Devil Hunter E - A inspiração de ChrysopoeiaRPG escrita por Cian


Capítulo 62
Hunt 61 - Theater




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Nina acordou e se arrumou o mais rápido que conseguiu. Vestiu-se e saiu de seu aposento. Iria encontrar Julie em breve para tentarem vencer a segurança do cartão que receberam de Fung. Nenhuma informação lhes havia sido passada além da dificuldade que era acessar tais informações. Logo estava na porta do pequeno laboratório improvisado por Julie para essa pesquisa. A garota que costumava sempre viajar e vagar apenas por diversão por Albius em seu veículo agora havia se instalado temporariamente num local fixo. Dormia e acordava naquele laboratório constantemente. Dentro dele, utensílios dos mais variados tipos, muitos dos quais talvez nem Julie soubesse a função. Quando Nina indagou após entrar o que eram todas aquelas coisas espalhadas pelo solo, Julie apenas riu e comentou:

– Umas tranqueiras que encontrei por aí. Não se preocupe, Nina, nada demais.

Caminhando entre a confusão que era aquele ambiente, Nina foi surpreendida por um grito abafado vindo de Julie:

– Não pise nisso, por favor! Eu encontrei duas semanas atrás nos arredores de Kersey, nunca vi nada assim e pretendo guardar bem!

Era uma espécie de caixa de metal completamente fechada e lisa. Nina logo perguntou curiosa:

– Por que pegou esse objeto? E… O que fará com ele?

– A resposta para as duas perguntas é a mesma. Não faço ideia ainda. Mas algum dia pode ter a resposta da primeira pergunta e com isso, responder a segunda!

Nina logo deixou aquela situação e voltou-se ao ponto importante. Carregava o cartão consigo. Entregou-o à Julie que, sem hesitar, recebeu-o e já começou a analisar.

– Hm… Interessante. É uma boa tecnologia. Fung tinha uma boa capacidade com informações!

Após dizer isso, caiu em silêncio. O clima havia se tornado levemente pesado com as lembranças do passado recente. O tempo lá passou enquanto Julie analisava e logo tudo havia voltado ao normal. O ânimo de Julie havia voltado. Colocara o cartão em um leitor especial que possuía e começou a procurar uma forma de acessar os dados.

– Hm… Criptografia excepcional… Seja lá quem tenha feito esses dados, é uma pessoa bastante boa no que faz!

– Julie, poderia me explicar o que está fazendo?

– Claro! Vamos lá. Estou tentando ler esse cartão, oras! É só tentar abrir até a hora em que ele não resiste mais e solta todas as informações!

– Julie… Esperava algo mais… Como dizer, elaborado.

– Nina. Quer realmente saber tudo o que estou tentando? Por que imagino eu que se for explicar cada coisa, vamos levar bastante tempo.

– Esquece. Continue!

– É pra já!

E assim, voltou ao trabalho. Aos poucos, o ânimo da garota crescia. Nina logo imaginava que era algum sinal bom, mas logo era surpreendida pelos elogios de Julie à segurança feita pelo criador do cartão. Ainda sim, mesmo com as dificuldades, a diversão daquela garota era visível. Ela gostava de lidar com situações assim e Nina sequer precisava tentar ler seus sentimentos para observar isso. Estava estampado em seu rosto. Era bom possuir uma pessoa sem máscara alguma por perto, Nina logo pensou. Lembrou-se de Edge e suas questões internas, além da máscara que Bran insistia em manter, mesmo estando claro para todos ao seu redor que ele não era realmente um homem tão forte e emocionalmente independente assim.

– Nina! Eu acho que consegui algo!

– Como assim? O que descobriu?

– Existem três travas principais nesse sistema de proteção. Provavelmente também tenham chegado nesse ponto, mas dali pra frente, não se sabe exatamente. O que eu sei é que há uma assinatura nesses dados que eu pude acessar.

– Assinatura? De quem?

– Seu pai. Seja lá o que for que esteja aqui, é de autoria de seu pai, Nina.

