Já fazia uns cinco minutos que tínhamos largado Claire com meu irmão, ficamos alguns minutos por ali, mas depois de um tempo pensei em deixar os dois sozinhos, para ver se meu irmão deixava de ser frouxo e agarrava logo a bendita. Ele pareceu muito contente com a privacidade, diferente de Claire que percebendo que estávamos longe, e que Tyler ainda falava com ela, lançou um olhar medonho para nós.

– Já faz mais de dez minutos que estamos aqui parados. Estou entediado. - Victor resmunga atrás de mim.

– Pule de uma ponte. Pura adrenalina. - murmuro - Aproveita e morre.

– Como eu sei que você vai me rejeitar Elena... Vamos dançar Vivian? - pergunta estendendo a mão para a loira, que estava prestes a aceitar antes de um braço musculoso rodear sua cintura e puxa-la para trás.

– Ela não vai. - Leon rosna.

Vivian se livra do agarre e vira para ele com a face vermelha de irritação.

– Você não manda em mim. - pega no braço de Victor, que observava tudo com interesse e o arrasta para pista, no momento em que uma música lenta começa a tocar.

– Eu vou quebrar a cara dele. - posso jurar que Leon vai explodir se não tomar um suco de maracujá.

– Cara, pega leve. - Nathan diz - Ela parece ser o tipo que é livre e solta.

– É verdade. Conheço ela desde que brincávamos de boneca. - acrescento prestativa - Ela nunca "namorou" por mais de 2 ou 3 semanas. E não é do tipo que se deixa ser controlada.

– Se quiser se aproximar... Vai devagar. - Nathan termina.

Leon suspira e depois se joga em uma cadeira que estava por perto. Ele parece engraçado nela, a cadeira parece pequena para ele.

– Vem. Vamos dançar. - puxo ele e vamos até onde vários casais estão se mexendo no ritmo da música.

O silêncio reina por alguns segundos entre nós, e posso perceber que Leon está mergulhado em pensamentos.

– Como vou fazer isso? - a pergunta me pega de surpresa, já que estava pensando em outras coisas também.

– Fazer o que?

Ele arqueia um sobrancelha.

– Ah! Claro. Bem... Eu não sei, mas você vai saber. Não precisa quebrar a cabeça com isso. - penso um pouco e acrescento com um sorriso malicioso - Ela precisa de gasolina para o fogo dela.

Algo cintila nos olhos dele e depois de um tempo ele diz:

– Pensei que fosse água, mas entendi sua linha de raciocínio.

A música acaba e percebo uma movimentação na porta.

São Vincent e Toby.

Vivian também percebe, porque se solta e caminha em direção à eles.

– Com licença. - sigo ela.

Quando chego Vivian já está conversando com eles.

– Oi! Vocês vieram mesmo! - eu falo.

– É o que eu estava falando! - Vivian diz.

De perto posso ver que os gêmeos não estavam com eles.

– E os outros? - pergunto.

– Eles não puderam vir. Pediram para desculpa-los. - Vincent responde - Onde está Claire? Quero dar os parabéns.

– Ela está logo ali. - eu aponto para uma mesa, que está sendo ocupada por duas pessoas.

– Obrigada. - então ele se vai.

Percebendo que não pareço mais interessante que Vivian essa noite, pois Toby está a encarando, eu saio de fininho dali.

Fico vagado por alguns segundos no meio dos convidados, antes de sentar e ficar observando.

Claire parece bem confortável conversando com meu irmão, e daqui posso ver sua expressão contente. Vincent não está onde eu possa ver, mas pelo tempo que já passou ele já deve ter falado com a baixinha.

Alguns minutos depois Vincent se junta a mim.

– Estou abandonado. - brinca.

– Eu também. - trocamos um sorriso - Bem... Já que estamos sem fazer nada, vamos aproveitar.

Ele dá de ombros.

– Vamos.

Já tinha passado horas quando eu e Vincent fomos sentar para descansar, os adultos já tinham ido embora e alguns mais liberais deixaram seus filhos, alegando que voltassem para casa sozinhos. Os pais de Claire desapareceram. A música foi trocada por algo mais agitado e alto. A casa estava lotada de adolescentes rindo e dançando.

E nem me atrevo a ver o que acontecia atrás daquelas moitas.

Minha mãe nunca deixaria uma bagunça dessa acontecer em casa.

– O que é aquilo? - Vincent aponta para a porta, onde uma pequena multidão está reunida.

Tyler e Claire se aproximam da mesa onde estamos, meu irmão não parece muito feliz com a presença de Vince, mas decide ignorá-lo.

– Que diabos é aquilo?! Se quebrarem alguma coisa dentro dessa casa eu vou arrancar os olhos do responsável. - minha amiga rosna.

– É melhor ver qual o problema. Se for um problema pelo menos. - eu levanto e caminho em direção à multidão com os três em meu encalço.

Como se fosse o Mar Vermelho todos abrem caminho enquanto passamos. Sempre quis fazer isso, parece coisa de filme.

Seguindo o fluxo de pessoas nós paramos na sala. Onde mais de perto podemos ver dois corpos embolados no chão.

