Wojownikiem escrita por liljer


Capítulo 19
— Łzy Diabła


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Bom, primeiramente, quero me desculpar pela breve demora, logo num momento assim... Houveram divergências nesse meu período de tempo, tais como chuvas e falta de internet e uma bendita semana de provas que não acabava nunca. Mas cá estou eu. Não sofram mais... haha
Bem, segundamente, queria agradecer à Adla Georginni pela recomendação. Muitíssimo obrigada, minha flor!
Outra vez, sejam bem vindos, novos-antigos-fantasmas leitores... Qualquer hora dessas, sintam-se a vontade de pôr a cara no sol, manas!, ok, parei :# uahssauh
Por fim, aproveitem o capítulo de muito sofrimento e tortura psicológica! Droga, acabei de dar um spoiler '-' to brincando.
Beijokas, se cuidem. E até a próxima.
Enjoy, babes.



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"Ele disse: 'Eu sou o diabo, rapaz, venha comigo e nós faremos muitas tempestades'.
Ele me ofereceu o universo, ele me ofereceu vida eterna, mas dentro do meu coração tem a imagem de uma garota"

Dimitri Belikov estava completamente diferente desde a última vez que o vira parado próximo ao penhasco, gritando seu nome em desespero.

Hoje, ele tinha seu cabelo curto e uma longa barba cheia, seus olhos estavam cansados e seu corpo mais magro. Rose então se perguntou o que diabos poderia ter-lhe acontecido para estar assim, mas a resposta veio rápido: a guerra.

– Padre Gerhard... Ele... Ele não está – ela disse, de forma fria, ponderando bater a porta na cara dele. Mas alguma coisa dentro dela implorava para que não o fizesse, para que o ficasse observando por muito mais tempo, para que se jogasse em seus braços e dissesse o quanto sentira sua falta. Em como ainda o amava.

– Você se importaria se eu o esperasse? – Dimitri indagou, sua voz rouca. Mais rouca do que de costume, o que mostrava que havia sido abalado pelo reencontro também. Seu sotaque ainda era o mesmo, carregado e gracioso. Ainda fazia com que Rose tremesse por inteiro. Ele por completo a fazia tremer por inteiro.

– Uh. Não... Entre, por favor. – ela deu-lhe espaço na porta, para que este pudesse entrar. Ao passar por ela, o cheiro forte e característico dele a atingiu, fazendo-a quase cambalear. Dimitri caminhou pelo corredor, observando como a casa havia mudado, em como as paredes agora eram diferentes e em como as vidraças também mudaram. Em como tudo murada, inclusive Rosemarie.

– Você está com fome? – Rose puxou-o de seus pensamentos. – Eu poderia preparar algo para você...

– Não. Obrigado – ele respondeu, curto. Então encontrou a cozinha e sentou-se em uma das cadeiras, fazendo menção para Rose sentar-se também. E ela o fez. Não por ele ter feito menção, mas porque caso permanecesse de pé, poderia perder o equilíbrio das pernas a qualquer instante. – Como você está, Roza?

Oh, Deus...”, ela pensou pela menção de seu apelido dado por ele. Roza...

– Estou bem – ela disse então, de forma curta. – As coisas andam muito bem. E com você? Por onde andaste?

Dimitri fitou o tampo da mesa, seus olhos não viam a madeira, não por um longo instante. E então, ele levantou-os. Estes estavam frios, como Rose pouco conhecia.

– Eu andei pelo mundo. Os templários vieram atrás de mim depois de algum tempo. E eu voltei.

– Sinto muito... – ela sussurrou, sentindo a necessidade de escapar dali. – Como estão Jillian e o bebê?

Outra vez o silêncio se alastrou entre eles, de uma forma estranha. Não confortável como costumava ser no passado. Era estranho e ruim. Dimitri encarou suas próprias mãos, cortadas.

– Bem – disse então, logo, mudou de assunto, sem nunca encarar os olhos de Rose. – Me conte o que fez nesses últimos meses...