Ela ficou levemente perturbada. A informação ali contida deveria ser bastante antiga. Nina não entendia o porquê de tais informações serem tão importantes, especialmente considerando a idade delas. Muitos anos haviam se passado desde a produção delas, afinal, seu pai morrera um bom tempo atrás. Enquanto divagava sobre isso, foi interrompida por Julie, que com um movimento de mão, chamou sua atenção novamente.

– Nina! Existem três travas nessas informações mas uma delas simplesmente se soltou! Não sei como, não fiz nada ainda, mas ela se liberou! Eu analisei o que ela cobrava e simplesmente descobri que ela tinha como data e hora marcadas para se abrir exatamente agora. Ela… Ela se abriu sozinha, foi programada para isso. Isso é muito, muito estranho!

– Como assim, Julie? É possível fazer algo do tipo?

– Sim, é claro que é. Mas seja lá como, o que quer que esteja aqui dentro sabia quando deveria se abrir, mas não existe nada demais, apenas a data. É quase como… Se ele soubesse a hora em que essa informação estaria com você. É a única explicação que consigo tirar disso tudo, mas ainda sim me parece absurda. Não é possível que ele tivesse como saber quando teriam essa chance.

– Julie… Esqueça. Vamos continuar. Depois nos preocupamos com isso. O que importa agora é que conseguimos avançar uma etapa. Faltam apenas duas. Estamos mais longe do que qualquer operativo da DANTE pudesse. Essa informação nos foi confiada, então temos que fazer o possível para obtê-la!

– Excelente! Vamos lá, vamos ver essas outras duas travas! A próxima… Nina, você já parou pra notar o que tem no verso desse cartão?

– Como assim? O que você achou?

– Existe um minúsculo buraco. Realmente minúsculo. Além disso, eu descobri o tipo da segunda trava. Parece-me uma trava bastante elaborada. Se aproxime, por favor?

Nina obedeceu. Aproximou-se. Um gesto de Julie a fez crer que ela queria sua mão, então logo a esticou e deixou-a tocar. Foi quando sentiu uma dor pequena, como se um objeto bastante fino a tivesse perfurado. Uma agulha.

– Ai! O que você fez?

– Espera. Só assista.

A garota tinha uma gota do sangue de Nina na ponta da agulha. Com cuidado, aproximou a agulha do cartão e finalmente deixou o sangue tocar o pequeno buraco que havia encontrado anteriormente.

– Nina. De alguma forma… Você era necessária para abrir esse cartão. A trava precisava do seu sangue. Imaginou se por acaso você não estivesse aqui, o que aconteceria? Ela permaneceria travada. Mas você estava aqui. No momento exato em que a primeira trava se abriu e eu descobri a segunda! Isso está cada vez mais…

– Julie. Vamos parar de criar hipóteses! Estamos perto demais para perdermos tempo nos questionando! Vamos lá!

Ela estava assustada com o que acontecia naquela sala. Não sabia explicar se era o destino que trouxe aquele objeto até ela ou se fosse o próprio objeto o detentor do destino, moldando-o para que seu propósito valesse. De qualquer forma, uma coisa era certa. Não era mera coincidência todos aqueles fatos se juntarem nessa situação, encaixando-se perfeitamente. Mas tratou de obedecer Nina e deixou isso de lado. Voltou-se a pensar na terceira trava. O mecanismo era diferente dos outros dois, mas Julie logo foi capaz de entender do que se tratava. Era uma trava por localização. Não se abriu naquele local. Era preciso procurar o local correto para que a trava se abrisse. Julie não tinha como encontrar tal local, não dispunha de ferramentas para isso. Tratou então de contar a Nina tudo o que descobriu. A garota, por sua vez, sorriu e logo disse:

– Julie. Pode me devolver o cartão. Já sei o que fazer. Prepare um carro para me levar daqui agora, por favor. Não avise ninguém, eu tenho uma ideia do que deva fazer.

