Um ano havia se passado desde que Blaine se mudou para Lima.

E um ano havia se passado desde que Kurt e Blaine viraram amigos.

E agora, eles eram melhores amigos.

Era muito comum para Burt, pai de Kurt, ver Blaine em casa de repente, e é comum para Rose, mãe de Blaine, ver Kurt em casa. Eles estavam juntos o tempo inteiro, o que era ótimo, pois os pais nunca viram seus filhos mais felizes. Cooper também ficou mais feliz, não tinha que aturar Blaine tanto quanto antes. Mas ele até está sentindo falta de brigar pelo controle com ele. Ou de sair com ele. Ou de bagunçar o cabelo dele.

Certo, Cooper estava sentindo muita falta dele. Mas estava feliz por ele.

Tudo estava bem, mas uma tragédia aconteceu, um pouco depois do aniversário de 8 anos de Kurt.

Sua mãe, Elizabeth, estava doente há algum tempo, mas não era nada grave. Pelo menos era isso o que os médicos diziam. Ela tossia bastante e estava fraca, mas ela dizia que estava bem para não preocupar o filho e o marido. Mas Burt sentia que algo estava errado.

E estava certo.

Em um sábado à tarde, Burt e Elizabeth estavam assistindo TV, e Kurt estava na casa de Blaine. Era mais um sábado normal. Até que Elizabeth começou a sentir dores muito fortes no estômago, e começou a tossir muito. Burt se lembrou das palavras do médico: “Se algo acontecer, qualquer coisa, traga ela para cá.”

E então, ajudou Elizabeth a entrar no carro e foi até a casa de Blaine. A mãe de Blaine estava fora da casa, então foi falar com ela.

– Rose, a Elizabeth não está bem, eu vou levar ela pro hospital bem rápido, quando eu voltar vai estar tudo bem. Você pode avisar o Kurt que eu saí? Mas não fala que eu fui para o hospital, ele vai ficar preocupado. – Burt disse.

– Claro, mas é algo muito grave? – Ela perguntou, preocupada.

– Acho que não, ela só está sentindo dor. Obrigado, Rose. – Ele disse, se despedindo.

– Imagine. Boa sorte. – Rose respondeu, e entrou em casa. Rose e Elizabeth eram boas amigas. Eram vizinhas e seus filhos eram melhores amigos, então elas eram amigas também. Rose ficou preocupada com Elizabeth, pois ela vivia dizendo que não estava se sentindo muito bem.

Foi até o quarto de Blaine, onde ele e Kurt estavam. Os dois pararam o que estavam fazendo e se viraram para Rose.

– Oi mãe! - Blaine disse, sentado ao lado de Kurt, que deu um pequeno sorriso para ela.

– Oi querido. Kurt, seu pai veio avisar que ele deu uma saidinha com a sua mãe e já volta. – Ela disse olhando para Kurt.

– Ah, tudo bem. – Ele disse. Ele não ligou muito, afinal estava com Blaine.

Rose sorriu para eles, e fechou a porta. Foi fazer alguma coisa para se manter ocupada, assim não se preocuparia tanto.

Mas ela estava certa em se preocupar.

No quarto de Blaine, Kurt e Blaine estavam brincando e conversando, até que Blaine disse:

– Kurt, meu pai está estranho ultimamente. Na verdade, meus pais. – Ele disse, olhando para baixo.

– Como assim?

– Eu... Eu não sei. Lembra quando eu disse que eles se olhavam como se fossem o melhor presente do mundo um para o outro? – Ele disse, levantando a cabeça e olhando para Kurt.

– Lembro.

– Não parece que eles se olham assim mais. – E olhou para baixo novamente.

Kurt percebeu que seu melhor amigo estava triste, então fez o que sempre fazia. Foi até o lado dele, se sentou ao seu lado e apoiou a cabeça no ombro dele. Assim que fez isso, viu Blaine dar um pequeno sorriso. Um sorriso triste, mas era um sorriso.

– E ele está chegando mais tarde em casa. Ele está diferente.

Kurt continuou quieto por um momento, até que voltou para onde estava sentado e disse:

– Vamos continuar a brincar. Você está triste, não quero te ver triste.

Blaine sorriu e olhou para aqueles olhos azuis que tanto gostava.

– Claro. Onde a gente estava?

E assim, passaram o resto da tarde brincando, sorrindo e se divertindo.

–-

Quando já passava das sete, e seu pai ou sua mãe ainda não apareceram, Kurt perguntou para a mãe de Rose se eles já haviam ligado ou avisado que iriam ficar fora até mais tarde. Ela disse que eles estariam de volta em pouco tempo, quando o telefone tocou. Ela atendeu, pois Peter, pai de Blaine, não iria atender. Era Burt.

– Oi Burt. Aconteceu alguma coisa? – Ela perguntou, já que ainda estava preocupada com Elizabeth.

Ao ouvir o nome do pai, Kurt prestou atenção na conversa. Blaine estava com ele, e fez o mesmo.

– Ela não melhorou nem piorou, mas vai ter que passar a noite no hospital. O Kurt pode dormir aí? Eu vou ficar aqui com ela. – Kurt já havia dormido na casa de Blaine, e Blaine na de Kurt, então não tinha problema. Isso acontecia com tanta frequência que cada um tinha um pijama e uma escova de dentes na casa do outro.

– Claro, pode sim, mas o que eu digo para ele se ele perguntar alguma coisa?

