09 de agosto de 1993

Querido Amigo,

Tenho que te contar uma coisa. É de extrema importância que saiba e tem ligação contigo. vou enlouquecer se não falar.

Vou parar de enrolar.

Eu te vi, tenho certeza disso. Foi no Big Boy, claro!

Sei que conto histórias demais pra você, mas preciso contar essa, você vai se surpreender.

Ontem, trabalhando normalmente, dois garotos e uma garota entraram no Big Boy, pensei conhecer o rosto de um dos garotos, mas me aguentei (se eu conhecesse ele viria falar comigo). Como todos os funcionários estavam ocupados no momento, tive que me atende-los.

Fiz meu trabalho perfeitamente, pelo menos é o que eu acho. Ofereci o cardápio, anotei o pedido, trouxe o pedido...tudo bem feito. Isso é só detalhes, mas quero que saiba de tudo, você me pede isso.

Até me esqueci do que estava falando mesmo.

Ah, lembrei!

Então, voltando ao que importa. Os três clientes pareciam velhos amigos que se reencontraram. Eu percebi isso, até me distrai um pouco, mas voltei a ativa antes de meu patrão perceber. Eles conversavam de uma forma tão discontraída, rindo e tal, que senti uma pontada de inveja. Queria ter amigos assim.

E ficaram conversando por horas e horas que mal perceberam que estava ficando tarde e que o Big Boy estava quase fechando. A maioria dos funcionários já haviam saido, só ficaram Bill, que é meu patrão, e eu. Fiquei responsável por fechar a loja, então esperei os "amigos" sairem.

Como eles estavam meio perdidos na hora, fui até eles e avisei que iria fechar. Um dos garotos, que tinha cabelos escuros e médios e feição de mulher, puxou a garota para fora, enquanto o garoto que pensava reconhecer ficou pra pagar a conta.

- Não me diga quanto deu - disse ele, me oferecendo uma nota de 50 dólares - fique com o troco, você fez um ótimo trabalho.

E deu um tapinha no meu ombro.

- Vamos, Charlie. - a garota gritou.

Charlie, hã?! Foi aí que percebi o porque de achar o rosto conhecido, mas ainda não tinha certeza.

- Já estou indo, Sam.

Sim, Charlie, a garota que te atendeu era eu. Me desculpe se não falei contigo, é que eu fiquei paralizada, sem ação. O que eu poderia falar? "Oi, sou a Bianca, posso atrapalhar vocês?" Tá, exagerei, mas foi melhor eu ficar calada.

Enfim, essa é a história, eu vi você, tenho certeza disso. Só preciso de uma confirmação sua: quero que vá no Big Boy em uma sexta-feira e que fiquei até ele fechar. Assim, posso te reconhecer e conversamos um pouco. Aliás, estou quase terminando de ler o apanhador no campo de centeio. Está sendo uma leitura maravilhosa, apesar de saber que não é um livro tão famoso.

Charlie, espero que realize o que pedi, ficarei muito grata.

Avise a Sam, pelo amor de Deus, não quero vê-la com ciúmes.

Com amor,

Bianca.