A garota estranhou muito a reação, mas obedeceu-a. Convenceu Edge e Bran de que iriam a uma livraria na cidade e voltariam em breve. Ambos reagiram com certa desconfiança, mas não tinham opção alguma além de aceitar o que lhes foi passado. Edge foi dormir enquanto Bran vistoriava toda a organização. Nina se arrumou rapidamente e se dirigiu ao encontro de Julie, já no carro esperando pela garota. Entrou no carro e trataram de partir. Nina guiou Julie pela cidade, passando pelas mais variadas ruas de Puritah num ritmo calmo.

– Vire à esquerda e me espere aqui! Eu já volto!

Parou o carro como ordenado e ficou lá dentro, esperando. Nina desceu do carro e caminhou por entre as ruas. Finalmente encontrara novamente a porta de madeira que procurava. Respirou fundo e lá entrou. O local permanecera o mesmo. Abandonado e sujo. Os livros permaneciam intactos nas prateleiras e as armas enferrujadas espalhadas pelo local. Entrou e caminhou até o centro do local. Fechou seus olhos e esperou. Segurava em mãos o cartão. O tempo passou lentamente enquanto ela percebia uma mudança no ambiente. O cartão se movia lentamente por dentro, como se algo estivesse acordado lá. Abriu seus olhos e viu uma projeção. Do cartão, um faixo luminoso saia e na extremidade do mesmo, um homem adulto. Seu cabelo branco jogado para trás se misturava com uma barba de tamanho médio. Olhos semelhantes aos de Nina e uma roupa bastante elegante. Usava óculos e tinha um olhar bastante forte. Olhou em direção a Nina e disse, com um tom calmo:

– Olá, Nina. Provavelmente não se lembra de mim, não é mesmo? Você já é uma pessoa muito importante, uma engrenagem vital desse mundo que nos foi criado. O pivô de tudo isso reside em você, Nina. Não, não só em você. Naqueles que a acompanham. Imagino que a MAGNUM esteja bem, correto?

– Como você sabe disso tudo?! Pai, onde você está?

– Eu imaginei que levantaria essas perguntas quando me visse, por isso, já me preveni. Estou morto, minha filha. Morri muito tempo atrás. Não consigo precisar a data, mas consigo imaginar a época. Eu não sei de nada, Nina. São só suposições, teorias. Você acredita em destino?

– Que tipo de pergunta é essa?

– Eu esperava essa reação. Pois bem. Você tem cumprido seu papel de maneira excelente, Nina. Não só você. Edge também. Aquele garoto, qual o nome dele mesmo? Bran? É. Acho que era esse o nome. Ele também deve estar te ajudando, não é mesmo?

– Como os conhece?

– Eu participei do projeto de Edge, minha filha. Eu me lembro bem de tudo o que aconteceu lá. Quanto ao outro, bem, era de se esperar pela lealdade que ele demonstrava. De qualquer forma. Não vim aqui para falar trivialidades.

– O que quer dizer? Por que receber uma mensagem sua depois de tanto tempo? Você está morto, enterrado! Como pode saber tanto sobre a minha vida?

– Minha querida, eu imaginei essa reação também, por isso preveni. Espere.

A luz piscou por um momento. Ao voltar, uma nova figura estava lá. O mesmo homem, mas parecia estar mais cansado.

– Nina, essa mensagem estava destinada a você. Faz parte do plano, entende? Perdoe-me, mas você é a chave desse plano. O plano dos Mynatt para salvar a organização. Eu não sei nada da sua vida, minha querida. O que sei é o que pude prever. Eu passei muito tempo analisando cada um dos membros daqui, cada um deles. Também analisei o estado atual da nossa civilização, assim como os Mataharianos, um povo recém-descoberto próximo a Albius. Imagino que já tenha tido contato com eles. É um povo bastante radical em suas ideologias, mas não são pessoas ruins. De qualquer forma, voltando ao que interessa. Eu preciso lhe pedir um favor, Nina.

– O que quer de mim, pai?

