Quase um ano depois...

Um coração pode simplesmente parar de bater? Em meio a um suspiro você toma uma decisão e, bom, então ele para? É assim que funcionam os ataques cardíacos?

Minha mais recente novidade—e ainda sim não sendo o maior de meus problemas—era o reaparecimento do meu pai. Ele surgira durante o enterro de Charlotte, a mãe da Sam. Antes que todos pensem: Que horror! A mãe da Sam morreu de ataque cardíaco. Bom, Charlotte morrera depois de uma dura e dolorosa batalha de seis meses contra o câncer. Charlotte se tornara para mim uma segunda mãe depois que Sarah enlouqueceu, me visitava todos os dias até eu me mudar da casa do meu pai. A sim, meu pai.

James aparecera no enterro de Charlotte com a cara mais lavada do mundo. Alegou estar arrependido e que não esperava que eu o perdoasse, mas que entendesse que ele não controlava a si mesmo na época. Eu entendi. Meu coração era nobre o suficiente para entender os motivos; um jovem que tem uma filha cedo demais, uma mulher que enlouquece logo após o primeiro baque e em seguida cai na bebedeira... meu coração com certeza era nobre o suficiente para entender, mas também egoísta e cruel para não perdoar. Disse isso a ele, disse a ele que entendia e que, porem, não teria tal capacidade do além para perdoar seus atos.

Meu pai ficou hospedado em um hotel um tanto quanto luxuoso com a nova esposa, Lauren, e o filho dela, Bryan. Passou uma semana indo até minha casa, tomava café comigo e com Luca, mas nunca ficava por muito tempo e alegava que o fato de eu me parecer demais com a minha mãe ainda o assustava e o deixava com certo sentimento de culpa. Uma semana após a morte de Charlotte, Lauren me ligou desesperada. Meu pai havia tido um infarto. Sim, ele morreu.

Eu tinha direito a partes da herança de Charlotte, por ela ter fundado a empresa juntamente com minha mãe, metade da agencia era minha. Tinha, também, a herança de meu pai. James havia enriquecido durante os últimos quatro anos, deixou em um testamento: para Lauren sua casa e uma boa quantia em dinheiro e, para mim, dois apartamentos e uma quantia em dinheiro que eu achei exagerada. Mesmo eu discutindo com Lauren pra que ela ficasse com tudo e, ou, no mínimo aceitasse que tudo fosse dividido igualmente ela dizia que era a vontade de meu pai, já que ele não me dera amor ou qualquer coisa do tipo e vida, em morte queria me dar conforto e estabilidade. Por fim, acabei aceitando antes que ela desistisse até mesmo de sua própria parte.

Constatei que, no fim, James havia encontrado uma boa esposa, um filho “substituto” muito carinhoso e felicidade. Ele não fora uma boa pessoa para mim ou para minha mãe, mas todos merecem tentar encontrar a felicidade.

Enquanto John consolava Sam, Luca consolava me consolava. Sam havia ido passar uma temporada em minha casa, até superar a perda da mãe. Luca agora morava comigo porque Pietro e Camila eram papais de primeira viagem.

–Não vai comer? –Luca interrompeu minha linha de raciocínios.

–Não estou com fome.

–Já faz bastante tempo que você não sente fome. –Ele sentou na mesinha de centro a minha frente. –Você precisa comer.

Dei de ombros e neguei com a cabeça.

–Estou entediada.

–Cadê a Sam e o John?

–No quarto. –Rimos.

–Escuta... –Ele mudou sua expressão pervertida para compreensiva e, bom, isso não significava boa coisa quando se tratava de Luca. –Fui ver o Pi hoje. Ele esta mega animado com o Edu e tudo mais, mas ele sente sua falta, Mel. Até a Camila, eu posso jurar, mudou. Irreconhecível a garota, atenciosa e desencanada. Me perguntou de você.

–Por que não disse a ela que eu estava no inferno, fazendo uma visitinha pro parente mais próximo dela?

–Eles não dormem mais juntos, cada um em uma cama. Estão oficialmente separados. –Ele me informou aquilo como se fosse fazer total diferença. –Porque não liga pra ele? Marcam de sair?

– Não sou do tipo que liga, que manda mensagem, que diz que ama e tudo mais. Se pra gente ficar junto de novo eu vou ter que fazer isso, sinto muito, mas eu não vou fazer. eu sou orgulhosa, eu gosto dele, mas só eu posso ser orgulhosa!

