Quando cheguei ao refeitório, meus pais já haviam acordado e estavam tomando café com Heath e Joe.

- Min, aqui ! - Gritou o Heath com a boca cheia de morangos de uma mesa lá do canto. Assenti com a cabeça e fui em direção a mesa.

- Filha, você acordou muito cedo hoje, aconteceu alguma coisa ?

- Não mãe, não foi nada. Nem sei porque acordei cedo. - Parece que ela não ficou muito satisfeita com a minha resposta, ela sabe que não foi por isso.

- Min, o leite está quentinho! - Disse o Joe me dando um copo.

- Obrigada. - respondi com um sorriso. - Eu nunca imaginei que em um batalhão de exercito criava cabras.

- Eu também não, mas ainda bem que criam. - Disse o Heath comendo cada vez mais. Ele realmente adorava morangos.

- Pera ... Será que os zumbis comeram as vacas que sobraram?

- Se eles não comeram, elas provavelmente morreram de fome. - Meu pai explicou o óbvio.

- Não, o que eu quero dizer é que ... a gente não sabe nada sobre os zumbis e já fazem sete anos !

- Min, não comece tá ? Deixe que isso é trabalho do General John.

- Como se ele fizesse alguma coisa. - Murmurei baixinho, mas meu pai ouviu, pois fez uma cara feia pra mim.

O general John era o comandante do batalhão. Ele acabou ficando responsável por cuidar da gente desde então. Todo mundo o venera. Eu, como podem perceber, nem tanto.

- Vou ver o Dean. - Empurrei a cadeira e fui saindo em direção a porta.

- Termina de tomar café ! - Gritou minha mãe enquanto saia.

- Não quero mais. - Gritei de volta.

O Dean era meu quase namorado. Isso mesmo, quase. Todo mundo dizia que a gente namorava, mas isso porque a gente vivia junto. Quem sabe um dia ... Mas voltando ao assunto, eu resolvi ver o Dean porque ele é sargento, e as vezes ele ficavam naqueles postos de observação que ficavam de três em três metros em cima dos muros observando os zumbis, hoje é um dia desses. Talvez ele poderia me dizer alguma coisa.                                                                                                         O posto que o Dean fica é o 23. Subi as escadinhas e o encontrei lá com seus amigos (sargentos também) o Mason e o Ed. Eles estavam rindo de alguma coisa quando cheguei, então me encostei na porta até que um deles me visse. Esse alguém foi o Dean.

- E aí Min ? - Dean abriu aquele sorriso lindo dele.

Ed e Mason deram uma rápida olhada para mim e murmuraram um "oi" e voltaram a olhar por aquele minúsculo retângulo que dava para o lado de fora. Voltei minha atenção para o Dean.

- Oi, vim te fazer uma pergunta. - Dei um sorriso meio tímido que fez o Dean abrir aquele sorriso maroto dele.

- ah, achei que tivesse vindo para me ver.

- Também . - Mentira, vim só pela pergunta, mas não vou dizer isso na cara dele.

- Então pergunta.

- Você que fica aqui direto monitorando esses zumbis, o que eles fazem para ... - O Dean já me olhou com uma cara horrível, ele ia começar a me chamar de doida e falar para eu parar de tentar salvar o mundo.

- Min ...

- Não vem falar que eu to doida ou que eu quero salvar o mundo, mas Dean, pensa comigo, se não tem mais ninguém lá fora há sete anos, como eles ainda estão vivos ?

- Por animais talvez ?

- Animais na cidade ? Os que tiverem já devem ter morrido de fome.

- Talvez eles sobrevivam por luz solar. - Senti o riso abafado dele. Por que ninguém me leva a sério por aqui ?

- Para de brincar, é sério.

- Min, a gente não fica observando essas coisas e ...

- Ei Min, dá um tempo aí e escolhe um.  - Gritou o Ed lá da frente.

- Escolher um ? Como assim ?

- Olha aqui e escolhe um zumbi.

Ainda não entendendo nada, fui até lá olhar. Uau, apesar de todo esse tempo eles ainda eram muitos.

- Sei lá, aquele de suspensório ? Ou com o resto de um.

Mason não demorou um segundo para mirar e atirar bem na cabeça do zumbi que escolhi e explodir sangue ou seja lá o que for. Isso me deixou um pouco assustada, não por aquela cena, mas pela reação dos outros zumbis, que continuaram a andar como se nada tivesse acontecido. Mas eu percebi que alguns no canto olharam diretamente para nós, mas depois voltaram a andar normalmente. Me distanciei um pouco e balancei a cabeça tentando pensar.

- Isso vai acabar com as nossas munições à toa. - Foi uma das primeiras coisas (idiota por sinal) que veio na minha cabeça.

- Deixa de ser bobinha Min, aqui nós fabricamos armas e munições.

- Como é que é  ? Por que nunca falaram isso para gente ?

- Para um não querer bancar o herói e querer ir lá fora e estragar tudo. - Mason nem olhou pra mim para responder. Estragar o que ? Isso não faz sentido.

- Só não conta para ninguém tá. - Pediu o Dean depois de dar um longo suspiro. Concordei com a cabeça.

Dei um tempinho lá para não parecer que fiquei surpresa com aquilo, e definitivamente eu precisava contar isso para alguém. Mas alguém que entenderia minha preocupação com aquilo. Esse alguém é o Heath. Me despedi de todos e fui correndo encontrá - lo. Ele estava sentado próximo a uma poça d'água jogando pedrinhas nela.

- Preciso falar com você ! - Falei abaixando o tom de voz. Apesar da minha vontade de contar a todos sei que não é o momento.

- O que é de tão importante ?

- Heath - disse ainda tomando o fôlego - Eles produzem armas aqui. - Ele me pareceu confuso, tentei ser mais clara. - Armas de fogo, munições esse tipo de coisa. Eles produzem aqui e fazem a gente acreditar que um dia nosso estoque vai acabar.

- Quem te disse isso ?

- O Mason, foi mais uma confissão. Ele disse que não contaram porquê têm medo de que alguém resolva bancar o herói e blá-blá-blá.

- É uma boa razão.

- O ponto não é esse Heath. O ponto é : se eles escondem isso da gente, o que mais eles estão escondendo ?