Rose se sentiu tentada a contar-lhe como havia perdido o primeiro filho deles. Mas provavelmente, este não era mais o primogênito de Dimitri. Jillian e ele provavelmente tinham milhares de crianças já. Estupidez, pensou Rose então.

– Me tornei uma espécie de parteira – ela sorriu ao pensar nas crianças, em todos os partos que já tinha feito desde que viera parar em Milzis novamente. – Eu estou realmente bem e feliz.

– Ouvi que irá se casar – Dimitri soltou, agora, seus olhos se encontraram, trazendo a tona um sentimento quente no peito de Rose. Um que há muito tempo ela não sentia e aquilo a fez querer chorar. Como ele havia sabido sobre o casamento? – Seu pai estaria bastante contente em você se casar com um médico.

– Andou me investigando? – indagou ela, de forma sarcástica. Dimitri sorriu, e seu sorriso fez com que ela abrisse um também. Um dos raros sorrisos largos e abertos de Dimitri.

– Talvez tenha sido por isso que vim – o russo insinuou, arqueando uma sobrancelha. Rose riu.

– Tenho certeza que sim. Provavelmente, Jillian irá lhe matar assim que descobrir que veio pra Milzis, à minha procura. – embora seu tom fosse leve, houve um peso entre os dois com aquelas palavras. Jillian era um assunto delicado entre eles.

– Rose... Eu... – ele começou, mas Rose fez menção para que ele parasse.

– Não... Não comece ou diga. Não faz mais diferença e eu não quero mais saber. É um assunto encerrado entre nós. Vamos mantê-lo assim – a garota se levantou, caminhando até a beira do fogão de lenha, servindo-se um pouco de chá. Ao virar-se então, notou que Dimitri estava ao seu lado, fitando-a de forma estranha. Embora este estranho fosse extremamente familiar.

– Mas você precisa saber... – disse ele, numa voz carregada.

– Aposto que não. – resmungou ela.

– Jillian e o bebê morreram – ele soltou, e Rose pareceu perder seu chão.

Um longo minuto pareceu se passar entre eles, repleto de um silêncio quase ensurdecedor. Rose sentiu seu corpo tremer, como se de repente a temperatura tivesse caído vários graus. Seus olhos encontraram os tristes de Dimitri, encarando o nada ao invés dos dela.

– Eu... Eu sinto muito – ela murmurou, e realmente sentia. – Como eles morreram? Quando aconteceu?

Dimitri respirou fundo, parecendo realmente incomodado em responder aquilo, mas como era para Rose, ele o faria sem hesitar.

– No parto. Eles não aguentaram e morreram – disse. – A parteira disse que o bebê nasceu morto. E Jill não suportou muitas horas... Parece ter havido uma infecção, a senhora que fez o parto disse-me algo sobre a senhora do corpo ter subido-lhe a cabeça.

– Deus... – Rose sussurrou em espanto. Havia ouvido e visto muitas histórias sobre a tal senhora do corpo, que enlouquecia ou matava mães após o parto e Jillian parecia tão pequena e tão nova para ter um filho assim... Não era realmente de se estranhar, devido a sua estrutura óssea, por ser tão pequenina e franzina, mas foi realmente doloroso para Rose. Não por Jillian exatamente — não o suficiente. Mas sim pelo bebê. Aquele era a única lembrança de Mason no mundo, sua marca. E, agora, este havia se encontrado com seu pai, juntamente com seu avô. Ibrahim provavelmente agora estava extremamente feliz em conhecê-lo pessoalmente, e, principalmente, Mason, por vê-lo e ver Jillian. Rose suspirou triste.

Mas então, havia a pergunta que lhe surgiu, tão estranha e mesquinha, mas que ela precisava fazer:

– Por que você não veio atrás de mim?

Dimitri fitou-a então, seus olhos frios como lama agora encontraram os escuros e quentes olhos de Rose. Ela se perguntava o quão ele havia mudado, já que até seus olhos haviam mudado completamente. Agora, estes eram frios, calculistas. E isso doeu. Ela o havia perdido para algo maior; para a morte que ele costumava alegar sempre vir como espíritos daqueles que matou durante a noite, assombrando-o.

