A Lenda Dos Encantrios escrita por Any Queen


Capítulo 10
O Cálice da morte.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, mas a minha escola é bem exigente e eu vivo cheia de coisa para fazer, então não estranhem a minha demora para o próximo capitulo, espero que gostem >< comentem.



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Andamos por meia hora, seguimos a fumaça do enorme vulcão e Dracon foi falando na minha cabeça, me guiando. Brian andou do meu lado quieto, sem fazer nem uma comentário sobre mais cedo, o silencio dele foi frustrante, eu cheguei a pensar que ele tinha visto meu beijo no Frank, e se tivesse visto? Eu não tinha nem um compromisso com ele nem nada do tipo, não achei que ele fosse ficar triste. Mas decidi perguntar, não podia culpá-lo sem antes perguntar.

- Você está muito quieto. – disse chutando uma pedra.

- O que eu devo falar? – ele disse irritado.

- O que foi Brian? – o obriguei a parar e a olhar para mim. – Está irritado com o que?

Ele estava prestes a responder quando sorriu e continuou andando, eu ia retrucar ou gritar com ele, mas quando eu me virei achei uma entrada. Tínhamos chegado, e foi uma ótima desculpa para Brian não responder a minha pergunta.

A entrada era um pequeno túnel que qualquer pessoa, até mesmo um Harlem teria que se abaixar para passar. Brian não disse nada, ele se abaixou e começou a engatinhar no pequeno buraco. Eu não hesitei, me abaixei e entrei no buraco escuro e comecei a rastejar, o túnel era quente e úmido, estava suando em poucos segundos , o calor estava me deixando fraca, aguentei o máximo que pude e continuei, lutando a cada passo que dava.

Quando acabou, eu não sei explicar se foi bom ou ruim, o bom é que eu pude levantar e ficar de pé, o ruim é que estava milhões de vezes mais quente dentro do vulcão, eu preferia ficar dentro do túnel. A parte de dentro do vulcão era de um todo vermelho alaranjado , tinha uma ponte gigante, devia ter uns três a quatro quilômetros, tinha lava para os dois lados. Era impossível enxergar o que tinha no final da ponte, a fumaça impedia, mas eu sabia que o que nós queríamos estava lá. Brian seguiu o caminho e eu demorei um pouco para encontrar forças para andar.

Caminhamos mais da metade da ponte até que eu desabasse no chão, o calor estava insuportável, mas isso serviu par que Brian olhasse para mim, ele correu e se abaixou. Pela primeira vez, desde que ele vinha usando os poderes, ele estava frio, e o toque dele ajudou.

- Está tudo bem? – disse ele preocupado.

- Só... – minha boca estava tão seca que era impossível falar de uma só vez – quente demais.

- Eu estou com frio até, - ele colocou a mão na minha testa e sorriu preocupado – você está muito quente.

- Acho que não consigo. – declarei derrotada, odiando o fato de ser fraca, eu nunca gostei de me sentir dependente, mas naquela hora eu estava esgotada demais para ficar com raiva de alguma coisa.

- Acho que posso resolver isso. – ele sorriu e esticou os braços, segundos depois ele estava me envolvendo em seus braços gelados, o calor havia ficado para trás, uma barreira invisível havia se formado.

Levantei com dificuldade, com os braços do Brian me envolvendo e me ajudando a ficar de pé, demos passos pequenos durante muito tempo até eu começar a me sentir forte de novo. Brian me soltou, mas continuou segurando na minha mão, impedindo o calor de passar. Se eu cortasse o calor, Frank, as Ninfas mortíferas, o medo e o fato de conseguir mais um Presente, era incrível a sensação de andar de mão dadas com ele.

Durante um ano inteiro, eu fiquei me lamentando por não poder segurar ninguém, até Mindy era melhor que eu, agora eu tinha Brian e Frank, e a minha lamentação tinha mudado completamente, mas continuava triste e arrasadora, toda vez que eu pensava nela, e isso era terrível, minha vida amorosa só ficava mais terrível a medida que ia evoluindo. A parte boa, é que eu não pensei isso por muito tempo, estávamos quase no final da ponte, mas meu medo aumentou em quinhentos por cento, as Ninfas já não estavam tão longe.

- Está pronta? – Brian parou bruscamente e olhou para mim.

- Temos outra escolha? – ele virou para frente e continuou a andar, apertando mais forte a minha mão.

