Wojownikiem escrita por liljer


Capítulo 16
— Brann I Isen




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– Você se lembra quando era mais nova e sonhava em visitar o mar? – Janine indagou, acariciando os cabelos escuros, tais como os do pai, da filha, que sorriu amplamente, mostrando seus pequenos dentes tortos e olhos brilhantes e escuros. Era uma excelente visão para Janine: ver a filha sorrindo em contentamento.

Aquele havia sido um dia difícil para ambas. Ter de assistir Ibrahim espancar Mason havia cortado-lhe o coração em milhares de partes. Assistir sua filha gritar para que o pai parasse de bater em seu irmão e a forma como ele havia olhado em resposta para a pequena era triste.

Poucas vezes na vida, Janine se colocara contra o marido — afinal, era ensinado a ela, desde sempre, a ser uma boa esposa, que ele faria o papel de pai, que ele os protegeria e os puniria caso precisasse. Mas ele estava querendo punir demais aos filhos. Ela não entendia bem se todo aquele comportamento agressivo do marido era uma consequência do peso de saber que eles haviam deixado tudo para trás, ao fugirem e não poderem mais voltar para casa ou arrependimento de ter seguido aquele caminho. Fosse o que fosse, Abe passara a beber demais, voltar tarde demais, maltratá-los demais. Ela se lembrava de como havia se enfiado no meio daquela briga, e em como sentira a mão pesada pelo trabalho do marido acerta-lhe o rosto em cheio. Em como apontara para ele o mesmo punhal que ganhara de seu pai em seu aniversário de treze anos.

– Eu te matarei se tornar a tocar em um deles – ela disse, de forma firme. E a forma como ele a olhara, medindo-a dos pés à cabeça, mostrou o quão séria ela havia se mostrado. – Se não consegue ser feliz com todos nós, se não consegue ser feliz com as decisões que tomou em sua vida, então vá embora... Não torne a tortura-los novamente ou algo assim... Ou será eles e eu apenas, Ibrahim.

– Você por acaso sabe o que ele estava fazendo? – ele gritou para ela, sua voz entorpecida pela ira.

– Então diga-me... Não o espanque sem ao menos me dizer o porquê e se eu concordo com tal coisa – ela retrucou. Afiada.

– Este... Este... Ele foi pego roubando no mercado no centro de Milzis. Ele quase perdeu a mão! Não há necessidade em roubar! Eu me mato todos os dias naquela lavoura, eu dou comida e tudo o que posso a vocês para ele me envergonhar de tal forma!

– Mason... – a mãe olhou para ele, seus olhos cerrados. – É verdade?

O garoto não teve coragem de olhar-lhe nos olhos, não teve nenhuma coragem de olhar para lugar algum além de seus pés e assentir quase que minusculamente. Janine respirou fundo, aproximando-se do garoto e o assistindo recuar.

– Porque roubou? – perguntou a mulher. – O que roubou?

– Uma maçã – o pai respondeu por ele, sua voz ainda enfurecida.

– Estava com fome, querido? – perguntou ela, levantando o rosto do filho para que pudesse olhá-la nos olhos. Os pequenos olhos castanhos como os do pai e irmã a fitaram intensamente, embora não enxergassem muito com as lágrimas que estes derramavam.

– Eu estava com fome... – ele balbuciou. Fazendo uma pequena careta, a mãe acariciou o rosto do filho, puxando-o para um abraço devido ao afeto não esperado. Este soluçou contra seu corpo. Não tinha mais de nove anos.

– Está tudo bem... Aqui, tome... – ela apanhou de seu bolso algumas sementes que guardara do almoço mais cedo. Entregou-as nas mãos pequenas e sujas do filho e sorriu. – Plante estas sementes... Dará uma macieira e... Bem, você poderá comer desta quando quiser... Não há necessidade de roubar, porém... Se houver... – sua voz abaixou um pouco, segredando. – Não deixe ser pego.

O garoto afastou seu rosto, para poder olhar para cima, procurando qualquer indício de mentiras, de ser brincadeira. Mas ao invés encontrou um sorriso dócil e uma piscadela. E isso o fez querer chorar ainda mais. A aceitação, o perdão, pareciam-lhe coisas divinas e encontra-los ali em sua mãe fora quase como uma avalanche de sentimentos confusos, alegres. Mason não sabia explicar o que sentira, mas fora algo bom.