– Simples. Viva como achar que tem que viver. Eu conheço seu pensamento. Conheço o pensamento de cada um de vocês. Vocês vão seguir o caminho que eu tracei, é simples. Mas não podem desistir. Sigam o enredo que preparei para vocês e a organização estará salva.

– Mas o que devo fazer? E como sabe que eu farei isso? Eu… Eu… Não sou um brinquedo, pai! Não pode achar que sabe o que farei! Não pode acreditar que eu serei seu fantoche nesse espetáculo que você criou!

– Nina. Tenho muito mais a falar. Coisas que não posso comentar. Estragariam tudo se você soubesse. Mas saiba que… Faço tudo isso pelo bem da organização. Pelo bem de Albius. Não posso arriscar todos nas mãos de um destino qualquer. É preciso moldar o destino e trazê-lo aos seus pés! Eu consegui isso e agora, posso cuidar de eliminar essa situação e trazer nossa organização de volta ao topo!

– Pai, não é uma questão de bem ou mal! É a minha vida. Edge… Bran… Todos nós só fomos marionetes, é isso? O que você quer com tudo isso?

– Não, não são marionetes. Vocês… Só foram condicionados. O mundo os moldou dessa forma, minha querida. Esse mesmo mundo é o que fará com que sigam o que eu planejei para cada um de vocês e com isso, o plano se tornará realidade. Está tudo escrito, Nina. Basta apenas vocês vivenciarem!

– Eu… Eu não vou deixar que você tome conta da minha vida dessa maneira! Não vou seguir um destino que não escolhi para mim mesma! Vou fazer o que acho certo! E não há...

– E não há nada que você possa fazer para impedir. Sim, eu esperava por isso. Bem, minha querida. Não posso fazer mais nada além disso. Tome. É onde eles mantêm o laboratório principal de Knights e pesquisas relacionadas. Lá encontrarão as respostas que procuram.

– C-como sabe aonde esse lugar se encontra?

– Simples. Eu conheço cada um de vocês. Bem mais do que imaginam, na verdade. De qualquer forma, é o que tenho a dizer, Nina. Daqui para frente, é com você. Crie seu destino se for capaz. Veremos o quão livre do destino vocês todos são. Eu apenas não entendo uma coisa. Se meu plano garante que o futuro será um lugar melhor, por que insiste em tentar mudar?

– Por que eu não abrirei mão de mim mesma pelos planos de outra pessoa. E tenho certeza que nenhum de nós o faria.

– Isso é egoísmo! Vocês não tem o direito de arriscar Albius pela falsa ideia de controle sobre a própria vida!

– Não arriscamos Albius! Nós protegeremos esse lugar. Eu garanto isso a você. E faremos isso da nossa maneira! Sem nenhum guia do passado. Essa sua engrenagem que tanto se orgulhou acabou de parar, pai! Adeus!

E Nina saiu dali sem dizer mais nada. Estava confusa, furiosa. Não sabia o que fazer. Sentia-se mal, sem um horizonte para confiar. Como saber que o que faria era algo que fazia por si mesma? Como acreditar que até mesmo aquela conversa não havia sido prevista? Seu pai já havia acertado com o cartão, chegando de maneira pontual às suas mãos. E como ela sabia aonde ir exatamente para abri-lo? Todas essas questões incomodavam sua mente de maneira perturbadora. Queria abandonar tudo. Queria não ter aberto o cartão. Esquecer tudo o que ouviu. Uma gaiola se colocou ao seu redor. Uma gaiola chamada destino. Como um pássaro engaiolado, ela procurava a liberdade. Será que existiria alguma saída daquela situação? Não tinha como responder mais essa pergunta, mas sabia que teria que tentar. Entrou no carro, silenciosa. Julie logo começou a falar:

– Nina, o que houve? Você está pálida!

– Nada, Julie. Temos uma missão em breve, mas primeiramente, vamos voltar. Preciso falar com vocês três em particular.

– Como quiser. Mas me diga o que houve?


– Nada. Nada aconteceu ainda. O meu medo é o que está por vir.

E se aquietou. Fechou os olhos e não pôde ver nada além de grades ao seu redor.


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