Havia um poço gigantesco feito de um liquido azul, alguma coisa brilhosa se estendia a alguns metros deste, alguma coisa não, o cálice. Um graal prata,pequeno de onde estávamos, ele se erguia magicamente, como se nenhuma força pudesse tirá-lo de lá, mas isso teria que mudar. O lugar ficava em uma cúpula, parecido com um coliseu, a ponte era mais alta, mas havia uma decida e uma parede, que logicamente teríamos que escalar, e eu não era muito boa nisso. As Ninfas eram de um alaranjado transparente, da distancia em que estávamos era impossível distingui-las ou ver o que estavam fazendo, mas havia uma, uma diferente de todas, essa era azul, como o liquido no poço, esta estava sentada em algum tipo de trono em uma das partes altas do coliseu.

Brian puxou meu braço e começamos a descer, o solo era escorregadio e rasteiro, escorregamos com cuidado e tentamos não fazer barulho, Brian não soltou minha mão hora alguma, mas isso não duraria por muito tempo. Paramos em frente a um grande paredão de pedra, o cone do vulcão se estendia a cima de nós, mostrando as brilhantes estrelas de Pórfiron. Brian olhou para mim com um olhar travesso.

- Sabe escalar? – disse ele provocante.

- Nunca tentei.

- Vai ficar atrás de mim. – ele soltou a minha mão e pulou na parede.

O calor me atingiu em cheio, eu não estava esperando ele me soltar, tive que esperar alguns segundos até tomar consciência e correr para o paredão. Brian já estava a dois metros e subia veloz, sem nem olhar para trás e ver se eu estava bem, acho que ele nunca deixaria de tentar ganhar sempre. Encostei a mão na parede pensando em escalar, tirei na mão na hora em que encostei, a pedra estava pegando fogo, literalmente, fumaça sai da pedra, seria impossível subir escalando. Eu não podia liberar Dracon, chamaria muita atenção, teria que usar o ar, só não sabia como, mas eu sentia que era possível.

Fechei os olhos e tentei sentir tudo a minha volta, já tinha feito isso antes, pouco a pouco eu comecei a escutar as coisas ao meu redor, as Ninfas conversando, a lava abaixo de nós, a respiração de Brian, tudo. Uma brisa passou por mim, depois ficou mais forte.

- Suba. – sussurrei, soou mais como uma ordem ao vento, e ele obedeceu, sem questionar nem hesitar, peguei impulso e pulei, sem abrir os olhos, quando abri já não estava no mesmo lugar de antes.

Pisquei esperando que a minha visão se adequasse a escuridão, estava em um corredor feito de pedra, com algumas janelas que davam para a área do Coliseu, me escondi em uma pilastra o mais rápido possível antes que alguém me visse. Segundos depois alguém pousou do meu lado. Não tive tempo de falar nada, ouvi passos vindos no corredor escuro e o puxei para o pequeno espaço entre duas pilastras e ficamos imprensados um contra o outro.

Brian tinha o mesmo cheiro de sempre, mesmo que tivéssemos passado por tudo, ele ainda continuava cheiroso e irresistível, eu me segurei fortemente o impulso de beijá-lo. Brian fez menção de falar algo, mas eu tampei a sua boca, e esperei que os passos diminuíssem até não serem audíveis. Eu torcia incansavelmente que ninguém nos achasse, não até termos um plano de como atacar as Ninfas, ou pelo menos não morrer.

- Achei que não soubesse escalar. – sussurrou ele.

- Eu não preciso escalar, tenho o vento ao meu favor. – era a minha vez de sorrir provocante.

- Você sabe que isso foi roubo. – ele chegou mais perto e pousou a cabeça na minha.

- Você passou na minha frente e não sabe o quanto está quente aqui. – Brian passou a mão no meu rosto e secou uma gota de suor que escorria.

- Eu sabia que você era capaz.

- Não minta, você quis me deixar para trás. – o puxei mais para perto mordendo o meu lábio inferior.

- Queria saber se era seguro, afinal, é a minha vez de ser o herói. – ele passou as mãos pelas minhas costas e me imprensou na parede quente, eu não me importei.

- Achei que estava bravo comigo. – disse me arrependendo na mesma hora, não era hora para discutir isso, tínhamos que ir e pegar o cálice, não ficar se pegando por entre as pilastras. Depois de um momento em silencio, eu finalmente decidi falar – Me viu beijando Frank?

- Aquilo não era um beijo! – ele gritou.

- Psiu! – tapei a sua boca – Achei que tínhamos combinado que deixaríamos o tempo decidir.

