Filhos escrita por Bellah102, CaahOShea


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Uma palhinha do que está por vir...



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Calley

                Pessoas são feitas.

                Nascem crianças, crescem, mas só realmente deixam de sê-las quando algo – um evento traumático, uma grande oportunidade, uma pessoa modelo – lhe faz quem ela realmente é e vai ser dali em diante. Dá-lhe um objetivo de vida.

                Foi naquele dia que fui feita.

                Quando saí da lanchonete lá estava ele de novo. Observando-me, louro e perfeito. Completamente não o meu tipo, com aquela atitude indiferente e mãos que quebrariam pescoços. Ainda assim, ele se aproximou pela primeira vez. Eu me afastei, deixando claro que eu não o queria por perto. Ele me seguiu. A rua estava silenciosa, e não havia ninguém para quem eu pudesse gritar. Ele estava entre mim e a lanchonete. Não podia voltar. As luzes dos prédios ao redor estavam apagadas e a única iluminação concreta eram as amarelas luzes de rua e logo a frente uma das lâmpadas piscava, falhando.

                Eu tentei correr, é claro. Imagino que as outras tenham tentado também. Ele me pegou em menos de dois segundos, mais rápido do que eu jamais teria imaginado e tapou minha boca com a mãozorra para que eu não gritasse.

                -Vamos a um lugar legal.

                Tentei lutar também. Para sair do carro e dos seus braços. Ele bateu minha cabeça tão forte contra a porta do carro que eu fiquei atordoada durante todo o caminho. Ele me levou para uma casa. Uma casa imensa, forte, de alvenaria, pintada de um cinza escuro enfadonho. A pesada porta se abriu por dentro. Animadas vozes de jovens nos saudaram com os olhares vorazes por algo que não pude entender. Ele afastou a todos com um grito. Levou-me para um quarto no segundo andar e me jogou contra a cama.

                Tentei fugir e pular pela janela, mas ele se apressou, amarrando-me à cama. Mesmo atordoada pude perceber que as cordas estavam gastas e ensangüentadas. Eu não era a primeira. Aquilo não me fazia sentir nada melhor.

                De cabeça para baixo, com os cabelos escuros derramados pela parede abaixo dela, uma menina flutuava. Seu olhar, eu nunca consegui decifrar. Continham o infinito das emoções, da piedade à diversão contida.

                -Da cama sai, mas à cama torna. Nada acaba até que ela esteja morta. Mais um, mais um, dos fortes irmãos. Mais uma peça, do imenso gamão.

                -Gamão? – O homem perguntara, levantando uma sobrancelha – Seu nível está caindo Elise. Agora dê o fora daqui. Papai vai se ocupar.

                A menina, Elise, desapareceu através da parede, como se fosse um fantasma. É um sonho. É claro. Só podia ser.

                -Há coisas que não lhe ensinam na escola – Começara, trancando a porta. Aproximara-se e começara a desafivelar o cinto – Mas não se preocupe. A verdade não vai se esconder por muito tempo depois de hoje. Eu te ensinarei o que precisa saber.

                -Nunca fui uma boa estudante.

                Disse, olhando ao redor, procurando alguma coisa – qualquer coisa! Uma arma, uma escapatória, literalmente qualquer coisa. Mas não havia nada. Nem mesmo abajures nas mesas de cabeceira.

                -Mas você nunca estudou comigo. Garanto que posso ser bem... Mais incisivo que professores normais.        

                Ele disse, baixando as calças e sorrindo por baixo dos cabelos que lhe caíram sobre os olhos. Por mais que fosse belo como um deus, um nó se fechou ao redor da minha garganta. Não, Deus, por quê?! Foi quando eu notei. Enquanto ele tirava a camisa, o sol escapou pelas nuvens e fez sua pele reluzir. É como... Uma jóia.

                -O... O que é você?

                Ele olhou para a janela e sorriu, fechando a cortina, puxando-a pelo cordão.

                -Garota esperta. As outras não percebem até que eu comece.

                Senti o queixo tremer enquanto ele se aproximava. Preciso distraí-lo. Preciso ganhar tempo para... Para... Ora, para o que?!

                -O que eu percebi?

                -O que seu filho será – Meu filho? O único filho que tivera fora abortado quase tão cedo quanto concebido. Mas o homem riu, como se eu estivesse perdendo algo óbvio – Um híbrido. Metade ser humano. Metade vampiro. Em outras palavras, perfeito.

                E durante o ato, ele me ensinou. Eu gritei, de dor, de medo, frustração e novo. Arranhei-o e me debati, chutando-o e empurrando-o. Ignorando-me completamente, ele sussurrava no meu ouvido. Sobre seu antigo mestre e seu objetivo. Contou-me sobre seus filhos, plantados em outras mulheres, e sobre seus formidáveis e fabulosos dons. Falou sobre a beleza que nosso filho teria e de como seria triste que eu seria uma mãe ausente. Contou-me sobre o preço de sangue. Perguntei-lhe, com a voz trêmula, falando pela primeira vez, encontrando forças de algum lugar desconhecido dentro de mim.

                Se ele realmente existiria, eu precisava saber.

                -E o que será dele?

                O homem riu.

                -O que eu quiser que seja. Ele será meu para sempre...

                Aquela frase foi a que me fez. Que me deu um objetivo. Uma razão para viver. A frase criou o meu lema dali em diante:

                O meu filho não. 


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