Ela ouviu Burt suspirar e ele ficou em silencio por um momento, até que disse:

– Diga que eu estou no hospital. E que o médico nos chamou para refazer um exame com Elizabeth, e que ela vai precisar passar a noite aqui. E que ele não precisa se preocupar. Vai dar tudo certo.

– Certo. Vou falar.

– Obrigado, Rose. Obrigado mesmo. Preciso ir, amanhã passo aí. Tchau.

– Tudo bem, tchau. – E desligaram.

Kurt, que estava observando, olhou para a mãe de Blaine como se estivesse esperando alguma coisa. Rose se abaixou um pouco para ficar na altura de Kurt e disse:

– Kurt, querido, você vai dormir aqui hoje. – Ela disse sorrindo, para tentar não preocupá-lo. Ficou um pouco aliviada quando viu Kurt e Blaine sorrirem e olharem um para o outro.

Mas então Kurt perguntou:

– Mas onde meus pais estão? O carro deles não está lá fora.

Rose respirou fundo, escolheu com cuidado as palavras e disse:

– Bom, seu pai acabou de ligar, como você viu, e ele avisou que... O médico da sua mãe, a chamou para fazer um exame, e ela vai ter que passar a noite lá para poder fazer esse exame. Seu pai está lá com ela. Mas não se preocupe! Vai dar tudo certo! – Ela acrescentou ao ver que Kurt ficou preocupado.

Kurt não ficou tão convencido, mas falou:

– Tudo bem.

E então, Blaine e Kurt subiram para o quarto de Blaine mais uma vez. Kurt se sentou no chão enquanto Blaine ia pegar um de seus jogos.

– Kurt, você prefere Banco Imobiliário ou Jogo... – Ele disse se virando, e parou quando viu que Kurt estava escondendo o rosto nos braços.

Ele deixou o jogo onde estava, e foi se sentar ao lado de Kurt.

– Kurt...? Tudo bem? – Blaine perguntou, colocando a mão em seu braço. Kurt não respondeu nada, então Blaine não perguntou mais nada. Apenas fez o que Kurt sempre fazia: colocou a cabeça no ombro dele e continuou com a mão no braço dele. Era uma forma de dizer que estava tudo bem. Blaine percebeu que Kurt estava chorando, pois de vez em quando ele soluçava, e então mudou de posição: passou um braço por trás do pescoço de Kurt, e o outro braço e volta das pernas de Kurt, que estavam juntas ao seu rosto. Assim, estava abraçando Kurt. A posição não era muito confortável, mas estava acalmando Kurt.

Passado um tempo, ele se acalmou e disse:

– Eu só estava preocupado com a minha mãe, ela não está bem. Eu não quero que ela vá embora. – Ele disse lentamente.

Com isso, Blaine abraçou Kurt mais forte. Quando Kurt estava mais calmo, eles jogaram Jogo da Vida. Depois jantaram, se trocaram (Kurt se trocou no banheiro) e foram dormir. A cama de Blaine era uma Cama Box, ou seja, havia outra cama embaixo da que Blaine dormia. Quando Kurt dormia na casa dele, era onde ele dormia.

Tentaram dormir. Mas é claro que ficaram conversando até tarde.

Conversaram sobre tudo. Escola, família, amigos, desenhos, filmes, alguma professora chata... Até que começaram a ficar com sono, e Blaine foi o primeiro a dormir. E pouco depois dele, Kurt dormiu.

–-

Kurt mal acordou e já recebeu más notícias.

Péssimas notícias.

Ele ainda estava dormindo, e Blaine também, quando Rose acordou os dois garotos. Ela estava chorando, e avisou que Burt estava esperando por Kurt na sala. Ela tentou esconder o choro, mas fez um péssimo trabalho. Kurt se trocou o mais rápido que pôde e desceu as escadas com Blaine. Seu pai estava na sala. Com o pai de Blaine.

De onde Kurt estava ele apenas conseguia ver Peter, que parecia muito triste e parecia consolar Burt por algum motivo que ele não sabia qual era. Quando Peter viu Kurt, ele se levantou, foi até Kurt, colocou sua mão no ombro de Kurt e deu um leve aperto. E depois foi para a cozinha, com Rose, que continuava chorando. E da cozinha, escutou Peter chamar:

– Blaine, vem pra cozinha.

Blaine olhou para Kurt por um momento, e então foi até a cozinha. Cooper estava passando o fim de semana na casa de um amigo, então não estava lá.

Kurt não fazia ideia do que estava acontecendo.

Foi até seu pai, e quando olhou para ele, viu que ele estava chorando também. ‘O que está acontecendo?’ Ele pensou. Sentou-se ao lado do seu pai, e disse:

– Pai? O que aconteceu?

Burt tentou se controlar. Respirou fundo. Tomou coragem. E disse:

– Kurt... A mamãe foi embora.

Kurt continuou sem entender, mas sabia que “ir embora” significava algo grave.

– Como assim? Ela mudou de casa? Vocês não se amam mais? – Ele perguntou, um tanto desesperado.

Com isso, Burt não resistiu e deixou mais lágrimas descerem pelo seu rosto.

– Não, Kurt. Nós nos amamos e muito, muito mesmo. Pelo menos... Nos amávamos. – Ele disse.

Respirou fundo mais uma vez antes de continuar. Kurt estava desesperado neste ponto, e precisava saber o que estava acontecendo. Burt segurou as pequenas mãos de Kurt, e terminou:

– Kurt. A mamãe foi embora pra sempre. Ela morreu.