-Você esta salgado. –Mel fez careta após me beijar.

 Chacoalhei meus cabelos que espirraram nela a água salgada do mar. Melanie usava apenas um biquíni e óculos de sol. Fiquei impressionado vendo ela prender o cabelo com o próprio cabelo, como as mulheres são estranhas.

-Vamos pra água de novo, cara. –John me chamou. Acenei para Sam e Mel e voltei para a água. A água batia em meu peito e eu ainda podia ver meus pés. Olhei para a onde estava nosso guarda sol e só avistei Sam.

-Ué, cadê a Mel? –Perguntei.

-Ham... ali, perto do guarda sol da Skol. –Math respondeu.

 Mel andava entre as pessoas como se mal as notasse ali. Observei ela andando até que um grupo com alguns garotos a parou ali. Pude ver pelo jeito que ela jogou a cabeça para trás que ela revirava os olhos.

 Antes que eu mesmo percebesse minhas pernas corriam até o local. Em minha mente tentava bolar jeitos de tirar aqueles interesseiros de perto da minha magrela, mas eu só conseguia pensar em “Ela é minha”.

-E então, Mel. Cadê a açaí que você ia comprar pra mim? –Envolvi sua cintura.

-Que mané açaí Pietro, se vira.

-E ai, cara. Não ta vendo que a mina não ta a fim? –O maiorzão de todos falou, estufando o peito como uma galinha.

-Ah, da licença vocês. Será que nenhum de vocês pode me deixar dar uma caminhada em paz? Sai da frente o esquisitão. –Empurrou o cara que se parecia com uma galinha e um outro loirinho ao seu lado como se ambos não fossem bem maiores do que ela. –Á é, e antes que eu me esqueça, esquisitão. Pernas também tem músculos e devem ser treinadas normalmente. Parece um periquito. –Galinha corrigi mentalmente.

 Ela continuou a andar. Parecia bem brava, mas eu havia saído do seu lado por apenas alguns minutos, o que teria deixado ela tão brava?

 Eu, John e Math—que eu só percebi estarem atrás de mim quando me virei—fomos até onde Sam estava sentada.

-O que aconteceu com a Mel? –Perguntou John.

-Ela ta estranha. –Completei.

-Estranha? –Sam franziu o cenho- Ela saiu daqui falando que ia procurar algo pra fazer.

-E ela encontrou vários “algos” no caminho, viu. –Math gargalhou. O fuzilei com o pior dos meus olhares.  

 Coloque a mão sobre os olhos para enxergar mais longe sem que o sol me cegasse e me virei para onde Mel deveria estar. Lá estava ela. Mais longe, mas era ela. Eu reconhecia aquele corpo, e ela era a única garota da praia com um biquíni branco naquele estilo. Estava linda. Soltou os cabelos e deixou o vento levar ele para trás de seu corpo.

 Corri até ela.

-Melanie. –Gritei e acenei quando ela olhou. –Mel. –Cheguei ao seu lado. Coloquei as mãos nos joelhos e respirei.

-Esta me sufocando.

-Oi? –Me endireitei.

-Esta me sufocando, Pi. –Respirou fundo e entrelaçou os dedos no cabelo, segurando a franja pra não cair em seu rosto enquanto falava. –Não sei ficar perto de você sem me sentir presa a você. Isso é tão... tão irritante.

-Quer que eu vá embora? –Minha voz quase era abafada totalmente pelas risadas e pelos gritos das famílias e amigos felizes que brincavam na praia. Olhei a minha volta sem querer olhar nos olhos de chocolate da Mel.

-Não. –Chacoalhou a cabeça e olhou para os próprios pés. –Só preciso de espaço. Eu já volto. –Ficando na ponta dos pés me deu um beijo no rosto e continuou seu trajeto até não sei a onde.

 Voltei para o lado de Sam. Math e John estavam na água novamente. Sam me perguntou de Mel e eu apenas respondi que ela queria dar uma volta sozinha.

