Na noite chuvosa os pingos insistiam em perturbar o sono do recente casal.

Ele como o cavalheiro que era levantou-se pra observar a esposa adormecida e auxiliá-la em caso de pesadelos.

Era assim sua vida, diziam que sua esposa era louca, mas ele não se importava, eles se amavam e era o bastante.

O moreno alto de corpo escultural levantou-se naquela noite de tormenta e foi até a janela pousou sua testa sob o frio vidro e suspirou, voltou a encarar a amada esposa na cama, tão singela, não tranquila ao dormir, só que nem sempre era assim.

Lembrou-se então da noite em que ela teve aquele pesadelo. O terrível, a jovem moça que tinha pele de porcelana e cabelos cor de chocolate sonhava com a própria morte quase todas as noites, era atormentada pelo seu passado.

Como se conheceram? Uma simples aposta foi o trabalho. Ele e ela se encontraram no cemitério, ambos cumprindo apostas que perderam, lá foi lhes revelado que estavam destinados antes de qualquer coisa e como se isso fosse o aval se conheceram e não demorou para o casamento acontecer, altamente aprovado por ambas famílias.

Só que a doce moça, que se tornara mulher, sonhava com sua morte constantemente, sempre o mesmo sonho, com o amado tirando sua pura vida. Por milhares de vezes acordava assustada com seu próprio esposo a ponto de tentar livrar-se dele tirando a própria vida.

Num súbito a mulher estava a sua frente e ele levou um grande susto, sorriu pra ela e depositou um casto beijo em seus lábios. Foram vagarosamente caminhando pra cama, onde aconteceria mais uma noite mágica e inesquecível, ele nem imaginava o quanto...

Depois de algumas carícias ela se levantou com a promessa de retirar as peças que faltavam para estar como viera ao mundo, ele só apreciava a magnífica visão, enquanto ela se afastava vagarosamente até a porta de vidro que dava saída para a sacada.

Ele observou confuso, mas continuava a apreciar a amada mulher.

Ela continuava a andar pra trás até abrir a porta, logo ficando molhada pelas rápidas, finas e frias gotas da chuva que caia com raios e trovões agora.

Ele se levantou da cama assustado, e conseguiu ver nos olhos dela, gotas que não eram de chuva. Primeiro ficou perplexo e depois de alguns segundo a ouviu balbuciar um adeus. E toda sua vida esvaiu.

Correu até o beiral da sacada, mas já era tarde sua amada tinha tirado a própria vida. E ele estaria condenado pra sempre...

...

Flack acordara suado e ofegante com o sonho de seu passado.

Sem que ele percebesse ou controlasse lágrimas escapavam de seus olhos tristes e azuis.

Levantou-se no intuito de tomar um banho gelado pra acalmar a tensão. Mas, mudou de ideia quando viu a tempestade lá fora.

Caminhava pelos solitários e silenciosos corredores, pensara por um momento em tomar um banho de chuva quem sabe isso melhoraria seu humor, ou até mesmo levaria as lembranças de um passado que tentava esquecer a todo custo.

Porém decidiu-se por simplesmente olhar como estavam os pacientes mais críticos e os mais calados também.

Caminhava cautelosamente pelos corredores cercados de janelas, essas que davam pra fria chuva do lado de fora. Parou de repente pensando ter escutado passos, mas continuou sua caminhada ao perceber que eram os seus.

Era estranho estar ali. Era como numa prisão, porém, ele poderia sair a qualquer hora, contando que avisasse. Mas, ele não queria, tinha que ficar ali e ajudar a quem ele pudesse alcançar.

Sofrera deveras com seu passado tenebroso e não queria sofrer mais uma vez e muito menos queria que outros passassem pelo que passou.

Continuou a caminhada sem mais delongas, só que sem perceber que outra pessoa observava cuidadosamente seus passos e que ela quase podia ler seus pensamentos.