A sala está acabada, o sofá de couro negro da mãe de Claire está no chão, agora só tem um de pé. A mesinha de centro não foi quebrada, mas foi afastada vários centímetros do seu lugar. Tem coisas espalhadas pelo chão e...

– Que merda é essa?! - ouço Claire gritar - Faz alguma coisa Vincent! E você também Tyler! A sala vai ficar destruída!

– Você não está preocupada com os dois que estão brigando? - pergunto, mais para confirmar algo.

– Não. Por mim eles podem se matar, desde que seja lá fora. Eu até poderia aproveitar se fosse lá. - ela resmunga.

– Não é o Leon? - Tyler pergunta.

Olhando mais atenciosamente

eu vejo que ele está certo. E o outro definitivamente é Toby.

Olho para Vivian do outro lado da sala que parece assustada e furiosa. Ela olha para mim também e eu pergunto movendo os lábios sem fazer som: “O que aconteceu?”, ela responde: “Depois eu explico”.

Prestando atenção novamente no UFC que está acontecendo na sala eu pulo sobre o sofá e estendo as pernas.

– Onde tem pipoca? – pergunto a Claire.

Só digo uma coisa: Ainda bem que ela não tem visão raio laser.

– Esquece. – murmuro.

Os meninos já tinham entrado no meio para separar os “Monstros”, mas não parecia fazer muita diferença.

Sinto um peso ao meu lado e quando olho, vejo Victor.

– Não vai ajudar? – eu sei que ele não vai, mas não custa nada perguntar.

– Não. Por que ajudaria? – ele toma mais um gole sabe-se lá o quê, e olha para mim.

Eu não gosto de ser encarada, e é exatamente isso que ele está fazendo. Como se já não bastasse ficar tão perto.

O som dos gritos extasiados dos espectadores estava me deixando surda, e o cheiro também não estava tão agradável.

De repente me vejo sentada no colo de Victor, seus braços rodeando minha cintura. Pelo menos um deles já que o outro estava prendendo minhas mãos.

– Ei! – mesmo presa eu tento me soltar. Esse garoto tem braços de ferro?

Eu mais sinto do que ouço o sussurro.

– Relaxe, querida. – e aí ele mordisca minha orelha.

“Ah não! Orelha não! Aí é jogar sujo!” – eu penso.

Ele avança mais alguns centímetros, hesitante, eu percebo, mas de mim não consegue nada mais que alguns centímetros de mais proximidade. Então nossos lábios se encontram.

Todo barulho desaparece, e os cheiros estranhos vão para longe, porque aqui só tem o perfume amadeirado de Victor.

– Que merda fizeram no meu quarto?! Eu sei que foi você Victor! O que estava procurando?! – o grito de Nathan me faz pular do colo de Victor por causa do susto.

“Maldição!” – penso – “Eu iria fazer besteira”.

Quando olho para trás os dois já estavam aos socos. Seja lá o que fizeram no quarto de Nathan deve ter sido muito grave.

Ficamos mais alguns segundos assim até que Claire vai ao rumo das escadas praguejando.

– Essa porcaria na minha casa não. Já chega disso.

Eu espero e vejo quando ela volta com o megafone na mão, e quando apoia na outra e começa berrar.

– Pode parar com essa palhaçada! – as pessoas começam a parar de gritar, e até os garotos param de brigar – Que merda é essa na minha casa?! Acabou a festa. Todos para casa. Agora! Nesse minuto! Quero todo mundo fora! Droga! – todos começam a se mover para a saída – É melhor você nem pensar em triscar nesse vaso meu velho. Eu vou fazer você pagar por ele com os seus olhos. – o rapaz de camisa preta sai apressado – E vocês fiquem paradinhos aí, seus filhos de uma mãe! – os briguentos param de ser mover com a multidão.

Alguns segundos depois a casa está totalmente vazia, a não ser por nós.

Claire desce a escada devagar, para dar um suspense, e consegue. Até eu que estou fora dessa estou assustada.

– Eu estou com vontade de rachar a cabeça de vocês, mas eu sou muito boazinha pra isso. Então eu só quero que vocês limpem a casa toda. Tem sujeira por todo lugar.

– Não é só o quintal? – Tyler pergunta.

– Não. A casa toda. E você e Vincent podem escapar. Só foram pegos no fogo cruzado. – os dois suspiram obviamente aliviados – Como somos caridosas, ajudaremos com os ferimentos.

– Eu posso cuidar de mim. Mas obrigada. – Vincent diz – Só preciso saber onde fica o banheiro.

– Corredor. Terceira porta à esquerda. – Claire diz.

– Eu também posso cuidar de mim mesmo. – Nathan sobe a escada.

Depois de pegarmos o kit começamos o trabalho. Eu cuidei de Victor. Vivian cuidou de Leon, que não a deixou tratar de Toby, quem fez isso foi Claire, depois de ter despachado Tyler.

Quando terminamos Claire apenas jogou todos os produtos de limpeza, vassouras, rodos e panos na cara dos rapazes e saiu com um pote de sorvete na mão.

– Podem começar. – eu digo docilmente e sigo a baixinha com minha própria barra de chocolate.