– Porque estava em guerra quando aconteceu.

– Oh, Deus... – ela choramingou, sentindo um pesar tão grande cair sobre eles. Ela queria poder abraça-lo. Mas não apenas por sentir saudades, mas por saber o quanto aquilo havia abalado ele... Eu deveria ter estado com você, Dimitri..., pensou.

– Não ponha Deus nisso – ele soltou, como um animal recuando. Rose se policiou para não se aproximar dele. Mas a menção e a forma como ele dissera fez com que algo se sacudisse dentro dela. Teria Dimitri abandonado Deus completamente?

– Você... Você deveria ter me procurado – ela soltou baixo, um sussurro baixo que, de alguma forma, ela sabia que o homem havia escutado, porque seus olhos encontraram os dela, e havia uma magoa neles que doeu. – Desde quando sabe que estou em Milzis?

– Desde sempre – respondeu. – Gerhard me contou por cartas. Ele me contou tudo.

Rose então vacilou, seu coração perdeu uma batida, apoiou-se sobre a borda do fogão à lenha. E então a raiva assolou-a, como uma maldita avalanche. Saberia ele do bebê que ela esperava? Saberia ele que ela havia esperado por ele nos últimos meses até desistir completamente de espera-lo? Saberia ele que na verdade, a criança fruto deles não havia vingado? Que Rose na realidade nunca havia podido pegar ele nos braços?

Todavia, havia uma parte de Rose que pedia para que ele continuasse a mesma pessoa na qual ela conhecera. Um Dimitri que ela esperava que não tivesse morrido na guerra, que tivesse voltado para levá-la consigo. Que fugissem para algum outro lugar, que ela se encolhesse em seus braços e percebesse que aquele era o melhor lugar que poderia estar. Mas aquele Dimitri na sua frente não parecia assim... Parecia tão machucado e ferido que ela não podia culpa-lo forma alguma.

– O que ele te contou? – ela perguntou, controlando-se e caminhando através do corredor, em direção à antiga biblioteca, onde agora encontrava-se o quarto de Rose. Ela havia implorado a Padre Gerhard que este cedesse aquele cômodo para ela dormir. Dimitri pareceu um tanto acanhado ao notar aquele lugar, mas, principalmente, por notar que aquele era o quarto de Rose agora. Que Rose o estava levando para seu quarto.

Ela sentou-se na cama, e Dimitri permaneceu de pé. Encaravam-se de forma quase que familiar novamente. Havia tantas lembranças ali que faziam com que Rose quisesse pular sobre o homem ali, abraçando-o.

Ignorando toda a sensação ruim que sentia, toda a sensação nostálgica, Dimitri então puxou uma cadeira, sentando-se próximo a garota.

– Sobre sua mãe... Sobre estar cuidando de um hospital e bem... Sobre seu noivado – houve um pesar nas últimas palavras, seus olhos escuros como lama encarando o chão. – Quando eu soube que estava noiva de outro, eu decidi desistir de procura-la.

As bochechas da garota arderam em rubor e vergonha, assim como raiva. Deveria tê-lo feito!, ela queria gritar para o homem, queria sacudi-lo e perguntar onde diabos ele havia enfiado o juízo dele.

– Então por que veio somente agora? – ela então indagou, não conseguindo evitar.

– Porque não há nada em Milzis que me prenda, ainda mais... Agora... – sua voz falhou, seus olhos então encontraram os da garota, de forma quente, calorosa e ainda assim, magoada.

No entanto, Rose então notara que aquelas eram as mesmas palavras que sua mãe usara dias atrás, quando anunciara que após o casamento da filha com o doutor Thomas Dvorsky, partiria.

– Então... – ela coçou a garganta. – Veio dizer adeus?

– Não exatamente

Os olhos escuros da garota brilharam então, anunciando uma esperança assombrosa ali. Seu corpo quase falhou. Deus... Havia voltado a ser tonta e esperançosa demais em espaço de horas... Apenas em vê-lo novamente.

– E o que veio fazer, além disso? – sua voz saiu muito baixa, quase não audível.

