Oblivious escrita por Return To Zero


Capítulo 8
Rachadura


Notas iniciais do capítulo

"E foi ali, em seu quarto, que a princesa passou o resto de seus dias.
Colada a uma janela, chorando lagrimas de raiva e ódio."



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/371767/chapter/8

Charlotte havia perdido a noção do tempo. Os cortes estavam cicatrizando, e hematomas em tons roxos e amarelados apareceram na região abdominal. Sem comer ou beber, privando-se do sono, podia sentir sua vida escorrer por entre seus dedos. Isso fazia Charlotte feliz.

Vez ou outra, percebia que sua mãe esmurrava a porta e forçava a entrada. Por que não a deixavam morrer em paz? Por que não mataram ela desde o principio?

Por que ele a abandonou?

A visão de Light Stark tornou-se extremamente agradavel. Se lembrar daqueles poucos minutos fez com que esquecesse as rachaduras que existiam na sua realidade.

Três semanas depois, a Charlotte que se lembrava, que se importava, implorou por alimento. Sentindo pena, Charlotte decidiu sair de seu refugio, finalmente.

Girou a maçaneta, abrindo a porta. Fora surpreendida por duas orbes azuis, flamejantes de raiva. A senhora Thompson, munida de um taco de golfe de aluminio, atacou sua filha.

Mirando precisamente em seu baixo ventre, espancou-a até que a haste do taco se encontrasse torta e levemente retorcida.

"Que você nunca tenha filhos! Sua maldição! Bastarda!"

Por dentro, Charlotte ria, culpando a Charlotte que se lembrava, que se importava, por aquele acontecimento.

A mãe largou o taco no chão, levemente ensanguentado. Nadando em seu proprio sangue, Charlotte olhava para o teto, para o ventilador que girava debilmente sobre si. Será que ele também queria machucá-la?

Não soube quanto tempo permaneceu naquele estado. O sangue que escorreu de sua boca já estava seco, assim como o que havia entre suas pernas. Os orgãos completamente arrebentados, a ausencia de dor, a ausencia de vida. Ficou tanto tempo nesse estado que chegou a conclusão: Não morria, pois já estava morta. Não se mata o que já morreu.

A janela se abriu, permitindo uma lufada de ar bagunçar alguns fios de cabelo de Charlotte que ainda estavam limpos. Ela meneou a cabeça minimamente, fitando o parapeito. Viu uma mão agarrar-se ali. Depois uma outra. Uma cabeça enfeitada com um cabelo claro. Quis sorrir, mas não encontrou as instruções em seu manual.

"Nossa, o que fizeram com você?" perguntou, elevando uma sobrancelha.

Ignorando a pergunta, Charlotte expôs "Pensei que nunca mais ia te ver."

"Sinto muito não ter aparecido. Tive que resolver umas coisas urgentes, e cheguei tarde demais."

Charlotte olhou-o, como se houvesse entendido o pedido de desculpas. Ele se ajoelhou ao lado do saco de ossos afundado no mar de sangue. Após longa observação, comentou:

"Eu sei que deve estar se questionando. Você não, ela. Ela que se lembra, que se importa. Você não é a mesma. Você não é você. Você morreu."

A Charlotte que se lembrava, que se importava, se surpreendeu ao realmente lembrar. Caiu dentro de sua propria escuridão que, desde o inicio, sempre lutara para manter-se em pé.

"Entretanto, as pessoas não morrem tão facilmente. Desde que haja uma lembrança, o minimo que for, essa pessoa continua viva. E foi o que aconteceu com você."

O vento soprou algumas folhas para dentro do quarto.

"Por que continua tagarelando se sabe que nunca vou te ouvir?"

"Você morreu anos atrás, e alguém veio clamar posse do seu corpo. Mas você nunca saiu dele, saiu? Vocês estão coexistindo; o exterior matando a Charlotte, e a Charlotte matando a outra Charlotte anulam e negam a lei da morte. Você não vai morrer, esqueça essa ideia."

Charlotte suspirou, revirando os olhos, cansada de olhar a bela boca de Light se mover.

"Eu havia lhe dito que, caso seus pais não lhe quisessem, eu lhe levaria comigo. Lhe disse que não ficaria sozinha. Não me lembro se disse, ou não disse mas, quando sonhamos por muito tempo, nós mesmos tentamos nos dar algumas pistas para que possamos conseguir voltar à realidade."

Light Stark pousou sua mão delicada sobre a testa cheia de cortes de Charlotte.

"Você sonhou o bastante. Abra seus olhos, minha besta."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, chegamos ao último capitulo.
Sim, último capitulo! Estou tão orgulhosa de mim!
Obrigada a todos vocês que leram até aqui. Muito, muito obrigada mesmo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Oblivious" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.