela surgiu à minha frente de repente, vinda do seu quarto. Quase trombei com ela, mas meu instinto me fez retroceder.

                Sabe quando humanos impõem respeito? Esta era Lucy. Muito embora, como todo o resto, ela tenha parado em algum lugar entre seus 18 e 25 anos, eu tinha vontade de sentar e ouvir toda a sua sabedoria – embora, que eu soubesse, ela não possuísse muito dela. É o tipo de pessoa que você evita o contato visual e faz reverências quando entra na sala.

                Imediatamente temi que ela fosse me castigar por ser tão desastrada e quase encostar nela, então retrocedo mais um passo. Ela sorri.

                -Estava falando de mim?

                Queria mentir. Queria fugir.

                -Sim.

                -Sim, o que?

                -Sim, senhor. Digo, tenente. Digo, Lucy.

                Ela sorriu e eu me sentia aliviada que a tivesse agradado.

                -Goste do adjetivo, mas poderia melhorar.

                -M-m-m-m... Mas...

                Dizer isso era extremamente difícil. Era desafiar uma ordem direta. Senti uma mão invisível apertar meu cérebro em retaliação e gemi de dor.

                -Ei, Lu. Pare de torturar a caçulinha

                Guillermo veio do andar de baixo, como sempre estava. Camisa branca aberta exibindo o peito moreno. Ele tinha calças apertavas e sempre andava descalço. Como descrever sua aparência? Bonito como um deus grego. Sua personalidade? Arrogante como um deus grego.

                Lucy olhou para ele com raiva. Um detalhe importante sobre a nossa casa: Os híbridos se detestam.

                -Você está usando seu poder de persuasão em mim? Em mim, sua desgraça escura?

                -Você está usando sua impressão em mim, desgraça calcasiana.

                Ele disse, recuando, com a voz hesitante. Os dois se encararam por longos segundos tensos e silenciosos, forças poderosas se chocando de forma invisível em pleno ar. Por fim, Lucy revirou os olhos e deu de ombros, entrando novamente em seu quarto. Permaneci calada e, balançando a cabeça, Guillermo se aproximou. Perto demais, perto demais.

                Ele tirou uma mecha de cabelo do meu rosto, a pele quente acariciando minha bochecha. Sempre quente, sempre quente demais. Eu disse arrogante antes? Acho que eu quis dizer apaixonante. Sim, definitivamente, foi o que eu quis dizer.

                -Ela assustou você?

                -Não. Não. Tudo bem. Eu não sou nenhuma criança.

                -Certeza?

                Assenti. Ele se afastou, com um sorriso maroto. Então fez uma careta, ouvindo a música que vinha do fim do corredor.

                -Anna Marie! É bom você NÃO estar assistindo Glee sem mim!

                Quando ele se foi, percebi que precisava soltar o ar.

                -Guillermo é o mais velho de nós. Ele nem ao menos é americano. Foi concebido muito antes do grande projeto do pai. Ele passou muito tempo sozinho nessa casa com o pai antes de nascermos. Elise diz que é por isso que ele pausa as séries em homens sem camisa e fica tanto tempo no banheiro. Mas eu não sei se acredito nisso. Também não tento pensar muito sobre o assunto. Quer dizer, somos irmãos e eu devo amá-lo da maneira certa. Não que eu... Bem, deixe para lá.

                Logo depois de Guillermo e Lucy, veio Elise. Não temos certeza de onde ela veio, mas papai se refere à ela como “a melhor foda do século XX”. Ela é minha híbrida favorita nesta casa. Ela flutua e atravessa paredes. E como se isso não fosse underground o suficiente, ela está sempre recitando sua poesia estranha. Na cozinha, ela salta de dentro da máquina de waffles: Ovos e farinha, misturados em um pote / Não tão gostosos quanto salva-vidas e um bote. No salão, quando conecto meu Ipod ao sistema de som: Durante a música, a inspiração vem. / Bach, Beethoven e Mozart também / Viver nesta casa, até que me convém.

                Depois que ela surgiu no meio do banho de Guillermo e fez uma poesia sobre seu instrumento viril, ela parou com essa mania. Não entendo. Mas ela nunca quis me dizer qual era a poesia.

                Anna nasceu no Colorado. Não sabemos muito mais sobre ela, porque toda a vez que ela fala, somos paralisados. Não literalmente, é claro. É só que... Ela é tão linda. E embora eu saiba disso melhor do que ninguém, não consigo me lembrar de sua aparência. Sempre tento me lembrar de desenhá-la, mas me esqueço. Ainda assim, não se engane com Anna. Eu já a vi matar mais rápido do que qualquer um de nós, até mesmo Lucy.

                E havia eu, nascida em Washington. Eu não falo sobre a minha mãe, então nem tente. Meu poder extraordinário? Andar pela casa com um gravador e cuidar das mulheres. É por isso que os outros me odeiam. Eles sabem que eu não pertenço a este lugar. Estou aqui por conta da minha personalidade gentil e servil. Não sou parte do seu grupinho de elite. Em outras palavras, não sou perfeita o suficiente.

                Gabe desliga.

                Desci as enormes escadas de mármore em direção ao porão. Eu odiava ir ao porão. Não porque fosse úmido, frio, ou tivesse qualquer similaridade com qualquer outro porão de qualquer outra casa. Pelo menos eu não achava que as outras casas tinham um corredor de prisão neles, cheios de celas.

                Lá embaixo eu podia sentir os espíritos mais fortes do que em qualquer outro lugar. Os das mulheres. Eu amava meu pai, como todos os outros de nós. Mas queria que ele não precisasse matar tantas delas para conseguir mais irmãos para nós.

                Franzi o nariz. O cheiro da mulher estava no corredor. Inspirei profundamente, tentando ter certeza. O que ela estava fazendo fora do quarto?! Lucy ficaria furiosa. Segui o cheiro o melhor que pude e ele me levou até um vestido. Era o antigo, que ela trouxera da antiga vida antes do bebê. Estava todo rasgado e sujo. Outras roupas faziam uma trilha de cheiros. O que isso está fazendo aqui? Que jogo ela está jogando agora?

                Calley adorava jogos. De cartas, de tabuleiros. E como sua cuidadora, eu devia mantê-la entretida. “Uma mulher feliz significa uma criança forte e uma criança forte significa um bom guerreiro. Entendeu, Gabrielle, ou quer visitar o senhor cinto novamente?”. Senti um arrepio ao lembrar do que o pai dizia. De qualquer modo, toda a vez que eu ia visitá-la, nós jogávamos alguma coisa. Se não fosse completamente neurótica e marcada para morrer, talvez ela fosse levemente divertida. Imaginei se ela jogava jogos com os outros quando eles iam alimentá-la.

                Segui a trilha até que ela acabou no meio do nada, na intersecção entre três corredores. Tive um mal pressentimento e corri para o quarto dela, o mais distante possível, perdido nos tuneis sob a casa. A porta estava destrancada e escancarada. Uma faca de manteiga estava no chão. Corri o mais rápido que pude para o primeiro andar. Mas onde está o cheiro?!

                -Irmãos! – Chamei, aterrorizada do que o pai faria conosco quando soubesse. Não importava de quem era a culpa. Todos seriam punidos severamente. Lucy foi a primeira a descer do segundo andar, seguida de Anna Marie e Guillermo. Elise flutuou do teto até nós – Temos um problema. 


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