- Ai você fica se agarrando com ele? Depois me beija? – sussurrou ele indignado.

- Foi você que me beijou! E você sabe que eu ainda gosto dele... – disse tentando controlar a minha voz.

- E como eu fico nisso tudo? Não gosta de mim? – ele me soltou e colocou as mãos na cintura irritado – Quem não gosta de mim?

- Está com ciúmes? – perguntei querendo muito a resposta para aquela questão.

- Kassie – disse ele mais baixo e sem emoção na voz – olha para mim, depois me diga se eu tenho cara de ser um tipo de cara que sente ciúmes? Ainda mais de você.

- Como assim “ainda mais de você”? – era minha vez de gritar, estava cansada de Brian ficar brincando comigo – Então está bem! O senhor perfeito não deve merecer ninguém, pelo menos não a mim!

Não pensei no que ia fazer – o que acontecia muito frequentemente – sai do pequeno espaço de onde estávamos, antes que Brian pudesse retrucar ou me impedir, corri no corredor batendo os pés no chão, com tanta raiva quanto pudesse se pisar. Quando a primeira janela se ergueu na minha frente eu pulei, sem me preocupar se o vento me ajudaria ou não, só pulei, e aterrissei como uma bailarina, com a graça que eu sempre tive, foi como pousar no mais macio algodão. Levantei e ergui a cabeça, esperei muito não estar com um olhar de raiva, já não bastasse estar no meio de um monte de Ninfas mortíferas, acusá-las de morte já era de mais.

As Ninfas estavam todas no grande pátio do coliseu, envolta do grande poço de lava efervescente azul, elas eram lindas, realmente de uma beleza sobrenatural. Elas usavam vestidos finos e esvoaçantes e cabelos que dançavam ao vento, em uma brisa alegre que eu não sentia. As criaturas me encararam com surpresa, mas depois voltaram a olhar para a Ninfa azul sentada em seu trono, essa era a mais linda de todas, seus cabelos não dançavam ao vento, estava parado em um penteado perfeito, parecendo uma deusa grega do meu livro preferido, seu vestido era longo e o mais sensual possível. Ela levantou e me olhou demoradamente, depois sumiu, como se nunca estivesse estado lá.

As outras Ninfas correram para cima de mim em um mar de laranja e vestidos bonitos, prenderam meus braços e ergueram a minha cabeça para cima e colocaram, o que parecia uma espada de metal, no meu pescoço. Eu não tive tempo de falar ou correr, elas eram muito rápidas, o metal apertou a minha garganta e eu senti um filete de sangue percorreu friamente pelo meu pescoço, criando um arrepio por todo meu corpo. Eu estaria morta em poucos segundos se uma voz não falasse para que as Ninfas não o fizessem, se fosse qualquer um, elas não parariam, mas aquela voz – doce e suave, como se uma planta estivesse falando e seu perfume estivesse se espalhando pelo ar – as Ninfas obedeceram e logo o metal não estava mais no meu pescoço, elas me obrigaram a ficar de joelhos – elas eram muito fortes e muito doces por muito tempo – colocaram algum tipo de algema em mim e a Azul chegou mais perto colocando a mão no meu queixo, ela era tão radiante quanto uma rainha, mas ela emitia calor, mais calor do que já estava no vulcão, não queria, mas desejei que Brian me tirasse dali.

- O que você quer Filha do Vento? – ela disse tão calmamente, o que podia ser comparado com uma brisa de verão.

- O Cálice, eu preciso dele, por favor! – supliquei com o máximo de cuidado e amor que eu tinha na hora.

- E o que me faria dá-lo a você? Sabe quem nos trancou aqui? – ela perguntou com amargura – Seu povo, seu ridículo povo do Ar.

- Eu não entendo porque eles fizeram isso...

- Calada! – Ela gritou raivosa – Sua família ridícula, achou que éramos perigosas para Pórfiron, que mataríamos mais do que nossos ancestrais mataram, eles nos odiavam, com tanta força e ódio, quanto se pode imaginar.

- Mas eu não as odeio! – esperei que ela visse a sinceridade na minha voz.

- Ainda! Mas vai odiar e vai querer nos matar, assim como todos os outros, a única coisa que conseguimos tomar deles foi o Cálice, não vamos dá-lo a mosquinhas como você!

- E eu? Acho que ninguém em sã consciência me compararia a isso. – era improvável não discernir de quem era voz debochada que vinha atrás de mim.