 Esperamos ela voltar. Já estava tarde, o sol se punha e as pessoas já tinham ido embora, restavam na praia ainda nós e alguns casais que caminhavam na beira do mar.

 Todos nós olhávamos para os lados a cada segundo esperando que Melanie voltasse. Sam e John foram embora levando as coisas, Sam estava cansada e seu mais novo namorado a levou para um “descanso”.

-Você gosta dela? –Math perguntou.

-Gosto, gosto muito. –Respondi. Não o olhei nos olhos, me sentia desconfortável perto dele.

-Ela não gosta muito de mim. –Riu um pouco.

-É. –Ri junto. –Eu sei. Ela te chama de “pé no saco”.

-Ela não gosta que eu saiba do que eu sei... –Paramos de rir.

-Vai me contar ou só esta me deixando curioso por prazer?

 Coçou a nuca como sinal de desprazer, ambos estávamos sem graça com a situação.

-Ela te contou sobre a mãe? –Perguntou.

-Em partes, bem pouco. Não gosta de tocar no assunto.

-Ela tinha vários problemas psicológicos e se matou.

 Assenti.

-Dessa parte eu sei.

-Mel se culpa por isso. Não quer ser feliz por achar que não merece. –Ele olhou para mim pela primeira vez. –Como se a morte da mãe dela tivesse tirado dela todos os direitos de ser feliz.

-Então ela quer ser feliz...

-Mas algo na mente dela diz que ela não pode. Exatamente. –Prosseguiu ele. –Não perde ela, não deixa ela só porque ela é complicada... A Mel tem um coração enorme, só não quer deixar que as pessoas percebam isso. Menina boba, não quer que as pessoas vejam a maior qualidade dela. A onde você vai? –Perguntou quando eu me levantei.

-Você gosta dela?

-Muito...- Ele ficou um pouco vermelho.

-Me desculpe, mas eu não vou perder ela pra ninguém. –ele se levantou. –Nem pra você.

 Corri na direção que Mel havia ido. Não sei por quanto tempo corri, mas quando a encontrei já era noite. Mel estava sentada em uma das pedras perto da beira do mar, mas que levava em um caminho até o fundo.

-Eu pedi espaço, talvez eu morra por asfixia perto de você, Pietro.

-Nossa, como você é chata. –Suspirei. Me sentei ao seu lado. –E linda, insuportavelmente linda.

-Você nem sabe de quem é essa frase. –Sorriu de canto, como se me desafiasse.

-Se eu soubesse que iria gostar de você assim, teria andado mais rápido, abaixado a cabeça, virado de lado, mas não.- sorri para ela, seus olhos brilharam para mim- E foi ai que me dei mal.  

-Mas se eu soubesse que iria gostar de você assim, não teria elogiado seu cabelo, perguntado seu nome, roubado um beijo...

-Gostei da parte em que você roubou um beijo, na verdade. –Sorri.

-Sei que gostou. Admita, meus beijos são maravilhosos.

-Sim, são. –Pisquei para ela. –Agora é a hora que você diz que os meus são maravilhosos também.

-Não são. Você precisa de umas aulas, Pietro. –Gargalhou.

-Que tal começar elas agora? –Me levantei e estendia a mão. Ela segurou a minha e se levantou.

-Gostei da idéia. –Levou a mão que eu não estava segurando para a minha nuca.

 Segurei sua cintura. Nos beijamos. Era o tipo de beijo que você se lembra pra sempre. Estávamos em pé em cima de pedras, só se ouvia o barulho das águas do mar batendo nas rochas. A lua cheia clareava toda a praia e o mar, fazendo-o brilhar.  

-Mel? –Murmurei contra sua boca.

-Que foi, Pietro?

-Promete que nunca vai embora.

 Sorriu contra meus lábios.

-Tem medo que eu vá embora?

-Da pra ser feliz sem você...- Me afastei um pouco e abri os olhos, ela me encarava esperando uma resposta mais completa. –Só é bem mais difícil.