Parou seu carro do lado de fora do bar na pequena vila de Southbarrow. Olhou ao redor, não havia ninguém nas ruas. Em passos bastante tranquilos, adentrou o local. A luz o deixou visível assim que passou pela porta de madeira do bar. Todos se viraram ao mesmo tempo para observá-lo. As conversas haviam parado. O único som do local era o dos passos calmos daquela figura peculiar. De olhos vermelhos e longos cabelos brancos, a figura era peculiar e se destacava dos visitantes peculiares do bar. Ele seguiu até uma mesa e logo pediu uma xícara de chá. Foi o suficiente para atrair os comentários de todos naquele local. A figura simplesmente ignorou e bebeu seu chá. Estava pensando em qual cidade visitar agora. Naquele mundo em que vivia, as vilas e cidades eram comuns e como eram independentes, ele precisava sempre viajar entre elas. Não tinha moradia fixa, nunca teve. Desde que se lembrava de si, apenas vagava por entre as cidades ajudando os moradores com sua habilidade. Não que precisasse de mais motivação. Seu ódio e suas lembranças eram o suficiente.

A visão de ser escondido em um armário para proteção enquanto assistia pelo vão das portas seus pais sendo devorados e executados por demônios era o que bastava. Apenas relembrar a cena, o olhar, suas lágrimas enquanto assistia àquela cena, apenas aquilo já era motivo suficiente para fazer o que fazia desde sempre. Acabou seu chá. Levantou-se e saiu de lá após pagar o que pediu. Ignorou todos e saiu sem falar mais nada. Seu passado havia sido feliz até aquela situação trágica. Dali pra frente, vagar sem rumo guiado apenas pelo sentimento de vazio e solidão era costume para ele. Saiu e ao olhar para a lua, imaginou se isso continuaria. Embora parecesse ignorar todos naquele local, sua mente gravou cada um dos rostos.

O povo de Albius, continente principal nesse mundo em que vivia, era realmente hospedeiro. Tinha receio natural de qualquer coisa de fora, especialmente nas vilas menores, o que justificava a reação deles. Não tinha raiva, não sentia nada por eles. Eram apenas rostos gravados em sua memória. As lendas com as quais cada um crescera ainda os assombravam. O que muitos não sabiam é que essas lendas eram muito mais reais do que imaginariam. A Ordem dos Caçadores. Pensou nesse nome que já ouvira tantas vezes na boca de tantas pessoas comuns que se tornou algo corriqueiro. Voltou à realidade e saiu dali, pegando seu carro e migrando para a cidade seguinte, Belvoir.