- Um filho do Fogo... – disse a Azul sorrindo – Senhoritas... Há quanto tempo não vemos um guerreiro assim? – ela colocou o dedo indicador no queixo como se estivesse pensando – O último também era do Fogo, lindo como você, e esses olhos... Lembro-me como se fosse ontem. Ele procurava algo que o fizesse mais poderoso, ele só veio ao lugar errado. – Sorriu a Ninfa sinistramente.

- Eu quero o Cálice. – disse Brian com convicção – E não saio daqui sem ele.

A Ninfa sorriu e correu até onde Brian estava e passou as mãos por todo o braço dele, feliz com aquilo. Ela olhou para mim com nojo e hesitação, mas logo disse:

- Soltem-na! – As outras Ninfas me soltaram com força, tive que me segurar para não cair no chão, me levantei rápido e andei até onde estavam Brian e a Ninfa. – Não tenha pressa jovem guerreiro, jante conosco, depois conversamos sobre o que você quer.

- Claro. – Brian deu um riso sarcástico e esticou o braço para Ninfa pegar.

- Brian! Não temos tempo! Vamos pegar o Cálice e ir embora. – meu tom era de urgência – Agora!

- Ele não quer ir embora. – a Azul falou com força e olhou demoradamente para Brian, como se forçasse a resposta.

- Eu não quero ir embora. – eles começaram a andar em direção a uma grande porta de madeira que ficava logo abaixo do trono da Ninfa.

- E eu? – disse indignada – Vou ficar aqui?

- Sim – disse a Rainha – Tem sorte mosquinha, não vou matá-la agora, mas só se você se comportar.

Uma a uma, as Ninfas foram saindo do Coliseu, e eu fiquei sozinha no grande pátio, com o calor subindo pelas minhas veias, tanto literalmente, quanto não. Como Brian pode me deixar? Ele podia estar até bravo comigo, mas não era motivo para me deixar sozinha com prováveis chances de morte, e ele, acreditar nessas criaturas, que nem conhecia, eu tinha quase certeza que não era o Brian que estava ali, com certeza era alguém, mas não era o Brian.

Uma coisa boa tinha acontecido nisso tudo, eu fiquei sozinha com o Cálice, era chance perfeita para pegá-lo, só não sabia como, algo dentro de mim sabia que não seria simplesmente pular e pegá-lo, ela não o deixariam tão desprotegido assim. Mas eu tinha que tentar, não havia outra escolha a ser feita, nem que isso resultasse em deixar as Ninfas bravas e consequentemente morrer com isso. Eu já havia passado por situações de mortes de mais para um dia, eu não sabia qual era o recorde, só sabia que eu estava bem perto de bater.

Olhei para todos os cantos e esperei alguns segundos, ninguém estava lá, talvez elas estavam certas que o Cálice estava bem protegido e uma mosquinha como eu não seria capaz de pegá-lo. Olhei incansavelmente para o graal tentando ver alguma barreira invisível ou algo que impedisse a passagem. Nada. Eu não estava certa de que deveria, mas pulei mesmo assim, ignorando o fato de que provavelmente bateria em uma parede invisível.

Nada.

Era como se fosse só uma ilusão, o Cálice parecia estar mais lá, só que quando ganhei altura minha passou direto, nada estava lá. Cai irritada, deixando meu corpo relaxar no chão quente queimando cada parte da minha pele, estava perdido, cada chance de poder sair viva tinha ido pelos ares, literalmente. Havia uma opção, talvez não a melhor, mas era uma opção.

- Leonor! – chamei. – preciso de você!

A Alma Perdida não demorou muito para parecer, a imagem da minha mãe surgiu sentada a cima de mim, sentei e olhei para ela com um olhar suplicante:

- O que eu faço agora? –perguntei derrotada.

- Eu não posso fazer por você, mas o Poço é um grande espelho, um holograma como você chama no seu mundo. – ela sorriu e assentiu com a cabeça.

- Já entendi! – sorri e fui para perto do grande poço azul

Não era visível, mas quando continuei olhando e cada vez mais profundamente era possível vê-lo, bem no fundo do poço, quase invisível. Fiz menção de estender a mão para pegar, mas Leonor logo me segurou.

- Quer queimar até morte? – advertiu ela com um olhar de reprovação – Não encoste nessa água! – Leonor me puxou, afastando-me da água azul. – Por que você acha que elas o esconderam ai? Esse é o tesouro delas, não vão deixá-lo desprotegido.

- Então como vou pegar?

