A Batalha Do Labirinto - Brittana escrita por Ju Peixe


Capítulo 19
Capítulo 19




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/372167/chapter/19

Naquela noite, eu dormi em minha própria cama, com Santana abraçada em mim. E naquela noite, eu tive pesadelos.

Eu estava no tribunal de um rei — uma grande câmara branca com colunas de mármore e um trono de madeira. Sentado nele havia um cara rechonchudo com cabelo ruivo encaracolado e uma coroa de louros. Ao seu lado estavam de pé três garotas que pareciam serem suas filhas. Todas tinham o mesmo cabelo ruivo e usavam túnicas azuis.

As portas rangeram ao abrir e um arauto anunciou:

- Minos, Rei de Creta!

Eu enrijeci, mas o homem no trono simplesmente sorriu para suas filhas.

- Mal posso esperar para ver a expressão em seu rosto.

Minos, a própria assombração real, entrou na sala. Ele era tão alto e sério que fazia o outro rei parecer tolo. A barba pontuda de Minos tinha ficado cinza. Ele parecia mais magro desde a última vez que eu sonhara com ele, e suas sandálias tinham respingos de lama, mas o mesmo brilho cruel estava em seus olhos.

Ele se curvou duramente para o homem no trono.

- Rei Cócalo. Soube que você resolveu meu pequeno enigma?

Cócalo sorriu.

- Dificilmente pequeno, Minos. Especialmente quando você anunciou pelo mundo que estava disposto a pagar mil talentos de ouro para a pessoa que pudesse resolvê-lo. A oferta é verdadeira?

Minos bateu palmas. Dois guardas enormes entraram, lutando para carregar uma grande arca de madeira. Eles a colocaram aos pés de Cócalo, e a abriram. Pilhas de barras de ouro brilharam. Aquilo devia valer um trilhão de dólares.

Cócalo assobiou apreciativamente.

- Você deve ter falido seu reino para dar tal recompensa, meu amigo.

- Isso não lhe diz respeito.

Cócalo deu de ombros.

- O enigma é muito simples, na verdade. Um de meus conselheiros o resolveu.

- Pai, - uma das garotas alertou. Ela parecia ser a mais velha, um pouco mais alta do que suas irmãs.

Cócalo a ignorou. Ele pegou uma concha marinha em espiral das dobras de sua túnica. Um fio prateado havia sido passado por ela, de forma que ela estava pendurada como um pingente gigante em um colar.

Minos deu um passo à frente e pegou a concha.

- Um de seus conselheiros, você disse? Como ele passou o fio sem quebrar a concha?

- Ele usou uma formiga, se você consegue imaginar isto. Amarrou um fio de seda à pequena criatura e a persuadiu a atravessar a concha colocando mel do outro lado.

- Homem engenhoso. Minos disse.

- Ah, realmente. O tutor de minhas filhas. Elas o adoram.

Os olhos de Minos ficaram frios.

- Eu teria cuidado no seu lugar.

Eu quis avisar Cócalo: Não confie nesse cara! Coloque-o no calabouço junto com alguns leões comedores de gente ou algo assim! Mas o rei ruivo só riu.

- Não se preocupe, Minos. Minhas filhas são sábias para suas idades. Agora, sobre meu ouro…

- Sim. - Minos disse. - Mas veja bem, o ouro é para o homem que resolveu o enigma. E pode haver só um homem capaz disso. Você está abrigando Dédalo.

Cócalo se mexeu desconfortavelmente em seu trono.

- Como você sabe o nome dele?

- Ele é um ladrão. - Minos disse. - Uma vez ele trabalhou em minha corte, Cócalo. Ele virou minha própria filha contra mim. Ele ajudou um usurpador a me fazer de bobo em meu próprio palácio. E então ele escapou da justiça. Eu venho procurando por ele há dez anos.

- Eu nunca soube de nada disto. Mas eu ofereci ao homem minha proteção. Ele tem sido o mais útil —

- Eu ofereço a você uma escolha, - Minos cortou. - Entregue o fugitivo a mim, e este ouro é seu. Ou arrisque-se fazendo de mim seu inimigo. Você não quer Creta como sua inimiga.