Rose, não muito distante dali, assistia a cena, alheia ao que acontecia à sua frente. Mason virou-se para a pequena garota desgrenhada e suja, sorrindo e estendendo-lhe a mão.

– Anda, Rose! Vamos plantar uma árvore! – ele chamou, recebendo um sorriso gigantesco da garotinha que correu ao seu encontro, segurando-lhe a mão e mordendo o cordão do vestido que usava.

– Onde vamos plantar? – ela perguntou, sua voz agitada pela felicidade.

– Vamos plantar na janela do nosso quarto – Mason anunciou, com um sorriso pequeno.

Mais atrás, Janine os observava com um sorriso carinhoso, de braços cruzados e relaxada.

– Não devia ter feito aquilo – disse Ibrahim, logo atrás dela, pondo uma mão em seu ombro. A mulher levou sua própria mão de encontro a do marido, apertando-a levemente.

– Não seja tão duro com ele... – ela disse, sua voz suave.

– Ele está se tornando um homem, Janie... Logo, terá de trabalhar duro para pagarmos todas as contas dessas terras. Não podemos passar a mão sobre sua cabeça. Ele precisa aprender a lidar com as consequências de seus atos.

– Ele lidará, querido... Mason será um homem forte como você. Ele já é – agora, ela se virou, para então encontrar os olhos tristes do marido. Havia algo que ele não queria dizer. Algo que o machucava em apenas lembrar e a forma como ela olhou para ele o obrigou a compartilhar. Porque era isso que casais faziam... Compartilhavam coisas, momentos bons e ruins.

– Eles prometeram lhe cortar a mão caso fosse pego assim novamente. Eu jamais aceitaria tal ato, Janie...

– Então não aceite – ela retrucou, toda suavidade havia se tornado em raiva. – Aqueles malditos Dragomir acham que são donos deste vilarejo... Mas Milzis não vingará muito...

– Mas é onde estamos agora – ele disse apressado.

– Não por muito tempo.

– Eu morrerei aqui, Janine... Nós dois sabemos disso. Já nos foi dito no dia em que nos casamos – embora fosse difícil para Ibrahim tocar neste assunto, era necessário de alguma forma. Ele se sentia como se se não o fizesse, estaria ignorando o que o destino estava pregando-lhe.

– Bobagem – a mulher torceu o nariz. – Você acredita demais naquela maldita bruxa. Não há como uma criança agora nascida seja a causa da tua caída, Ibrahim. É apenas superstição... Mentiras... Bobagens...

– É uma profecia, Janie...

– É uma mentira! Jamais deixarei que morra por conta de uma criança. Malditos sejam aqueles russos mentirosos, aquela bruxa mentirosa... – praguejou ela. Ibrahim, por vez, gargalhou, esquecendo então qualquer raiva que sentira. Estava de volta afundado no mar de felicidade que sentia quando estava com sua esposa, mãe de seus filhos. Ele então a abraçou, puxando-a contra seu peito e afundando seu rosto no cabelo vermelho desgrenhado, aspirando este cheiro doce.

– Eu não sei o que eu seria sem você – ele disse então.

– Um homem morto, encurralado e traído pelos teus próprios e assassinado a sangue frio – ela disse, levantando seu rosto para beijar os lábios do homem. – Eis uma profecia.

– Você é uma bruxa agora? – ele sussurrou galante.

– Eu sou o que quiser desde que seja tua – tornou a beijá-lo.

[...]

Os cavalos se aproximaram de forma rápida, enquanto Rose chorava e ao mesmo tempo lutava para se equilibrar e chegar o mais rápido possível às terras de sua família. Todavia, ao longe, já conseguia enxergar as chamas altas, chamas que lembravam os cabelos de sua mãe.

Quando alcançou a plantação de trigo, notou que parte das chamas vinha dali. Seus olhos se encheram d’água, enquanto lembrava-se do trabalho pesado que seu pai havia tido para tal resultado agora. Assim como, agora, lembrava-se da nuvem de corvos que vinha sobre a plantação em seu sonho, certa vez.

– Anne! – gritou ela, de forma desesperada. Ela pulou do cavalo, correndo até a casa arrombada, onde as chamas começavam a tomar conta de tudo.