- Vai ter que puxá-lo, mas não com a mão, com a pressão do ar. – ela olhou atentamente o poço, como se pudesse sentir cada centímetro do mesmo.

- Como? – perguntei confusa.

- Como vou saber? Por acaso tenho cara de Feiticeira do Ar?

- Na verdade, tem. – ela ficou irritada e sumiu, me deixando sozinha na frente do poço.

Olhei para o objeto por horas sem saber o que fazer, eu não sabia como controlar o vento, como faria pressão na água? Mas também se não fizesse provavelmente eu e Brian iríamos morrer, era melhor tentar do que nada, pelo menos não me sentiria uma completa inútil. Eu já tinha pulado sem pensar no meio de um monte de Ninfas com uma beleza mortal, só porque estava brava com Brian, definitivamente eu tinha que deixar de ser menos impulsiva e começar a pensar antes de fazer, mas o que poderíamos fazer? Não saberíamos que o Cálice era apenas uma ilusão e o verdadeiro estava mergulhado em um tipo de liquido azul mortal.

Apoiei as minhas mãos na beira do poço, minha pele ardeu ao toque quente da pedra, dissipei essas sensações e voltei a encarar o poço. Respirei fundo umas três vezes antes de olhar para o Cálice e desejar que subisse, desejei com tanta força quanto se podia. Imagens começaram a passar, se eu não conseguisse pegar o Cálice, o que provavelmente aconteceria. Elas me matariam de um jeito terrível e doloroso, meus membros seriam dissipados e guardados como troféus e seriam lembrados com riso, Brian provavelmente seria o próximo, depois daquela Rainha estúpida fazer mais algumas coisas com ele – quem não queria ter Brian aos seus pés? – Os outros ficariam preocupados e viriam nos procurar, indo assim para a morte sem demora das Ninfas, todos seriam trucidados e mortos das maneiras mais diversas e tenebrosas, tudo isso, se eu não conseguisse pegar a droga do Cálice! Eu tinha que pegá-lo, não tinha outra escolha, era isso, ou morte instantânea para todos. E fim de uma breve esperança.

Eu podia enxergar meu reflexo na água azul, desgrenhada, suja, suada e derrotada, mas algo nessa imagem me fez sorrir e ter a esperança que faltava sempre em mim, meus olhos estava brancos. Totalmente brancos, como deveriam estar, algo ferveu dentro de mim, e não era o calor do vulcão, foi como na noite em que quase matei Mindy, algo fervendo nas minhas veias, crescendo aos poucos, mas se tornando uma bomba relógio que poderia estourar a qualquer momento. Pouco a pouco fui tomando um precário controle sobre a situação e conseguir me concentrar no Cálice. Ventos, brisas e tornados passaram ao meu lado, passando direto de mim e indo diretamente para o poço, fazendo o borbulhar, com mais força que eu queria, o graal começou a subir, e eu não tinha percebido o quão profundo estava até o momento, ele demorou muito até que eu pudesse vê-lo com mais clareza, e então meu plano vai por água a baixo.

Ouvi passos vindo da grande porta, passos que provavelmente era do Brian já que as Ninfas pareciam não fazer barulho, isso significavam que estavam perto, eu teria poucos segundos.

- Rápido, rápido! – supliquei, e o Cálice chegou a minha mão no momento exato que as Ninfas abriram as portas.

A Rainha me olhou com tanta fúria que seria impossível de descrever, seus olhos brilharam e ela começou a andar pesadamente, mas parou subitamente, sorriu e virou de costas, andou novamente até Brian e sussurrou algo em seu ouvido, a Azul sorriu e Brian também, então ela começou a falar, enquanto eu tentava acalmar meu coração:

- Sabe mosquinha, eu sou uma Ninfa bem persuasiva, a mais persuasiva de todas. – ela andou calmamente em minha direção com um olhar esperto e vingativo. – Só que nós, Ninfas, não conseguimos persuadir as mulheres, seguras demais para nós! – queixou-se ela – Então, nós persuadimos os homens, é tão simples, como amarrar uma bota, mente pequena. Eles farão tudo o que eu quiser, até matar a pessoa mais amada. – ela se virou para Brian com delicadeza. – Não é Brian querido? – Brian assentiu sem pelejar – Viu? Como é bom ser obediente! Só que você não foi, não é mesmo? Se tivesse ficado quieta, eu não a mataria, mas como não cumpriu com o que eu esperei... Bem, terá que morrer. – ela falou aquelas palavras como se fossem tão corriqueiras quanto um “oi”, só que para mim, abateu com uma flecha e me fez estremecer e me segurar para não desmaiar – Então porque não morrer pela mão daquele que é a sua perdição? – ela sorriu sinicamente e sumiu, reaparecendo no seu trono rosa e brilhoso novamente.

