O Que Não Tem Remédio... escrita por Finchelouca


Capítulo 7
Filha de peixe... só a outra Ariel




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Era um começo de noite qualquer, durante a semana, e Finn trabalhava em seu laptop na sala do apartamento dos Hudson, enquanto Ariel ficava entretida com algum DVD de desenho animado, escolhido dentre os muitos que tinha. Era assim na maior parte do tempo: ele trabalhando e ela brincando ou vendo TV, porque eles tinham decidido que, com Finn podendo atender aos clientes de casa, não era necessário mandar a pequena para uma creche, e ele mesmo cuidaria dela até que estivesse com idade para ir à escolinha.

Não iria demorar muito, na verdade, porque ela já estava com três anos e seria matriculada no jardim de infância logo no próximo ano letivo, o que, no fundo, estava até provocando uma certa saudadezinha antecipada no pai, que amava passar o dia todo com ela. Os barulhos dos filmes e, eventualmente, dos brinquedos não o atrapalhavam, porque ele estava acostumado a realizar suas tarefas em meio a gritarias e todo tipo de ruídos de computadores. E mesmo quando ele se pegava, como naquele exato momento, observando alguma gracinha da menina, isso nunca chegara a lhe causar prejuízo, e era um momento de distração que valia muito a pena!

Up where they walk, up where they run
Up where they stay all day in the sun
Wanderin' free

Wish I could be
Part of that world

A Pequena Sereia cantava na tela, mas era a sua Ariel, a Hudson, que Finn observava, com um sorriso bobo no rosto, enquanto ela dançava e tentava cantar também, errando um pouco os versos, pois estava assistindo seu DVD mais novo, que tinha sido um presente do padrinho Puck, em sua última visita, dias antes. Ao dar uma voltinha, a garota percebeu os olhos do pai sobre ela e parou, abrindo um imenso sorriso e correndo para ele, que colocou o computador de lado e a pegou no colo, abraçando forte.

Ariel também apertou o pai com toda a sua força de criança e depois ficou sentada no colo dele, voltando a observar a sereia na tela e a tentar acompanhá-la na canção. Finn riu, quando a filha usou uma palavra engraçada que não fazia parte da letra, e apertou de novo a menina, distribuindo vários beijos por sua bochecha. Só chamou sua atenção, no entanto, quando começou a beijar o pescocinho, fazendo com que sentisse cócegas.

"Para, papai... para." Ela falava, rindo, e ele continuava. "Por favor... por favor." Implorou, fazendo bico, e ele resolveu lhe dar trégua.

"Sua sapequinha linda!" Disse, dando mais um beijo estalado em seu rosto. "Vai lá ver seu desenho, que o papai ainda precisa trabalhar um pouco." Pediu, soltando-a de seus braços.

"Eu sei, papai." Afirmou, passando a mão no rosto dele, como a mãe fazia quando queria pedir alguma coisa, e ele a olhou, curioso. "Mas você antes me responde algumas perguntinhas?"

"Claro, meu amor." Riu. "O que a minha princesa quer saber?"

"Primeiro, por que eu sou Arie Gaby que tem cabelo ruivo?"

"Bom... porque as pessoas normalmente se parecem com os pais, filha. A tia Emma é ruiva e ela é mãe da Gaby. Você não tem nem pai nem mãe ruivos, então, o seu cabelo não poderia ser ruivo." Tentou explicar.

"O pai da Ariel não é ruivo."

"Ele é mais velho... tem cabelo branco. É que nem o vô Tom, sabe? Quando era mais novo, ele devia ser ruivo, sim."

"Hum." Ela ficou pensativa e fez uma pequena careta. "Que pena! Cabelo ruivo é tão bonito." Acrescentou, com o semblante um pouco triste.

"É bonito, mas eu acho o castanho ainda mais!" Ele falou, sincero. "O seu cabelo é igual ao da sua mãe e eu amo o cabelo da sua mãe! Você não acha a mamãe linda?"

"É, sim!" Sorriu amplamente. "É verdade... o meu cabelo é lindo!" Usou um tom e gestos exagerados, fazendo o pai rir mais uma vez. "Mas, pai... no resto eu sou que nem a Ariel, né?"

"No resto... em que, Ari?"

"Se eu for bem láááá, no fuuuuundo do mar... eu vou nadar que nem um peixe?"

"Nadar que nem um peixe, com um rabo e tudo?"

"É!" Confirmou, esperançosa.

"Não, meu amor." Negou e o sorriso dela se apagou imediatamente. "Ninguém tem rabo de peixe... isso é só fantasia. Nem você, nem a Gaby, nem a sua mãe... ou eu. Ninguém fica com um rabo quando entra na água."

"Mas eu quero! Eu sou Ariel e eu não posso ter nada da Ariel?" Falou, brava.

"Pode, sim. Você pode, por exemplo, cantar como a Ariel."

"Por que não um rabo?" Questionou, chorosa.