Por um instante, ela pediu para qualquer deus que viesse a existir, para que este a ajudasse naquele momento, para que então, sua mãe saísse de dentro das chamas e viesse ao seu encontro, abraçando-a e dizendo que estava bem. Mas havia uma parte sensata da garota que dizia-lhe que aquilo era muita inocência de sua parte. Não podia esperar nada além da morte... Mas era Rose. Ela era teimosa, corajosa, ela lutava pelo o que desejava, mesmo contra tudo e todos. Bom... Pelo menos, era aquela Rose que queria se tornar. Queria ser corajosa como Mason havia sido — embora este tivesse cometido seus erros terríveis, tal como Jillian; queria ser corajosa e destemida como seu pai. Homem astuto e firme, que havia cruzado o mundo para encontrar Janine quando eram mais novos. Como quando ele lutara contra todas as coisas, contra todos seus próprios demônios. E aquilo a fez correr de encontro a casa.

Dimitri embora fosse maior e mais rápido, não previra tal coisa, não tinha como prever exatamente que Rose pularia de seu próprio cavalo e correria de encontro a casa em chamas.

– Rose! – gritou ele, na intenção de impedi-la; impossível.

O mais rápido que ela conseguiu chegou perto das chamas, onde tudo o que se ouvia era o som do estalar da madeira das paredes da casa que crescera. Uma sensação próxima ao desespero tomou conta da garota. Ali estava as lembranças de toda a sua vida; ali estava a dor de ter perdido o irmão, o pai e agora a mãe.

Sem compreender muito o que lhe dera então, ela correu para dentro da casa em chamas. O calor fazendo-a suar instantaneamente. Seus olhos ardiam pela fumaça e sua respiração comprometida.

– Mamãe? – ela chamou, enquanto corria até o corredor, tentando encontrar a mãe ali. Não estava. Logo mais chegara ao quarto dos pais. Este vazio, em chamas que queimavam a palha da cama. Ela sentiu um grito soar de sua garganta. Tornando a gritar pela mãe.

Não houve resultados. Não houve nada além de um xale jogado no chão, próximo a porta.

– Rose! Vamos! Saia daqui! – Rose sentiu as mãos fortes de Dimitri puxando-a dali, arrastando-a contra sua vontade para fora das chamas, para fora da casa.

– Mas minha mãe... – ela tentou dizer entre soluços.

– Ela não está aqui... Talvez ela esteja em outro lugar... Talvez tenha escapado das chamas e conseguido se esconder... Não vamos desistir... Mas não vou deixa-la queimar aqui. Vamos!

E então ela deixou-se ser levada, para longe do calor das chamas. Sua garganta doía pela fumaça e pela vontade chorar. Embora que tivesse um pouco de esperança querendo se sobressair sobre todas as sensações ruins que ver sua casa queimada lhe trazia.

Jillian estava mais atrás, próxima a um carvalho, abraçando-se pelo frio, olhando para todos os lados, à procura do que quer que fosse.

– Vamos... – Jillian pediu, montando em seu cavalo, e recebendo um aceno de cabeça de Dimitri que montou no seu e ofereceu uma mão para Rose. Esta a pegou, agarrando-se a ela e montando no bicho. Cavalgaram para longe, sem nenhuma outra palavra proferida além de normas de para onde seguir.

E então Rose se pegou olhando para trás; Milzis estava destruída. Pobre Milzis... Nascida do desespero, de volta ao pó como deveria ser. Todos sempre alegaram que aquele vilarejo acabaria em pó, logo... Era verídico. Milzis voltou ao pó... Tudo o que restou dela àquela altura fora as chamas.

– Dimitri... ? – Rose deixou escapar em algum momento, enquanto cavalgavam em quietude. Dimitri fez um som do fundo de sua garganta, arrastado e cansado. – Você pode me levar para o mar?

– Para onde você quiser, Roza... Desde que isso lhe faça bem.

– Fará... – ela murmurou.


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Notas finais do capítulo

Ok... Depois de uma demora terrível e muitas dúvidas que não foram tiradas nesse capítulo, cá estou eu de volta. Bom... Quero que me desculpem pela demora... Falta de tempo e tudo mais, como vocês bem sabem. Mas enfim... Eu particularmente achei este um capítulo pequeno e raso... O que foi meio estranho de se escrever e postar, mas a demora vem sido tão grande que para pular para a próxima parte neste novo capítulo que virá será difícil... Ficaria bem estranho se colocados em um capítulo só,então, dividi e tudo mais. Bom, até a próxima. Se cuidem.



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