Dimitri então se inclinou em sua cadeira, aproximando-se da garota, seus olhos não eram mais frios como antes. Eram quentes e amorosos e fez com que uma avalanche se desgovernasse dentro de Rose. Sua respiração simplesmente parou.

– Não é óbvio? – ele balançou a cabeça, exasperadamente. – Eu vim pedir para que não se case com ele. A sua casa está te esperando, Roza... À beira mar, como sempre quis... Que eu estou pronto para largar tudo por você, estou pronto para morrer por você, com você em muitos anos, velhinhos... Enquanto assistimos nossos netos correrem pela areia branca... Que eu realmente possa me redimir pelos anos que lhe fiz sofrer... Que eu estou pronto para lutar por você.

– Dimitri... – ela resfolegou, sentindo seus olhos se encherem de água. Quantas vezes ela não havia esperado por aquele momento? Quantas vezes ela não havia sonhado com ele implorando por ela de volta? E ela entregando-se a ele, como deveria ser. Como sempre sentiu que precisava ser, mas agora havia outras coisas em jogo... Havia Jillian, que mesmo morta ainda a assombrava. Que sempre a fazia lembrar-se de como ela partira pela sua traição. E isso a fazia desistir de outras chances. Sempre haveria aquele fantasma, assim como o fantasma de seu pai, desgostoso sobre como ela havia deixado tudo de lado por conta de um homem que a havia decepcionado uma hora, na hora em que ela mais precisou dele... Que havia-lhe prometido curar, mas apenas a feriu ainda mais. – É tarde demais para me pedir isso...

Dimitri então sentiu seu próprio peito explodir, destruindo qualquer distancia entre eles, ele agarrou o rosto de Rose com as duas mãos, desesperado. E a sensação de tocá-la era a coisa mais desejada do mundo, a melhor sensação que já sentira alguma vez na vida. Seus dedos até mesmo formigavam apenas pelo contato de sua pele. Sentia então aquela eletricidade terrível que existia entre eles, em como ele se sentia em paz ao tocá-la... Em como ele a tocara certa vez, tocara seus dedos sob o carvalho nas terras de sua família, em como ele se sentira perdido. Lembrava-se de como ele havia tocado sua pele quando eles se deitaram pela primeira vez, em como ela havia estado entregue, em como ele havia se entregado à sua doçura e a necessidade de seus lábios.

– Não, minha Roza... Nunca é... – ele então avançou ainda mais, permitindo-se beijá-la, sentir seus lábios macios e rachados, contra o contraste de sua barba, grossa e cheia, sentindo como ela resistia no início, mas logo se entregava à ele, deixando-se ser beijada e deixando-se ser tocada pelo homem que amava. Dimitri então sentiu a maldita necessidade de tocá-la mais, porque nunca era o suficiente. Nunca era o suficiente apenas tocá-la... Nunca parecia o suficiente tê-la por inteiro, tê-la em seus braços. Sempre parecia que faltava alguma maldita parte para completar.

– Eu amo você, Rose... Eu amo você... – vez ou outra ele sussurrava contra os lábios da garota durante o beijo.

Quando as unhas dela cravaram-se em suas costas, pedindo para que ele parasse, ele o fez, afastando-se e encarando-a com uma devoção tão profunda, uma devoção que fazia qualquer universo tremer sob aquilo.

– Por favor... Pare... – ela pediu, seu rosto molhado de lágrimas. Ela queria gritar, mas sabia que nunca sairia tal coisa.

