-E alguma coisa sobre festa de aniversário surpresa? - eu perguntei.

-Isso é mais impossível ainda! - ele disse.

-Mas eu vi os convites na bolsa dela! - eu disse. Com certeza teria festa surpresa, e era melhor eu me preparar pro pior dia da minha vida.

Pra falar a verdade, o dia de fazer aniversário é o pior dia na minha vida. Por que? Por uma simples coisa, eu sempre passo vergonha, meu pai sempre me dá presentes ridículos, eu saio da escola toda zoada e meu irmão, Kellan, joga ovos em mim.

Eu subi as escadas, em direção ao quarto dos meus pais.

Onde eu colocaria os convites se eu fosse uma mãe que deixa a filha com vergonha e que não tem senso de moda? Eu colocaria em um lugar onde minha filha não encontraria se procurasse... Eu colocaria... No armário do meu pai!

Eu abri o armário do meu pai, bagunçando tudo... Só pra encontrar uma camisa rosa berrante, com umas listras amarelas bregas, e ainda por cima com uma menina desenhada de lã. Ai não. Tomara que esse não seja meu presente. O pior vai ser quando minha mãe fizer a festa surpresa e meu pai me der esse presente na frente de todo mundo, me obrigando a usar. Ele deve se orgulhar de ser um pai assim... Tão... Embaraçoso.

É melhor eu queimar essa blusa antes que ele perceba, ou pegar essa blusa e mais algumas coisas e esconder e dizer que a casa foi assaltada por mendigos bregas a procura de roupas bregas de meninas. E eu aproveitaria pra pegar minhas outras blusas que meu pai me deu nos aniversários passados.

Tem tantas desculpas que eu poderia dar... Um et abduziu a roupa para fazer uma nova experiência sobre os humanos, a Ashley ficou com tanta fome que comeu a camisa... É, eu não tenho imaginação pra criar alguma coisa decente.

Eu decidi jogar aquela camisa pela janela da suíte dos meus pais. Isso seria legal. Eu entrei lá e passou uma rajada forte de vento na minha direção, me fazendo, sem querer, acidentalmente, jogar a camisa no telhado do vizinho.

-Lilly! - ouvi o Lucas me chamar.

-Peraí... Eu tô... No banheiro... - eu disse. O bom é que eu não estaria mentindo. Tarde demais. Ele já estava na minha frente, olhando pra mim com uma cara assustada, mas com aquele olhar de 'você vai se ferrar porque eu vou contar'.

-Er... Hm... É que... Foi sem querer... - eu disse.

-Sei... E o que você vai falar quando ele ver a camisa aí? - ele começou, cruzando os braços.

-Er... Que... Um et passou e se teletransportou pro telhado, levando a camisa com ele? - eu perguntei.

-Haha. Quero só ver a sua desculpa quando ele perguntar onde está a camisa que ele comprou pra menina que a Ash tirou no amigo secreto! - ele disse, imitando a voz do meu pai. Amigo secreto? O que? Fala sério, quem tem coragem de comprar aquilo pra dar pra uma outra pessoa? Tudo bem, se fosse pra mim até que ia, mas outra pessoa? E ainda meu pai com certeza forçaria a pobre menina a usar aquele traje brega...

-O que? Er... Não fui eu... Quer dizer... Que... Um pombo faminto viu uma coisa amarela e pensou que fosse... Ração de pombo... E... Levou pro telhado sua preciosa comida e... Viu que não era e... Deixou... Lá... Pra outros pombos mortos de fome... Caírem na armadilha e ele... Ter menos concorrência em sua próxima comida - eu disse, levantando os ombros, convencida.

-Você brisa! - ele disse, revirando os olhos.

-Ah é? E o que você vai fazer? Contar pra ele? - eu disse, cruzando os braços.

-Você acertou! - ele disse, com um olhar desafiador.

-Que presente lindo de aniversário você me dá... Já que o seu é em outubro... Eu também já sei o que vou te dar... Adiantado... Vou contar pro pai que você saiu com a Mellanie semana passada sem ele deixar. E ainda beijou ela! - eu disse, colocando a mão na boca, fingindo estar surpresa enquanto ele me encarava bravo.

-Tudo bem. Eu não conto. Mas ele vai ver a blusa ali... Ou... Não vai ver no armário dele. E eu vou estar aqui quando ele perguntar pra você o que aconteceu. - ele disse e saiu do quarto.

É verdade. Ele iria ver... Como eu faria pra pegar? É impossível, eu provavelmente morreria se tentasse chegar no telhado do vizinho. Nossa, é incrível em como eu fico encrencada rápido. Eu mesma me surpreendo.

Eu resolvi tentar me arriscar, tentando pegar aquela camisa horrorosa. Afinal, a única coisa que poderia acontecer é eu cair do telhado numa altura aproximada de 5 metros. Hm... Que estrago faria se eu caísse? Provavelmente nenhum. Tá bom, eu não tenho noção de altura.

Mas isso seria suicídio e eu não queria morrer agora que conheci o Joe...

Eu peguei a vara de pescar do meu pai. Essa era uma excelente idéia.

-ASH! - eu gritei. É nessas horas que eu amo ter uma irmã mais nova burrinha.

-Oi! - ela disse, feliz.

-Oi! Se você conseguir pegar aquela camisa ali... Eu chamo o Barney e o coelhinho da páscoa pra conhecerem você. - eu disse, enquanto via os olhinhos dela brilharem.

-Você conhece eles? - ela perguntou, feliz.

-Sim. - eu disse, sorrindo.

-LILLY! - Lucas grita de novo.

-O que que é? - eu perguntei, já de mal humor.

-A Ash tem uma blusa igual! - ele disse.

-Uffa, bem melhor. Tá, sai Ash. O coelhinho da páscoa nunca gostaria de uma menininha que pega os sorvetes da irmã mais velha. - eu disse. Pra quem pensou que eu já tinha esquecido isso... Eu acho que isso ficará marcado pra sempre na minha vida, como um trauma com irmãs mais novas ou sorvete de morango.

-Coitada da menina, Lilly! - Lucas disse. -Ele não deve é gostar da sua irmã chata aí, Ash. - ele disse e Ashley me mostrou a língua e saiu.

-Inteligente você, Lucas. Mas como fica aquela camisa no telhado? - eu perguntei.

-Calma, quando chover aquilo sai.

-E quando vai chover em Los Angeles, idiota? Aqui nunca chove! - eu disse, desesperada.

-Ou quando um vento passar e levar a camisa... Ou... Eu não tô nem aí! Isso não é problema meu! - ele disse e saiu.

Hmpf. Legal. Olha onde os irmãos estão quando você mais precisa deles!

Eu, quase desistindo, fechei a janela com bastante força, conseguindo quase fazê-la emperrar. Assim meu pai nunca saberia da camisa. Mais um motivo pra mim odiar meus aniversários. Os presentes são horríveis.

Problema resolvido. Coloquei a camisa da Ash no armário dele e voltei a procurar os convites. E dessa vez, se eu achasse uma camisa brega horrível ou um presente ridículo, eu saberia que não era meu. Por isso eu não vou ligar pra essa camisa horrível com o desenho do Bob Esponja na gaveta do meu pai. Deve ser pra Ash isso aí. Nunca seria meu.