"Filha!" Finn não gostava de vê-la triste, mas essa era uma das poucas vezes em que, nem se quisesse e Rachel não fosse reclamar, não poderia mimá-la. "Como eu te falei, isso é faz de conta... é coisa da história."

"Por que eles contam mentiras nessa história?"

"Não são mentiras, Ari... são brincadeiras! São coisas divertidas, mas que a gente tem que saber que só acontecem nas histórias mesmo. E não é só nessa... você não lembra do desenho da Fera? Ele volta a ser um príncipe por causa de um beijo... acontece uma mágica... e mágicas só acontecem nas histórias. Tem o Pinóquio, que fica com o nariz grande... o Peter Pan, que voa e faz outras crianças voarem com ele. Você já viu alguém voando por aí?" Brincou, cutucando a barriguinha dela.

"Eu não tenho Peter Pan... você me conta?"

"Huuuum... vamos fazer o seguinte: já que o papai já parou mesmo de trabalhar, ele vai achar o filme aqui no computador pra gente ver juntos, ok?" Ela balançou a cabeça, feliz, esquecendo das coisas que não podia ter e amando poder ver filme com o pai.

Finn achou o clássico, que deixou baixando, enquanto foi preparar alguma coisa para o jantar. Pouco tempo depois, ele apresentou à filha Peter, Wendy, a Sininho e o Capitão Gancho, entre outros, matando as saudades de sua própria infância, em que assistira muito aquele mesmo desenho, sonhando poder voar, assim como a filha sonhara, naquele dia, com um rabo de sereia. Mostrou para ela outras fantasias do desenho, como a de nunca envelhecer, tentando, com jeitinho, convencê-la de que havia coisas que deviam ficar na ficção.

"Imagina não envelhecer! Quando a gente é criança faz muita coisa legal, que adulto não faz mais, mas quando a gente é adulto também faz coisas ótimas que criança não pode fazer, e todo mundo tem que experimentar todas as coisas."

"O que adulto faz que é tão legal?" Duvidou.

"Deixa eu ver." Respondeu, pensativo. As primeiras coisas que lhe vinham à cabeça não poderiam ser exemplos naquela situação, é claro! "Ah, adultos dirigem carros, podem sair sozinhos de casa, ir a lugares legais que não deixam criança entrar... mas você justamente precisa ficar adulta um dia pra entender e saber como é bom. Só que antes tem que aproveitar bastante as coisas de criança, que também são legais, como brincar, ser paparicada pelo papai..." Piscou.

Ariel não pareceu muito convencida, mas também não fez mais nenhuma pergunta, e voltou a ver o desenho, pedindo que ele repetisse uma parte que havia sido perdida durante a conversa dos dois. Apenas depois da chegada da mãe, dos cumprimentos calorosos e de terem comido todos juntos, ela voltou a falar sobre o assunto fantasia versus realidade.

"O que você dois fizeram hoje?" Rachel perguntou, cobrindo a filha, que já estava deitada em sua caminha confortável.

"Eu vi a Pequena Sereia e o tal do Peter Pan."

"A gente tem Peter Pan?" Ela se voltou para o marido, confusa.

"Eu falei do desenho, e ela quis ver... então, eu baixei." Deu de ombros.

"Papai quis me mostrar que quase todo desenho tem mentira. É por isso que aquela Ariel tem rabo e eu sou uma Ariel sem rabo... e não posso ter um." Comentou, mas agora indiferente à questão.

"O Peter voa..." Respondeu ao semblante questionador da esposa. "...e nossa pequena sabe que pessoas não voam, então foi um bom exemplo de como há muitas fantasias nas histórias...coisas que não se pode ter ou fazer realmente." Rachel sorriu, segurando, agradecida, a mão do marido.

"Mas tem coisas nas histórias que são de verdade!" Ariel comentou, sentando na cama. "A Wendy tem irmãozinhos... e eu sei que isso é de verdade porque a Gaby tem irmão e a Chloe também."

"E o papai também." Finn acrescentou, não vendo para onde estava levando aquela conversa.

"Então, eu não posso ter um rabo, mas eu posso ter um irmãozinho. Não é, mamãe?" Os dois adultos se entreolharam, enquanto respondiam que sim. "Eu quero um. Boa noite, mamãe!" Falou, como se pedisse um picolé no parque, se esticando para receber um beijo de boa noite da mãe.

Finn também beijou a filha e o casal saiu do quarto, em silêncio, mas logo que chegaram ao corredor, Finn abriu um enorme sorriso e pegou a mulher no colo.

"Acho que a gente tem um presente especial pra providenciar, Sra. Hudson!" Informou, determinado.


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Notas finais do capítulo

Espero que, se a alma do Cory vive e ele vê, de onde está, o que acontece por aqui, ele se sinta mais respeitado por nós, que estamos tentando dar finais felizes a Finchel e, consequentemente, ao fandom, do que por aqueles malas da Fox, que só pensam em audiência.

Um beijo a cada um de vocês que mantém o espírito de sempre, de que Finchel is forever!