– Eu te amo, Rose... – tornou a repetir, como uma devoção, como uma reza. Talvez se repetisse mais, poderia fazê-la então compreender. – Eu percebi isso só depois de vê-la partir e não ter tido coragem para fazer algo. Eu fui pra guerra sem ter para quem voltar, como todas as outras vezes, mas desta vez foi diferente. Porque eu via você nos campos de batalha, eu sonhava com você, como um espírito vindo até mim, e... Era como todos os espíritos que me visitavam durante a noite, só que era você... Você era a melhor parte dos meus dias, eu desejava poder dormir para vê-la... Eu desejava tê-la em meus braços sujos de sangue. E então eu passei a sonhar que você esperava um filho meu... Seu... Seu ventre era... Era a coisa mais linda do mundo, era tudo o que eu queria tocar além de você. Eu não posso partir sem ter certeza de que você não me quer, que não me perdoa por todo mal que lhe fiz. Por toda a dor que eu fiz você suportar por ser tolo... Por ter deixado minha maldita honra, que nunca existiu, sobre todas as coisas que eu poderia ter tido, toda a felicidade que poderíamos ter tido juntos. Se eu... Se eu não tivesse sido estúpido a ponto de deixar as coisas chegarem aonde chegaram, eu jamais estaria implorando seu perdão agora, nós estaríamos juntos e vidas teriam tomado um rumo diferente e isso... Eu nunca irei me perdoar. Mas eu preciso que você me perdoe. Compreenda e me perdoe.

Rose encarou-o, tão distante, tão calada, tão sofrida. Seus lábios moveram-se quase silenciosamente.

– Não há o que perdoar.

– Há. Eu fui tolo, eu deixei que você partisse por medo. Eu precisei quase morrer, com uma espada atravessada em meu corpo, para saber o que eu precisava fazer. Eu quero aquela imagem, Rose, e eu quero com você. Eu quero a família que você me prometeu, eu quero você. Você jurou ser minha para sempre e agora irá se casar... – suas palavras pareciam ter perdido qualquer sentido, seus olhos pareciam ter perdido qualquer lucidez. Mas ele sabia que ela o compreendia então.

– Eu não posso fazer isso – ela então disse, levantando-se. – Eu não posso largar tudo simplesmente porque você voltou e me quer de volta. Você teve esse maldito tempo, você teve a oportunidade de não me deixar partir, e deixou.

Ela enxugou seu rosto, caminhando até sua penteadeira, apanhando um colar ali, um que tinha uma cruz de madeira. A mesma cruz que Dimitri costumava manter em suas roupas, mas o perdera há meses atrás. Rose o encontrara dentro de sua bolsa de couro quando fugira dele inverno passado. Agora, ela queria apenas desfazer-se disso, porque traria mais e mais lembranças.

– Não me faça sequestra-la na porta da igreja – Dimitri disse, num tom brincalhão, embora parecesse louco.

– Não irá – ela sorriu, aproximando-se dele, entregando o cordão. – Eu segui em frente, Belikov. Vá encontrar sua família, encontre alguém que pareça tão formidável e amável como Masha para com você, encontre alguém que o complete.

– Eu já encontrei – ele murmurou.

– Dizem que durante a vida, temos muitas almas gêmeas – ela continuou, como se nunca tivesse sido interrompida. – Eis que na Rússia possa encontra-la por fim. Talvez ela nunca tenha saído de lá.

– Ela saiu da Turquia... – ele sorriu, voltando a se aproximar da garota. Sua mão encontrou gentilmente a face dela, acariciando-a. Rose sorriu, fechando seus olhos com a carícia. – Eu amo você... Quando irá compreender isso?

– Talvez nunca – ela murmurou.

– Eu irei então – ele beijou-lhe a testa, mantendo seus lábios ali. – Mas antes... Eu preciso que você seja minha... Pela última vez.

“Eu nunca deixarei de ser sua”, ela queria dizer.

– Eu não posso... – ela sussurrou, fitando-o ao se afastar. – Padre Gerhard ou qualquer outra pessoa pode chegar e nos ver aqui... Não seria bom.

– Hoje à noite – então ele propôs. – Seja minha pela última vez.

– Eu... Eu não sei... – ela ponderou, torcendo os lábios. – Não é certo...

– Eu estarei te esperando de qualquer forma. Eu sempre estarei, Roza.

[...]

O cheiro forte de sopa para os menos favorecidos ia além da paróquia, e agora, Rose não mais se sentia tão entretida em cozinhar como antes. Parecia ter realmente perdido o gosto para tal depois da visita de Dimitri. Depois de tudo o que ele dissera, e até então, não havia contado a sua mãe, mas quando esta soube... Bem... Houve uma grande algazarra entre ambas. Janine não concordou em Rose tê-lo visto sozinha ali, em, principalmente, não ter contado sobre o filho que perdeu. Mas toda confusão entre as duas acabou quando Janine então soube sobre Jillian e o bebê, que ambos haviam morrido.