Cócalo empalideceu. Achei estúpido ele parecer tão assustado no meio de sua própria sala do trono. Ele devia ter chamado seu exército ou algo assim. Minos só tinha dois guardas. Mas Cócalo simplesmente ficou sentado lá suando em seu trono.

- Pai, - sua filha mais velha falou, - você não pode…

- Silêncio, Aelia. - Cócalo enrolou sua barba. Ele olhou de novo para o ouro brilhante. - Isso me mortifica, Minos. Os deuses não amam um homem que quebra seu juramento de hospitalidade.

- Os deuses não amam os que abrigam criminosos também.

Cócalo assentiu.

- Muito bem. Você terá seu homem atrás das grades.

- Pai! - Aelia disse novamente. Então ela se recuperou, e mudou sua voz para um tom doce. - A-a-ao menos nos deixe divertir nosso visitante primeiro. Após sua longa viagem, ele deve ser tratado com um banho quente, roupas novas, e uma refeição decente. Eu ficaria honrada em preparar o banho eu mesma.

Ela sorriu lindamente para Minos, e o velho rei grunhiu.

- Suponho que um banho não seria ruim. - Ele olhou para Cócalo. - Eu o verei no jantar, meu senhor. Com o prisioneiro.

- Por aqui, Vossa Majestade. - disse Aelia. Ela e suas irmãs conduziram Minos para fora da câmara.

Eu os segui para dentro de uma câmara de banho decorada com azulejos em mosaico. Vapor enchia o ar. Uma torneira enchia a banheira de água quente. Aelia e suas irmãs encheram-na com pétalas de rosa e algo que deveria ser o Sr. Bolha da Grécia Antiga, pois logo a água ficou coberta de espuma multicolorida. As garotas se viraram quando Minos largou sua túnica e entrou no banho.

- Ah. - Ele sorriu. - Um banho excelente. Obrigado, minhas queridas. A viagem foi realmente longa.

- Você tem perseguido sua presa por dez anos, meu senhor? - Aelia perguntou, batendo suas pestanas. - Você deve ser muito persistente.

- Eu nunca esqueço uma dívida. - Minos sorriu. - Seu pai foi sábio em concordar com as minhas exigências.

- Oh, certamente, meu senhor. - Aelia disse. Eu achei que ela estava pesando a mão na bajulação, mas o velho estava engolindo tudo. As irmãs de Aelia gotejaram óleo aromático em cima da cabeça do rei.

- Sabe, meu senhor, - Aelia falou, - Dédalo achou que você viria. Ele achou que o enigma era uma armadilha, mas não resistiu em resolvê-lo.

Minos franziu a testa.

- Dédalo falou de mim para vocês?

- Sim, meu senhor.

- Ele é um homem mau, princesa. Minha própria filha caiu em seu feitiço. Não dê ouvidos a ele.

- Ele é um gênio, - Aelia disse. - E ele acredita que uma mulher é tão inteligente quanto um homem. Ele foi o primeiro a nos ensinar como se tivéssemos mente própria. Talvez sua filha pensasse da mesma maneira.

Minos tentou se sentar, mas as irmãs de Aelia o empurraram de volta para dentro da água. Aelia foi para trás dele. Ela segurava três minúsculos orbes em sua palma. Primeiro achei que fossem contas de banho. Mas ela as lançou dentro da água e as contas espalharam linhas de bronze que começaram a se enrolar em torno do rei, atando seus tornozelos, colocando seus pulsos um de cada lado, circulando seu pescoço.

Embora eu odiasse Minos, aquilo era horrível de se ver. Ele bateu e gritou, mas as garotas eram muito mais fortes. Logo ele estava desamparado, deitado na banheira com seu queixo encostando-se na água. As linhas de bronze ainda estavam tecendo em volta dele como um casulo, apertando seu corpo.

- O que vocês querem? - Minos exigiu. - Por que fazem isso?

Aelia sorriu.

- Dédalo tem sido gentil conosco, Vossa Majestade. E eu não gosto de você ameaçando nosso pai.