Ele revirou os olhos e eu mostrei a língua pra ele.

–Que você é complicada e orgulhosa todo mundo já sabe. –Ele deu de ombros.

–Chega desse assunto. –Me inclinei para a frente e coloquei as mãos na cabeça.

Luca foi dormir e eu fiquei sentada no balcão da cozinha tomando meu whisky, jack daniels, que o Luca me deu de presente adiantado de aniversario. Meu aniversario do ano passado havia passado totalmente despercebido por mim e esse não seria um bom momento para comemorar, então eu passaria o dia como se fosse um dia comum, o que ele era. Mas Luca achou basicamente uma ofensa eu não querer um bolo e decidiu me dar o presente adiantado para comemorarmos. Bom, se o presente era meu eu podia abrir quando quisesse e depois repor, certo?

Na manha seguinte eu e Luca fomos juntos para o trabalho, eu estava em melhores condições que Sam para organizar tudo. Os negócios iam de bem a melhor, não era necessário fazer muitas mudanças.

Duas batidas leves na porta e eu murmurei um “entre”.

–Melanie, tem um rapaz querendo conversar com a senhora.

–Não precisa me chamar de senhora, Claire. Temos a mesma idade. – Murmurei a ela com um meio sorriso que ela retribuiu. –Um rapaz?

–Sou eu, Mel. –Ouvi um berro e fiquei de pé.

Claire olhou para trás e em seguida a porta foi escancarada, revelando Pietro.

–Ham... Obrigado Claire. Pode deixar.

Ela assentiu. Pietro entrou e fechou a porta.

–Eu te liguei.

–Seu sei. –Me sentei.

–Mandei mensagem.

–Eu sei.

–Porque não me atendeu?

–Como sabia que eu ia estar aqui? –Olhei para ele franzindo a testa e ele sorriu.

–Eu te amo.

–Já chega. –Rosnei. Me levantei e fui em direção a porta –Sai daqui, idiota.

–Idiota? –Ele riu e se aproximou ainda mais de mim. –É o único apelido que você se lembra?

–Babaca, trouxa, imbecil, inútil, arrogante, grosso e... E.... –Ele estava perto demais, me fuzilava com seus olhos verdes.

–E que você também me ama...

–Não ponha palavras na minha boca, Mason. –O interrompi.

–Ou o que?

–Ou eu chamo os seguranças!

–Poxa, eu tava pensando mais em: “ou eu te beijo loucamente”.

Revirei os olhos.

–Só que não vai rolar.

–Por que?

–Porque eu não quero mais você, desencana... Faz quanto tempo mesmo? Um ano? Dois talvez...

–Sinto muito por Charlotte, e pelo seu pai.

–Você já me disse isso no enterro deles.

–E feliz aniversario.

–Hoje não é meu aniversario.

–Mas é amanha. –Ele sorriu e enfiou a mão em um bolso, procurando algo. Trocou de bolso quando não achou nada e tirou de lá uma caixinha de jóias, daquelas que geralmente guardam alianças de casamento.

–Que diabos...

–Não é um pedido de casamento. –Ele sorriu e abriu a caixinha.

Um colar. Um colar prata com um pequeno globo terrestre como pingente. Peguei a caixinha e observei o pingente. As águas do pequeno planeta era de um azul transparente, Peguei-o nas mãos e enxerguei meu dedo através dele. As terras eram verdes...

–É lindo...

–Lembra quando você me disse que o mundo não era seu, ainda? –Olhei para ele e percebi que o verde das terras era exatamente da cor de seus olhos. –Agora ele é.

–Não posso aceitar. –Entreguei a caixinha

–Claro que pode. –Sorriu. –É só um presente de alguém que gosta muito de você e que gostaria que você soubesse disso.

Tirou o colar da caixa e o colocou em mim. Deu a volta e ficou de frente comigo de novo, me deu um beijo na testa.

–Obrigado.

–Eu e a Camila nos entendemos, somos só amigos e isso é tudo. Ela até me perguntou se você não ia conhecer o Felipe, ele é lindo Mel.

Inevitavelmente sorri, Pietro era mais um daqueles pais bobões.

–Obrigado, mas... –Ele me interrompeu.

–Quando você estiver pronta e só quando você quiser... Mas ele não tem culpa de nada.

–Eu sei.

–Eu vou indo. Passo pra te pegar as oito.

–Mas...- A porta bateu assim que Pietro saiu. –Que droga. –Revirei os olhos. Eu tinha um encontro com, minha nossa, Pietro.