Aquilo abalou tanto a mulher que esta nem sequer havia saído direito do quarto durante a noite. Rose queria confortá-la, mas não sabia como. Não se sentia bem para fazê-lo. Durante os últimos tempos, ela havia aprendido que às vezes é melhor sofrer sozinha, sofrer tudo o que tinha que sofrer. Afinal, chorar não mataria sua mãe.

Mas após servir a sopa para as outras pessoas, e ter se certificado de que padre Gerhard havia se alimentado, ela se viu encarando o teto, pensando no que sua mãe havia dito-lhe quando contou sobre Dimitri partir.

– Talvez seja um sinal, querida. Há sempre sinais, vindo de todos os lados... Talvez aquele não fosse o momento certo para vocês.

Aquilo soava estúpido para ela, mas sua mãe não era tão mais sábia como seu pai havia sido, mas tinha seus momentos claros. Afinal, Janine sabia mais sobre a vida do que Rose.

– Talvez eu tenha que deixa-lo partir – ela ponderou, fitando o teto, tamborilando seus dedos sobre o estômago. Claro que sabia que queria vê-lo, acima de todas as coisas. Queria vê-lo pela última vez então.

Levantou-se, vestindo-se o mais rápido que pôde. Ela queria tanto chegar até ele. Ela queria tanto abraça-lo e dizer o quão amedrontada esteve, mas que não estava mais. Ela queria deixa-lo então partir.

Alcançou o seleiro, pegou um cavalo e montou este, mas, não muito longe dali, escutou alguém chamar-lhe. Ao virar-se, viu então Thomas parado ali, seus grandes olhos verdes questionando-a.

[...]

Dimitri sentiu-se estúpido por ainda esperar Rose, na janela, aguardando qualquer sinal da garota. Por que se sentia assim? Por que algo lhe dizia que ela não apareceria? Sentiu então um caroço subir-lhe a garganta, como se esta fosse fechar a qualquer momento.

Maldição, pensou. Eu deveria tê-la arrastado, eu deveria ter feito mais para que ela aparecesse...

Todas as luzes do vilarejo pareciam ter se apagado, com exceção das tochas que mantinham-se acesas para espantar animais selvagens. Havia uma tristeza tão grande sobre aquele lugar que tudo o que Dimitri realmente queria era fugir dali. Tantas lembranças ruins que queria poder apagar de sua mente... Mas, acima de qualquer lembrança ruim, havia Rose. Embora tivesse trazido tanto sofrimento para a garota, sabia que ela havia sido a melhor cura que ele poderia ter para sua alma. Vê-la hoje, por exemplo, havia feito seu peito explodir em alegria. Havia sonhado tantas vezes em revê-la que agora, depois de fazê-lo, parecia tolice.

Sentindo seu peito quase desmoronar, Dimitri então chegou a conclusão de que Rose realmente esteve certa quanto ao tempo. Ele não podia simplesmente reivindicá-la... Ele não podia simplesmente roubá-la para si, embora esta fosse sua maior vontade. Ela estava noiva agora, ela iria se casar... Tal como uma vez ele quase chegara a fazer com Jillian.

Mas não fizera... A voz em sua mente disse-lhe. Desistira disso por ela.

Respirou fundo então, seus olhos ardiam e aquela maldita sensação de que em algum momento o mundo iria explodir ao seu redor tornou a vir. Ele abraçou seu próprio corpo, sentindo a falta de ar vir, sentindo que não conseguiria fazer mais nada. Perguntou-se então se estava morrendo. Concluiu então, de forma tão amarga, que já tinha morrido há muito tempo, desde que a deixara partir.

[...]

