Pietro

Meu pai estava melhor do que eu imaginava. Não ia trabalhar por recomendações medicas, mas estava aparentemente bem. Minha mãe fez questão de me levar pra rever parentes que eu nem lembrava que tinha, isso tudo no dia seguinte em que eu havia chegado lá.

-Sua chamada esta sendo encaminhada para a caixa de mensagens...- A mulher da voz irritante repetiu o que eu já estava cansado de ouvir. Era a oitava vez que eu ligava para a Mel, e ela não atendia. Segurei o celular com tanta força na mão que pensei que ele fosse quebrar.

-Esta tentando falar com a garota, Melanie?

-Sim, mas ela não atende. –Suspirei pesadamente.

 Meu pai se sentou ao meu lado, em uma cadeira de balanço colocada na varanda da casa, a deixando com cara de casa de repouso.

-Você devia ter mais calma, rapaz. A pressa não vai ajudar em nada, talvez ela esteja ocupada.

-Ou talvez ela esteja me evitando. –Revirei os olhos. –A Mel é complicada. Enfim, eu tenho que ir trabalhar agora, posso pegar seu carro?

-Eu não posso dirigir mesmo. –Deu de ombros e sorriu.

 Dirigi até o trabalho. Assim que entrei no prédio reencontrei amigos. Fazia apenas um ano que eu não os via, mas um ano parecia tempo demais por ali... Isso me preocupou bastante.

-Oi, meu loirinho! –Ouvi uma voz já conhecida e depois seu corpo se juntou ao meu em um abraço.

 Ela era mais alta que a Mel, um e setenta e tantos de altura, seus lábios alcançaram sem esforço minhas bochechas.

-há... Oi, Camila. –Murmurei.

 Alta, loira, olhos claros... linda. Camila era linda. Tinha sempre no rosto um sorriso simpático que nunca saia dali, quase como se fosse uma mascara que não pudesse ser tirada.

-Que saudades garoto, e então? Como foi morar lá em baixo? A cidade mais populosa né? Deve ter conhecido tanta gente legal... –Olhava sorrindo pra mim.

 Sorri um pouco de volta.

-Sim, conheci bastante gente legal.

-Mas voltou solteiro... –Mostrou minha mão direita pra mim, quase como se eu pudesse me esquecer que não tinha uma aliança ali.

-Eu diria “quase” solteiro. –Respondi enquanto acenava e cumprimentava alguns conhecidos que passavam.

-Ham... então, encontrou alguém?

-Ela é diferente. –Dei de ombros. –Não quer uma aliança no dedo como forma de oficializar um compromisso. Vale bem mais o que ela sente do que o que os outros pensam.

-Isso quer dizer que você esta solteiro. –Não era uma pergunta, então não senti necessidade de responder. –Podiamos jantar juntos qualquer hora...

 A verdade é que Camila era um tanto indecisa. Namoramos na adolescência, um namoro tosco e idiota do qual ela se cansou em poucos meses, nunca mais nos vimos até começarmos a dividir o mesmo local de trabalho. Namoramos por mais um tempo uns dois anos atrás, mas ela se cansou de novo e se mandou. Ela sempre volta, sempre faz manha e joga suas indiretas. Isso é tão a cara dela.

 Trabalhei ao lado de Jason, Manuela e Matheus até as sete e pouco da noite.

-Podiamos ir a pizzaria. –Sugeriu Matheus. –Vamos, faz tempo desde a ultima vez que tomamos umas cervejinhas e comemos umas pizzas.

-Eu topo. –Manu colocou a bolsa sobre o ombro e se apoiou em Jason, que assentiu com a cabeça positivamente.

-Esta bem... –Fui interrompido.

-Estou convidada? –Camila entrou na sala com ar de modelo, jogando os cabelos pra trás. Interessante como uma secretaria tinha mais jeito de modelo do que uma modelo—no caso a Mel.

-Claro –Sorri.

 Não me importava nem um pouco de ter a presença dela em algum lugar, isso não me incomodava. O problema fora na hora de separar. Manu e Jason foram no carro de Matheus e a Camila no meu.

-E então? Ela é bonita? –Perguntou.

 Recalque. Pensei, depois ri da minha própria constatação.

-Ela é linda. –Sorri como um bobo, me lembrando de cada detalhe do corpo da minha pequena.

-Beleza não significa simpatia ou inteligência. –Jogou os cabelos para o lado.

-Ela tem um caráter maravilhoso que faz com que ela veja alem da beleza. – Caráter maravilhoso? A Mel? Bem geniosa, mas não maldosa. Nunca se dirigiu a ninguém como “feio ou bonito” por algum motivo eu acreditava que aqueles olhos cor de chocolate conseguiam atravessar a parte externa no corpo, era como se ela pudesse enxergar a alma das pessoas. –Apesar de ser modelo...

-Ah... Uau... Não consigo imaginar você com uma modelo. –Me interrompeu pela segunda vez. –Elas são tão superficiais e encanadas, não consigo imaginar uma que não se preocupe mais com a beleza do que com qualquer outra coisa.

-Como eu disse, ela é diferente. –Senti a raiva borbulhar no meu sangue, mesmo que eu não deixasse transparecer. –Diferente de todas as garotas fúteis com quem já fiquei.

 Pronto, calei sua boca. Acho que ela precisava de algo assim pra parar de rebaixar aos outros pra poder se sentir melhor, isso era tão infantil. Camila só abriu a boca pra falar de novo quando já estávamos sentados na mesa.

 Fizemos nossos pedidos e conversamos, comemos e bebemos.

-E então, aquela garota do face?

-É a Mel. –Sorri feito um bobo. –Nós fomos a praia.

-Mel? –Perguntou a Camila, não disfarçando que estava em alerta. –É a garota de quem falou?

 Assenti positivamente.

-Ela é muito gata! –Continuou Jason.

-Tira os olhos, Jay, ela é totalmente e inteiramente minha e não há nada que você possa fazer quanto a isso!

 Gargalhamos.

-fico feliz por você, Pi. –Manu comentou.

-Eu também cara. –Matheus abraçou ainda mais a Manu.

-Mas eles não estão namorando. –Informou Camila, com um sorrisinho.

 Todos olharam dela pra mim.

-Ainda. –Pisquei pra eles e dei uma golada na minha cerveja. –Ela ainda não é oficialmente minha namorada, mas, bem, ela é oficialmente minha desde que eu olhei em olhos e vi aquele sorriso.

-Esta apaixonado? –Camila perguntou. Pela primeira vez no dia ela não sorria, isso era estranho.

-Já passou de paixão, eu a amo. –Falei serio.

-Cuidado com o amor, Pietro, as vezes você acha que esta voando e na verdade esta caindo. –Me alertou, seu sorriso ressurgiu.

-Camila, se ela estiver lá em baixo me esperando, eu caio e ainda canto Raimundos pra ela. –Virei o resto de cerveja ainda existente no meu copo.