5 de Janeiro de 1993

A chegada súbita da Lyra me surpreendeu e ainda mais quando a vi desmaiar em meus braços. Ele dormiu por várias horas até acordar do nada, sufocada e alucinando.

— Bia, volta bia! — Dizia ela.

Segurei Lyra antes que ela batesse em si mesma e a coloquei no sofá.

— Calma, Lyra. —Disse para acalmá-la, mas sabia que só um bom dia de sono iria deixá-la mais relaxada.

Ela mal deita no sofá e dorme novamente. Tirei esse tempo para pensar. Como ela havia chegado até ali? Porque estava tendo alucinações? Porque ela queria que eu voltasse?

Depois de algumas horas, mal havia percebido, mas eu havia dormido e a Lyra, acordado.

— Parece que a dorminhoca aqui é você. — Disse Lyra, segurando um copo de água.

Bebi e disse:

— Fiquei tão preocupada que acabei dormindo, que coisa!

Ela sorri, mesmo não sendo momento pra isso.

Quando ela iria começar a falar tudo? Pensei.

— Acho que deve estar se perguntando como vim para aqui.

— Você leu minha mente.

Ela respira e solta tudo de uma vez. Havia chegado até ali por carona até metade do caminho, o resto dele veio andando até chegar aqui.

— Mas como descobriu que eu estava aqui?

— Seu irmão me deu o endereço antes de irem embora. Ou vou acha que ia se livrar de mim tão cedo?!

Forço-me a rir. Eu não queria me livrar dela. Era minha amiga e ainda é.

— Achei que você tinha se esquecido de mim.

— Todo mundo acha isso, mas lembre de uma coisa: eu sempre sumo quando tenho vontade.

— Anotado.

— Mas porque veio pra cá mesmo?

Conto tudo pra ela e ela fica surpresa.

— Isso tudo por causa de um ciúme bobo? Meu Deus, que mundo é esse? Não se pode nem mais conversar com um garoto sem ter uma lunática com uma serra elétrica atrás de você?

Ri. Certo, aquilo foi realmente engraçado, mas a situação não era. Conto que ainda não descobri quem era que mandava os bilhetes e que desconfiei até do meu irmão.

— Mas você não disse que tem certeza que é uma mulher? Seu irmão é gay por acaso?

— Ninguém sabe.

— Eu escutei isso. — Disse uma voz masculina vinda da cozinha.

— Brendon está ai? — Disse.

— Ele chegou a poucos minutos, antes de você acordar.

Depois de contar toda a história, tintim por tintim, Lyra se convenceu que o motivo era mesmo sério.

— Você ainda fala com o Charlie?

— Raramente, às vezes ligo pra ele pelo telefone público ou mando uma carta anônima, mas nos falamos pouco pra evitar problemas.

Falamos sobre o assunto por um bom tempo.

***

Depois do Jantar, fomos dormir. Lyra havia avisado à mãe que iria dormir fora, então logo adormecemos. E tive um pesadelo.

Uma garota com cabelos coloridos corria atrás de mim. Ela segurava uma faca afiada e sem dó, apontava pra mim, como se fosse lançar. Ela gritava meu nome como um grito de guerra e corria bem rápido, quase me alcançando.

Meu corpo estava cansado de tanto lutar para que ela não me alcançasse, não tinha idéia de quem ela fosse ou o que queria de mim. Só pensei em correr...

Ela me alcança

E eu acordo, aos prantos. Lyra me abraça.

— O que foi?

— Pesadelo muito ruim.

— Porque?

— Eu acho que já sei quem está me ameaçando e não é uma pessoa muito legal.