Eu não entendi essa ultima parte, o que seria a minha perdição? Brian me fazia enlouquecer de um jeito estranho, me deixava com raiva e me fazia desejá-lo mais, só que como isso poderia significar minha perdição?

- Que comece a morte da ultima esperança que esse lugar sórdido já teve! – A Rainha gritou e rapidamente toda a área do Coliseu estava vazia, as Ninfas se amontoaram nas janelas e gritaram excitadas com a ideia de morte. Brian me encarou com um sorriso de sempre, aquele que me fazia estremecer até a espinha, mas sim um vingativo, que não tinha nem um amor, mas sim morte nos olhos.

Segurei o Cálice com mais força e peguei a espada com a mão direita livre, não sabia manusear, mas não tinha nenhuma opção era morrer aqui ou morrer lá. Brian correu e saltou com a ponta da espada apontada para mim, corri e me desviei direcionando a espada para cima para me proteger. Não quis correr e fugir como uma idiota, estiquei a espada e esperei que ele viesse, Brian era um verdadeiro espadachim, as espada em sua mão era com umas extensão do seu corpo, sabia movê-la com tanta graciosidade como uma bailarina. Ele me imprensou na parede pronto para o ultimo golpe.

- Brian! – chamei, ele ainda podia estar em algum lugar, qualquer lugar que seja. – Eu sei que isso não é um filme, que eu vou te chamar e você vai voltar! Mas eu sei que você está ai, não me mate, sou eu! – por um momento ele pareceu hesitar, mas logo a Rainha gritou:

- Mate-a agora!

Brian teria enfiado a espada em mim, mas Dracon se liberou do meu cordão e pulou em cima dele, Dracon provavelmente o mataria.

- Não o mate! Ele não sabe o que está fazendo! – eu tentei convencer a mim mesma quando disse essas palavras.

Brian ainda tentou golpear Dracon com a espada, era como se nada pudesse impedi-lo de completar o que lhe haviam pedido, meu dragão o golpeou na cabeça e ele desmaiou. As Ninfas logo apareceram no Coliseu irritadas, corri até Dracon e pulei nas suas costas, ainda segurando o Cálice com muita força. Puxei Brian – que com ajuda do ar tinha ficado ligeiramente leve – e levantamos voo. A última coisa que ouvi foi:

- Não vai se livrar de mim tão fácil, Clara! O destino ainda nos reserva uma batalha! – ela gritou aquilo com raiva, mas com muita certeza.



***


A noite estava estrela, com constelações vibrantes e uma lua enorme, daria tudo para ter uma noite assim na Terra, acampando sob a luz da lua, com alguém que não me fizesse sofrer ou tentasse me matar, eu só queria paz, e nem essa pequena parada para apreciar as estrelas duraria muito.

Brian estava desacordado desde que chegamos, e eu preferia que ficasse assim, não agüentaria vê-lo sem sentir uma raiva comunal, como ele poderia ter me matado? De todas as pessoas, era a ele que eu confiaria um espada em meu coração, mas traição dele talvez não tenha sido em vão, talvez fosse para me mostrar quem realmente Brian Shay era, e essa pessoa que eu via nele agora.

Como o sonho não vinha nem que eu quisesse, peguei o Livro para ler. O Diatiz abriu na página que estava escrito em algum tipo de caneta fluorescente: “A Lenda dos Encantrios”. Tinha os desenhos dos nossos colares, todos os eles, e logo abaixo a história, mas um farfalhar próximo me fez guardar o livro e levantar cautelosa e procurar a origem do som. A cabeleira ruiva estava andando vagarosamente por uma trilha na floresta, não consegui segurar o impulso de não segui-la. Me escondi por entre as árvores e fui seguindo a Mindy por entre as relvas da floresta, eu não sabia para onde ela ia, mas a garota sabia por onde andava, ela não parou nem um segundo para se situar, andou com confiança até parar em frente a uma caverna escura. Mindy entrou e logo em seguida eu entrei também, mergulhando na escuridão sem fim.


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Notas finais do capítulo

Gente, estou pensando em escrever a cena do primeiro beijo da Kassie e do Brian, com ele narrando, o que vocês acham?
Estou muito Brissie (Brian e Kassie) ultimamente >