Rose sentiu seu corpo tremer, mas não pelo frio. Ela não esperava ver Thomas, não esperava que ele a questionasse... E sabia que ele o faria ali. Havia um estranho gosto em sua garganta, e uma voz fria dizendo-lhe que aquela deveria ser a noite na qual sentira medo nos últimos meses... O dia que ela teria de escolher qual caminho realmente deveria seguir.

– Para onde está indo? – Então, desmontou do cavalo, assistindo o jovem médico se aproximar, com seus grandes e perturbadores olhos questionadores, vasculhando-a de forma quase incriminadora. Rose sentiu seu coração pesar, mas a resposta estava um tanto óbvia para ela agora, ainda que não fosse a que pretendia dar a Thomas.

– Precisamos conversar – ela murmurou.

– Sim, precisamos... – concordou Thomas. – Você pode começar por me dizer onde está indo assim, a essa hora...

Rose mordeu o lábio, questionando-se se despejava tudo de uma só vez. Thomas merecia a verdade... Merecia mais.

– Lembra-se quando estive grávida e perdi a criança? Bem, eu não fui casada... Eu... Bem, menti sobre isso – ela disse, sua voz baixa, incapaz de olhar nos olhos do rapaz. – Quando Milzis foi devastada, eu estava com ele... Ele e eu... Bem, tínhamos fugido para bem longe e tínhamos planos de nos casar e tudo mais, embora minha família não tivesse aceitado em momento algum.

A expressão de exaspero que Thomas então esboçou, fez com que algo ardesse no peito da garota. Algo triste.

– O que quero dizer, Thomas... É que... Bem, eu não sou uma pessoa confiável assim. Eu não sou pura, não estive casada antes e eu não consigo dar-lhe tudo o que precisa, entende?

– Eu não espero que você seja perfeita, Rose... Nunca pedi isso – ele rebateu, um tanto irritado.

– Eu sei, mas eu não sou a mulher certa para você. Eu... Eu amo outra pessoa. Outra pessoa que eu acreditei estar morta ou que estivesse realmente cumprindo algo maior que ele havia jurado sem medir as consequências. Eu o amo e eu sei que eu jamais vou conseguir amar alguém assim... E eu quero ser honesta com você, porque você me enxergou quando ninguém o fez, nem mesmo eu. Você viu coisas em mim que eu não conseguia mais enxergar... Eu não conseguia. E eu não posso mentir para você. Eu jamais vou te fazer feliz em plenitude ou vou ser feliz... E quando tivermos filhos, bem... Eu os amaria, mas ainda me perguntaria como seria se eles tivessem os olhos de Dimitri... Se eles fossem meus e dele. E não é justo...

– Você está dizendo então que vai atrás dele? – perguntou ele. – Está dizendo que prefere ir atrás de alguém que a fará sofrer novamente, que a fez passar pelas piores coisas e depois te deixou ir? Bem, Rose... Sua mãe me contou tudo. Porque alguém tinha que ser honesto sobre onde eu estava me metendo.

– E, no entanto... Você permaneceu... – ela murmurou surpresa. – Por que?

– Porque não posso força-la a me amar, mas eu amo. Eu sou apaixonado por você, embora você nunca seja por mim.

– Eu sinto muito... – ela se aproximou, todavia, Thomas recuou.

– Se você precisa ir, vá. Eu não posso obriga-la a ficar. Não quando eu nunca poderei te fazer feliz se você não deixar.

– Eu... Eu não estou tentando decidir entre vocês... Eu só preciso deixa-lo ir – então admitiu, sentindo-se idiota por não tê-lo dito antes, por não ter contado vez alguma toda a história dela para Thomas. Porque Thomas era uma boa pessoa, ele a amaria de toda a forma... Ele o havia feito, mesmo sabendo por outras pessoas. – Eu não...

– Vá. Por favor, Rose... – ele disse, sua voz rouca, engasgada.

– E se eu não quiser ficar lá? – ela então perguntou. Parecia realmente querer saber daquilo. Precisava saber, na realidade.

– Então eu estarei aqui. Mas talvez já tenha desistido.

Rose então sorriu, voltando a montar seu cavalo.

– Parece justo – disse, por cima do ombro, antes de dar impulso para o animal correr.


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