- Fale para Dédalo, - Minos rosnou. - Fale para ele que eu o caçarei até depois da morte! Se houver justiça no Mundo Inferior, minha alma o assombrará pela eternidade!

- Palavras valentes, Vossa Majestade, - Aelia disse. - Eu lhe desejo sorte buscando sua justiça no Mundo Inferior.

E com isso, os fios de bronze se enrolaram em volta do rosto de Minos, fazendo dele uma múmia de bronze.

A porta do banho foi aberta. Dédalo entrou, carregando uma mala de viagem.

Ele havia aparado seu cabelo curto. Sua barba era de um branco puro. Ele parecia frágil e triste, mas ele se abaixou e tocou a testa da múmia. Os fios se desenrolaram e assentaram no fundo da banheira. Não havia nada dentro deles. Era como se o Rei Minos simplesmente tivesse sido dissolvido.

- Uma morte indolor, - Dédalo meditou. - Mais do que ele merecia. Obrigado, minhas princesas.

Aelia o abraçou.

- Você não pode ficar aqui, professor. Quando nosso pai descobrir…

- Sim, - Dédalo disse. - Receio ter colocado vocês em encrenca.

- Oh, não se preocupe conosco. Papai ficará feliz o suficiente pegando o ouro daquele velho homem. E Creta é bem longe daqui. Mas ele o culpará pela morte de Minos. Você precisa fugir para um lugar seguro.

- Um lugar seguro, - o velho homem repetiu. - Durante anos eu fugi de reino em reino, procurando por um lugar seguro. Temo que Minos tenha dito a verdade. A morte não o impedirá de procurar por mim. Não há lugar abaixo do sol que poderá me abrigar, uma vez que este crime se torne público.

- Então para onde você irá? - Aelia falou.

- Um lugar que jurei nunca mais entrar, - Dédalo disse. - Minha prisão será meu único santuário.

- Eu não entendo, - Aelia disse.

- É melhor que você não entenda.

- Mas e o Mundo Inferior? - uma das irmãs perguntou. - Um terrível julgamento espera por você! Todo homem tem que morrer.

- Talvez, - Dédalo disse. Então ele tirou um pergaminho de sua bolsa de viagem, o mesmo pergaminho que eu vira em meu último sonho, com as anotações de seu sobrinho. - Ou talvez não.

Ele deu um tapinha no ombro de Aelia, então a abençoou e a suas irmãs. Ele olhou mais uma vez para os fios acobreados refletindo no fundo da banheira.

- Ache-me se puder, rei dos fantasmas.

Ele se virou para a parede de mosaicos e tocou um azulejo. Uma marca brilhante apareceu — um Delta Grego — e a parede deslizou para o lado. As princesas ofegaram.

- Você nunca nos contou sobre passagens secretas! - Aelia disse. - Você tem estado ocupado.

“O Labirinto tem estado ocupado, - Dédalo corrigiu. - Não tentem me seguir, minhas queridas, se vocês dão valor à suas sanidades.

Xxxxxxxxxxxx

Acordei praticamente em um salto. Santana acordou também, assustando-se. Fechei os olhos e tentei me controlar apenas em minha respiração, e no modo em que Santana esfregava as mãos por meus braços.

- Eu tinha esquecido dos seus pesadelos. – ela murmurou, puxando-me aos poucos de volta para a cama. – O que foi desta vez, Britt?

Contei a ela sobre o meu sonho. Ela ouviu em silêncio, limitando-se a acarinhar meu braço quando eu ficava mais tensa. Por fim, ela apenas me abraçou.

- Você precisa dormir. – ela disse, fazendo com que eu me ajeitasse em seus braços. – Eu prometo que não vai haver nenhum outro sonho ruim, meu amor. Eu vou cuidar de você.

- Eu senti sua falta. – Falei.

Santana sorriu. Deuses, como eu sentira falta daquelas covinhas! Não resisti e colei meus lábios nos dela, fazendo-a rir.

- Eu também senti saudades, Britt-Britt. – Ela confessou. – E você nem sabe o quanto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Batalha Do Labirinto - Brittana" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.